quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Os Iluministas

Adam Weishaupt

L. Blanc, na sua Histoire de la Révolution, consigna a existência desses santuários mais tenebrosos do que as lojas, “cujas portas não se abrem ao adepto senão após uma longa série de provas calculadas demaneira a confirmar os progressos de sua educação revolucionária, a confirmar a constância de sua fé, a experimentar a têmpera de seu coração”.


É desses santuários que descem às lojas a “luz” e o estímulo. Antes de 89, foi a seita dos “Iluministas” que imprimiu à franco-maçonaria as diretrizes requeridas para que pudesse implementar o projeto de revolucionar a França e a Europa. Após a Restauração, coube à Grande-Loja o papel de preparar os fatos aos quais assistimos e que devem completar e terminar a obra interrompida da
Revolução.

“Após os trabalhos históricos desses últimos anos, diz Monsenhor Freppel, não é mais permitido ignorar a perfeita identidade das fórmulas de 1789 com os planos elaborados na seita dos Iluministas”.

Barruel trouxe à luz a organização dos Iluministas, suas doutrinas, a ação que ela exerceu sobre a franco-maçonaria e através desta sobre o movimento revolucionário.

Para fazer essas revelações, ele se apóia em documentos, sobre cuja origem e autoridade é preciso inicialmente falar. Por volta do ano de 1781, a Corte da Baviera suspeitou da existência de uma seita que se constituíra naquele país para se sobrepor à franco-maçonaria. Ela ordenou pesquisas, que os sectários tiveram a arte de afastar ou de tornar inúteis. No entanto, no dia 22 de junho de 1784, sua Alteza Eleitoral mandou publicar nos seus Estados a proibição absoluta de “toda comunidade, sociedade e confraria secreta ou não aprovada pelo Estado”. Muitos franco-maçons fecharam suas lojas. Os Iluministas, que tinham II na própria Corte, continuaram a realizar suas assembléias.



No mesmo ano, um professor de Munich, Babo, desvendou o que ele sabia acerca de da existência dos iluministas e de seus projetos num livro intitulado Premier avis sur les francs-maçons. O governo demitiu então Weishaupt da cadeira de Direito que ele ocupava em Ingolstad, não porque soubesse ser ele o fundador do Iluminismo, coisa que não estava clara, mas na qualidade de “famoso mestre das lojas”. Ao mesmo tempo, dois professores de humanidades em Munique, o padre Cosandey e o abade Benner, que, após terem sido discípulos de Weishaupt, tinham se separado dele, receberam ordem para comparecer diante do tribunal do Ordinário, para aí declarar, sob juramento, o que eles tinham visto de contrário aos costumes e à religião entre os Iluministas. Não se sabia então que essas lojas de retaguarda também tinham por missão conspirar contra os governos. Barruel publicou os depoimentos
que eles prestaram nos dias 3 e 7 de abril de 1786. O conselheiro palaciano Utschneider e o acadêmico Grümberger, que se haviam retirado da ordem quando lhe conheceram todo o horror, prestaram, igualmente, depoimento jurídico que Barruel também publicou.

OBS: Weishaupt, “o mais profundo conspirador que jamais surgiu”, diz L. Blanc, mais conhecido nos anais de sua seita sob o nome de Spartacus, nasceu na Baviera por volta do ano de 1748. Eis o retrado que dele traça Barruel: “Ateu sem remorsos, hipócrita profundo, sem nenhum desses talentos superiores que dão à verdade célebres defensores, mas com todos os vícios e todo esse ardor que dão à impiedade, à anarquia grandes conspiradores. Esse desatrado sofista não ficará conhecido na história senão como o demônio, pelo mal que fez e pelo que pretendia fazer. Sua infância é obscura, sua juventude ignorada; na sua vida doméstica, um só traço escapa às trevas das quais se cerca, e esse traço é o da depravação, da perfídia consumada (incesto e infanticídio confirmados em seus próprios escritos).
 
“Mas é mais especialmente como conspirador que importa conhecer Weishaupt. Assim que a Justiça o descobre, ela o vê à frente de uma conspiração perto da qual todas aquelas dos clubes de d'Alembert e de Voltaire não passam de jogos infantis. Não sabemos, e é difícil comprovar, se Weishaupt teve um mestre, ou se ele foi o pai dos dogmas monstruosos sobre os quais fundou sua escola”.

