domingo, 24 de fevereiro de 2019

UNIVERSIDADE PARA TODOS X RESPEITO ÀS DIVERSIDADES


Por Airton Vieira*
(tonvi68@gmail.com)


Nota: Recentemente o Ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez[1] se pronunciou sobre algo que desde que o homem é homem já se sabe, mas que com décadas de embrutecimento maciço já se desaprendeu, como desaprendemos o elementar de tudo: que as universidades não são para todos, estrito senso. Daí que o dito pronunciamento já mereça – pra ficar em uma interjeição atual – o “mimimi” de muitos, inclusive doutos. Lembrei-me então, após ouvir o Ministro, desse texto publicado há uns anos, que agora sofre pequenas mudanças para tornar-se apresentável ao leitor, porque somente sofrendo é que se cresce. Ei-lo:

Esta Comunicação objetiva debater uma prática cada vez mais difundida em nosso (pós)moderno sistema educacional, inserida no programa federal “Universidade para todos”. Ela se traduz no que Amilton Werneck cunhou como a política do “você finge que ensina e eu finjo que aprendo”.

Para auxiliar esta modesta contribuição, tomo inicialmente a citação de Carlos Ramalhete, em seu artigo “Universidade para quem?”:[2]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Observações filológicas e hermenêuticas ao Oremus et pro Iudaeis


Por Guillermo-C-H Pérez Galicia
Tradução de Airton Vieira – Perfidus se aplica àquele que trai a confiança (fides) ou que rompe suas promessas.
subir imagen
Perfidus está formado pela preposição per, que se acrescenta para reforçar o significado da palavra, seja em sentido positivo (como permagnus ou permolestus), ou em sentido negativo (como periurusperfidus).
A terminação -idus designa uma propriedade ou estado em relação com a raiz da que deriva o adjetivo que a contém: neste caso há que colocá-lo em relação com o verbo semi-depoente fido (fiar-se em alguém, ter confiança).
A palavra FIDES está unida aos “laços de clientela“, os laços de hospitalidade e amicitia, e os juramentos solenes ante a divindade; tem a ver com a relação que entabulam um grande senhor, justo e poderoso, com seus servos ou com colaboradores de menor status que se ajudam mutuamente, cada um segundo sua função. Ou seja, se relaciona com os compromissos de amizade, fidelidade, compromisso e confiança por laços de um indivíduo ou mais rumo a outro que tem uma influência ou um peso preponderante na sociedade. Ou, dito de outro modo, seu sentido fundamental se refere a pactos de colaboração existentes entre alguém simples de um baixo estamento e uma figura poderosa que lhe brinda seu apoio e selam uma lealdade mútua, com frequência por razões políticas; o outro sentido faz alusão ao compromisso de fidelidade e confiança peculiar existente entre o amante e a amada, como o expressam poetas como Catulo.
Assim pois, perfidus é aquele com quem não se devem selar pactos porque é indigno de confiança, pois não cumprem com sua parte em um trato, ou então aquele indivíduo que não é apto para uma relação de matrimônio porque está inclinado a ter deslizes e não é sincero em sua entregaO Cristianismo veio unificar ambos sentidos romanos de FIDES em sentido figurado para expressar o compromisso existente entre a alma do fiel e a amante da alma (Cristo), e a relação entre Deus e sua Igreja, identificando FIDES com o conceito grego PISTIS. De Fides deriva a palavra .
subir imagen
Se consultamos “Pro Quinctio” de Cícero (6, 26), veremos que a palavra perfidus se refere a quem é falso, ardil, traidor e falto de honradez. A ode 27 do terceiro livro das Odes de Horácio é também suficiente demonstração para dar-se conta de que perfidus alude àquele que é traidor, indigno de confiança e propenso a romper os pactos importantes.
O termo adequado que serve para referir-se a quem não é fiel à religião verdadeira é infidelis, enquanto que infidus é um termo mais equívoco, porque pode aludir duplamente tanto àquele que não é digno de confiança como àquele que é inconstante ou infiel a algo.
Os judeus se entende perfeitamente que sejam chamados perfidi, porque os judeus atuais são talmúdicos, isto é, são os herdeiros dos fariseus, a quem Cristo chama mais de uma vez hipócritas, lhes dedica uma série de recriminações que bem merece a pena ler, analisar e seguir tendo-as em conta para estar sempre alerta (Mt 23, 13-36).
E não só aos fariseus em particular, mas Nosso Senhor também se refere em algumas ocasiões aos judeus em geral, como quando lhes acusa de ser filhos do Diabo, que seu pai é pai da mentira e homicida desde o princípio, dando a entender que eles são assim (Jo 8, 31-48). Além disso acusa os judeus em mais de uma ocasião de tentar matá-lo, coisa que jamais fez, por exemplo com os romanos.
subir imagen

