sábado, 29 de novembro de 2014

O amor de Deus vence tudo


É forte o amor como a morte” (Ct 8:6). Assim como a morte nos separa de todos os bens da terra, das riquezas, das dignidades, dos parentes, dos amigos e de todos os prazeres do mundo, assim também o amor de Deus, quando reina num coração, despoja-o do apego a esses bens caducos. Por isso vemos os santos se despojarem de tudo quanto o mundo lhes oferecia, renunciarem à posses, aos  altos cargos e a seus bens e irem para os desertos ou claustros a fim de pensar somente em Deus.

 A alma não pode ficar sem amar: ou ama o Criador ou as criaturas. Vede uma alma despojada de todo amor terreno e a vereis toda repleta de amor do amor de Deus. Queremos saber se todos somos de Deus? Examinemo-nos se estamos despojados de toda realidade deste mundo.

Alguns se lamentam porque em todas as suas devoções, orações, comunhões, visitas ao Santíssimo Sacramento, não conseguem encontrar Deus. A estes santa Teresa diz: “Despojai o coração das criaturas e buscai depois a Deus que o encontreis”. Nem sempre encontrareis aquelas consolações espirituais. O Senhor não as dá de forma contínua àqueles que o amam, mas somente de quando em quando. Isto para torná-los ávidos daquelas imensas delícias que lhes prepara no paraíso. Mas é bom para eles provar aquela paz interna que supera todas as delícias sensíveis: “ A paz de Deus que excede toda inteligência” (Fl 4:7). Haverá maior prazer para uma alma enamorada de Deus do que dizer-lhe com afeto: Meu Deus, meu tudo? São Francisco de Assis passou uma noite inteira num êxtase d paraíso, repetindo sempre estas palavras: Meu Deus, meu tudo.


É forte o amor como a morte.” Se víssemos um moribundo levar consigo alguma coisa da terra, seria sinal de que não está morto, porque a morte nos priva de tudo. Quem, portanto, quer ser todo de Deus, deve deixar tudo. Reserva-se alguma coisa para si, revela que seu amor a Deus não é perfeito, mas frágil.

O amor de Deus despoja-nos de tudo. Dizia o grande servo de Deus, padre Segneri Iuniore ( de quem Mutaratori escreveu a vida): “O amor de Deus é um ladrão querido, que nos despoja de toda coisa terrena”. A um servo de Deus, que distribuiu toda sua roupa aos pobres, perguntaram quem o teria levado a isso. Ele, tirando o evangelho do bolso, disse: “Eis quem me despojou de tudo!” Em suma, Jesus quer possuir o nosso coração todo e não admite concorrentes. Santo Agostinho escreveu que o senado romano não quis  adorar a Cristo, afirmando seria ele um Deus que queria toda a honra apenas para si. É verdade. Sendo nosso único Senhor, tem toda a razão em querer ser o único a ser honrado e amado com puro amor.

Diz são Francisco de Sales que o puro amor de Deus consome tudo o que não é de Deus. Quando, pois, brota em nós algum afeto que não é de Deus, nem para Deus, é preciso logo rechaçá-lo dizendo-lhe: “Vá embora, aqui não há lugar para você!” Se quisermos ser todo de Deus, devemos abraçar aquela renúncia total que o Salvador tanto nos recomenda. Renúncia total , isto é, de todas as coisas, principalmente dos parentes e amigos. Muitos não se fazem santos porque querem satisfazer os homens. Diz Davi que aqueles que agradam aos homens recebem o desprezo de Deus: “Os que procuram agradar aos homens foram confundidos, por que Deus desprezou-os” (Sl 52:6, Vulgata).

De modo especial devemos renunciar a nós mesmos, vencendo o amor próprio. Maldito amor próprio que quer intrometer-se em tudo, até em nossas obras mais santas, colocando diante de nós a própria estima ou o próprio prazer! Quantos pregadores, quantos escritores perderam todo seu trabalho por causa disso. Muitas vezes também na oração, na leitura espiritual ou na santa comunhão entra em alguma intenção não pura, ou de se mostrar ou de sentir doçura espiritual.

É preciso, pois, empenhar-se no combate a este inimigo que nos faz perder as obras mais belas. Para isso precisamos privar-nos (enquanto possível) daquilo que mais nos agrada: daquela diversão, exatamente porque nos agrada; ser útil àquela pessoa ingrata, justamente porque ingrata; tomar aquele remédio amargo, porque amargo. O amor próprio nos engana fazendo parecer mau tudo o que não lhe agrada. Quem, porém, deseja ser todo de Deus precisa se esforçar e, diante de uma coisa que lhe agrada, deve dizer: “Que tudo se perca e se dê prazer a Deus!

Ninguém vive mais contente no mundo do que aquele que despreza todos os bens. Quanto mais alguém se desprende de tais bens mais rico se faz de graças divinas. Assim o Senhor premia aqueles que o amam fielmente.

 

                        Meu Jesus, vós conheceis minha fraqueza, vós prometestes socorrer quem confia em vós. Senhor, eu vos amo, em vós confio. Dai-me forças e fazei-me todo vosso. Em vós também eu confio, ó Maria, minha doce advogada.

 

Uma estrada de salvação – Santo Afonso de Ligório.

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