segunda-feira, 1 de abril de 2013

Fatima e o Vaticano II (Início da perseguição)


Mesmo uma leitura superficial das duas primeiras partes do Grande Segredo da Mensagem de Fátima revela que se trata de um desafio do Céu aos poderes do Mundo, cujo domínio, até sobre o Portugal Católico, tinha vindo a crescer desde o início do século XX.

Recordando o texto do Segredo é óbvio que aquilo que o Céu nele propõe seria anátema para o regime maçônico em Portugal - como, de resto, para todas as forças organizadas contra a Igreja, que, no começo do século passado, estavam a preparar (o que elas próprias admitiram como veremos) um ataque decisivo à cidadela católica. Os elementos básicos da Mensagem constituem uma autêntica carta estratégica de oposição a essas forças: livrar as almas do Inferno; estabelecer por todo o Mundo uma devoção católica ao Imaculado Coração de Maria; consagrar a Rússia a esse Imaculado Coração, com a subsequente conversão da Rússia ao Catolicismo; alcançar a Paz para o Mundo como o fruto do Triunfo do Imaculado Coração de Maria.


 A tendência do homem para o pecado seria amplamente contida, e controlada pela influência benéfica da Igreja e dos Seus Sacramentos. E, ao ver o Mundo como ele está hoje, quem poderia pôr em causa com seriedade que até os piores excessos dos homens, dentro da ordem social católica existente na Europa antes da Reforma, não são nada, comparados com o mal e a violência que praticamente se institucionalizaram em todos os países do nosso tempo - a começar pelo holocausto sem fim do aborto legalizado?

E mesmo assim, o plano só poderia resultar se se baseasse nos  desígnios do Criador da humanidade, Que ungiu Jesus Cristo, Redentor da humanidade, como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apoc. 19:16). Jesus é Rei: não só dos indivíduos, mas também das sociedades e de todo o Mundo. Por isso, para que este plano da Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria, Rainha do Céu e da terra, resulte, é preciso que toda a humanidade reconheça a Soberania de Cristo sobre ela - tal como é exercida através da Sua Igreja Católica. Que haja, na verdade, homens em número suficiente persuadidos a fazê-lo - primeiro na Rússia e depois em toda a parte - é esse, precisamente, o milagre prometido pela Santíssima Virgem se os Seus pedidos forem atendidos.

Por altura das aparições de Fátima, o autarca de Ourém, a sede do Conselho a que pertenciam Fátima e Aljustrel (a aldeia onde viviam os pastorinhos), era Artur de Oliveira Santos, de quem se sabia não ter Fé em Deus. Latoeiro de profissão, era popularmente conhecido pela sua alcunha, ―o Latoeiro. De instrução formal reduzida, as suas ambições eram, porém, grandes. Artur Santos era um jovem autodidata e intrépido que se fez editor do Ouriense, um jornal local em que exprimia as suas opiniões antimonárquicas e antirreligiosas com zelo mordaz e algum talento. Aos 26 anos aderiu à loja maçônica de Leiria, filiada no Grande Oriente.

Como sublinhou William Thomas Walsh, grande historiador católico, Artur Santos
adotara as doutrinas esotéricas de uma religião sincretista e naturalista que tinha sido a principal inimiga da Igreja Católica nos tempos modernos, e que já se gabara de ter dado um grande passo para a eliminação do Cristianismo na Península Ibérica, ao planear e executar a revolução republicana de 1910. Como Walsh nos informa, Magalhães Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente, predissera em 1911 que, dentro de alguns anos, não haveria em Portugal quem quisesse estudar para o Sacerdócio; e o ilustre maçom português Afonso Costa assegurou aos seus irmãos e a alguns delegados das lojas francesas que, dentro de uma geração, acabaria o Catolicismo, «a causa principal da triste situação a que chegou o nosso País». De fato, havia muitos indícios a apoiar este prognóstico - embora não apoiassem tal acusação.

O Professor Walsh acrescenta que, em 1911, os novos donos de Portugal se tinham apoderado dos bens imóveis da Igreja, bem como dispersado, prendido e exilado centenas de Padres e Freiras, dando ao Cardeal Patriarca de Lisboa cinco dias para deixar a cidade e não voltar.

Em 11 de Agosto de 1917, o Administrador de Vila Nova de Ourém mandou aos pais das crianças que as entregassem na Câmara Municipal, para serem julgadas.

