segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A influência da música na virtude

"Davi tomava sua harpa e tocava com sua mão, e Saul se acalmava".
(I Samuel 18, 23)

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria...

Uma vez que as festas de Natal e da Epifania passaram, convém retomarmos as catequeses que fazíamos sobre as virtudes. Um sábio ditado nos diz que, se queremos fazer algo durante muito tempo, então devemos parar de vez em quando, e para isso ajudou esta pausa do tempo natalino. Agora, continuemos com nossa consideração sobre a virtude da temperança, e mais exatamente de uma virtude anexada a ela: a modéstia.

Falávamos que a modéstia nos faz observar o modo devido nos nosso gestos e palavras, e os teólogos citam quais são as coisas que devem ser moderadas: como andamos, sentamos, ficamos de pé, os movimentos da cabeça, como contraímos e relaxamos o rosto, como expandimos os braços, o tom que damos à voz, nossos risos e nosso aspecto. Em tudo isso é necessário guardar equilíbrio, para que nada seja efeminado ou mole, e para que não haja nada de duro e de rude.

Hoje falaremos sobre a influência da música na virtude da modéstia. A relação entre o estilo de música que se ouve e o comportamento que se tem é algo extremamente negligenciado. Entretanto, o versículo que citamos na introdução deste sermão mostra que há uma relação. Uma pessoa disposta de um certo modo, por exemplo pela ira, pode ser disposta em direção oposta, pela paixão do amor, por meio do agrado que a música produz. É no ensinamento geral de Santo Tomás que iremos buscar as respostas, pois é um ensinamento considerado pela Igreja como seguro e livre de erro. No Gênesis lemos que, aos egípcios, era dito "Ide a José", quando precisavam de trigo nos tempos de fome. Nos tempos atuais, de penúria intelectual e, consequentemente, moral, a Igreja nos diz: "Ide a Santo Tomás". Seus princípios não são o privilégio de uns poucos aristocratas do pensamento, mas devem alimentar a vida de cada um de nós, sem que precisemos ser professores universitários de filosofia.


É um fato que a música move as paixões, os sentimentos. Algumas causam o sentimento do amor, e tornam as pessoas que as escutam mais doces e agradáveis. Outras movem sentimentos irrascíveis, como músicas militares que incitam os soldados a lutar com vigor. Sabemos que os filmes de terror usam certos instrumentos e melodias para produzir medo. De fato, a indústria moderna de filmes é um exemplo de como a música tem uma grande capacidade de produzir sentimentos e uma grande influência psicológica.

O homem tem a capacidade de associar a música que ouve com a circunstância agradável em que é ouvida, associando a música com o sentimento pelo qual se passa naquela circunstância. Por isso, as pessoas tendem a julgar que um certo estilo de música é "bom" mesmo sendo moralmente corrompido. Se uma música é moralmente ruim mas vem associada a algo agradável, é possível habituar as pessoas ao pecado. As pessoas mais sérias que estudam o tema afirmam com razão que uso que se faz das músicas pode causar diretamente saúde ou doença psicológica, moldando o julgamento que as pessoas fazem sobre o que é uma ação boa ou ruim. A como nossa vontade é afetada pelo julgamento que fazemos da moralidade de um ato, a música pode ter um impacto direto na vida moral de um indivíduo.

Como a música produz os sentimentos e os afeta, é previsível que os adolescentes, sobretudo, que têm os sentimentos mais vivos, fiquem apegados a estilos de música que causam sentimentos mais vivos, como os diversos estilos de rock, alguns dos quais tendem a produzir sentimentos mais rudes e impulsivos, enquanto outros tendem a produzir um estado de espírito mais sentimental, por assim dizer. Ora, como os adolescentes passam mudanças nas disposições do corpo por causa da chegada da puberdade, eles têm uma vida emocional mais instável e, para o bem da saúde mental deles, as músicas que ouvem devem ser controladas pelos pais. Quando os adolescentes têm a permissão de ouvir qualquer forma de música que querem na quantidade que querem, a saúde mental deles é sem dúvida afetada. Isso não quer dizer que serão gravemente afetados, mas podem sê-lo.

