terça-feira, 24 de junho de 2014

Jesus Cristo diante da ciência


Diante da história surge Jesus Cristo proclamando-se o Legado Divino, o Filho de Deus.

Diante da história surge Jesus Cristo selando suas afirmações com autenticidade dos selos privativos e infalsificáveis de Deus: os milagres.

Se se procedesse com Jesus Cristo como geralmente se procede com os personagens que a história nos mostra, teríamos, de acordo com a ciência e a crítica escrupulosa, o conceito exato da Pessoa de Jesus Cristo, como se afirma a personalidade de Cícero, Platão, Aristóteles...

Mas não é em vão que, atualmente, em psicologia e psiquiatria, considera-se como de vital interesse o influxo da passionalidade na lógica e na vontade.

No problema de Jesus Cristo, entretanto, existem, no máximo da intensidade, grandes cargas de passionalidade. As fobias, repugnância emocional à doutrina de Jesus Cristo e suas consequências práticas, que chegam não só anular e a cegar a inteligência como abater a vontade.

Diante desses homens de critério única e exclusivamente racional-materialista, como aparece a Pessoa de Jesus Cristo, estudada por eles de acordo com a sua técnica?

Por isso, veremos as conclusões sabre a pessoa de Jesus Cristo dos investigadores racionalista. E dos investigadores racionalistas corifeus e chefes de escolas, figuras, portanto, de primeira grandeza.

Não citaremos esses arlequins da ciência, esses falsificadores que se cobrem com uma capa rasgada, que não é ciência, mas mero amadorismo.

E esses, que dizem de Jesus Cristo?



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Jesus, para Ernest Renan, com “seu perfeito idealismo, é a mais alta regra de vida, a mais destacada e a mais virtuosa. Ele criou o mundo das almas puras, onde se encontram o que em vão se pede à terra, a perfeita nobreza do filho de Deus, a santidade consumada, a total abstração das mazelas do mundo, a liberdade, enfim (E. Renan, Vie de Jesus, 14 c)”.

“Ele concebeu”, continua Renan, “a verdadeira cidade de Deus, a verdadeira palingenésia, o sermão, o sermão da montanha, a apoteose do fraco, o amor do povo, o gosto do pobre, a reabilitação de tudo que é humilde, verdadeiro e simples. Esta reabilitação ele a fez como artista incomparável, com caracteres que durarão eternamente. Cada um de nós lhe é devedor do que tiver em si de melhor”.

“Sente-se por tudo”, escreve Loisy, o apóstata modernista, “em seus discursos (de Jesus), em seus atos, em suas dores, não sei que de divino, que eleva Jesus Cristo não somente por sobre a humanidade e ordinária, mas também por sobre o mais seleto da humanidade (Le Quatrième Evangelhe)”.

E o chefe do racionalismo alemão, o renomado professor Harnack, o que escreve de Jesus Cristo?

Para Harnack, “ a grandeza e a força da pregação de Jesus estão em que ela é, ao mesmo tempo, tão simples e tão rica: tão simples, que está encerrada em cada um dos pensamentos fundamentais por ela expressados; tão rica que cada um dos seus pensamentos parece inesgotável, dando-nos a impressão de que jamais chegamos ao fundo de suas sentenças e parábolas”.

E prossegue Harnack: foi Jesus Cristo quem “pôs à luz, pela primeira vez, o valor de cada alma humana, e ninguém pode desfazer o que Ele fez. Qualquer que seja a atitude que, diante de Jesus Cristo, se adote, não se pode deixar de reconhecer que, na história, foi Ele quem elevou a humanidade a esta altura (Adolf Von Harnack, Das Wesen des Christentums).

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Diante da perfeição moral, da paz harmônica, da conduta serena, claríssima e plena de humildade majestade de Jesus Cristo, exclama Harnack: “Que prova de intensa paz e de certeza”.

Ouçamos Wernle: “O desconcertante em Jesus é que ele tinha consciência de ser mais que um homem, conservando, contudo, a mais profunda humildade diante de Deus”(Paul Wernle).

J. Middleton Murry, escreveu que Jesus é o mais divino homem na obra “Jesus Man of Genius”.

Para Augusto Sabadier, o pai do modernismo francês, Jesus Cristo é a alma mais bela que já existiu; sincera, pura, que conseguiu elevar-se a uma altura que o homem nunca poderá atingir (Esquise d’une Philosophie de La Religion d’aprés La psychologie et l’historie).

Houve na América um homem que empregou toda a força da sua oratória e de sua ciência para retirar de Jesus Cristo a divindade, para exibi-lo como simples homem: Channing.

Pois esse homem arrastado e obrigado pela evidência histórica em crítica racionalista pura, emite juízo sobre Jesus: “Creio que Jesus Cristo é mais que um homem. Por sua grandeza e sua bondade, supera toda e qualquer perfeição humana” (Discours sur caractere de Christ).

E disse Goethe: “Curvo-me diante de Jesus Cristo como diante da revelação divina do princípio supremo da moralidade”.

E Rosseau chega a dizer “Se a vida e a morte de Sócrates são as de um sábio, a vida e a morte de Jesus Cristo são as de um Deus”.