“Os judeus haviam tramado a morte de Jesus muito antes de ser levado a Pilatos, sem que exista, em troca, nenhuma passagem dos Evangelhos que indique alguma intenção ou plano dos romanos tendente a realizá-la”

Se vê então, que os judeus haviam tramado a morte de Jesus muito antes de ser levado a Pilatos, sem que exista, em troca, nenhuma passagem dos Evangelhos que indique alguma intenção ou plano dos romanos tendente a realizá-la.
As seguintes palavras de Santo Tomás de Aquino demonstram uma vez mais a que se refere o Catolicismo falando dos pérfidos:
Pois os judeus viam nele todas os sinais que os profetas disseram que haveria […] pois viam com evidência os sinais de sua Divindade, mas por ódio e inveja para com Cristo, as tergiversavam; e não quiseram confiar nas palavras dEste, com as quais se confessava Filho de Deus” (cf. Summa Theologica, 3 p., qu. 47, art. 5).
Mas, mais claro do que está na seguinte parábola, como Cristo o expressa, não pode estar:

 E começou a contar ao povo esta parábola: um homem plantou uma vinha e a arrendou a uns lavradores e saiu de viajem por bastante tempo. E no momento adequado enviou aos lavradores um servo para que lhe dessem do fruto da vinha. Mas os lavradores, após abatê-lo, o despediram sem nada. E tornou a enviar a outro servo; mas eles, abatendo-o e ultrajando-o, o despediram sem nada. E tornou a enviar-lhes um terceiro, mas eles também a esse, após feri-lo, o lançaram fora. Mas disse o Senhor da vinha: ‘que vou fazer? Enviarei a meu Filho o amado; talvez a Ele o respeitarão’. No entanto, ao vê-lo os lavradores, refletiam entre si dizendo: ‘Este é o herdeiro; vamos matá-lo para que a herança seja nossa.’ E lançando-o fora da vinha, mataram.
Que fará, pois, com eles, o Senhor da vinha? Virá e fará perecer esses lavradores e entregará a vinha a outros.” (Lc 20, 9-16)

___________________
Extraído de: https://iotaunum.wordpress.com/tag/oremus-et-pro-perfidis-judaeis/

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Discernimento vocacional: como entender os estados de vida


