Diante da
história surge Jesus Cristo proclamando-se o Legado Divino, o Filho de Deus.
Diante da
história surge Jesus Cristo selando suas afirmações com autenticidade dos selos
privativos e infalsificáveis de Deus: os
milagres.
Se se
procedesse com Jesus Cristo como geralmente se procede com os personagens que a
história nos mostra, teríamos, de acordo com a ciência e a crítica escrupulosa,
o conceito exato da Pessoa de Jesus Cristo, como se afirma a personalidade de
Cícero, Platão, Aristóteles...
Mas não é em
vão que, atualmente, em psicologia e psiquiatria, considera-se como de vital
interesse o influxo da passionalidade na lógica e na vontade.
No problema
de Jesus Cristo, entretanto, existem, no máximo da intensidade, grandes cargas
de passionalidade. As fobias, repugnância emocional à doutrina de Jesus Cristo
e suas consequências práticas, que chegam não só anular e a cegar a
inteligência como abater a vontade.
Diante desses
homens de critério única e exclusivamente racional-materialista, como aparece a
Pessoa de Jesus Cristo, estudada por eles de acordo com a sua técnica?
Por isso,
veremos as conclusões sabre a pessoa de Jesus Cristo dos investigadores
racionalista. E dos investigadores racionalistas corifeus e chefes de escolas,
figuras, portanto, de primeira grandeza.
Não citaremos
esses arlequins da ciência, esses falsificadores que se cobrem com uma capa
rasgada, que não é ciência, mas mero amadorismo.
E esses, que
dizem de Jesus Cristo?
***
Jesus, para
Ernest Renan, com “seu perfeito idealismo, é a mais alta regra de vida, a mais
destacada e a mais virtuosa. Ele criou o mundo das almas puras, onde se
encontram o que em vão se pede à terra, a perfeita nobreza do filho de Deus, a
santidade consumada, a total abstração das mazelas do mundo, a liberdade, enfim
(E. Renan, Vie de Jesus, 14 c)”.
“Ele
concebeu”, continua Renan, “a verdadeira cidade de Deus, a verdadeira
palingenésia, o sermão, o sermão da montanha, a apoteose do fraco, o amor do
povo, o gosto do pobre, a reabilitação de tudo que é humilde, verdadeiro e
simples. Esta reabilitação ele a fez como artista incomparável, com caracteres
que durarão eternamente. Cada um de nós
lhe é devedor do que tiver em si de melhor”.
“Sente-se por
tudo”, escreve Loisy, o apóstata modernista, “em seus discursos (de Jesus), em
seus atos, em suas dores, não sei que de divino, que eleva Jesus Cristo não
somente por sobre a humanidade e ordinária, mas também por sobre o mais seleto
da humanidade (Le Quatrième Evangelhe)”.
E o chefe do
racionalismo alemão, o renomado professor Harnack, o que escreve de Jesus
Cristo?
Para Harnack,
“ a grandeza e a força da pregação de Jesus estão em que ela é, ao mesmo tempo,
tão simples e tão rica: tão simples, que está encerrada em cada um dos
pensamentos fundamentais por ela expressados; tão rica que cada um dos seus
pensamentos parece inesgotável, dando-nos a impressão de que jamais chegamos ao
fundo de suas sentenças e parábolas”.
E prossegue
Harnack: foi Jesus Cristo quem “pôs à luz, pela primeira vez, o valor de cada
alma humana, e ninguém pode desfazer o que Ele fez. Qualquer que seja a atitude
que, diante de Jesus Cristo, se adote, não se pode deixar de reconhecer que, na
história, foi Ele quem elevou a humanidade a esta altura (Adolf Von Harnack, Das Wesen des Christentums).
***
Diante da
perfeição moral, da paz harmônica, da conduta serena, claríssima e plena de
humildade majestade de Jesus Cristo, exclama Harnack: “Que prova de intensa paz
e de certeza”.
Ouçamos
Wernle: “O desconcertante em Jesus é que ele tinha consciência de ser mais que
um homem, conservando, contudo, a mais profunda humildade diante de Deus”(Paul
Wernle).
J. Middleton
Murry, escreveu que Jesus é o mais divino homem na obra “Jesus Man of Genius”.
Para Augusto
Sabadier, o pai do modernismo francês, Jesus Cristo é a alma mais bela que já
existiu; sincera, pura, que conseguiu elevar-se a uma altura que o homem nunca
poderá atingir (Esquise d’une Philosophie
de La Religion d’aprés La psychologie et l’historie).
Houve na
América um homem que empregou toda a força da sua oratória e de sua ciência
para retirar de Jesus Cristo a divindade, para exibi-lo como simples homem:
Channing.
Pois esse
homem arrastado e obrigado pela evidência histórica em crítica racionalista
pura, emite juízo sobre Jesus: “Creio que Jesus Cristo é mais que um homem. Por
sua grandeza e sua bondade, supera toda e qualquer perfeição humana” (Discours sur caractere de Christ).
E disse
Goethe: “Curvo-me diante de Jesus Cristo como diante da revelação divina do
princípio supremo da moralidade”.
E Rosseau
chega a dizer “Se a vida e a morte de Sócrates são as de um sábio, a vida e a
morte de Jesus Cristo são as de um Deus”.