O Administrador perguntou a Lúcia se tinha visto uma Senhora na Cova da Iria, e quem pensava ela que era. Exigiu-lhe que lhe contasse o segredo que Nossa Senhora confiara aos pastorinhos, e que lhe prometesse que não tornava a voltar à Cova da Iria. A Lúcia recusou-se a contar-lhe o segredo e a fazer tal promessa. (Nossa Senhora pedira aos pastorinhos que voltassem à Cova da Iria no dia 13 de cada mês, e eles prometeram lá ir, no dia e na hora marcados, durante as próximas três visitas).

Na manhã de 13 de Agosto o Administrador foi à casa de Francisco e Jacinta alegando que foi lá para levar os pequenos à Cova da Iria na sua carroça, e acrescentou que assim teriam tempo de falar com o Pároco de Fátima que, segundo disse, os queria interrogar. Tanto os pastorinhos como os pais desconfiavam daquela  ideia de irem com ele na carroça, mas obedeceram. O autarca levou-os primeiro ao Pároco de Fátima, e depois, em vez de os levar à Cova da Iria, viram-no chicotear o cavalo e fazer virar a carroça na direção oposta.

 Levou-os para a casa que tinha em Ourém, e fechou-os numa sala. Havia cerca de quinze mil pessoas na Cova da Iria, e todos queriam saber onde estavam os pastorinhos. Na altura em que Nossa Senhora havia de aparecer, deram-se várias manifestações sobrenaturais que as multidões já tinham notado durante as aparições anteriores em Fátima, o que convenceu muita gente, mesmo descrentes, de que a Senhora tinha chegado. Mas os pastorinhos não estavam lá para receberem a Sua mensagem. Chegou então gente com a notícia de que o Administrador de Vila Nova de Ourém tinha raptado as crianças e as tinha levado - primeiro, ao Pároco de Fátima; e depois, para a sua própria casa em Ourém. A multidão concluiu (apressadamente) que os dois tinham conspirado para levar a cabo o rapto que, segundo entendiam, tinha estragado a aparição e desapontado a Mãe de Deus. Levantaram-se vozes iradas contra o Administrador e o Pároco. Mas o Ti Marto (pai de Francisca e Jacinto) convenceu a multidão a não se vingar: “Sossegai, rapazes, não se faça mal a ninguém. Quem merece o castigo receberá. Tudo isto é pelo poder do Alto!”

Na manhã seguinte, o Administrador de Ourém interrogou de novo os pastorinhos, que voltaram a dizer que tinham visto uma linda Senhora e que se recusaram de novo a contar-lhe o Segredo, apesar de ele os ter ameaçado com prisão perpétua, tortura e morte.

Dali a algum tempo, o Administrador mandou um guarda trazê-los à sua presença, e exigiu-lhes pela última vez que lhe contassem o Segredo. Então, como eles continuassem a recusar revelá-lo, o Administrador disse-lhes que os ia fritar vivos em azeite.

Mais tarde, o guarda voltou à sala onde os pastorinhos estavam a ser interrogados pelo Administrador, e informou a Lúcia e o Francisco de que a Jacinta já tinha sido frita em azeite por não querer revelar o Segredo. O Administrador ainda tentou persuadi-los a revelarem o Segredo - senão, acontecer-lhes-ia a mesma coisa.

Como não o quisessem fazer, o Francisco foi levado para sofrer o mesmo destino. Algum tempo depois, o guarda voltou para buscar a Lúcia. Apesar de ela acreditar que o Francisco e a Jacinta tinham sido mortos por não revelarem o Segredo, também ela preferia morrer a revelar o Segredo que a Santíssima Virgem lhe tinha confiado. Por isso, foi também levada pelo guarda - para o que ela pensava ser a morte certa.

O que na realidade acontecera foi ter a Jacinta sido levada para outra sala e, ao chegar a sua vez de serem fritos em azeite, o Francisco e a Lúcia foram levados para a mesma sala, onde ficaram os três juntos de novo. Afinal, tudo não passara de um truque para assustá-los, de modo a revelarem o Segredo.

Na manhã seguinte, e apesar de novo interrogatório, o Administrador continuava sem conseguir levá-los a revelar o Segredo. Por fim, convenceu-se de que não valia a pena continuar, e deu ordem para os levarem a Fátima. Era o dia 15 de Agosto, a Festa da Assunção de Nossa Senhora.

Este fato - de o Administrador maçônico de Ourém ter chegado ao ponto de ameaçar três criancinhas com uma morte horrível, para impedir que o povo acreditasse e manifestasse abertamente a sua Fé em Deus, na Sua Mãe Santíssima e na Igreja Católica - dá-nos uma ideia dos métodos extremos que a Maçonaria estava pronta a usar para destruir, de uma vez por todas, a Igreja e para estabelecer em seu lugar uma República sem Deus - não só em Portugal, mas em todo o Mundo. 

