terça-feira, 31 de julho de 2018

Tudo isto perdoo aos protestantes, uma coisa não posso: confissão apologética de um jornalista

Gangs of New York (2002), de Martin Scorsese, una película donde está latente el conflicto religioso entre protestantes y católicos.


Tradução de Airton Vieira – A comemoração do quinto centenário da Reforma, cujo mítico ponto de início nos apresenta Lutero cravando em outubro de 1517 suas 95 teses heréticas na porta da capela do Palácio de Wittenberg, tem suscitado ao longo dos últimos meses numerosas análises sobre o significado desse feito. Angelo Stagnaro, jornalista e editorialista do National Catholic Register e do Catholic Herald, especializado em apologética, escreveu recentemente em Crisis Magazine uma reflexão sobre eventos históricos e teológicos vinculados a cinco séculos de conflito entre o protestantismo e a Igreja. A intitulou "Chamar as coisas por seu nome":





CHAMAR AS COISAS POR SEU NOME

Posso perdoar quase tudo aos protestantes e ao protestantismo.

O que perdoo...
Posso perdoar aos protestantes pelo Know-Nothing Party e sua criminosa revolta nativista da Filadélfia, as Intolerable Acts, o Bloddy Monday e as Orange Riots em Nova York de 1871 e 1872. Os perdoo as Emendas Blaine, que proibiram que o dinheiro dos impostos se utilizasse para fundar escolas paroquiais católicas.

Também posso perdoar-lhes pela 
Ku Klux Klan e por financiar ao maníaco ateu e genocida Plutarco Elías Calles e seus esforços por matar católicos durante as guerras cristeras.

Posso perdoar-lhes por chamar “Anticristos” e “Prostitutas da Babilônia” a todos e cada um dos Papas.



Também lhes perdoo por apoiar a Ata de Supremacia de Henrique VIII, em virtude da qual a Igreja ganhou muitos de seus modernos mártires. Igualmente lhes perdoo pelas Recusancy Acts e pelo fictício Popish Plot. Também lhes perdoo pelo fato de que, como católico, nunca poderei sentar-me no trono britânico mesmo que, literalmente, a todos os demais lhes está permitido.

Posso perdoar aos protestantes por 
The Troubles na Irlanda e por Oliver Cromwell e pela planificada Grande Fome Irlandesa e pelas matanças e a ocupação militar desse país. Lhes perdoo por escravizar a 50.000 homens, mulheres e crianças que foram expulsos à força da Irlanda e enviados às Bermudas e a Barbados como trabalhadores sem remuneração: os primeiros escravos da América. [ReL o explicava com detalhe aqui]

Lhes perdoo pelas 
Gavazzi Riots no Canadá e pela Ordem de Orange e pela Regulação 17 de Ontário que arruinou as escolas católicas de Quebec. Nem sequer mencionarei a American Protective Association e sua contrapartida canadense, a Protestant Protective Association, dado que decidi perdoar.

Também perdoo aos protestantes por converter à força a convictos e prisioneiros políticos católicos ao anglicanismo na Austrália; as conversões forçadas é algo que os terroristas muçulmanos têm estado fazendo durante mil e quatrocentos anos.

Perdoo aos protestantes por quinhentos anos de veneno e veneno escarrados por todos os pregadores andarilhos e porta a porta, a ebulição do ódio anticatólico que está no núcleo do primitivo mormonismo, do adventismo do sétimo dia e das testemunhas de Jeová, mesmo que não só deles: de fato, constitui em boa medida o anglicanismo e o metodismo tradicionais e muitas outras formas do protestantismo “mainstream”.

Perdoo aos protestantes que recusam referir-se aos católicos como “cristãos”.

Também lhes perdoo por ignorar deliberadamente os mil e quinhentos anos anteriores a Martinho Lutero, quando tudo o que era cristão na Europa Ocidental era, necessariamente, católico.

Lhes perdoo pela Kulturkampf de Bismarck, que inspira o atual assalto à liberdade religiosa na América e Europa. Não vos preocupeis, 
Jack Chick e suas ignorantes e venenosas Chick Tracts, por escarnecer os católicos como Mackerel Snappers [por abster-se de comer carne às sextas]: tudo está perdoado.

