quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Ascensão do Senhor: subiu aos céus está sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso...



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Ao contemplar, cheio do Espírito de Deus, a bem-aventurada Ascensão de Nosso Senhor, o profeta Davi exorta o mundo inteiro a celebrar o Seu triunfo, em transportes de alegria e satisfação. “Nações todas, diz ele, batei palmas, louvai a Deus em cantos de alegria! Subiu Deus no meio de aclamações” (Sl 46, 2-6).

A explicação deste artigo, cujo objeto versa principalmente este divino Mistério, deve pois começar pela primeira parte, e descortinar toda a sua significação.

Os fiéis devem crer, sem a menor dúvida, que Jesus Cristo, depois de consumar o mistério de nossa Redenção, subiu aos céus enquanto Homem, com corpo e alma; enquanto Deus, nunca de lá se ausentou, pois que enche todos os lugares com Sua Divindade.
Ele subiu por virtude própria. Não foi arrebatado por força estranha, como Elias que fora levado ao céu num carro de fogo (2Rs 2, 11-12), nem como Habacuc (Dn 14, 35) ou o diácono Filipe (At 8,39) que, transportados através dos ares por uma virtude divina, venceram as distâncias de terras longínquas.


Entretanto, não subiu aos céus só pela virtude de Sua Onipotência, mas também em Sua condição de homem. Isto não podia acontecer com a força da natureza; mas, pela virtude de que estava munida, podia a gloriosa Alma de Cristo mover o corpo a seu grado. Tendo já posse da glória, o corpo obedecia, sem dificuldade, a direção que a alma que lhe dava, em seus movimentos. Desta maneira é que acreditamos ter Cristo subido aos céus, por virtude própria, como Deus.

Está sentado à direita...  Na segunda parte do Artigo estão as palavras: “Está sentado à direita de Deus Pai”. Esta expressão encerra uma figura de linguagem, muito usada nas Escrituras. Para maior facilidade de compreensão, atribuímos a Deus afetos e membros humanos, apesar de não podermos imaginar nada de corpóreo em Deus, porque é puro espírito.

Mas, como nas relações sociais julgamos dar maior honra a quem colocamos à nossa direita, assim aplicamos também o mesmo princípio às coisas do céu. Confessamos que Cristo está à direita do Pai, para exprimir a glória que, como Homem, alcançou acima de todas as criaturas.

O “estar sentado” não exprime aqui uma postura de corpo, mas põe em evidência a posse segura e inabalável do régio poder e da glória infinita, que Cristo recebeu de Seu Pai.
Disso fala o Apóstolo: “Ressuscitou-O da morte, e colocou-O à Sua direita no céu, acima de todos principados e potestades, virtudes e dominações, e de todas as dignidades que possa haver não só neste mundo, mas também no mundo futuro. Pôs-Lhe aos pés todas as coisas (Ef 1,20).

Destas palavras inferimos que tal glória é tão própria e particular de Nosso Senhor, que não pode convir a nenhuma outra natureza criada. Eis por que o Apóstolo declara em outro lugar: “A qual dos Anjos disse jamais: Senta-te à Minha Direita?” (Hb 1.13; Sl 109,1).
Para mostrar mais amplamente o sentido deste Artigo, na explicação, será preciso antes de tudo observar que todos os outros mistérios se referem à Ascensão como a um ponto final, que resume a perfeição e consumação de todos.
Com efeito, assim como pela Encarnação de Senhor começam todos os mistérios de nossa Religião, assim também pela Ascensão é que termina a peregrinação de Cristo neste mundo.

Motivos da Ascensão

1.  dar ao corpo uma morada gloriosa. Depois desta exposição, é preciso ainda explicar bem as razões por que Cristo subiu aos céus. Antes de tudo, subiu aos céus, porque a Seu Corpo, dotado de glória imortal desde a Ressurreição, já não lhe convinha esta obscura morada da terra, mas antes a elevada e esplendorosa mansão dos céus.

