quinta-feira, 1 de maio de 2014

Como as músicas pevertem a natureza humana


 O único fim, o único objetivo de toda música é o louvor a Deus e a recreação da alma. Quando isso se perde de vista, não pode haver mais verdadeira música, restam somente ruídos e gritos infernais” (Johann Sebastian Bach)

Na atual idade das trevas, principalmente na época iniciada na segunda metade do século XX, é impossível ignorar um fenômeno internacional, que envolve milhões de pessoas e representa milhões de horas de audição.


Analisemos um pouco essa música inseparável da vida quotidiana da juventude atual.


Designaremos  aquele tipo de música que os jovens escutam desde 1950 até nossos dias, incluindo, logicamente, as variações dentro dos mesmos estilos. Incluímos o velho “rock n’roll”, o blues, o jazz, o pop, o techno, o funk, o rap, reggae, axé, forró e demais selvagerias. Todos esses diversos tipos pertencem a uma mesma família - embora uns tentem se mostrar mais cultos, inteligentes, politicamente engajados e até mais heroicos do que outros; compartilham entre si características essenciais, utilizando os mesmos princípios de composição e de interpretação. São estes princípios específicos que chamam nossa atenção.

O objetivo é considerar esses estilos sob o prisma musical, considerá-lo única e exclusivamente como música, composto de elementos comuns a todo gênero de música: melodia, harmonia e ritmo.



Apesar de serem comuns a toda música, esses três elementos não ficam dispostos da mesma forma, nem têm a mesma importância. Bach e U2, Chopin e AC-DC, Dvorak e Black Sabbath, Haendel e Rolling Stones, utilizam em suas composições melodia, harmonia e ritmo mas não do mesmo modo. Como é que esses músicos utilizam tais elementos? Na prática, qual é a diferença, musicalmente falando, entre o solo de um guitarrista de Pink Floyd e uma Fuga de Bach?

Mas a diferença é evidente, pode objetar o leitor. Então, porque tantas páginas para demonstrar algo tão claro como a água: “Bach é a verdadeira música, o rock não é mais do que barulho”?

... Mas se o rock fosse apenas barulho sem dúvida não teria tal êxito: grave o barulho de um engarrafamento em sua cidade, depois divulgue-o, isso não seria suficiente para fazer de você um ídolo. Demonstrar que o rock não é música e é só barulho não é tão simples.

Assim, limitar-se a acusar o rock – não sem razão – de ser uma música para drogados, demoníacos e depravados, não é argumentação suficiente para os jovens apaixonados por essa música; ao contrário, isso reforçará seu apego a ela só pelo gosto de desafiar e de ser “originais”. O resultado seria o contrário do esperado...

A palavra mousike, mousiké, designava o conjunto de artes inspiradas pelas musas: a poesia, a música e a dança. Depois, mais particularmente, foi aplicada à arte dos sons. As possibilidades de ordenação dos sons são inúmeras, mas é possível definir os princípios que regem essas possibilidades. Esses princípios se aplicam universalmente em qualquer época, para qualquer instrumento, para qualquer gênero musical. Podemos encontrar três elementos comuns a toda forma musical, seja romântica, medieval, barroca, clássica, folclórica, sinfônica, polifônica, de câmara, sacra ou uma ópera. São eles:


 Melodia - Harmonia – Ritmo


 A Melodia:

A melodia é a sucessão de sons cuja escrita linear constitui uma forma, é o arranjo particular das notas musicais. Além de ser uma série de sons organizados e agradáveis ao ouvido, a melodia produz também um efeito sobre a alma humana: ela exprime sentimentos, paixões; traduz um pensamento, expressa uma realidade ou um ideal; com algumas notas, a melodia evoca um ser querido,ou uma estação.

Desenvolve-se “horizontalmente” como um relato; cada uma das notas engendra outra nota. Pode fazer-nos rir ou chorar, amar ou odiar, crer ou desesperar, sonhar ou dançar. A melodia é a alma da música. Ela revela a genialidade ou manifesta a pobreza de um compositor.

A melodia se dirige ao que o ser humano tem de superior: a inteligência, a nobreza da alma, o desejo de infinito, de felicidade.

A paciência ou o estudo bastam para reunir sons agradáveis, mas a composição de uma bela melodia é obra de gênio. A verdade é que uma melodia bonita não necessita de ornamentações nem de acompanhamentos para agradar. Para saber se é realmente bonita, temos de cantar a melodia sem acompanhamento”, afirmava Joseph Haydn, cujas sinfonias transbordam grande riqueza melódica.