A missa, "uma abominação aos olhos de Deus", segundo esta caricatura dos populares Chick Tracts anticatólicos, que negam aos católicos a condição de cristãos. "Que pensa Jesus da Igreja católica? Ele a denomina a grande prostituta", se lê também.

Perdoo a Martinho Lutero por impor em todo o mundo uma Bíblia dessacralizada  e enormemente manipulada pretendendo que “Deus o quis assim”. 
Lutero tirou sete livros e partes de outros três do Antigo Testamento, cujo conjunto se denomina Septuaginta e foi utilizada pelo mesmo Cristo quando esteve entre nós.

E também perdoo a Martinho Lutero por aceitar financiamento de Solimão o Magnífico, sultão do Império Otomano muçulmano, enquanto ele “lutava” por separar-se da Igreja católica. Por diversão e conveniência, Lutero conspirou para empurrar a Cristandade à via, ao tempo que animava a seus companheiros protestantes a pôr-se do lado dos turcos muçulmanos para derrotar a Igreja católica e, com ela, a Europa. Solimão ampliou incluso sua extensa família para que abarcasse a todos e cada um dos protestantes da Hungria e Romênia, agora que já não eram “cristãos” (isto é, leais ao Papa). O sultão animou Lutero e os protestantes a unir-se sob a bandeira muçulmana para derrotar o imperador e o Papa. Recorde-se, por favor, que Solimão o Terrorista queria nada menos que varrer o cristianismo do planeta, para que logo falem de que a política faz estranhos companheiros de cama! Mas tudo isso está perdoado… o juro.

Perdoo aos protestantes pelo ridículo show televisivo 
700 Club e seus tediosos ataques à Igreja Una, Verdadeira, Santa, Católica e Apostólica.

Também perdoo aos protestantes por tardar 500 anos em dar-se conta de que a Sola Scriptura é uma enorme sem sentido e de que incluso Lutero tinha uma forte devoção à Santíssima Virgem Maria, a primeira cristã, a Mãe de Deus e a segunda pessoa mais citada nos Evangelhos. [Leia 
aqui em Cari Filii o que dizia Lutero sobre Maria, que logo muitos luteranos olvidaram.]

Fernando Casanova, antigo pastor evangélico, explica as incongruências protestantes sobre a Virgem Maria, a quem Lutero dedicou grandes louvores.

Também perdoo aos protestantes sua dissonância cognitiva ao insistir simultaneamente em que:

- 1) todo o mundo pode interpretar a Bíblia como goste e todos têm razão;
- 2) os católicos se equivocam na forma na que interpretam a Bíblia, o façam como o façam.

Perdoo aos protestantes seu anti-catolicismo, que é o que o historiador John Hinghham chamava “a tradição mais exuberante e tenaz da agitação paranoica na história dos Estados Unidos”, e o que o historiador Sir Arthur Schlesinger tem denominado “a inclinação mais profunda n história do povo norte americano”.

Também perdoo aos protestantes seu apoio à violência contra os católicos durante o autodenominado Iluminismo e pelo desenvolvimento da 
maçonaria e pela “questão religiosa” brasileira e por A Violência colombiana e pelo massacre da Miguelada [Michelade] em 1567.

Por certo, que o exótico caráter mágico da maçonaria contribuiu grandemente ao desenvolvimento das perspectivas arianas do mormonismo, o unitarianismo, o adventismo do sétimo dia, a Ciância Cristã e as Testemunhas de Jeová.

Por tudo isto, não tenho para eles mais que perdão.

Perdoo aos protestantes por fazer que o padre Nicolau Copérnico pusesse um freio em sua teoria heliocêntrica e em seus dados até depois de sua morte, mesmo que seu amigo, o Papa Paulo III, o animasse a publicá-los enquanto o cientista ainda vivia. Parece ser que Copérnico não queria molestar a Lutero e a Melanchton, ambos opostos ao paradigma heliocêntrico do sacerdote, e temia que suas teorias lançassem ainda mais os protestantes contra a Igreja da que acabavam de deixar.

Não o digo como um vazio lugar comum cristão: verdadeiramente lhes perdoo pela Grande Tragédia, isto é, sua ruptura com Roma do século XVI.