2. diligenciar nossa glorificação. E não foi só para tomar posse do trono de glória e poder, merecido pelo Seu próprio Sangue; mas também para diligenciar tudo o que diz respeito à nossa salvação.

3. mostrar que seu reino não é deste mundo. Além disso, foi para provar realmente que “Seu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Os reinos do mundo são terrenos e passageiros, apoiam-se em grades cabedais e na força proveniente da carne. Ora, o Reino de Cristo não era terrestre, como os judeus esperavam, mas espiritual e eterno. Colocando Seu trono nos céus, o próprio Cristo demonstrou que as forças e riquezas de Seus reino eram de natureza espiritual.

Neste Reino, os mais ricos e os mais providos com a abundância de todos os bens são aqueles que na terra procuram com maior ardor as coisas de Deus. São Tiago, com efeito, declara que Deus escolheu “os pobres neste mundo, para serem ricos na fé, e herdeiros do Reino que Deus prometeu àqueles que O amam” (Tg 2,5).

4. elevar ao céu nosso pensamento. Pela Ascensão, Nosso Senhor queria que, subindo Ele aos céus, continuássemos nós a segui-lO com saudosos pensamentos. Com efeito, pela Sua Morte e Ressurreição, deixou-nos um exemplo que nos mostra como devemos morrer e ressurgir espiritualmente. Pela Sua Ascensão também nos ensina e educa a erguermos nossa mente ao céu, enquanto vivemos ainda aqui na terra; a reconhecermos que, na terra, somos hóspedes e peregrinos à procura da verdadeira pátria (Hb 11,13), concidadãos dos Santos e membros da família de Deus (Ef 2,19), pois como diz o mesmo Apóstolo: “Nosso viver é no Céu”(Fl 3,20).

5. enviar-nos o Espírito Santo. A eficácia e a grandeza dos inefáveis benefícios que a bondade de Deus derramou sobre nós por meio deste Mistério, desde muito as havia vaticinado o santo profeta Davi: “Subindo ao alto, arrebatou consigo os escravos, e distribuiu Seus dons aos homens” (Os 67, 19). Neste sentido é que o Apóstolo interpreta esta passagem (Ef 4,8).

Efetivamente, ao cabo de dez dias, enviou Cristo o Espírito Santo, de cuja virtude e exuberância encheu a multidão de fiéis ali presentes. Então é que cumpriu verdadeiramente aquela grandiosa promessa: “Para vós convém que Eu me vá. Se Eu não for, não virá a vós o Consolador; mas, se for, Eu vo-l’O enviarei” (Jo 16,17; At 1, 4-5).

6. Ser nosso advogado. Pela doutrina do Apóstolo, Cristo também subiu aos céus “para Se apresentar agora ante a face de Deus em favor nosso” (Hb 9,24), e exercer perante o Pai o ofício de advogado. “Filhinhos meus, diz São João, eu vos escrevo que não venhas mais a pecar. No entanto, se alguém pecar, por advogado junto ao Pai temos a Jesus Cristo, o Justo. Ele próprio é propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 2,1).

Nada pode inspirar aos fiéis maior alegria e felicidade, do que verem a Jesus Cristo feito patrono de nossa causa, e intercessor pela nossa salvação, Ele que goza junto ao Eterno Pai de suma influência e autoridade.

7. preparar-nos um lugar. Afinal, preparou-se um lugar, conforme o havia prometido (Jo 14,2). Foi em nome de todos nós que Jesus Cristo, como nosso Chefe, entrou na posse da glória celeste.
Com Sua ida para o céu, abriu as portas que se tinham fechado, em consequência do pecado de Adão. Franqueou-nos um caminho para chegarmos à celestial bem-aventurança, conforme predissera aos Discípulos na última Ceia. Para confirmar Sua promessa com a realidade dos fatos, levou consigo, para a mansão da eterna bem-aventurança, as almas dos justos que tinha arrancado dos infernos.

