sexta-feira, 22 de março de 2013

Fátima e o Vaticano II (introdução)


Ao longo do último meio-século tem vindo a desenrolar-se dentro da Igreja
Católica, uma estranha história que poderá vir a ter implicações gravíssimas para o Mundo inteiro.

Em 1917, Nossa Senhora desceu do Céu até à pequena aldeia de Fátima, mais propriamente até à Cova da Iria - onde três pequeninos se ocupavam a guardar o rebanho familiar -, para lhes confiar essa Mensagem como um segredo que devia ser cuidadosamente guardado por muitos anos, até a Santíssima Virgem indicar que era chegado o momento de revelar a todo o mundo aquela Mensagem vinda do Céu.
O conteúdo e a forma como foi transmitida a Mensagem são únicos na História da Igreja - o que distancia as aparições de Fátima de todas as outras manifestações visíveis de Nossa Senhora, mesmo daquelas que deram nome a Santuários Marianos mundialmente conhecidos, como Lourdes (França) ou Guadalupe (México).

Muito longe de ser um acontecimento privado, Nossa Senhora dialogou com os pastorinhos (só a Lúcia Lhe falava diretamente) em pleno campo, na presença de muitas pessoas. Além disso, o próprio Deus quis autenticar as Aparições de Sua Mãe em Fátima, através de um milagre público - o Milagre do Sol -, anunciado três meses antes, testemunhado por mais de 70.000 pessoas e noticiado em todo o mundo, em títulos de caixa alta, nas primeiras páginas dos jornais da época. Esta forma espetacular - que não tinha acontecido em aparição alguma - foi propositada: ―para que todos acreditassem.


Também o conteúdo da Mensagem confiada aos pastorinhos era único nos anais da Cristandade: continha um pedido, e uma advertência sobre castigos iminentes se não se obedecesse a esse pedido. Nenhuma aparição anterior, pública ou privada, tinha transmitido uma mensagem semelhante à Humanidade.


Quando, nos anos 40, este conteúdo foi mais largamente publicado, tanto maior foi o apoio que se começou a reunir em prol da autenticidade da Mensagem de Fátima.
Continha ela uma série de profecias – o fim da I Guerra Mundial, a eleição do Papa Pio XI, o começo da II Guerra Mundial e a expansão da Rússia comunista –, cada uma das quais aconteceu como fora predito. Desde o tempo das aparições que as evidências provaram ser suficientes para suscitar a adesão de seis Papas sucessivos, assim como de milhões de Fiéis; e foram também suficientes para levar o Vaticano, no reinado do atual Papa, a beatificar os pequenos Francisco e Jacinta Marto, falecidos ainda crianças, e a comemorar as aparições de Nossa Senhora de Fátima no Missal Romano - livro oficial da Igreja para a celebração da Santa Missa.

A Igreja é geralmente relutante em confirmar, de ânimo leve, fatos deste gênero.
Por isso, e como em todos os casos semelhantes, o Vaticano procedeu a uma investigação intensa e exaustiva - e não encontrou nenhuma inconsistência, contradição ou discrepância como as que frequentemente invalidam outras supostas ―aparições. Pelo contrário, os inquiridores encontraram tudo em ordem, e reconheceram também a natureza única do Milagre do Sol, evento para o qual ainda não há uma explicação científica adequada.

Quanto ao pedido da Consagração da Rússia - que, se for feita, trará «ao Mundo algum tempo de paz» e, se não for, «várias nações serão aniquiladas» (entre outros males de que o mundo há de padecer) -, será credível o castigo que ameaça o seu não cumprimento?

Claro que uma Mensagem vinda do Céu é, naturalmente, um assunto de Fé e de
crença religiosa. Por isso poderia parecer que diria respeito só à Igreja Católica e aos seus Fiéis, tal como o castigo iminente se não se atender ao pedido da Senhora mais brilhante do que o Sol. Se fosse só isso o que nos diz a Mensagem, os não católicos e os não cristãos (e até muitos Católicos com outros modos de devoção) poderiam não fazer caso dela. Mas, tanto para uns como para os outros, é impossível - e gravemente insensato - ignorar ou desprezar tudo o que diz respeito a Fátima. Com efeito, não é preciso acreditar que esta mensagem veio do Céu para ela merecer uma consideração séria - que lhe dê, pelo menos, o ―benefício da dúvida -, uma vez que está em causa o futuro de «várias nações».
É isto precisamente que dá a Fátima a sua dimensão universal.