Também lhes perdoo pelas fanfarronadas e confusões, venenosas e reducionistas de João Calvino
Ian Paisley e a igreja batista de Westboro. Além disso perdoo aos protestantes por seu apoio e Schadenfreude, a tempo em que seu distanciamento e passividade durante o Terror Vermelho na Espanha e durante a repressão de Hitler contra a Igreja católica, em especial por A Noite das Facas Longas.

Mas meu perdão não se limita só a esse opróbio. Também perdoo aos protestantes holandeses seu apoio explícito ao shogunato Tokugawa quando massacraram dezenas de milhares de japoneses católicos no século XVI.

Lhes perdoo por todos e cada um dos quinhentos anos de 
estereótipos anticatólicos típicos em sua literatura, desde O poço e o pêndulo de Edgar Allan Poe [cujo protagonista é um preso torturado pela Inquisição espanhola] a O progresso do peregrino de Paul Bunyan, passando por O italiano de Ann Radcliffe [novela gótica, também de temática anti-Inquisição].

Lhes perdoo por apoiar ou consentir a Americans United por Separation of Church and State, raivosamente fundamentalista ateia, que foi uma organização originária e explicitamente anticatólica chamada Protestants and Other Americans United for Separation of Church and State.

Perdoo a todos os protestantes por crucificar a história da Europa com sua insidiosa e indecorosa lenda negra, que envenenou a mente de centenas de milhões de pessoas, que preferem crer as mentiras sobre a Inquisição antes que assumir o risco de ler algum livro a respeito.

Maria Elvira Roca Barea, autora de 
Imperiofobia y Leyenda Negra, relembra nesta entrevista as origens protestantes dessa fabulação. Clique aqui para ler um interessante artigo de Roca Barea sobre o luteranismo.

Incluso perdoo aos protestantes pelas incontáveis profecias sobre o fim do mundo que se têm demonstrado uma e outra vez absolutamente falsas. De passagem, também lhes perdoo por ignorar as Escrituras, que explicitamente explicam como distinguir entre os verdadeiros e os falsos profetas de Deus: “Acaso dirás em teu coração: como saberemos que esta palavra não a disse Yahveh? Se é profeta fala em nome de Yahveh, e o que diz fica sem efeito e não se cumpre, então é que Yahveh não disse tal palavra; o profeta o disse por presunção; não hás de temer-lhe” (Dt 18, 21-22).

Por acréscimo, perdoo aos protestantes por ignorar as palavras do mesmo Cristo (sublinhadas) quando designa a São Pedro como cabeça da Igreja: “E eu te digo, Pedro, que tu és pedra e sobre esta pedra edificarei minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).

Além da passagem anterior, os protestantes ignorarão o fato notável de que a Igreja Una, Verdadeira, Santa, Católica e Apostólica nunca desaparecerá. Nem sequer as portas do inferno prevalecerão contra ela. Se segue que se uma organização que diz estar inspirada pelo Espírito Santo desaparece miseravelmente, isso significa que o Espírito Santo não estava verdadeiramente com ela, como é o caso dos anabatistas, os shakers e os puritanos.

Onze igrejas protestantes fecham cada dia na América. É impossível determinar quantas fecham cada dia em todo o mundo. Atualmente há 41.000 comunidades protestantes em todo o mundo, o que significa que ao menos 40.999 estão completamente equivocadas. Isto não inclui as muitas dezenas de milhares de comunidades protestantes que têm desaparecido nos últimos 500 anos.

Claramente Deus não dita mensagens diferentes para semear intencionadamente discórdia, confusão e mentiras… no entanto, isto me recorda outro espírito inferior que disfruta fazendo exatamente isso (Jo 8,44).

... e o que não posso perdoar 

Mas o que não posso perdoar-lhes, ao menos não por agora, é seu insípido restauracionismo: a ideia de que, de alguma forma, Deus se equivocou há dos mil anos quando entregou o controle de sua Única e Verdadeira Igreja à Igreja católica e ao papado, cujo progenitor foi São Pedro, como atestou Cristo não uma mas duas vezes no Novo Testamento (Mt 16, 18-19 e Jo 21, 15-17).