A música é a arte que exerce maior impressão sobre o ser humano: ela sustém o soldado pronto a sacrificar a vida, eleva a Deus – o canto dos salmos, essencialmente melódico, fazia chorar Santo Agostinho – consola os aflitos, equilibra os temperamentos ou os abala violentamente. A música pode ser constituída por uma simples melodia: é o caso do canto gregoriano, de uma partita para violino de Bach, ou o toque de um clarim.

Em si, a melodia não necessita de um acompanhamento. Este acompanhamento poderá valorizá-la e enriquecê-la, mas nunca substituí-la.


A Harmonia:

É o conjunto de princípios sobre os quais se baseia o emprego de sons simultâneos, a combinação das partes instrumentais ou das vozes; é a ciência, a teoria dos acordes e da simultaneidade dos sons. Um acorde é um som composto por várias notas.

O canto polifônico (Palestrina, Vittoria, de Lassus...), o contraponto (1), a arte da Fuga (J.S.Bach), aorquestração sinfônica (Beethoven, Mahler...) supõem um perfeito conhecimento das leis da harmonia. Ela oferece menos liberdade do que a melodia, da qual é serva. Se a harmonia emancipa-se e é exacerbada, a pureza melódica ficará prejudicada.

Isso não significa que a harmonia seja algo elementar. Ao contrário, pode ser muito complexa, mas em si não é absolutamente necessária à melodia: o canto gregoriano, tão apreciado pelos grandes músicos5, é cantado em princípio a capella, isto é, sem acompanhamento do órgão.

Etimologicamente, harmonia vem de uma palavra grega que significa “conjunto”, “junção simultânea”: a harmonia é arte de juntar, de combinar sons, em função de uma linha melódica. A melodia e a harmonia se enriquecem reciprocamente, mas a primeira domina e a segunda se apaga. A harmonia será tão melhor quanto menos se impor, ocupando seu lugar de modo preciso e discreto.


Um orador que faça uso da arte do discurso apenas para fazer-se notar e não para expressar ideias, torna-se pedante, seu discurso é vazio. Ele canta mais do que fala, e faz de si mesmo o fim do discurso. Da mesma forma, uma harmonia desmedida que queira atrair excessivamente a atenção sobre si, transforma a música num sentimentalismo vão ou uma fanfarronice. Uma harmonia pobre e repetitiva também reduz a música numa série enjoativa de acordes que “giram em círculo”.

Nada mais desagradável, por exemplo, do que um organista que utiliza uma composição gregoriana para fazer ouvir seu próprio acompanhamento; é um contrassenso musical: a melodia não ocupa mais o 1o lugar, é traída pela harmonia que deveria servi-la. Os sentimentos do organista, insuflados por suas pretensões musicais, asfixiam a pureza melódica e tiram dela seu conteúdo.

É esse mesmo erro que caracteriza as músicas da modernas, cujas melodias, contrariamente ao exemplo precedente, são de extrema pobreza. Para compensar tal pobreza, o acompanhamento dessas melodias é sobrecarregado de todo tipo de efeitos, não só harmônicos, como também vocais, instrumentais, rítmicos considerados “excepcionais” comercialmente, sem dúvida, musicalmente, não. A maior parte dos êxitos da música moderna, por exemplo, ilustram isto. Além do mais, é sintomático que esses sucessos da moda sejam passageiros, enquanto que as grandes obras musicais atravessam os séculos, imutáveis. O tempo é também, a posteriori, um critério de beleza.


O ritmo

O ritmo dá uma estrutura à melodia. Consideraremos aqui o ritmo compassado regular, em dois tempos (marcha), três tempos (valsa), quatro tempos, etc.

O caso do canto gregoriano, em que o ritmo não é cadenciado, tem de ser considerado à parte: suas linhas melódicas se desenvolvem por sucessões de “arsis” (impulsos) e de “tesis” (descansos), em função do sentido do texto e do acento da palavra em latim. Esse ritmo particular, que nenhum metrônomo pode medir, é a imagem da oração, “a elevação da alma a Deus” seguida de seu descanso em Deus; a quironomia (A arte de dirigir um coro com as mãos (“kiros”, em grego: mão)) do canto gregoriano, sendo tão precisa como a regência clássica, não é menos “imaterial e flexível”.

Mas, seja neste caso ou no da música clássica em amplo sentido, aplica-se a afirmação de ritmo dada por Platão, “ordem do movimento”.