O objetivo do Iluminismo, aquilo a que ele devia conduzir jamais variou no espírito de Weishaupt:
nada mais de religião, de sociedade, de leis civis, de propriedades, foram sempre os termos fixos de suas conspirações; mas ele compreendia que era necessário conduzir para esse fim seus adeptos escondendolhes seu pensamento último. Daí as iniciações misteriosas e sucessivas, que ocupam uma grande parte da obra de Barruel. “Não posso, escrevia Weishaupt a Xavier Zwack, empregar os homens tais como eles são: é preciso que eu os forme; é preciso que cada classe de minhas ordens seja uma escola de provas para a prova seguinte”.
 
Como seu segredo, seu pensamento último podia ser, um dia ou outro, divulgado, ele tomava muito
cuidado em não expor sua pessoa. Ele escrevia a seus confidentes: “Conheceis as circunstâncias em que me encontro. É preciso que eu dirija tudo através de cinco ou seis pessoas: é absolutamente necessário que eu permaneça desconhecido” (escritos originais). “Quando o objeto desse desejo (o seu) , dizia ele ainda, é uma Revolução unversal, não seria possível divulgá-lo sem expor aquele que o concebeu à vingança pública. É na intimidade das sociedades secretas que é preciso saber propagar a opinião” (T. I, Lettres à Caton, 11 e 25). 

A conspiração de Weishaupt mostrou-se tão monstruosa nesses documentos, diz Barruel, que com dificuldade se podia conceber que toda a perfídia humana tivesse bastado para prestar-se a isso.

O Eleitor mandou depositar os documentos confiscados nos arquivos do Estado. Quis, ao mesmo tempo, advertir os soberanos do perigo que a todos ameaçava, a eles e a seus povos. Para tanto, mandou-os imprimir sob o título ÉCRITS ORIGINAUX DE L'ORDRE ET DE LA SECTE DES ILLUMINÉS na tipografia de Ant. François, editor da Corte de Munique, em 1787.

A primeira parte dessa obra contém os escritos descobertos em Lanshut, na casa do conselheiro da Regência Zwack, nos dias 11 e 12 de outubro de 1786.

A segunda parte contém aqueles que foram encontrados por ocasião da visita feita por ordem de Sua Alteza Eleitoral ao castelo de Sanderstof.

Nesses dois volumes encontramos reunido tudo o que pode evidenciar a mais característica conspiração anticristã. Aí se vêem os princípios, o objetivo, os meios da seita, as partes essenciais de seu código, a correspondência entre os adeptos e seu chefe, seus progressos e suas esperanças. Barruel, em suas Mémoires, reproduz as peças mais interessantes. Cada uma das potências da Europa recebeu pois esses documentos. Todas foram assim advertidas com provas autênticas sobre a monstruosa Revolução meditada para sua perdição e a de todas as nações. O próprio excesso das conspirações fê-las que as vissem, talvez, como quiméricas, até o momento em que estouraram os acontecimentos que elas preparavam.

Instruídos pelo valor dos documentos que Barruel arrola em suas Mémoires, podemos, com toda confiança, penetrar no antro dos Iluministas e transformar-nos em espectadores das tramas através das quais preparavam a Revolução.

Weishaupt era, como dissemos, professor na Universidade de Ingolstad quando lançou os fundamentos do Iluminismo, em 1. de março de 1776. Entre os estudantes que seguiam seu curso, ele escolheu Massehausen, que depois foi conselheiro em Munique, e ao qual deu o nome de Ajax, e Merz, que mais tarde foi secretário do embaixador do Império em Copenhague; a este deu o nome de guerra de Tibério. Disse ao primeiro: “Jesus Cristo enviou Seus apóstolos para pregarem no universo. Tu, que és meu Pedro, porque te deixarei ocioso e tranqüilo? Vai, pois, e prega”. O ano de 1776 precede bem pouco o da Revolução; e aí estão seus fragílimos princípios. Mas não esqueçamos que a franco maçonaria era organizada há muito mais tempo e que a seita dos Iluministas não tinha senão que lhe dar seu último impulso.

O que lhe dava esta confiança era a facilidade que encontrava para seduzir os homens que gozavam da consideração pública. Em Eichstad, onde se encontrava a loja que ele próprio presidia, levou suas tentativas até sobre dois cônegos.

Logo ele pôde enviar missionários para toda a Alemanha e toda a Itália. Mais tarde explicaremos como o Iluminismo se introduziu na França.

