sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O que vem depois de Francisco?


Os riscos de apressar um final inevitável


Tradução de Airton Vieira – O Circo Máximo começa a desmoronar-se como uma nau na tempestade. Não me refiro à romana da antiguidade, mesmo que fale sim do circo romano de Francisco. Essa frágil arena, que soube encher-se de gente curiosa de ver bufoneadas doutrinais e gestos de ostensível humildade, vai-se caindo aos pedaços.

O golpe duríssimo de Mons. Viganò, seja qual foi a intenção, quebrou o mastro principal de uma tenda já demasiado açoitada pela desconfiança, as investigações da justiça e finalmente o repudio dos irlandeses à visita papal durante as jornadas da Família nas quais ambas partes, os liberais e os conservadores, lhe deram as costas. Nesse momento, em 22 de agosto, se produziu o informe, uma denúncia com duros dados, apresentada com muito sentido da oportunidade. E a típica resposta de Francisco quando o levam contra as cordas: o silêncio próprio e a máquina de propaganda a seu serviço crucificando o autor do informe sem dizer uma palavra sobre a veracidade ou não dos fatos denunciados.


No video abaixo, as ruas vazias na visita do Papa à Irlanda.



Francisco já é história, mesmo que dê trabalho depois de morto, insuflado pelo instinto de conservação próprio e de seu entorno. Muitos veem como se desmorona o fantoche que promoveram ao pontificado, em boa medida sem conhecê-lo. Um fantoche com vocação de tirano. Bergoglio foi sempre o mesmo, ao menos desde que chegou ao arcebispado de Buenos Aires. Sempre dúplice, confuso, enredador, sinuoso… sempre rodeado em seu círculo de confiança (modo de falar) por pessoas de merecida má fama. Pessoas imorais e com demasiada frequência pervertidas. Pessoas miseráveis que em um ou outro momento lhe havia “salvado a vida”, e jovens ansiosos de poder. Sempre foi um extraordinário manipulador de pessoas e loquaz malabarista de conceitos, com rosto pétreo, resistente a qualquer mentira. Nada lhe perturba, aparentemente, ainda que cada tanto – com um grau de violência verbal (obscena) que estremece – libere suas iras.


Bergoglio tem excelente memória. Recorda tudo e prepara suas vinganças. É um doente de poder e de vendetta.

E apesar do voluntarismo de muitos devotos católicos que o conheciam antes de assumir o Sumo Pontificado, mediante o qual se convenceram contra toda razão e sentido comum que a eleição papal lhe conferia umas águas lustrais de eficácia divina, Bergoglio continuou sendo ele mesmo. Não morreu, como anunciou um de seus máximos detratores, após a eleição, nem ressuscitou com uma aura de santidade. Creram que encarnava o desejo expresso do Espírito Santo soprado nos ouvidos dos eminentíssimos cardeais do conclave de 2013. Sem entender nunca a doutrina elementar sobre os atos humanos e a assistência divina.

Bergoglio continuou sendo igual, ou talvez pior. Antes pode ter sido um louco que se via no futuro como Francisco, mas se tornou o mesmo louco realmente convertido em Francisco. Bergoglio trabalhou longamente sua ascensão ao poder supremo da Igreja. Já se sonhava Francisco desde 2005. A eleição lhe escapou, mas Ratzinger não podia durar muito segundo os cálculos humanos. E como ele e seus patrocinadores viram que não só durava demasiado como que fazia coisas importantes, o derrubaram. Com a ingênua participação de alguns cardeais norte-americanos. A máfia de São Galo emergiu do inferno, preparou o caminho, o pôs na vitrine, mas foi eleito por muitos que ao que parece estavam no limbo dos inocentes, os que agora o querem lançar fora. Lhe deram o voto sem olhar atentamente e desde muito já não o toleram mais.

Consideremos a hipótese de uma nova renúncia papal, esta vez pressionada por escândalos que vão emergindo. Viganò está longe de esgotar os excessos de Francisco. Fica por esclarecer sua relação com a máfia dos Clinton e suas filiais satanistas. E agora o assunto dos giros misteriosos do governo kirchnerista que acabaram no IOR sob capa de doações à Cruz Vermelha e o engendro incompreensível chamado Scholas Occurrentes, por onde se envia tanto dinheiro.