Evidentemente, o ritmo em si não é uma coisa má!  A natureza que nos cerca está cheia de ritmos: as estações, as batidas do coração, o golpe dos cavalos, o canto dos pássaros, as ondas do mar, o sussurro do vento, a órbita dos planetas no espaço... obedecem a ritmos presentes na criação. Embora esses ritmos não sejam estritamente periódicos, mesmo quando muitos são de uma impressionante regularidade como as batidas do coração (graças a Deus!), inscrevem-se, quaisquer que sejam, na imensa “ordem dos movimentos” da qual o Criador é o 1o Motor. Constituem um elemento importante na ordem e beleza da Criação.

Os ritmos da música participam de certa maneira dos da Criação, assim como as cores das harmonias refletem sua beleza. A melodia, ainda mais elevada, nasceu analogicamente do músico como a Criação nasceu do pensamento de Deus. É o traço de um desenho, a linha de uma escultura.

O artista recebeu do criador o dom de produzir “beleza”.

Mas, diferentemente da harmonia, o ritmo dirige-se ao homem em sua parte inferior, na parte corporal de seu ser. Seu corpo é movido pelo ritmo que o faz dançar, aplaudir, marchar, vibrar ou ao menos mexer os pés compassadamente. Utilizado além da medida o ritmo afogará a melodia e a harmonia. Se for violento, destruirá a melodia e a harmonia.

Na boa música, o ouvinte se sente pacificado precisamente porque esses três elementos – melodia, harmonia, ritmo – ocupam cada um seu devido lugar em perfeita conformidade com a natureza humana: alma (inteligência e vontade), coração (sensibilidade), corpo.

Assim, realiza-se o adágio: A música suaviza os costumes”, eleva a alma, enobrece os sentimentos e ordena as paixões.


A beleza na música

O grande mestre do coro do mosteiro beneditino de Solesmes, Dom Joseph Gajard, enquanto celebrava uma missa rezada demorou mais do que o costume na leitura do gradual, a ponto de o acólito perguntar se ele havia se sentido mal. “Não - respondeu Dom Gajard – eu não estava compreendendo bem o sentido do texto, então cantei comigo a melodia, e ela tudo me explicou”.

Não há mais que um problema, só um: voltar a dar aos homens um significado espiritual, fazer chover sobre eles algo parecido ao canto gregoriano... Não há mais que um só problema: redescobrir que há uma vida ainda mais elevada do que a da inteligência, e ela é a única que satisfaz o homem”.

A melodia gregoriana tem esse poder, como revela essa obra inigualável, o introito “Ressurexi”.

Os conselhos que D. Gajard dá em seguida são particularmente interessantes: mostram como essa música é inconcebível sem a vida interior que a inspira e a anima. É antes de tudo o canto da alma que dá uma forma ao que é somente uma sucessão aparentemente sem grande valor de algumas notas. Certamente a beleza musical está ligada também a sua interpretação; esta interpretação terá tanto mais êxito quanto mais se conformar à inspiração do compositor. A inspiração, etimologicamente, é este sopro interior que guia o compositor.

A música não é só uma série de notas e de sons. Ela vai muito além, traduz uma ideia, um quadro, um combate, um ideal, sentimentos e paixões. Toda música, certamente, revela o seu compositor.

O adágio escolástico: Agitur sequitur esse (a ação segue o ser) também se aplica à música. Bach, Beethoven e Mozart ou o roqueiro, axezeiro, forrozeiro, funkeiro, regueiro, pagodeiro, sambista e demais selvagens cantam o que são, sua grandeza ou sua baixeza, sua paz, sua confiança ou suas lutas interiores, sua inteligência ou sua animalidade. Eles cantam aquilo que amam: Deus, a Virgem Maria, sua Pátria... ou o amor pervertido, a sensualidade, seu ego, as forças do mal, etc.

Dom Gajard assinala aqui a importância do conhecimento do catolicismo como fonte para uma boa interpretação. Façamos a transposição para o mundo da música clássica. É claro que uma séria formação em Humanidades é uma das grandes lacunas de nossa época de técnicos e computadores. O teclado que nossos jovens contemporâneos utilizam febrilmente raramente é o de um órgão ou de um piano. Ora, se a música é uma forma de expressão, é necessário que haja algo para expressar por parte do músico e alguma coisa que possa ser compreendida por quem escuta. Se este último cresce num mundo onde a formação na área de ciências humanas (literatura, arte, filosofia, história, música...) está ausente e ainda por cima, é substituída por uma formação excessiva em ciências exatas, naturais e informática, é claro que o resultado será uma música feita de tecnologia e de brutalidade, enquanto que a música clássica será para ele como um estrangeiro porque se desenvolve num mundo real, humano, e não num mundo virtual e desumano.

