domingo, 3 de dezembro de 2017

A guerra contra o Cardeal Sarah



Marco Tosatti para First Things. Tradução de Airton Vieira

Quando o cardeal Gerhard Müller foi destituído de seu posto no Vaticano, o principal objetivo do círculo que rodeia Francisco foi o Cardeal Robert Sara, prefeito da Congregação para o Culto Divino. Seu último golpe é a publicação de uma carta de “correção” dirigida ao Cardeal Sara e assinada por Francisco. Publicado no domingo, a carta foi celebrada como uma humilhação justa do cardeal e acompanhada de chamadas para sua renúncia.
A princípios deste outono, Francisco emitiu Magnum Principium, um documento que outorga às conferências episcopais uma maior liberdade para fazer suas próprias traduções de textos sagrados e liturgia. O cardeal Sara respondeu com uma carta que oferecia uma leitura limitada do documento, preservando o mais possível o poder de Roma para evitar más traduções (como o desejo dos bispos alemães de traduzir pro multis como “para todos”, em lugar de o corrigir “para muitos”).

Francisco declarou publicamente que Sara está equivocado, e que o Magnum Principium reduziu o poder de supervisão de Roma.


Esta é uma humilhação calculada ao Cardeal Sara – e não só a ele. Ao Papa Bento XVI, também, já que ele é o grande campeão da “reforma da reforma”, um intento de corrigir as inovações litúrgicas que seguiram ao Concílio Vaticano II. E de São João Paulo II, que em 2001 emitiu o documento Liturgiam Authenticam, que Francisco tratado de destruir com Magnum Principium.

O cardeal Sara sofreu uma humilhação similar há pouco mais de um ano, depois de que instou aos bispos e sacerdotes a celebrar o ad orientem da missa, mirando rumo ao leste, segundo a antiga prática da Igreja. Este foi outro esforço para avançar em “reformar a reforma”. O cardeal afirmou que havia falado com Francisco sobre o tema, e que ele havia dado seu assentimento à proposta. Se é assim, o Vaticano não fez nenhum reconhecimento deste fato em sua nota de negação contundente.

Outra humilhação ocorreu quando Francisco eliminou a maioria dos membros existentes da Congregação para o Culto Divino e os substituiu com personas que são mais hostis a Sara e seus pontos de vista litúrgicos. E está o assunto da “Missa Ecumênica”, uma liturgia desenhada para unir a católicos e protestantes em torno à Mesa Santa. Ainda que nunca se anunciou oficialmente, um comitê que informa diretamente Francisco esteve trabalhando nesta liturgia durante algum tempo. Certamente, este tema está dentro da jurisdição da Congregação para o Culto Divino, mas o Cardeal Sara não foi oficialmente informado da existência do comitê.
Segundo boas fontes, o secretário de Sara, Arthur Roche - que ocupa cargos opostos aos de Bento XVI e Sara - está envolvido, igualmente a Piero Marini, o homem de confiança de Monsenhor Bugnini, autor de obras tão notáveis como A Igreja no Irã e Novus Ordo Missae.
A esses nomes, agregue o Subsecretário de Culto Divino, Corrado Maggioni, e um profano, o liturgista extremadamente “progressista” Andrea Grillo. Recentemente, Grillo atacou duramente Bento XVI depois de que o Papa escreveu no prefacio de um dos livros de Sara que com Sara, “a liturgia está em boas mãos”. E Grillo atacou a Sara, chamando-o “incompetente e inadequado”.

Se Grillo se comporta tão grosseiramente, deve ser porque está seguro de estar protegido por amigos em lugares altos.
Agora, sabemos que Francisco não se preocupa muito com a liturgia, e provavelmente não lhe importa muito este tema tão particular. Mas sua orientação ideológica geral é não tradicional, e ele tende a pôr-se do lado da parte da Igreja que se chama progressista enquanto busca um regresso à década de 1970: os bispos da Alemanha, Bélgica e Inglaterra.
Algumas destas figuras agora estão pedindo a cabeça do Cardeal Sara. Mas isto é pouco provável que suceda. Foi Francisco quem nomeou Sara Prefeito do Culto Divino em novembro de 2014. Se quer substitui-lo, deve esperar ao menos dois anos, quando o mandato de Sara de cinco anos chegará a seu fim. Então os autodenominados reformadores que formam o “círculo mágico” para a liturgia devem suportar pacientemente a presença e a atividade do Cardeal, que não tem medo de lutar, nem sequer sozinho.
Por suposto, o partido progressista no Vaticano tem outro motivo para atacar o Cardeal Sara. Em dezembro, Francisco cumprirá oitenta e um anos. Os cardeais já estão pensando em um futuro conclave. Um dos homens considerados como mais suscetíveis é o cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, quem parece estar distanciando-se de alguns dos aspectos mais questionáveis do reinado de Francisco. E outro é o cardeal Robert Sara, conhecido por sua santidade de vida e sua falta de interesse em qualquer forma de poder ou coerção, incluso na Igreja.
Ademais, a África é o continente onde a Igreja cresce mais dramaticamente, e onde a fé se pratica amiúde até o ponto do martírio. Nada poderia ser mais apropriado que o próximo Papa proviesse desse continente. E assim chegamos à grande ironia da campanha para desacreditar a este calado e sofredor eclesiástico. O cardeal Sara é atacado precisamente porque é visto como possuidor das qualidades de um Papa.
Marco Tosatti 

Traducción de Adeste Fideles en Gloria TV
Artículo original en First Things


Fonte: http://comovaradealmendro.es/2017/11/la-guerra-cardeal-sara/

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