domingo, 5 de janeiro de 2014

Resistir às tentações


Enquanto vivemos neste mundo não podemos fugir às tribulações e às tentações.

Não é acaso uma luta a vida do ser humano sobre a terra? (Jó 7,1).

Todos devemos, pois, estar atentos às tentações e perseverar na oração, para que o diabo, que ronda sempre à procura de quem devorar (1 Pd 5,8), não encontre forma de nos enganar.

Não é possível viver inteiramente sem ser tentado, como o são mesmo os santos e as pessoas mais perfeitas.

Mas as tentações, quando molestas e grandes, nos são muito úteis: humilham-nos, purificam-nos e contribuem para nossa formação.

Todos os santos passaram por muitas tribulações e delas tiraram proveito.

Os que, porém, não lhes puderam resistir, caíram e se separaram de Deus.

Não há forma de viver tão santa nem lugar tão preservado em que não haja tentações e dificuldades.

Nesta vida não nos poderemos furtar às tentações, pois elas nascem de nós mesmos.

Tendo herdado o pecado desde o nascimento, perdemos o dom da felicidade.

Apenas se afasta uma tentação, aparece logo outra, de tal forma que nunca deixamos de estar ameaçados.

Muitos procuram fugir às tentações e nelas caem ainda mais gravemente.

Para vencê-las não basta evitá-las, precisa-se nos tornar mais fortes que o inimigo pela paciência e pela verdadeira humildade.

Quem só afasta exteriormente as tentações e não lhes arranca as raízes, não só nada consegue, como permite que voltem ainda mais depressa e mais fortes.

Pouco a pouco, com paciência e coragem, sem violência nem erro, com a ajuda de Deus, poderás ir superando as tentações.

Aconselha-te mais frequentemente quando és tentado e não trates com dureza quem está sendo tentado, mas procura consolá-lo como gostarias que fizessem contigo.

Na origem de todas as tentações está sempre a falta de firmeza da pessoa e sua pouca confiança em Deus.

O ser humano passivo e esquecido de seus propósitos é diversamente tentado coo um navio sem leme, à mercê das ondas.

O fogo prova o ferro, a tentação o justo. Ignoramos o que valemos e a tentação nos permite saber o que somos.

Está principalmente atento ao brotar da tentação, pois, é mais fácil vencer o inimigo se não lhe abres a porta do coração nem o deixa entrar.

Resiste-lhe no limiar, como diz o poeta: atalha no princípio, o remédio já vem tarde (Ovídio).

Primeiro apresenta-se no espírito um simples pensamento. A imaginação o reforça. Desperta o prazer, a má inclinação e por fim, o consentimento.

Aos poucos o inimigo vai assim se intrometendo, quando não se lhe opõe resistência desde o princípio.

Quanto mais tardar a resistência, tanto será mais fraca e o inimigo se tornará mais forte.

Alguns são mais tentados no início da vida cristã, outros, quando já maduros. Outros, durante todo tempo.

Alguns são levemente tentados de acordo com a sabedoria e a equidade divinas, que dispõem a respeito do estado e do mérito de cada um, e tudo decide em função da salvação de seus eleitos.

Não nos devemos, pois, desesperar quando tentados, mas orar de maneira mais intensa para que Deus nos ajude em meio a todas as tribulações, pois, como diz São Paulo, com a tentação ele nos dará  o auxílio para que possamos resistir-lhe (1 Cor 10,13).

Humilhemo-nos, pois, sob a mão de Deus em todas as tentações e tribulações, pois ele salva e exalta os humildes.

Nas tentações e tribulações a pessoa é provada, cresce espiritualmente, merece e suas virtudes são mais bem manifestadas.

Não é vantagem sentir devoção e fervor quando não se enfrentam contrariedades; sustentar-se, porém, na dificuldade é penhor de grande proveito.

Às vezes se resiste às grandes tentações, mas se é levado a ceder às pequenas, para não se iludir sobre si mesmo e conservar a humildade de quem se vê derrotado nos combates mais insignificantes.

 
Tomás de Kempis – Imitação de Cristo

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