A compreensão e o amor da música e sobretudo sua criação, necessitam de um mínimo de vida espiritual, a única que pode satisfazer e elevar o homem.


 A música rock

Sabemos como a sensibilidade pode ser fortemente desestabilizada pelo emprego de ritmos devastadores ou de dissonâncias sistemáticas, e isso não contribui evidentemente, para a santificação pessoal, inconcebível sem o domínio das paixões.

Na verdade, o rock é um retrocesso musical. Por princípio, os elementos essenciais da música no rock estão invertidos. O ritmo ocupa ampla e completamente o primeiro lugar, a harmonia o segundo e a melodia o último. Essa inversão é verificada em quase todas as peças do rock, difundidas continuamente nas estações de rádio. É também o repertório musical mais vendido e, portanto, o mais escutado.

A seguir analisaremos  estrutura da música rock e veremos as distinções que se impõem.


 O Ritmo

É o elemento mais importante no rock, ninguém pode negar. De fato, não se pode conceber a “música rock” sem o ritmo, que pode ser classificado de tirânico. Vimos que a função do ritmo na música é dar uma simples estrutura à melodia, que constitui a essência da música. Se não fosse assim, a música seria a mais aborrecida de todas as artes, resumindo-se em diversas cadências.

A palavra “ritmo” vem de “rima”, que distingue a poesia da prosa, um texto “normal” sem cadência particular.

O “rock n’roll” nasceu dos requebros grosseiros de Elvis Presley e do “beat” (batimentos, série de golpes rítmicos) agressivo de suas canções. O nome dos “Beatles” é um jogo de palavras entre “beetle”, besouro e “beat”, golpe. Não existe nenhum grupo de rock sem bateria. Esse instrumento de percussão ocupa o lugar central do grupo e impõe um ritmo constante, muito marcado e pesado. É obstinado, essencialmente repetitivo, apoiado e amplificado por um baixo que o segue cegamente.

Dois fatos concretos darão uma ideia da absoluta necessidade desse ritmo duro e lancinante:

· Durante um show do “The Who”, o baterista, Keith Moon, colapsou repentinamente por causa do abuso de drogas e/ou álcool. O grupo parou de tocar; o cantor e os guitarristas não eram suficientes para suprir a falta do baterista. Foi preciso que o líder da banda perguntasse ao público se não havia algum baterista de rock, mesmo que não fosse profissional. Sim, havia um, e então foi possível continuar o show.

Isso é impensável na música clássica: se o percussionista se ausentasse por algum motivo, a obra seria indubitavelmente tocada. O público não seria mandado embora. A obra perderia um apoio rítmico, mas que não é absolutamente indispensável, salvo algumas raras exceções que concernem só algumas partes da partitura. A orquestra poderia realizar sua interpretação, enriquecendo o auditório com suas melodias e harmonias, muito mais essenciais.

Durante os ensaios, na maioria das vezes, os roqueiros buscam nervosamente, ao acaso, em suas guitarras, ou eventualmente no teclado, as notas que “cairiam bem”, sem nenhuma consideração de tonalidades (maior/menor) de escala de referência. Eles eventualmente escolhem uma tema que seja o mais simples e percuciente possível. A bateria impõe seu tempo e nada vai detê-la. Sua estrutura, de uma rigidez absoluta (tac-pum, tac-pum, tacpum, tac-pum-pum) é a lei suprema que não deixa lugar nem a um mínimo de busca melódica e harmônica com todas as nuances que implicam.

Certamente estou me referindo aqui ao rock básico, mas o princípio é o mesmo no mais “evoluído”: o ritmo impõe sua lei aos cantores da... liberdade sem freios, e não é qualquer ritmo: um golpear violento e inexorável...

Toda a “arte” do rock se resume em dar o ritmo, e como autômatos, o cantor e os outros integrantes devem contribuir para isso.

O ritmo se dirige, como já dissemos, à parte inferior, animal, do homem. Não nos surpreendemos ao observar que a impureza sob todas as formas mina a juventude ligada ao rock. Não precisa falar aos leitores  de todas as “estrelas” do rock sobre o assunto e a maior parte das letras de suas músicas.