E durante, pelo menos, os setenta anos que se seguiram, a Irmã Lúcia - a mesma Lúcia que não quis negar a verdade, embora fosse ameaçada com uma morte horrível pelo Administrador Maçônico de Ourém - deu o mesmo testemunho: Nossa Senhora, como mensageira de Deus, pediu a Consagração pública da Rússia, numa cerimônia a ser feita conjuntamente pelo Papa e por todos os Bispos do Mundo. Como referimos no mas o que vemos é o esforço persistente de certas pessoas para alterar o seu testemunho, por respeito humano (para evitar ofender os russos) e para servir uma nova orientação da Igreja, é o ponto crucial da grande controvérsia de Fátima que persiste até aos nossos dias.

Uma noção sobre a eficácia da Consagração

Como para demonstrar a eficácia da Consagração que a Santíssima Virgem pedira, Deus houve por bem permitir a realização em Portugal do que se pode dizer que era um projeto esclarecedor. No aniversário da primeira aparição em Fátima, em 13 de Maio de 1931, e na presença de 300.000 fiéis que se deslocaram propositadamente a Fátima, os Bispos portugueses consagraram solenemente a sua nação ao Imaculado Coração de Maria. Estes bons Prelados colocaram Portugal sob a proteção de Nossa Senhora, para que Ela protegesse esta nação do contágio das ideias comunistas que estavam a espalhar-se por toda a Europa, e especialmente na vizinha Espanha. De fato, a profecia da Santíssima Virgem de que a Rússia espalharia os seus erros pelo Mundo já estava a cumprir-se com inexorável exatidão. E quem, em Julho de 1917, poderia ter previsto o aparecimento do comunismo mundial a partir da Rússia - meses antes da revolução bolchevista e da subida ao poder de Lênin? Só o Céu podia tê-lo previsto; só a Mãe de Deus, informada pelo Seu Divino Filho.

Em resultado desta Consagração de 1931, Portugal experimentou um tríplice milagre, de que aqui daremos apenas os pormenores essenciais:

Em primeiro lugar, houve uma magnífica Renascença Católica, uma grande renovação da vida católica, tão espantosa que todos os que a viveram atribuíram-na sem hesitar à intervenção de Deus. Durante este período, Portugal gozou de um aumento drástico de vocações sacerdotais. O número de Religiosos quase quadruplicou em 10 anos. As comunidades religiosas prosperaram também. Houve uma vasta renovação da vida cristã que se fez notar em diversas áreas, incluindo o desenvolvimento de uma imprensa católica, rádio católica, peregrinações, retiros espirituais, e um robusto movimento da Ação Católica que foi integrado nas estruturas da vida diocesana e paroquial.

Houve também um milagre de reforma política e social, segundo os princípios sociais católicos. A seguir à Consagração de 1931, subiu à Presidência do Conselho em Portugal um líder católico, António de Oliveira Salazar, que pôs em ação um programa católico e contrarrevolucionário. Esforçou-se por criar, tanto quanto possível, uma ordem social católica em que as leis da governarão e as instituições sociais se harmonizassem com a lei de Cristo, do Seu Evangelho e da Sua Igreja4. Adversário convicto do socialismo e do liberalismo, Salazar opunha-se a tudo quanto diminui ou dissolve a família.

Além destas espantosas mudanças religiosas e políticas, deu-se um duplo milagre de Paz: Portugal foi poupado ao terror comunista, especialmente durante a Guerra Civil que crucificava a Espanha. Portugal foi também poupado às devastações da 2ª Guerra Mundial.

A respeito da Guerra Civil da Espanha, os Bispos portugueses fizeram voto, em 1936, de exprimirem a sua gratidão a Nossa Senhora, se esta protegesse Portugal, renovando a Consagração Nacional ao Imaculado Coração de Maria.

Até o Papa Pio XII exprimiu o seu espanto por Portugal ter sido poupado aos horrores da Guerra Civil Espanhola e à ameaça comunista. Numa alocução ao povo português, o Papa falou do «perigo vermelho, tão ameaçador e tão próximo de vós, e apesar disso evitado de maneira tão inesperada».

E Portugal foi, de fato, poupado aos horrores da guerra, cujos pormenores são demasiado numerosos para aqui serem relembrados9. E - o que ainda é mais notável - a irmã Lúcia escreveu ao Papa Pio XII em 2 de Dezembro de 1940, para lhe dizer que Portugal estava a receber uma proteção especial durante a guerra - e que outros países a teriam igualmente recebido, se os seus Bispos os tivessem consagrado ao Imaculado Coração de Maria.


O Derradeiro Combate do Demônio – Padre Paul Kramer.

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