domingo, 9 de março de 2014

A Cruz de Jesus é a nossa salvação


Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”, canta a Igreja na Sexta-feira Santa. Na cruz está nossa salvação, nossa força contra as tentações, o desprendimento dos prazeres terrenos. Nela está nosso verdadeiro amor a Deus. É preciso, pois, decidir-se a levar com paciência a cruz que Jesus nos envia e nela morrer por seu amor assim como ele morreu na sua por nosso amor. Não há outro caminho para entrar no céu senão resignar-se nas tribulações até a morte.


Este também é o meio para encontrar a paz até no sofrimento. Pergunto: quando vem a cruz, que outro meio existe para não perder a paz senão o de harmonizar-se com a vontade de Deus? Se não o tivermos conosco, andemos onde quisermos, façamos o que pudermos, jamais poderemos fugir do peso da cruz. Por outro lado, se a carregarmos de boa vontade, ela nos levará até os céus e nos dará a paz neste mundo. Quem rejeita a cruz aumenta seu peso. Quem, no entanto, a abraça e a carrega com paciência, tem o seu peso diminuído e transformado em consolação. De fato, Deus enriquece de graças todos aqueles que de boa vontade a levam, fazendo sua vontade. O sofrimento não nos agrada. Isso é natural. Mas o amor divino, quando reina num coração, o torna agradável.



Oh! Se considerássemos a felicidade que havemos de gozar no paraíso porque fomos  fiéis a Deus e não nos lamentamos no sofrimento e nas dificuldades, não nos queixaríamos de Deus quando nos manda o sofrimento, mas diríamos com Jó: “ Seria até um consolo para mim: torturado sem piedade, saltaria de gozo, pois não reneguei as palavras do Santo”  (Jó 6,10). Se somos pecadores e merecedores do inferno, deveríamos ficar contentes ao ver que Deus nos castiga nas tribulações, porque este é um sinal de que Ele deseja libertar-nos do castigo eterno. Pobre daquele pecador que prosperou nesta terra! Quem sofre alguma tribulação grave olhe para o inferno que mereceu e assim todo sofrimento lhe parecerá leve. Se, pois, cometemos pecados, nossa oração deve ser esta: Senhor, não me poupeis dores, dai-me, no entanto, forças para sofrer com paciência a fim de que não vá contra vossa vontade. Fazei-me de acordo com a vossa vontade em tudo, dizendo sempre com Jesus: “ Sim, Pai, que assim foi do teu agrado”  (Mt 11,26).


A alma que é tomada de amor divino busca somente a Deus. “ Se alguém quisesse comprar o amor, com todos os tesouros de sua casa, se faria desprezível” (Ct 8,7). Quem ama a Deus tudo despreza e renuncia a tudo o que não o ajuda a amar a Deus. Não busca consolações e doçura de espírito nas boas obras que faz e em todas as penitências e fadigas pela glória de Deus. Basta-lhe saber que dá gosto a Deus. Em síntese, busca sempre e em todas as coisas renegar-se a sim mesmo, renunciando a todo prazer e, depois disto, de nada se vangloria, mas apresenta-se como servo. E, colocando-se no último lugar, abandona-se nas mãos da vontade divina e de sua misericórdia.


É preciso mudar de paladar, se queremos ser santos. Se não conseguirmos fazer que o doce tenha sabor de amargo e o amargo sabor doce, jamais chegaremos à união perfeita com Deus. Toda nossa segurança e perfeição está em suportar com resignação as pequenas e grandes adversidades que nos vêm. E precisamos suportá-la em vista daqueles justos fins Pelos quais o Senhor quer que as suportemos:

  1. Para purificar-nos de nossas culpas;
  2. Para merecer a vida eterna;
  3. Para fazer a vontade de Deus, fim principal e mais nobre que podemos ter em todas as obras.
     
     

Coloquemo-nos, pois, sempre à disposição de Deus para suportar toda cruz que ele nos mandar. Cuidemos de estar sempre preparados para suportar toda aflição por seu amor para que, quando a morte vier, estejamos prontos para abraçá-la. E digamos como Jesus Cristo a são Pedro, quando preso no horto pelos judeus e conduzido à morte: “ Será que não devo beber o cálice que meu Pai me deu?” (Jo  18,11). Deus envia-me esta cruz para meu bem e eu lhe direi que não quero?


Se o peso desta cruz nos parecer muito grande, recorramos imediatamente à oração, para que Deus nos dê forças para carregá-la com mérito. E lembremo-nos do que diz são Paulo: “Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm comparação alguma com a glória futura que se manifestará em nós” ( Rm 8,18). Reavivemos, portanto, a fé quando as tribulações nos afligirem! Em primeiro lugar, olhemos para o Crucificado que agoniza sobre a cruz, por nosso amor. Olhemos também para o paraíso e para os bens que Deus prepara a quem sofre por seu amor. Assim não nos lamentaremos, mas lhe agradeceremos pelo sofrimento que nos dá e pediremos mais ainda. Oh! Quanto se alegram os santos no céu por não ter tido honras e prazeres neste mundo, mas por terem sofrido por Jesus Cristo! Tudo o que passa é pequeno, só é grande aquilo que é eterno.

 
Meu Jesus, quanto consolo me traz esta vossa palavra: “ Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc 1,3). Eu vos deixei em troca das criaturas e dos meus miseráveis gostos pessoais; agora deixo tudo e retorno a vós. Estou certo de que não me rejeitareis, se quero vos amar, fazendo-me ouvir que estais prontos para abraçar-me: eu retornarei a vós. Recebei-me, pois, na vossa graça e fazei-me conhecer o grande bem que sois vós e o amor que me destes, para que não vos deixe nunca mais. Meu Jesus, perdoai-me! Meu amor e amado meu, perdoai-me todos os desgostos que vos dei. Dai-me o vosso amor e depois fazei de mim o que bem quiserdes. Castigai-me quanto quiserdes, privai-me de tudo, mas não me priveis de vós! Que o mundo me ofereça todos os seus bens: eu vos prometo que só a vós desejo e nada mais. Ó Maria, recomendai-me ao vosso Filho. Ele concede-vos tudo quanto pedis.Eu cofio em vós.




Uma estrada de salvação - Santo Afonso Maria de Ligório.

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