A todos os
demais homens é possível superar, mas Jesus Cristo atingiu tal cúmulo de
perfeição intelectual e moral, possuída em tal pureza e elevação, que Renan
confessa lapidamente: “Jesus Cristo nunca será superado”.
Afirmação
que, antes de Renan, fez expressamente um dos mais encarniçados inimigos do
catolicismo, não podendo fugir à evidência que se lhe impunham, embora contra
seus preconceitos e cargas passionais.
Strauss, a
quem me refiro, escreveu: “Cristo não podia ter sucessor que lhe avantajasse...
Jamais, em tempo algum, será possível ascender mais alto que Ele nem
imaginar-se nada que sequer o iguale”.
Embora pese o
veneno da insidiosa pseudocientífico de seus livros, diante da pressão da
realidade, da qual foge em vão, Renan diz essas frases dignas de meditação para
o incrédulo: “A Igreja, esta grande fundação,
foi certamente a obra pessoal de Jesus. Para ter-se feito adorar até esse
ponto, é necessário que ele tenha sido digno de adoração”.
Continua
Renan: “Mil vezes mais vivo, mil vezes mais amado após sua morte do que durante
os dias que viveu na terra, há de chegar a ser pedra angular da humanidade, de tal maneira que arrancar o seu nome deste mundo seria sacudi-lo em seus fundamentos.
Entre ti e Deus não há distinção possível. Plenamente vencedor da morte, tomas
posse do reino ao qual te hão de seguir, pela via real que traçaste, séculos de
adoradores” (Renan, Vie de Jésus).
Eis aí o que
a incredulidade mais incrédula, à luz da chamada ciência, pensa de Jesus
Cristo.
Jesus Cristo
é, perante a ciência racionalista, a inteligência mais sublime e mais profunda,
da qual recebeu a humanidade a doutrina mais prática e mais bela, mais simples
e mais rica em conteúdo, mais consoladora e reabilitadora.
Jesus Cristo
é, perante a ciência racionalista, o homem-cume e a flor da humanidade que
jamais terá quem supere. O homem com a consciência exata de sua dignidade
sobre-humana aliada à simplicidade e à lhaneza mais sincera.
Jesus Cristo
é, perante a ciência racionalista, a pessoa sem o mínimo desequilíbrio entre
suas qualidades, todas sublimes, em que a máxima harmonia intelectual, afetiva,
moral.
A ciência racionalista,
investigando seriamente, viu-se obrigada a confessar, por meio de todos os seus
grandes estudiosos de todas as escolas, que Jesus Cristo é esse que acabais de
ouvir. Este sim. Mas Deus, não.
E como fica
tranquila a ciência, a racionalista, com que aliviada de um remorso opressor
que a perseguia, quando concede isto a Jesus!
Sim. Se fosse
lógica, séria e científica, ela deveria reconhecer que Jesus Cristo é Deus. Mas,
tendo que lhe negar a divindade contra toda lei de ciência crítico-histórica,
cega palas densas névoas que ela própria, de modo emocional, foi criando, não
resgateia nada do mais sublime que se possa conceber, contanto que não exceda
os limites do puramente humano.
E como que
respondendo a essa voz atormentadora, semelhante a horrível pesadelo,
respondem: “Deus, não. Mas, em compensação já confessamos que o maior na ordem
intelectual, o maior na ordem moral, o maior na ordem afetiva, o maior da
humanidade já existente e por existir, isso sim, isso é Jesus Cristo”.
Mas, reparai:
é precisamente daquilo que concedem a Jesus Cristo como homem que se conclui,
de maneira intuitiva, ser ele Deus.
Precisamente
pelas perfeições que a ciência racionalista atribui a Jesus Cristo como homem,
negando ser ele Deus, precisamente por essas concessões é que se deduz,
claramente, que Jesus Cristo é precisamente Deus.
***
Esse Jesus
Cristo disse que Deus Pai e Ele eram uma e a mesma coisa, que Ele era o Filho
de Deus, que antes de Abraão Ele já tinha existência, que Abraão desejou ver o
seu dia, que Ele era maior que Salomão, que aquele que por Ele não abandonasse
os pais e tudo que possuísse não entraria no reino dos céus, que Ele tinha todo
o poder tanto no céu como na terra, que Ele voltaria para julgar, no dia do
juízo final, a humanidade toda...
Se Jesus
Cristo não era o filho de Deus, se não era maior que Salomão nem anterior a
Abraão, se não possuía no céu e na terra, se não era o juiz da humanidade e
acreditou nisso, Jesus Cristo, então, não passava de um paranoico. Um infeliz e
delirante megalomaníaco. Um tipo digno de um manicômio. E se não acreditou no
que dizia, mas sabendo que não era nem Filho de Deus nem nada do que afirmou, afirmou e reafirmou, ameaçando de
condenação eterna aqueles que não acreditassem em suas palavras, então Jesus
Cristo foi um refinado embusteiro, Jesus Cristo foi um impostor. Um tipo digno
de um cárcere.
Como insiste,
ciência racionalista, a troco de negar a Jesus Cristo a divindade, haver sido
ele a pessoa de moral mais pura e elevada, a retidão plena de luz e de verdade?
Perante a
ciência pura racionalista, Jesus Cristo é suma sabedoria, a suma moral, a suma
retidão, a suma verdade. Logo, não pode ser impostor, louco nem mentiroso, e
sim, Deus.
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