Como a música causa prazer, uma pessoa que a ouve sem a medida correta tende a buscar sempre o próprio agrado e a querer levar uma vida sem o controle de ninguém. Como resultando, tais pessoas desprezarão quem tentar restringir seus "direitos" e serão tratados com desprezo. Os pais poderão ver que um adolescente que ouve músicas sem restrições torna-se alguém difícil de lidar e desregrado.

Dissemos que a música afeta os sentimentos. Por isso, ela tem a capacidade de destruir as virtudes da fortaleza e da temperança numa pessoa. Se uma pessoa ouve música de modo desregrado, se ela ouve músicas ruins e não modera o agrado que vem pela música sua temperança pode ser lesada e ela pode se tornar intemperante. Se alguém ouve música pelo prazer e o faz sem controle, pode tornar-se mole e covarde, porque não se engajará na busca de bens difíceis que requerem sacrifícios. Pode tornar-se efeminado também. O efeminamento é a tristeza e a falta de vontade de se separar de um prazer para buscar um bem difícil de conseguir. Se os homens não moderam o prazer da música podem ficar efeminados.

Essa intemperança prejudica a prudência, porque a falta de medida nos sentimentos, pela inquietação que produz, dificulta a análise que a inteligência faz de um problema e torna difícil ver que princípio moral deve se aplicar ao problema que se tem. E prejudicando a prudência prejudica também a virtude do decoro.

Santo Tomás explica que a virtude do decoro é aquela que modera o exterior de alguém como roupas, ações e posses de acordo com as circunstâncias, o que é avaliado pela prudência. Com a prudência afetada pela falta de moderação no uso da música, o decoro é afetado. Por isso os cantores de rock tendem à imodéstia nas roupas e ao uso de piercings, bem como as pessoas que os ouvem. Também tendem à rejeição da autoridade e o modo como se vestem é usado para afirmar um comportamento contrário aos costumes e às regras de uma sociedade.

Uma vez que a prudência é afetada, essas pessoas julgarão frequentemente baseadas no prazer do momento do que em princípios corretos, tendendo a agir pelos sentimentos e não pela inteligência. Adolescentes e adultos que ouvem músicas sentimentais, rock ou qualquer outro estilo em que os sentimentos têm a primazia tendem a agir impulsivamente e/ou com inconstância. Tudo isso é manifesto pela falta de reverência para com os mais velhos, os pais e as autoridades em geral. Há razões reais para a união que existe entre um comportamento imoral, drogas e o rock. Cada uma dessas coisas dá uma forma de prazer e que podem ser unidas. A falta de temperança com a música é culturalmente menos criticada, mas isso não impede que seja uma falta da virtude de temperança.

Por outro lado, as músicas que agradam a inteligência pela harmonia, pelo resplendor e pela perfeição que têm produzem um agrado na inteligência, a elevam e ajudam na contemplação. Por isso a polifonia e o gregoriano são usados nas missas. O uso de músicas passionais prejudica a oração, que é uma elevação da alma para Deus pela inteligência e pela vontade, e faz com que as pessoas igualem fé e oração com sentimento, achando que se não têm emoções na missa não estão rezando.