Poderíamos igualmente lembrar os graves problemas psicológicos que o ritmo obsessivo do rock acarreta, algumas vezes até originando um transe. Os problemas mais frequentes são a incapacidade de prestar atenção e uma certa forma de depressão. Os jovens suicidas são também muito numerosos. O rock não apenas incita explicitamente o consumo de drogas, mas é em si mesmo uma droga.

Os roqueiros não escondem seu objetivo: “Nossa intenção é impedir que as pessoas pensem” (Paul Stanley, do grupo Kiss). “A estratégia própria do rock n’roll é conquistar os corações e atacar as inteligencias” (Bernardo Vilhena, roqueiro brasileiro).

Quantos jovens que ouvem rock são vítimas inconscientes dessa música! Quantos jovens católicos (sim!) comprometem sua salvação, desprezam os dons de Deus, são escravos do pecado, perdem uma possível vocação unicamente porque seus pais deixam-nos escutar a “música atual”!

Por que esse adolescente que, apesar de tudo, não é um jovem mau, é insolente na escola, em casa, preguiçoso, desordenado, facilmente colérico, instável, centrado em si mesmo? Analisem o tipo de música que ele sempre escuta, e terão uma boa parte da explicação.

Quando o rock invade a juventude, desordena sua sensibilidade, enfraquece sua vontade, apaga as aspirações de sua alma e a desconecta do mundo real porque, musicalmente, o rock é uma aberração. Suprimam seu ritmo, o ordenem, imponham que ele ocupe seu lugar subalterno, introduzam uma bela linha melódica, deem-lhe um acompanhamento harmônico matizado e então começarão a ter verdadeira música, a que faz a juventude desabrochar.


 A Harmonia

No rock ela fica limitada, em geral, a três ou quatro acordes que se repetem continuamente. A facilidade técnica é sempre constante no rock. Por que se esforçar para estudar harmonia se o essencial é dado pelo ritmo? O violão é um instrumento particularmente difícil, que exige um grande esforço de aprendizado. A peça Asturias, de Albéniz, não se aprende de um dia para outro, arranhando alguns acordes!

Quais são os acordes utilizados no rock?

Estes acordes, três, são exclusivamente acordes de sétima, de mi com sétima, de lá com sétima e de si com sétima. Interessante, o acorde de sétima é utilizado na música clássica como um acorde de transição, resolvido por um acorde consonante segundo uma tonalidade pré-definida: si menor, Ré Maior, etc. No caso do rock eles são os acordes fundamentais. Isso é uma aberração musical. Obviamente todas as peças de rock não utilizam necessariamente o acorde de sétima, mas esses acordes constituem a base do rock.

É claro que o efeito desses acordes dissonantes, desta constante desarmonia, será uma atmosfera de tensão contínua, de mal estar, de instabilidade, de vazio na alma, de frustração. A sensibilidade não terá um instante de repouso, especialmente se o acorde final for um acorde de sétima, como no caso do “blues”.

Outros tipos de acorde são aqueles compostos por duas notas (por exemplo, mi-si),
alternados e repetidos com outra nota (fá #), tocada pelo dedo mínimo da mão direita,
colados ao ritmo, chamados de shuffle rock, extremamente utilizados por Chuk Berry em “Johnny be good”, “Roll over Beethoven” etc.


Resumindo: a harmonia no rock consiste e se limita ao uso de acordes essencialmente dissonantes ou empobrecidos, em número restrito e repetidos constantemente.


 A melodia

Em 99% dos casos é de pobreza alucinante. Esse elemento essencial da arte musical não é importante no rock.

Aqui a rainha da música não passa de uma miserável serva. Vejamos dois exemplos, que não são dos piores casos:

- O título da canção “Goin’ Down” dos Monkees” repete-se 85 vezes em dois minutos.

- O da canção “Cheap thrills” de “Rubens and the Jets” repete-se 36 vezes em 2,5 min.

Muitas vezes uma melodia de rock não chega a um termo; o final não é preparado porque não há nada a preparar. A conclusão será feita numa explosão ruidosa, ou em muitos casos, consistirá em repetir uma frase ou uma série de notas.

Num disco, o final da música é a diminuição progressiva do volume ou os gritos histéricos do público que acabam por interromper a peça de rock.

No “rap” a melodia acaba por desaparecer completamente, tragada pelo ritmo: o cantor pronuncia as palavras (não comentamos aqui a qualidade e o vocabulário particularmente escolhido) seguindo o ritmo e suas síncopes. O grupo “Eminem” é um dos principais representantes do “rap”, uma nova forma do rock muito apreciada atualmente.