Indicar os frutos imediatos

1. aumenta-nos na fé. Esta admirável abundância de dons celestes vem acompanhada de uma valiosa série de frutos e vantagens.

Primeiramente, o mérito de nossa fé cresce até o último  grau; porquanto a fé se refere a coisas que são inacessíveis à nossa vista, e que ficam quanto à fé se refere a coisas que são inacessíveis à nossa vista, e que ficam fora de alcance para nossa razão e inteligência. Portanto, se o Senhor Se não aparta de nós. Diminuir-se-ia o mérito de nossa fé; pois Ele próprio exalta como bem-aventurado “os que não viram, mas creram” (Jo 20,29).

2. confirma-nos a esperança. Ademais, a subida de Cristo aos céus tem a grande força de confirmar a esperança que se  aninha em nossos corações. Crendo que Cristo subiu aos céus, enquanto Homem, e colocou Sua natureza humana à direita de Deus Pai, grande é a nossa  esperança de que também nós para lá havemos de subir, como membros Seus, e de unir-nos a Ele como nossa cabeça (Ef 4,15; Cl 1,18). Foi o que Nosso Senhor asseverou pessoalmente: “Pai, quero que, onde Eu estou, estejam comigo também aqueles, que Vós me destes” (Jo 17,24).

3. espiritualiza nosso amor e tira-lhe o caráter terreno. Além disso, um dos maiores benefícios que auferimos da Ascensão, foi o de Cristo arrebatar consigo para o céu o nosso amor, e de abrasá-lo no Espírito Deus. É uma grande verdade o que se disse: “Nosso coração está onde estiver o nosso tesouro” (Mt 6,21).

Realmente, permanecesse Jesus Cristo conosco na terra, todas as nossas considerações se concentrariam em seu Porte e trato humano. Nele veríamos apenas um homem, que nos cumulou de assinalados benefícios, e por Ele teríamos certa afeição natural e terrena.
No entanto, pelo fato de ter subido aos céus, Cristo espiritualizou nosso amor; fez-nos amar e venerar, como Deus, Aquele que sabemos estar ausente com sua Humanidade.

Nós o verificamos no exemplo dos Apóstolos. Enquanto o Senhor estava no meio deles, parecia que O consideravam por um prisma muito humano. De outro lado, o próprio Senhor no-lo afirma com Sua palavra: “ para vós é bom que eu vá”. Aquele amor perfeito com que os Apóstolos amavam a Jesus Cristo humanamente presente, devia ser aperfeiçoado pelo amor divino, e por sinal à vinda do Espírito Santo. Razão porque Cristo logo acrescentou: “Se Eu não me ausentar, não virá a vós o Consolador” (Jo 16,7).

4. dilata sua Igreja. Acresce que assim Nosso Senhor dilatou Sua casa na terra, que é a Igreja, cujo governo devia ser dirigido pela virtude e assistência do Espírito Santo. Como pastor e chefe supremo de toda a Igreja deixou entre os homens a Pedro, o Príncipe dos Apóstolos.

Além disso, “a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e mestres” (Ef 4,11; 1Cor 12,28). E sentado que está à direita do Pai, não cessa de distribuir, a uns e a outros, os dons que lhes convém a eles, como diz o Apóstolo: “A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida com que Cristo a distribuiu” (Ef 4,7).

Aplicação prática. Ao fato da Ascensão devem os fiéis aplicar os mesmos princípios que expusemos, anteriormente, a propósito do mistério da Morte e Ressurreição.

Nossa perfeita salvação, nós a devemos aos sofrimentos de Cristo; e Seus méritos patentearam aos justos a entrada para o céu.

Isso não obstante, a Ascensão de Cristo se nos apresenta como um modelo, que nos ensina a olhar para o alto, e transportar-nos ao céu em espírito. Dizemos mais, Ela também nos dá uma força divina, que nos põe em condições de fazê-lo.




Catecismo Romano: I Parte: Do Símbolo dos apóstolos, 7º artigo. 

 

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