Platão diz que a música pode ser usada para representar o que é propriamente masculino ou feminino. Assim, por exemplo, músicas em que homens ficam se doendo do amor que perderam, que era a vida deles e não podem mais viver sem esse amor, etc..., deformam a noção de como deve ser o comportamento de um homem em geral, e as pessoas acham normal um homem se comportar de modo efeminadamente sentimental, o que tem consequências no comportamento real dos homens em privado e em sociedade. Isso se aplica também às mulheres, pelas músicas feitas por cantoras e o modo como são cantadas, passando um modo de comportamento feminino que é falseado, com péssima influência no comportamento real das moças e mulheres. A música ajuda a formar o caráter masculino ou feminino de uma pessoa.
O critério para julgar se uma música é boa ou má não pode vir do prazer que ela causa, o que seria assumir o hedonismo como fundamento de nossa consideração das coisas. Os critérios corretos são dois. Primeiramente, se um estilo transmite uma noção correta de beleza. Em segundo lugar, o caráter moral. As músicas que lesam as virtudes morais, seja pelas palavras que são ditas, seja pela melodia, constituem um perigo para a salvação das almas e para o equilíbrio psicológico delas. Uma boa música é aquela que promove o que há de nobre no homem e na criação.

De tudo isso se conclui que a música não é um fator secundário na formação do caráter e na aquisição de virtudes ou vícios. Ela solidifica ou amolece uma pessoa, transmite uma falsa ou verdadeira noção de beleza, regula os afetos e o comportamento, destrói ou edifica virtudes.
Por isso, se algum de nós ouve um estilo de música, ou vários deles, que são ruins, ela deve parar e substituí-los por boa música. Seria uma negligência minha enquanto pastor de almas não alertar quanto a isso. Na prática, isso equivale a ouvir músicas que seguem regras objetivamente corretas de composição, tais como as feitas na Idade Média, na Renascença e no Barroco. Lógico, uma ou outra delas poderá ser ruim, pelas coisas cantadas ou pela melodia (mas mais frequentemente pelas palavras ditas). Usem os critérios explicados aqui para julgar bem e, na dúvida, procurem alguém competente e com bons princípios que possa dar esclarecimento. Entre vários estilos bons de música, a escolha pela preferência deste ou daquele é livre.

Achar que um estilo de música, por ser folclórico ou tradicional de um povo, é sempre bom, é esquecer que todos os homens de todos os povos são machucados pelo pecado original. Uma música folclórica ou tradicional pode ser ruim, sim. 

As músicas do Romantismo não são boas. Lógico, não são tão ruins quanto o rock, mas a verdade é que as leis musicais que as regem afirmam, finalmente, a primazia do sentimento sobre a inteligência. Muitas pessoas não concordam com esta opinião, e a Igreja nunca condenou oficialmente essas músicas, mas isso não impede que usemos a inteligência para ver que elas são assim e, por isso, de julgar que as músicas do romantismo prejudicam, ao menos na maioria dos casos, a formação do caráter de uma pessoa. Não é raro ver com facilidade pessoas impulsivas que estimam este estilo de música. Alguma pessoas já me disseram que gostavam de músicas do Romantismo e que eram impulsivas, e que viam relação entre uma coisa e outra. Mesmo as músicas boas não podem ser ouvidas sem limites. Ouvir música barroca em excesso pode efeminar alguém, pelo excesso de agrado que causa. Quantos músicos que se dedicam somente à música barroca, por exemplo, são efeminados, por causa (pelo menos em parte) do excesso de agrado que a música lhes dá e que afeta a temperança deles.

Segue-se na vida adulta o caminho que se trilhou na adolescência, diz a Sagrada Escritura. Os adolescentes, e os adultos também, não devem subestimar as músicas que ouvem, e se reformar nisso só os ajudará, e os pais não devem deixar os filhos ouvir qualquer coisa e qualquer estilo de música. Evidentemente, para os pais, vigiar uma criança de 7-8 anos de idade não é algo difícil, mas vigiar um adolescente sim. Os pais não devem desistir, mas  os adolescentes também  devem se dar conta do mal que fazem quando ouvem músicas ruins, prejudicando a formação das virtudes que devem adquirir para as responsabilidades que certamente terão na vida adulta e que terão dificuldade de assumir se não trabalham agora.

  Uma vigilância nesta matéria só colabora na formação das almas, usando de todos os meios naturais que temos a nossa disposição para servir a Deus.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.


Escrito por Padre Luiz Fernando Pasquotto em Quarta Janeiro 21, 2015

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