Aliás, como Voltaire, ou melhor, como d'Alembert, ele se esforçava em colocar seus homens junto aos príncipes, a introduzi-los em seus conselhos, a fazê-los penetrar em seus congressos. “A história sem dúvida um dia dirá com que arte ele soube, no congresso de Rastadt, fazer combinar os interesses da sua seita com os das Potências e com seus juramentos de destrui-las todas. Dentre seus discípulos,
quem melhor o seguiu nesse aspecto foi Xavier Zwack: “Ninguém jamais soube melhor aparentar ares de um servidor zeloso por seu príncipe, por sua pátria e pela sociedade, ao mesmo tempo em que conspirava contra seu príncipe, sua pátria e a sociedade”.

Mas, aquilo a que Weishaupt mais se aplicou, foi em conquistar a direção da franco-maçonaria. Desde os primeiros dias da fundação da sua seita, e talvez mesmo antes, ele compreendera o partido que tiraria para suas conspirações da multidão de franco-maçons espalhados pelos diversos pontos do mundo, se um dia pudesse obter seu concurso.

No ano de 1777 ele ingressou na loja chamada São Teodoro, em Munique. Assim, ele tinha qualificação para se imiscuir nas suas convenções. O que ele próprio fizera, recomendava a seus iniciados que igualmente o fizessem. “Ele possuía os segredos da franco-maçonaria, observa Barruel, e os franco-maçons não conheciam os dele”. Weishaupt sabia que ele e os franco-maçons tendiam para o mesmo fim, mas se encontravam localizados, no caminho que para conduzia a esse fim, em pontos desigualmente distantes do objetivo. Veremos tudo isso se reproduzir no século seguinte com a Grande Loja. Copin-Albancelli, no seu livro Le pouvoir occulte contre la France, esclareceu definitivamente essa hierarquia entre as diversas sociedades secretas, e as superiores que, através de alguns de seus membros, penetram nas inferiores para imprimir-lhes a direção que sem dúvida elas próprias recebem de mais alto.

Corria o ano de 1780. Sob a proteção e os auspícios de Sua Alteza o príncipe Ferdinando, duque de Brunswick, uma assembléia geral dos deputados maçônicos acabava de ser convocada para Wilhelmsbad, no ano seguinte. “Não era uma sociedade insignificante, diz Barruel, aquela cujos deputados acorrem de todas as partes do mundo”. Muitos franco-maçons naquela época acreditavam poder chegar a três milhões o número de seus iniciados; os da loja A Candura, estabelecida em Paris,
vangloriavam-se, em sua encíclica de 31 de maio de 1782, de serem um milhão somente na França.

“Que estranho interesse convoca para uma Corte da Alemanha, de todas as partes da Europa, do fundo mesmo da América, da África e da Ásia, os agentes, os eleitos de tantos homens, todos unidos pelo juramento de um segredo inviolável sobre a natureza de suas associações e sobre o objeto de seus mistérios? Que projetos traziam consigo os deputados de uma associação tão formidável?” A resposta é que a hora da Revolução estava decretada, que a hora da Revolução estava próxima. Nesse canto da Alemanha e através desse congresso se concebia e se inflamava o braseiro do qual devia partir o incêndio que ia devastar a Europa.

L. Blanc, na sua Histoire de la Révolution, caracterizou com muita propriedade a obra de Weishaupt: “Submeter, unicamente através do mistério, o único poderio da associação, a uma mesma vontade e animar com um mesmo sopro milhares de homens em cada região do mundo, mas inicialmente na Alemanha e na França; fazer desses homens, por intermédio de uma educação lenta e gradual, seres inteiramente novos; torná-los obedientes até ao delírio, até à morte, a chefes invisíveis e ignorados; com semelhante legião avaliar secretamente os corações, envolver os soberanos, dirigir à sua vontade os governos e levar a Europa a tal ponto que toda superstição (leia-se toda religião) fosse apagada, toda monarquia abatida, todo privilégio de nascimento declarado injusto, o próprio direito de propriedade abolido: tal foi o plano gigantesco do Iluminismo”.


A C O N J U R A Ç Ã O A N T I C R I S T à O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da I g r e j a C a t ó l i c a - Monsenhor Henri Delassus.


Um comentário:

  1. ILUMINISMO: TREVAS QUE "ILUMINAM" A ESCURIDÃO!
    O Iluminismo, movimento que surgiu na França aprox. século XVII, defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média, e segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade por causa da religião - era "libertadora" - dessa forma, os "pensadores" acima e outros mais defendiam esses ideais, crendo que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas da Igreja e do clero e, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.
    Sob essa visão antropocêntrica passariam a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé, praticamente se submetendo à sua razão e afastando-se da ideia de predomínio do Senhor Deus, aí nascendo o atual revolucionario-ideológico e caótico antropocentrismo, dentro dos padrões do racionalismo da maçonaria e seitas afins..

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