Essas “melodias” embrutecedoras, escutadas muitas vezes pelos jovens, gritadas em seus ouvidos por seus MP3 e/ou i-pod, terão o mesmo efeito que uma Serenata de Schubert, um coral de Bach ou um moteto de Mozart?

Uma nobre melodia enobrece, uma melodia pacífica traz paz, uma melodia pobre produz embrutecimento.


 Efeitos especiais

São necessários para compensar um conhecimento insuficiente da música e uma técnica limitada.

Esses efeitos especiais têm por objetivo aumentar o impacto sonoro e exacerbar os sentidos. O leitor pode concluir que, com esses efeitos, uma banda de rock fará o que quiser com seu público.

· A guitarra é provida de uma barra para distorção das cordas.

· O guitarrista utiliza pedais de distorção, “fuzz”, “wah-wah”, etc., conectando a guitarra ao amplificador. Eles permitem metalizar, triturar o som, prolongá-lo, produzir eco, transformá-lo num ruído de avião, de bombas (por exemplo na “interpretação” do Hino dos EUA por Jimmy Hendrix), etc.

· Pode-se utilizar também um “bottle neck” que é um cilindro de metal colocado no dedo indicador da mão esquerda que permite deslizar sobre as cordas.

· O volume, nos show e boates, frequentemente está acima do limite que o ouvido humano pode suportar. Os fãs de rock sofrem muitas vezes de problemas auditivos irreversíveis. Quanto aos roqueiros, o volume dá-lhes uma impressão de poder, de invencibilidade e lhes permite criar um ambiente de violência extrema.

· O guitarrista utiliza simultaneamente uma palheta entre o polegar e o indicador da mão direita para facilitar os golpes e os trinados rápidos e prolongados.

· Uma guitarra elétrica compõe-se de um braço maior do que o do violão, fixado sobre uma caixa muito recortada, que permite tocar notas extremamente agudas. Além disso, para aumentar o “prazer”, pode também produzir efeitos larsen (microfonia).

· O solista, geralmente, não passa diretamente de uma nota a outra, e sim progressivamente, distorcendo a corda; o que lhe permite tocar deliberadamente um pouco acima ou abaixo do acorde do acompanhamento.

· O baterista pode eletrificar sua bateria, assim como sintetizá-la, isto é, tocar uma nota musical a cada golpe.

· O cantor necessita de um microfone colado a seus lábios, e conectado a um sistema que permita dar eco ou profundidade e sua voz.

· Luzes deslumbrantes, sincronizadas com o ritmo, varrem a multidão, ou decompõem os movimentos.

Citamos apenas alguns efeitos relacionados à música: são eloquentes. Todos contribuem para o aumento da excitação dos sentidos até o paroxismo.


 As letras

É necessário falar sobre as letras, pois, como já vimos, a música tem uma estreita relação com elas:

- Os temas mais frequentes são: droga, violência, sexo em todas suas formas, rebeldia contra a ordem estabelecida.

- A qualidade, sem falar dos “yeah”, dos gritos, etc., oscila entre o horror e a nulidade,
quando não chegam à blasfêmia. Se nossa juventude entendesse essas letras em inglês, talvez refletiria um pouco antes de ouvi-la novamente.

A beleza de uma música é proporcional à nobreza dos sentimentos que ela traduz e chega à altura dos textos sagrados, obras literárias, ou simplesmente de bom gosto (canções folclóricas) que ela ilustra. Não podemos então deduzir, a contrario, o rock e a vulgaridade andam necessariamente de mãos dadas?

Vejamos alguns exemplos de inspiração dos roqueiros: “Sympathy for the Devil” (“Simpatia pelo Demônio”, Rolling Stones), “Lucy in the Sky with Diamonds” (L.S.D. – droga, Beatles), “Brown Sugar” (droga, The Doors), a canção “We are the champions”, tão ouvida em 1998 por ocasião da vitória francesa na Copa, é na verdade o hino do movimento homossexual dos EUA”.

Dead Babies” (Bebês mortos, de Alice Cooper), “Hell’s Bells” (Os sinos do inferno, do grupo AC/DC), “O álbum branco do demônio” com a música “Revolution nº 9” (Beatles, 1968), “O sacrifício mais agradável a Satanás é matar os bebês não batizados”, canta Black Sabbath em seu disco “bloody sabbath”, “sabbath sangrento”, o grupo Prince canta: “Façamos como se estivéssemos casados (amor livre), etc., etc.