A todos os demais homens é possível superar, mas Jesus Cristo atingiu tal cúmulo de perfeição intelectual e moral, possuída em tal pureza e elevação, que Renan confessa lapidamente: “Jesus Cristo nunca será superado”.

Afirmação que, antes de Renan, fez expressamente um dos mais encarniçados inimigos do catolicismo, não podendo fugir à evidência que se lhe impunham, embora contra seus preconceitos e cargas passionais.

Strauss, a quem me refiro, escreveu: “Cristo não podia ter sucessor que lhe avantajasse... Jamais, em tempo algum, será possível ascender mais alto que Ele nem imaginar-se nada que sequer o iguale”.

Embora pese o veneno da insidiosa pseudocientífico de seus livros, diante da pressão da realidade, da qual foge em vão, Renan diz essas frases dignas de meditação para o incrédulo: “A Igreja, esta grande fundação, foi certamente a obra pessoal de Jesus. Para ter-se feito adorar até esse ponto, é necessário que ele tenha sido digno de adoração”.

Continua Renan: “Mil vezes mais vivo, mil vezes mais amado após sua morte do que durante os dias que viveu na terra, há de chegar a ser pedra angular da humanidade, de tal maneira que arrancar o seu nome deste mundo seria sacudi-lo em seus fundamentos. Entre ti e Deus não há distinção possível. Plenamente vencedor da morte, tomas posse do reino ao qual te hão de seguir, pela via real que traçaste, séculos de adoradores” (Renan, Vie de Jésus).

Eis aí o que a incredulidade mais incrédula, à luz da chamada ciência, pensa de Jesus Cristo.

Jesus Cristo é, perante a ciência racionalista, a inteligência mais sublime e mais profunda, da qual recebeu a humanidade a doutrina mais prática e mais bela, mais simples e mais rica em conteúdo, mais consoladora e reabilitadora.

Jesus Cristo é, perante a ciência racionalista, o homem-cume e a flor da humanidade que jamais terá quem supere. O homem com a consciência exata de sua dignidade sobre-humana aliada à simplicidade e à lhaneza mais sincera.

Jesus Cristo é, perante a ciência racionalista, a pessoa sem o mínimo desequilíbrio entre suas qualidades, todas sublimes, em que a máxima harmonia intelectual, afetiva, moral.

A ciência racionalista, investigando seriamente, viu-se obrigada a confessar, por meio de todos os seus grandes estudiosos de todas as escolas, que Jesus Cristo é esse que acabais de ouvir. Este sim. Mas Deus, não.

E como fica tranquila a ciência, a racionalista, com que aliviada de um remorso opressor que a perseguia, quando concede isto a Jesus!

Sim. Se fosse lógica, séria e científica, ela deveria reconhecer que Jesus Cristo é Deus. Mas, tendo que lhe negar a divindade contra toda lei de ciência crítico-histórica, cega palas densas névoas que ela própria, de modo emocional, foi criando, não resgateia nada do mais sublime que se possa conceber, contanto que não exceda os limites do puramente humano.

E como que respondendo a essa voz atormentadora, semelhante a horrível pesadelo, respondem: “Deus, não. Mas, em compensação já confessamos que o maior na ordem intelectual, o maior na ordem moral, o maior na ordem afetiva, o maior da humanidade já existente e por existir, isso sim, isso é Jesus Cristo”.

Mas, reparai: é precisamente daquilo que concedem a Jesus Cristo como homem que se conclui, de maneira intuitiva, ser ele Deus.

Precisamente pelas perfeições que a ciência racionalista atribui a Jesus Cristo como homem, negando ser ele Deus, precisamente por essas concessões é que se deduz, claramente, que Jesus Cristo é precisamente Deus.

 

***

Esse Jesus Cristo disse que Deus Pai e Ele eram uma e a mesma coisa, que Ele era o Filho de Deus, que antes de Abraão Ele já tinha existência, que Abraão desejou ver o seu dia, que Ele era maior que Salomão, que aquele que por Ele não abandonasse os pais e tudo que possuísse não entraria no reino dos céus, que Ele tinha todo o poder tanto no céu como na terra, que Ele voltaria para julgar, no dia do juízo final, a humanidade toda...

Se Jesus Cristo não era o filho de Deus, se não era maior que Salomão nem anterior a Abraão, se não possuía no céu e na terra, se não era o juiz da humanidade e acreditou nisso, Jesus Cristo, então, não passava de um paranoico. Um infeliz e delirante megalomaníaco. Um tipo digno de um manicômio. E se não acreditou no que dizia, mas sabendo que não era nem Filho de Deus nem nada do que afirmou, afirmou e reafirmou, ameaçando de condenação eterna aqueles que não acreditassem em suas palavras, então Jesus Cristo foi um refinado embusteiro, Jesus Cristo foi um impostor. Um tipo digno de um cárcere.

Como insiste, ciência racionalista, a troco de negar a Jesus Cristo a divindade, haver sido ele a pessoa de moral mais pura e elevada, a retidão plena de luz e de verdade?

Perante a ciência pura racionalista, Jesus Cristo é suma sabedoria, a suma moral, a suma retidão, a suma verdade. Logo, não pode ser impostor, louco nem mentiroso, e sim, Deus.

 

 
Jesus Cristo é Deus? – José Antonio de Laburu, Sj. (com leves adaptações).

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