Suponhamos que tudo isto não alcance. Mas também suponhamos que para os patrocinadores de Francisco, que gozam de posições de poder muito mais inacessíveis que os cardeais pervertidos, Bergoglio deixa de ser um ativo para converter-se em uma hipoteca demasiado cara e lhe larguem a mão: o que vem? Não pergunto quem mas que. Um Francisco II mais prolixo que estabilize a Igreja no ponto onde já fiquem naturalizadas como doutrina as bobagens sinodais? Uma renúncia ao que os conservadores têm chamado até pouco tempo “princípios não negociáveis”? Se conformará a maioria do clero com um divórcio por via de discernimento, uma homossexualidade misericordiada, vários tipos de família para eleger e o planejamento familiar das drogas anticonceptivas? Isso sim, porém, “mais prolixo”.

O único mérito deste pontificado tem sido dividir as águas. Mas não se têm dividido de todo. Muitos sonham com uma restauração na que poriam Bento novamente no trono pontifício, se fosse possível. Se Bento, com todas suas limitações, logrou que o depusessem por “apenas” dar mais liberdade à liturgia tradicional e empreender uma limpeza dos perversos do clero, que setor aceitaria outro Bento? Como procederia este neobento para reparar as torpezas de Francisco? As convalidaria com algumas aclarações ao pé [de página]? Me parece impossível. Francisco fez um favor à Igreja marcando um ponto desde o qual já não há retorno cosmético. Se regressa à Tradição ou quem venha não pode durar, talvez nem sequer logre vir. Neste caos, é possível um conclave? A probabilidade mais razoável é que haja dois. Talvez sucessivos, ou um desgarrado do outro. As partes são irreconciliáveis. E os que querem permanecer no meio não têm já lugar.

Respeito o clamor de renúncia mas não me uno a ele. Bergoglio, sim é papa, não pode ser deposto por seus maus hábitos, sua imoralidade, suas cumplicidades. Antes de aparecer universalmente rodeado da máfia rosa, muitos sabíamos que era um de seus grandes promotores. O alertamos por sua confusão, pela incrível sequência de disparates doutrinais, gestos destinados a confundir, alianças e preferências pelos inimigos declarados da Igreja. Essa é sua pior parte. No entanto, se vamos pontificados atrás, houve coisas muito parecidas às que ele fez em seu particular estilo. Esta máfia já foi denunciada por Malachi Martin nos anos 90 em “El Último Papa”[1], e esse papa era “eslavo”. Maciel[2] não foi protegido por Bergoglio mas por João Paulo II, para não entrar em numerações tediosas. Paulo VI tem aspectos obscuríssimos de sua vida, também orientados neste sentido que hoje se reclama. O horror veem in crescendo, e Bergoglio é sua apoteose.
Se Bergoglio é deposto, se acaso isto é possível, deveria ser acusado por sua evidente intenção de heretisar. Mas os cardeais sobreviventes das famosas dubia continuam duvidando. Entendo que politicamente esta circunstância é mais eficaz, mas se queremos restaurar a santidade do Pontificado e dos membros da Igreja e limpar seu Rosto imaculado necessitamos algo mais que política. Não gosto dos mártires que fogem. Ou os que chegam a um ponto e calam. Por agora é o que temos visto.

Entretanto uma mera especulação política conclui também em que é um perigo acelerar este fim. Se há um “golpe de estado” é de crer que há um candidato a sucedê-lo, mas não apostaria nisso. Ainda poderiam participar na eleição os mesmos que puseram a Bergoglio, os que o toleraram, os que não o enfrentaram. Se se busca empurrá-lo do poder e não se tem ninguém para supri-lo, ninguém que se atreva a algo mais, quase é melhor que as coisas fiquem como estão. Ao menos por um tempo, até que Deus suscite esse homem providencial, ou se forme um grupo de membros da hierarquia dispostos a resgatar a Igreja.
Muito me tenta a ideia de que se vá. Sem embargo, depois de ter vivido o suficiente como para não alimentar ilusões, temo que venha algo pior. Como diz New Catholic em seu editorial em Rorate Caeli, Francisco já é um cadáver moral, mesmo que exerça um poder jurídico. Talvez seja melhor deixar que Deus disponha quando esse poder deva mudar de mãos.

Fonte: http://panoramacatolico.info/articulo/lo-que-viene-detras-de-francisco


[1] Em português: “A Casa Varrida pelos Ventos”. Original: “Windswept House”. [NdT]
[2] Trata-se de Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo. [NdT]



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