Seria facílimo encher páginas e páginas de citações repugnantes dos grupos mais ouvidos pela juventude.

Um tipo de música adapta-se perfeitamente a esses temas: é o rock. A música clássica, durante o desenvolvimento de toda sua história, jamais se viu submetida a tal depravação.

A beleza é o “esplendor da verdade” (Aristóteles). Ora, o rock, em graus distintos, é o vínculo musical preferido da mentira. Portanto...


 O “Rock de qualidade”

Não é raro ouvir elogios às qualidades técnicas desse ou daquele cantor ou músico de rock, ou às vezes às composições de determinado grupo.

Os mais citados são: Pink Floyd, os Beatles, Carlos Santana (guitarrista roqueiro latinoamericano), Emerson (do grupo “E.L.&P.”), Eric Clapton (guitarrista). Ginger Baker (baterista) e alguns outros.

O disco “The dark side of the moon”, do grupo Pink Floyd, foi o fruto de um ano de
trabalho num estúdio de gravação. É verdade que esse disco tem uma dimensão harmônica diferente dos rocks comuns.

Os Beatles compuseram melodias agradáveis e bem acompanhadas (“Let it be”, “Hey

Jude”, etc.)

O guitarrista Santana pode tocar o que quiser em sua guitarra. É um mestre em
improvisação. Assim é também o guitarrista do grupo “Yes”, que executou, durante um
concerto, com um violão, uma peça extremamente difícil.

· Emerson (de formação clássica) é um excelente pianista e organista. Certamente, não seriam tantos os fanáticos por rock se nesse gênero de música só houvesse horrores.

Além disso, a música atual não podia deixar de passar por uma transição do jazz para o pior e mais decadente “hard rock”, de Louis Armstrong para AC/DC.

A música dos Beatles constituiu uma etapa. Quanto aos virtuoses dos rock, muito raros, e os mais raros ainda compositores que possuem certa ciência musical mais elevada, distinguem-se todos precisamente porque se afastam algumas vezes da pobreza habitual do rock, mas sem renegá-lo.

Eles conservam seus princípios fundamentais como a extrema importância do ritmo e o emprego dos efeitos especiais já mencionados.

Do que estamos falando? Não da música, certamente, mas de um elemento indispensável à música rock: a REVOLUÇÂO contra toda a ordem estabelecida. Este é o elemento comum que domina todos os roqueiros em sentido amplo.

Seria um erro considerar os Beatles somente no plano musical. Seus cabelos longos, suas roupas, suas letras sobre o amor livre e a droga converteram-se no símbolo de toda uma geração. Pink Floyd e todos os demais grupos de rock mantêm esse mesmo objetivo. A extrema violência engendrada pelos grupos musicalmente mais decadentes é também uma consequência da imoralidade pregada tanto por eles quanto pelos grupos mais evoluídos musicalmente. U2 ou Pink Floyd, os Beatles ou Rolling Stones, Elvis Presley ou Carlos Santana, Janis Joplin ou Black Sabath, todos os grupos de rock, desde os mais leve aos mais pesados perseguem um mesmo fim, manifestado em suas músicas em diversos graus: destruir o homem e a sociedade tal como Deus os concebeu. Não se pode esconder isto.

We don’t need no education: (não precisamos de educação): estas palavras são cantadas por um coro de crianças(!) no disco “The Wall”, do grupo Pink Floyd.

- “O rock não é apenas música, é o centro nervoso de uma nova cultura e de uma juventude revolucionária”.( Revista Rolling Stones)

 - “O rock marcou o início da verdadeira revolução”, escreveu o anarquista Jerry Rubin

- “O rock é acima de tudo uma atitude, uma maneira de afrontar a sociedade, que
transcende ritmos e melodias”, afirmou Luiz Antônio Melo, diretor de uma rádio
brasileira.

- “Todo rock é revolucionário” (Revista “Times”)

- “A rebeldia é a base de nosso grupo, os jovens nos consideram como heróis porque seus pais nos odeiam” (Alice Cooper)

- “O que nos interessa é a revolução e a desordem” (Jim Morrison, do grupo “The Doors”).