Tradução de Airton Vieira – Um estudante universitário me enviou há pouco uma sentida carta expondo-me seu parecer sobre muitos jovens católicos de ambos sexos de sua idade que estão dispostos a aceitar uma vocação religiosa se o Senhor a der, mas não sabem exatamente o que pensar da questão. Em minha resposta procuro aclarar algumas ideias errôneas e expor um modo positivo de entender os estados de vida conforme os ensinamentos da Igreja.
Estimado Dr. Kwasniewski:
Desde pequeno tenho lido, ouvido e pensado muito sobre o conceito de vocação. Sou muito favorável à vocação ao sacerdócio ou a vida consagrada, ainda que não tenha claro aonde o Senhor me queira levar.
O livro do Pe. Joseph Bolin Paths of Love me foi muito útil pela maneira com que resume o tema da vida consagrada tal como o entendia Santo Tomás, e o conceito inaciano de discernir e escolher um estado de vida. O que diz o Pe. Bolin sobre Santo Tomás acentua a perspectiva objetivista: a vocação religiosa não é uma chamada telefônica de Deus a uma pessoa, mas uma chamada geral a todos que poucos podem aceitar, logicamente por Sua graça. Aprecio esta definição, que entendo como uma bofetada ao sentimentalismo e à escola que insta a fazer um profundo exame de coração.
De todo modo, sigo buscando uma teologia coerente da vocação. Em um extremo, temos a tendência habitual dos teólogos pós-conciliares a insistir no espírito igualitário, segundo o qual o chamado universal à santidade equipara todas as vocações e nenhuma é superior às outras. Está claro que essa afirmação contradiz a Sagrada Escritura e o Concílio de Trento, porque tanto uma como o outro falam da superioridade objetiva do celibato.
No outro extremo está a postura de Santo Tomás de Aquino, que –ao menos para mim– coloca muitas dificuldades. Se todos somos chamados à perfeição da caridade e a santidade, como é que alguns se sentem chamados a optar pela vida religiosa e outros não? Daria a impressão de que quem se casa são uma espécie de prófugos da vida religiosa, ou então, de que Deus não os queira tanto. A postura objetivista de Santo Tomás parece chegar à conclusão de que a vida religiosa é para todos ainda que só uns poucos terminem escolhendo-a. Como alguém pode saber então se deve abraçar a vida religiosa?
Será que me custa entender a diversidade que se dá nisto. A mim parece que se tal é a forma mais elevada de vida cristã que se pode abraçar –e o convite a observar os conselhos evangélicos vai dirigida a todos–, como é que nem todos se tornam freis ou freiras? (Eu diria que a chamada ao sacerdócio é algo diferente, porque ser ministro ordenado de Deus não é um conselho evangélico, mas uma função determinada para a que a Igreja tem de ordenar ministros, ainda que pelo que se refira a discernimento e eleição de estado, me parece que os argumentos são em grande medida paralelos.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Contradições calculadas do Papa Francisco




A coletiva de imprensa no voo de volta do Panamá confirmou a tendência do papa de usar uma linguagem baseada em declarações que se contradizem para que os ouvintes possam ficar com o que é mais confortável para eles. Mas se você examinar com cuidado, fica claro onde se pretende chegar.

Como sempre, a coletiva de imprensa no avião de volta do Panamá apresenta ideias interessantes. Tendo em mente que não se trata magistério, mas de opiniões pessoais e, portanto, discutível, do Sumo Pontífice, pretende orientar a opinião pública e criar falsas impressões sobre o que a Igreja é entre os que não são católicos. Além disso, vale a pena falar delas porque, por um lado, dão pistas sobre o raciocínio do Papa e, por outro, sobre as opções pastorais que ele adotou ou pretende adotar.

A primeira coisa que salta à vista é o modo contraditório de se expressar, que afirma uma coisa e depois o contrário, de modo que cada um tira deles de seus discursos o que mais lhe convém. Um exemplo óbvio disso está na resposta que ele deu sobre o celibato sacerdotal. Na primeira parte ele defendeu o dom do celibato, sua validade perene, que ele nem sequer tem a intenção de questionar. Mas um pouco mais tarde, já temos a exceção: "Só haveria uma possibilidade em lugares muito remotos, por exemplo, nas ilhas do Pacífico, mas é algo que deve ser levado em conta quando há uma necessidade pastoral". Ou seja: se não há sacerdote e a Eucaristia só pode ser distribuída de tempos em tempos, então ... Então fica entendido porque algumas manchetes de jornais disseram que o celibato é sagrado, enquanto outras falam de abertura a padres casados. Cada um pode tirar de suas palavras o que mais gosta.