sábado, 5 de julho de 2014

A personalidade dos Apóstolos


Vimos Jesus Cristo na profecia, na história e perante a ciência.

E como sua obra é visível e atual, abramos os olhos, encaremo-la e, como homens que somos, reflexionemos a seu respeito.

A obra de Jesus Cristo é a Igreja.

“E aconteceu que naquele dia retirou-se Jesus Cristo para o monte, a fim de orar, e ali passou a noite em oração a Deus. E quando amanheceu chamou seus discípulos e escolheu, dentre eles, doze, aos quais chamou Apóstolos” (Lucas 6,12-13).

Enviou-os a pregar, impondo-lhes a obrigação de fazê-lo assim: “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra, por conseguinte, eu, senhor da plenitude do poder no céu e na terra, vos envio: ide e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo quanto os mandei” (Mt 28, 18-20).



Escolheu Jesus Cristo seus Apóstolos, isto é, aqueles que enviaria a pregar sua doutrina e fundar sua Igreja.

Quem eram os Apóstolos?

Em conjunto, todos, exceção feita talvez a Judas, eram galileus pobres habitantes, pobres habitantes de uma região completamente à margem da humanidade; ainda mais: desprezada pelos próprios judeus. E dentre os galileus foram escolhidos os mais humildes e pouco apreciados. Eram pessoas do povo, trabalhadores rudes e iletrados.

Talvez Natanael e Mateus possuíssem mais instrução, mas nunca a exigida para que pudessem ser considerados ilustres; os demais não passavam de pobres pescadores.

Todos imbuídos das ideias religiosas de sua época e de sua região, com um conceito magnífico sobre a pessoa, o domínio e reino do Messias.

Todos com concepção carnal e mundana de um Messias de origem fabulosa, cheio de poder e majestade exteriores.

Os Evangelhos nos oferecem dados concretos e precisos que mostram quem eram os Apóstolos.

Pedro era fiel, franco, intrépido, valente.

Felipe, dócil, reflexivo, ingênuo e simples.

Natanael-Bartolomeu, reto, experiente, instruído, independente.

Mateus, homem de negócios – arrecadador da alfândega -, pertencia a uma classe odiada pela violência e abuso que cometia e por ser instrumento de dominação estrangeira.

Quem era Judas? Avaro, intrigante, traidor. Exemplo vivo de como a graça não anula a liberdade, de como no mais alto da Hierarquia Eclesiástica pode haver indignos por culpa própria.

Se da ordem individual passarmos para a coletiva, poderemos obter uma ficha psicológica dos doze perfeitamente exata, pois os Evangelhos enfeixam, descritos com rigorosa fidelidade, os dados caracteriológicos e temperamentais tanto dos apóstolos isoladamente considerados, como do colégio apostólico.

Eram doze homens desconfiados, faltos de fé, como aparecem na tempestade do mar (Mt 8, 23-27). Cheios de espanto, como se mostraram ao ver o Senhor caminhar sobre as águas (Mt 14, 26).

Orgulhosos de sua dignidade. O caso típico do homem do povo que se engrandece, do homem do povo a quem a grandeza soergue, fazendo-o julgar-se algo. E como intervinham com Jesus Cristo na pregação e nos milagres, eles, pobres e rústicos criam-se investidos da grandeza que D’ele emanava; por isso ao manifestar-se neles essa debilidade própria aos homens do povo, Jesus Cristo viu-se obrigado a retirá-los dos olhos da turba obrigando-os a subir numa barca.

São João Crisóstomo assim comenta: “Porque os discípulos afastavam as crianças? Para que a sua dignidade fosse diminuída. E o que fez, em compensação, Jesus Cristo? Para ensiná-los a proceder com modéstia e a desprezar o fausto mundano, toma os pequeninos em seus braços e, aconchegando-os ao seu coração, promete-lhes o reino dos céus”.

Quem eram esses homens senhores? Ambiciosos, mesmo nos instantes mais sublimes, como por ocasião da ceia, quando, a dois passos da Paixão, resolveram disputar quem seria o maior no reino de Deus (Lc 22,24).

Mas eram ao mesmo tempo covardes, pois abandonaram Jesus Cristo ao vê-lo em poder dos inimigos.

Obstinavam-se em esperar um reino de Jesus Cristo pleno de poder terreno e de fausto mundano, mas não lhes cabia, dentro da visão judaica, mais que um Messias dominador. Esperaram por esse Messias dominador terreno até a última hora, perguntando ao Senhor no momento da Ascensão: “ É agora que vais estabelecer o teu reino?” (At 1,6).

Quem eram os Apóstolos? Maledicentes. Quando Madalena, a mulher que se converteu com sinceridade, agradecida a Jesus Cristo, ungiu-lhes os pés, Judas começou a murmurar -, como atualmente, pois a história se repete: “Para que esse desperdício? Este bálsamo podia ser vendido por um bom preço e, com seu produto, serem socorridos os pobres!”

Judas assim dizia não porque se interessasse pela aflição dos humildes, mas porque, sendo depositário da fortuna do colégio apostólico, apesar de ladrão, gostaria que todo dinheiro fosse para a bolsa comum, pois com os cofres abarrotados, maior seria o seu roubo (Mt 28,8; Jo 12,5-6).

Como os Evangelhos descrevem ao Apóstolos! Eram tão ambiciosos que, quando Jesus Cristo confidenciou-lhes que haveria de sentar-se num trono junto com todos, os dois filhos de Zebedeu, Santiago e João, enviaram a própria mãe para ao encontro de Jesus: “Senhor, quando estiveres em seu trono, faze com que um de meus filhos se sente à tua direita e outro à tua esquerda...” (Mt 20, 20-23).

Quem eram esses Apóstolos? Homens a quem o sofrimento causavam repugnância e por cuja cabeça jamais passou a ideia de que Jesus Cristo haveria de redimi-los com o sofrimento e a morte. Diante da afirmação de Jesus sobre sua Paixão, Pedro replicou-lhe: “Não, Senhor; não diga semelhentes coisas”. Jesus Cristo, então, teve que dizer uma frase muito dura: retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo..." (Mt 16, 22-23).

Traidor e vilão, Judas, a troco de trinta moedas, entregou seu Mestre aos inimigos que o crucificaram (Mt 26, 14-16; Jo 18,2-6).

Senhores, Jesus Cristo escolheu doze homens para implantar no mundo a obra de sua Igreja.

Aí estão as condições psicológicas dessas criaturas.

Esses homens, banqueiros, comerciantes e empreendedores, não escolheriam para o teu negócio e, precisamente esses, Jesus Cristo escolheu para seus Apóstolos, esses Jesus Cristo escolheu para fundar a sua Igreja.

“Deus escolheu o que é fraco para confundir o que é forte.”

A propósito desse desígnio de Jesus Cristo escreve admiravelmente São Paulo aos Coríntios, mostrando-lhe a razão de Ele assim proceder: “as coisas louca segundo o mundo escolheu-as Deus para confundir os sábios; e as coisas fracas segundo o mundo escolheu-as Deus para confundir os fortes; e Deus escolheu as coisas vis e desprezíveis segundo o mundo, e aquilo que é como se não fosse, para destruir o que parece que tem de ser, para que ninguém se glorie perante Ele” (1 Cor 1, 27-29).

Esses eram os Apóstolos. Judeus que, porque o eram, mereciam o descrédito e o desprezo dos grandes romanos da época. Tácito chama-os “taeterrima gens”, gente corrompida e torpe.

E, se já não bastasse serem judeus, os Apóstolos eram galileus, da região mais desprezível para os próprios israelitas. E, se já não bastasse serem galileus, eram ainda pobres homens da mais baixa plebe, rudes pescadores em sua maioria.

Jesus Cristo é Deus? - José Antônio de Laburu, Sj

2 comentários:


  1. Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo, eu já tinha uma ideia formada: nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não gosta de indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não?”, de Bart D. Ehrman, exponho algumas das conclusões a que cheguei e as quais o meio acadêmico, de forma protecionista, insiste ignorar.

    http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

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    1. Prezada, mais uma vez a senhora demonstra uma confusão enorme nas ideias. Cristianismo vem de Cristo, para entende-lo é necessário a base de sua doutrina teológica; os Evangelhos, que também servem como relato histórico, pois contêm personagens; é necessário estudar a Igreja Católica Romana fundada por Cristo (Deus e homem), portanto, única religião verdadeira. Porém a senhora afirma que quer saber sobre o Cristianismo sem estudar nada que se refira a ele (Bíblia, teologia e história), como isso seria possível? Como pesquisar sobre algo desprezando a história do que se quer saber? Será mesmo que está querendo saber a verdade, ou está atrás de alguma coisa que justifique um fantasia ?


      Meu Deus quanta confusão.

      Atenciosamente,

      Durval Cardoso.

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