O " Rock cristão”

Basta um pouco de senso comum para compreender que o cristianismo e o rock são
incompatíveis: o cristianismo é a religião da ordem, porque trabalha com a finalidade de restaurar todas as coisas em Nosso Senhor Jesus Cristo. O rock é uma música desordenada, pois a hierarquia dos elementos musicais (melodia – harmonia – ritmo) está invertida. É a revolução na música e a música da revolução. Um “rock cristão” é algo tão contraditório quanto um “inferno gelado”.

O rock é música porque se serve dos elementos musicais, mas é uma música doente, na contramão e desequilibrada. É como um louco, que perdeu o uso normal de suas faculdades, sem, entretanto, perder sua natureza humana.

Há graus na loucura, como há graus na perversão musical do rock.

A bela e verdadeira música é muito mais do que um conjunto ordenado de sons agradáveis. Sua influência, como a educação, é de ordem espiritual, moral40 e política - no rock acontece o contrário. A música clássica ordena as paixões humanas sem destruí-las ou excitá-las. Não conduz a sociedade à anarquia, finalidade do rock, mas favorece a paz da cidade como muito bem expressa W.T.Walsh: “Na Espanha medieval, como na Grécia, a música era considerada um elemento essencial a toda educação. A pessoa que não soubesse cantar ou tocar vários instrumentos, não era considerada educada. Ruy Sánchez de Arévalo dirige a Henrique IV a seguinte apologia da música:  “A qualidade por excelência dessa nobre arte e seu digno exercício consistem em dispor e dirigir os homens, não só às virtudes morais, mas também às políticas, que os tornam capazes de reinar e governar. Devido a isso, este virtuoso exercício deve ser recomendado aos reis e príncipes”.

O homem que não tem música em si mesmo e não se emociona com um concerto de suaves acordes é capaz de traições, complôs e rapinas” (William Shakespeare, “O mercador de Veneza”, V, 1, Lorenzo) e o que encontramos nos ambientes de músicas libertinas? A destruição do ser humano é visível: adultérios, homicídios,roubos, brigas, anarquia, pessoas alcoolizadas, toxicômanos, corpos multilados com piercing e  tatuagens. A toda essa decadência dar-se o nome de liberdade.

OBS: Demos ênfase ao rock pois, é o estilo que mais brutaliza o ser humano e não por acaso, é o mais difundido, quanto mais animalizado e entregue aos vícios, mais fácil o homem fica de ser uma peça manipulável, o mesmo se dar com outros estilos corrompidos em sua estrutura como o rock (rap, samba, funk, axé, pagode, tecno, forró etc), são estilos perfeito para fazer a política do pão e circo como no império romano.

Desgraçadamente, a igreja montada no Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII, com o propósito de se “arejar” com ventos do mundo (que tem o demônio por príncipe), introduziu em sua “nova evangelização” todas essas músicas corrompidas e que despertam vícios e pecados tudo com o aplauso e bênção do clero modernista e apóstata. Muitos cristão dizem: “escuto e não faço mal nenhum”; propagar o mal, não é ruim? Uns por ingenuidade outros por cinismo querem adaptar esses lixos sonoros à fé, acham eles que se preservar o ritmo e colocar letras religiosas ficou pronto o louvor, quanta insensatez. É sempre bom lembrar São Paulo: “Que união pode haver entre luz e trevas ?”(2 Cor 6: 14)a única coisa que ficou preservada foi a paixão dos jovens e o espírito de concupiscência se faz presente nas paróquias mundo afora.

Infelizmente pode-se evocar também os cânticos progressistas da liturgia moderna, cujos efeitos são mais de contorcer-se do que rezar. “Nunca compreenderei porque o clero, que possui este magnífico tesouro que é o canto gregoriano, tem o mal gosto de utilizar outra coisa em suas Igrejas”. O Alleluia de Taizé, por exemplo, grande êxito internacional da Igreja conciliar, não tem nada a ver, musicalmente falando, com o Alleluia gregoriano. Certamente um estudo sobre isso terminaria com conclusões que não honrariam a liturgia progressista...


Um dos efeitos da música, paradoxalmente, é dispor a alma para o silêncio, deixar de lado as preocupações, silenciar o alvoroço do mundo e “dar aos homens um significado espiritual”.

“Quando se toca música, não se digam bobagens, guarde-se o silêncio”, recomenda a Sagrada Escritura (Eclesiástico 32,4). Os lixos sonoros, ao contrário, faz parte dessa “conspiração contra toda espécie de vida interior”, que é a vida moderna. Ele ensurdece as almas; é sua principal perversão musicalmente falando.


Bach e Pink Floyd – Pe. Bertrand Labouche. Com adaptações do blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário