terça-feira, 25 de setembro de 2012

Somos peregrinos nesta terra




Enquanto nesta vida, somos todos peregrinos. Vagamos por esta terra, longe de nossa pátria, o céu, onde o Senhor nos espera para gozarmos eternamente de sua bela face: “ O tempo em que passamos no corpo é um exílio distante do Senhor “, escreve o apóstolo (2 Cor 5,6). Se, pois, amamos a Deus, devemos ter um desejo contínuo de sair deste exílio, separando-nos do corpo para ir vê-lo. Isto é o que São Paulo sempre desejava. Antes da comum redenção, o caminho para Deus estava fechado para nós, míseros filhos de Adão, mas Jesus Cristo, com sua morte, nos obteve a graça de poder tornar-nos filhos de Deus (deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus)e assim abriu para nós as portas pelas quais podemos ter acesso, como filhos, a Deus nosso Pai: “ porquanto é por ele que nós temos acesso junto ao Pai num mesmo Espírito” (Ef 2,18).

Diz ainda o mesmo apóstolo: “ Assim já não sois estrangeiros e hospedes mas concidadãos e membros da família de Deus” ( Ef 2,19).
Assim, estando nós na graça de Deus, já gozamos da cidadania do paraíso e pertencemos à família de Deus. Diz santo Agostinho que nossa natureza nos gera como cidadãos da terra e vasos da ira; mas a graça do Redentor, libertando-nos do pecado, nos gera como cidadãos do céu e vasos da misericórdia.
Isto leva o salmista Davi a dizer: “ Sou um peregrino na terra: não me ocultes seus mandamentos!” (Sl 118,19). Senhor, sou peregrino nesta terra: ensinai-me a observar vossos mandamentos que são o caminho para alcançar minha pátria, o céu. Não é de se admirar que os maus queiram viver sempre neste mundo; de fato eles temem passar das penas deste mundo às penas eternas e bem mais terríveis do inferno; mas quem ama a Deus e tem uma certeza moral de estar em sua graça, como pode desejar continuar vivendo neste vale de lágrimas, em contínuas amarguras, angústia de consciência e perigos de condenação? E como pode desejar senão ir unir-se a Deus na eternidade feliz, onde não há mais perigo de perdê-lo? Oh! Como tais almas enamoradas de Deus, vivendo aqui embaixo, suspiram continuamente e exclamam como Davi: “ Infeliz de mim, como que desterrado em Mosoc, ou morando entre as tendas de Cedar! Por demais minha alma ficou morando entre aqueles que odeiam a paz” (Sl 119,5-6).
Apresentamo-nos, pois, como nos exorta o apóstolo, a entrar naquela pátria onde encontraremos uma perfeita paz e contentamento: “ Esforcemo-nos para entrar nesse descanso” (Hb 4,11). Apressemo-nos (digo) com o desejo e não cessemos de caminhar até a posse daquele portão feliz que Deus prepara àqueles que o amam.
Escreve São João Crisóstomo que quem corre no páreo não dá atenção a quem o observa, mas ao prêmio que deseja; e não pára; antes, quamto mais se aproxima do prêmio, tanto mais corre. Donde conclui o santo que quanto mais vivermos, tanto mais devemos apressar-nos com boas obras na conquista do prêmio.
Assim a única oração que nos dá ânimo nas angústias e amarguras desta vida deve ser esta: Venha o vosso reino! Senhor, venha logo o vosso reino, onde unidos eternamente convosco, amando-vos face a face, com todas as nossas forças, não teremos mais medo e nem perigo de perder-vos.
E quando nos encontrarmos aflitos pelos trabalhos e desprezos deste munto, consolemo-nos com a grande recompensa que Deus prepara a quem sofre o seu amor: “ alegrai-vos neste dia e exultai que grande será a recompensa no céu” (Lc 6,23).
Diz São Cipriano que o Senhor, com muita razão, quer que nos alegremos nos trabalhos e perseguições, porque aí se provam os verdadeiros soldados de Deus e se distribuem as coroas aos fiéis.
Eis meu Deus, meu coração está preparado, eis-me preparado para todacruz que vós me dareis. Não desejo delícias e prazeresnesta vida; não merece prazeres quem vos ofendeu e mereceu o inferno. Estou preparado para sofrer todas as enfermidades e infortúnios que me mandais: estou pronto para abraçar todos os desprezos dos homens; fico contente se quiserdes privar-me de todo o consolo corporal e espiritual; basta que você não me priveis de vossa presença e que sempre vos ame. Não mereço isto, mas espero-o daquele sangue que por mim derramastes.
Eu vos amo, meu Deus, meu amor, meu tudo. Viverei eternamente e eternamente vos amarei como espero e meu paraísoserá gozar de vosso júbilo infinito que vós bem mereceis pela vossa infinita bondade.



DE LIGÓRIO, Santo Afonso Maria, Uma Estrada para Salvação: Para quem quer prosseguir no amor a Deus; tradução de Pe. Afonso Paschotte. - Aparecida, Editora Santuário, 2002.