Ora em 26 de Junho de 2000 esta ‗estranha história' em torno de Fátima foi ainda mais estranhamente ‗desfigurada', quando, no Vaticano, o Cardeal Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé e o seu mais direto colaborador deram uma conferência de imprensa a que o jornal Los Angeles Times chamou uma tentativa de «desacreditar ―com luva branca o culto de Fátima». A intenção foi divulgar amplamente, através da imprensa, a ideia de que as profecias de Fátima eram
―revelações privadas e que estas já ―pertenciam ao passado - pelo que, neste momento, nem profecias são.

Que aconteceu entretanto? Como é que as aparições de Fátima passaram de oficialmente fidedignas a oficialmente desacreditadas por um alto Prelado? Que aconteceu à Mensagem, com o seu pedido e a sua ameaça de castigo pelo seu não- cumprimento?

O pedido é que a Rússia seja consagrada, pelo Papa em conjunto com todos os
Bispos Católicos do mundo, ao Imaculado Coração de Maria. Uma Consagração,
cerimônia de funda tradição na Igreja Católica e que só Ela pode efetuar, tem um efeito santificante. Aos olhos dos Católicos, seria vantajosa para a Rússia. Para os descrentes pode ter pouco ou nenhum significado, mas é evidente que não faz mal a ninguém. Além disso, se a Mensagem tivesse a mínima hipótese de ser autêntica, o benefício da Consagração da Rússia do modo como fora pedido poderia ser de um valor mundialmente incalculável: a anunciada recompensa («será concedido ao Mundo algum tempo de paz»), e não o anunciado castigo («várias nações serão aniquiladas»). Dadas  as circunstâncias, mesmo para os mais cépticos a Consagração ―valia a pena.

Realizaram-se já várias consagrações formais (numa delas, inclusive, a Rússia foi nomeada explicitamente) - mas ficaram sempre por cumprir todos [ou alguns d]os requisitos que Nossa Senhora pedira em Fátima: que o Papa, em conjunto com todos os Bispos católicos do Mundo, consagrassem a Rússia, pelo seu nome, e em cerimônia solene e pública.

Em (2001), o Papa João Paulo II e 1.500 Bispos visitantes fizeram, em Roma, uma Consagração do Mundo. Muitas pessoas pensaram então que o Papa aproveitaria a oportunidade para realizar o pedido da Virgem de Fátima - mas, para desilusão geral, a Rússia não foi mencionada.

O que estará coração e no espírito desses Prelados do Vaticano, conspiradores que desprezam a Mensagem de Fátima? Não o sabemos. Só podemos julgar esses indivíduos pelas consequências lógicas da posição que abertamente assumiram e pelas suas próprias ações.

Fátima tem também implicações políticas que poderiam ter influenciado o modo como o Vaticano a (mal) tratou. No seu contexto ideológico atual, a Mensagem de Fátima é vista como ―politicamente incorreta: pede a Consagração da Rússia (pelo seu nome) para que essa nação se converta ao Catolicismo; no entanto, essa cerimônia iria contra a Ostpolitik (que o aparelho de estado do Vaticano adotou, por respeito para com o Comunismo internacional e a Igreja Ortodoxa Russa). Assim, e para não ser ―politicamente incorreta, a Igreja Católica abandona a sua atitude militante e o seu ensino tradicional; abstém-se de denunciar o comunismo como um mal e deixa de procurar converter ao Catolicismo os Ortodoxos Russos.

Poderíamos, então, pensar que o Vaticano não fará a Consagração da Rússia simplesmente por motivos políticos. Mas, o que pesaria mais para o Vaticano? O aniquilamento de várias nações ou um incidente diplomático? E a Rússia? Sentir-se-ia realmente ofendida com uma cerimônia de Consagração? E mesmo que ficasse ofendida, que poderia fazer a Rússia de pior do que o anunciado castigo por não se ter feito a Consagração «deste pobre país»? Vendo bem, parece pouco provável que, por si só, tais considerações diplomáticas levassem o Vaticano a não fazer caso de uma mensagem vinda do Céu. Dá a impressão de que uma outra coisa tinha que estar em laboração: algo ainda mais profundo e mais escuro que as políticas mundiais.

O Derradeiro Combate do Demônio - Padre Paul Kramer

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