O restauracionismo é a crença de que o cristianismo deve ser restaurado segundo foi durante a Era Apostólica, e usando nada menos que as Escrituras: um projeto condenado ao fracasso. Seu objetivo de restabelecer o cristianismo em sua forma original foi formado parte do cristianismo durante dois mil anos e, de fato, São Francisco de Asais também desejava “tornar ao essencial”, mas ele não cometeu o erro de crer que Deus havia cometido um erro ao pôr à frente São Pedro e seus sucessores. Melhor dizendo esperava re-centralizar a Igreja, não mudar o dogma e a autoridade.

Isto não é algo que possa obviar-se generosamente, como seu prévio genocídio de católicos em diversos continentes ou inclusive a dessacralização de nossos lugares mais sagrados durante os últimos quinhentos anos. Os milhares de milhões de mentiras protestantes sobre os católicos são nada em comparação com esta blasfêmia.

Sugerir que, de alguma forma, Deus se tenha equivocado em algo do que faz é uma grosseira impiedade e uma heresia blasfema.

O Ecce ego sto! de Lutero soa cada vez mais como o Non serviam! de Lúcifer.

Seja anátema o restauracionismo. Deus não comete erros (Sal 19, 7-10). Não gagueja nem recua, como Alá (Sal 12, 6-7). Não sofre confusão nem desconcerto (Nee 9, 6). Não necessita ajuda de ninguém nem de nada (Col 1, 6). Suas decisões são definitivas e perfeitas em seu amor e sua justiça (Prov 16, 10). Não necessita explicar-se a si mesmo (Rom 1, 20). Não aceita conselhos (Sal 33, 11).

Quando Deus confiou como pastores a Pedro e seus sucessores, não quis dizer “bom… podem ficar no mando até que a gente no século XVI o faça melhor”.

O restauracionismo está mais além de qualquer entendimento. Deus não é imperfeito, e portanto quem adora a um Deus imperfeito não adora a Trindade (Sal 18, 30).

Também os muçulmanos exaltam uma sorte de restauracionismo, na medida em que creem que o islã é o que Alá sempre teve em mente mas simplesmente não estava seguro de como levá-lo a cabo com êxito até que chegou Maomé. Creem que judeus e cristãos se corromperam ao mesmo tempo que seus sagradas escrituras, que são “pouco fiáveis” pelas maquinações de Alá. E que só eles têm uma compreensão perfeita e completa do “verdadeiro plano” de Deus.

Não lhes soa familiar?

Mas se isto é verdade, como no caso do protestantismo, então como se codificou a mensagem de Deus pela primeira vez? Não sabia Deus que sua mensagem seria mal interpretada? Se é onisciente e todo-poderoso, deveria tê-lo sabido. Um Deus inferior cairia facilmente neste erro.

Como é que ele foi tão tonto de confiar inicialmente na gente equivocada? Como é que simples mortais puderam dar-se conta de algo que Ele não viu (Jó 38, 1; 41, 34)?

Mas, e o que é mais importante, como podemos tornar a confiar nesta deidade imperfeita agora que nenhum de seus novos mensageiros, nenhum dos quais é divino, está já aqui? Talvez essa deidade está confusa de novo. É uma pendente resvaladiça cujo erro é fácil demonstrar.

Não vejo diferença entre o que creem estes restauracionistas cristãos e o que professam os restauracionistas islâmicos. Não é tão raro que há quinhentos anos os protestantes receberam financiamento muçulmano e apoio político e ideológico: Deus os cria e eles se juntam, como ocorreu.

Mas a principal razão pela que condeno o restauracionismo é porque se trata de uma ideia que não é concluinte. Quando alguém crê em grandes teorias sobre conspirações perversas, se as conserta para fazer-se passar pelo herói/campeão que Deus sempre esteve buscando. É seu momento e o de ninguém mais! Eles são a estreita linha sagrada que separa a Ordem do Caos, o Céu do Inferno. E na medida em que se lhes ratifica em seu status sagrado, tudo o que eles possam pensar, dizer ou fazer é aceitável. Depois de tudo, é o que “Deus quis” sempre…

Fonte: https://www.religionenlibertad.com/polemicas/60645/todo-esto-perdono-los-protestantes-una-cosa-puedo-.html

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