terça-feira, 14 de março de 2017

A conspiração maçônica na Restauração da Monarquia francesa após a queda do Império

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Luís XVIII



 A Restauração corresponde ao período em que reinaram Luís XVIII (1815-1825) e Carlos X (1825-1830), irmãos de Luís XVI.


Desmoronado o império, a França julgou que somente aqueles que a tinham construído poderiam, após tanta desordem e tanta ruína, reerguê-la e fazê-la reentrar em seus caminhos. Ela voltou, pois, os olhos para os filhos de São Luís. Já em 1799 seu coração os chamava. A Franco-Maçonaria teria querido, se o regime monárquico se impusesse novamente, entregarnos a príncipes estrangeiros. Mirabeau tinha adiantado a candidatura do duque de Brunswick e, desde 1791, Carro tinha proposto ao chefe dos jacobinos a candidatura do duque de York, filho do rei da Inglaterra. Mas a seita sentia tão bem que o desejoda nação pedia o retorno dos Bourbons, e que um dia ou outro esse desejo irresistível venceria, que ela quis tomar a dianteira e assenhorear-se do movimento para dominálo e dirigi-lo. Dois maçons eméritos, os generais Malet e Oudet, fundadores da sociedade dos Filadelfos em Besançon, entabularam negociações com Luís XVIII. Eles foram preteridos por Sieyès e aqueles que, como ele, preparavam a ditadura que foi inaugurada com o golpe de Estado de 18 do Brumário.

O que maçonaria queria, por um meio ou outro, era, mesmo sujeitando-se às necessidades que se impunham, salvar a Revolução, manter seu espírito e resguardar o mais possível suas conquistas. A seita obtivera isso de Napoleão pelo despotismo;de Luís XVIII ela pretendia obter pelo que ela chamava de “liberdade”. O que Malet e Oudet tinham querido negociar com Luís XVIII era, fato que se deu quinze anos mais tarde, o estabelecimento do regime constitucional, do mecanismo parlamentar que permitiria continuar a guerra contra a Igreja.

Em 1799 Luís XVIII teria podido se livrar mais facilmente do aperto maçônico. Ele teria sido mais livre para restaurar a antiga constituição nacional, despojada de seus abusos. O restabelecimento do culto católico se impunha, já o vimos, a ponto de Napoleão não ver nada de mais urgente do que negociar com o Papa. Se Luís XVIII, em vez de Napoleão, tivesse negociado a Concordata, ela teria sido outra. Ele mostrou bem isso através das negociações cuja iniciativa ele tomou junto à Santa Sé após a segunda Restauração, com o objetivo de melhorar aquela que Napoleão lhe havia legado; e, livre, a Igreja de França, purificada pelo martírio, desembaraçada das manchas do jansenismo, teria podido recolocar a nação cristianíssima nas vias da verdadeira civilização.


A Europa inteira estava em confusão. Era, pois, à toda a Europa, e não apenas à França, que era preciso fornecer fundamentos sólidos. Os soberanos da Rússia, da Áustria e da Prússia quiseram empenhar-se nesse mister, e estabeleceram entre eles o célebre pacto que foi chamado de “Santa Aliança”.

“Há nessa questão escrevia J. de Maistre de São Petersburgo ao conde de Vallaise - um aspecto tocante e respeitável que deve ser apreciado e venerado, independentemente de toda a questão que poderíamos trazer ao espírito que a ditou e QUE É HOJE BASTENTE PODEROSO PARA SE FAZER OBEDECER PELOS SOBERANOS”. Qual era esse espírito? Em quem, no que estava ele encarnado para ter tal poder? J. de Maistre, numa nova comunicação a seu rei, diz que esse espírito era o dos iluministas. “É esse iluminismo (não o de Weishaupt, mas o de Saint-Martin) que ditou o pacto de Paris, e sobretudo as frases extraordinárias do artigo que reboou em toda a Europa... Estou perfeitamente a par das máquinas que essas pessoas movimentam para se aproximarem do augusto autor do pacto (o imperador da Rússia), e para se apoderarem de seu espírito. Se o espírito que produziu essa peça tivesse falado claro, nós leríamos no título: Pacto pelo qual tais e tais príncipes declaram que todos os cristãos não são senão uma família que professa a mesma religião, e que as diferentes denominações que as distinguem não significam nada”.Essa religião universal, na qual os sectários queriam desde logo confundir todas as religiões, eles chamavam de cristianismo transcendental, e a concebiam como uma pura religiosidade ou uma religião sem dogmas. É isto que continuam a perseguir em nossos dias, se bem que sob outros nomes, a Aliança Israelita Universal e a Franco-Maçonaria. E hoje como outrora, franco-maçons e judeus se servem, para aí chegarem, dos governantes e dos governos. J. de Maistre observara isto relativamente ao século precedente.

Impotentes para se oporem à marcha dos acontecimentos, as sociedades secretas se esforçaram, pois, por ocasião da Restauração, em dirigi-los em seu benefício, para impedir que se reassentasse na Europa, e sobretudo na França, a ordem social fundada sobre a fé. O que elas tinham obtido pela “Santa Aliança” do imperador da Rússia, do imperador da Áustria e do rei da Prússia, elas diligenciaram conseguir do rei da França. Sem dúvida, Luís XVIII, pessoalmente, não era um católico de primeira têmpera, ele tinha bebido da taça de seu século; mas ele possuía o sentido real, e se ele não tivesse sido enganado, se ele tivesse tido as mãos livres, ele teria, sem nenhuma dúvida, dado à França uma Restauração mais perfeita e mais sólida.

Dentre todas as conquistas da Revolução, a mais importante aos olhos da seita, a mais útil aos seus desígnios, a mais necessária de ser mantida, era a indiferença do poder relativamente à religião. Assim, o que ela mais temia na restauração realista que, em 1799, se anunciava como iminente, era o restabelecimento da religião do Estado; e o que ela se esforçou para, acima de tudo, conseguir quando a Restauração se implantou foi a manutenção da proteção igual para todos os cultos, que Napoleão tinha posto em vigor. Uma outra questão que ela tinha igualmente a peito, era a da soberania. Ela queria que o rei reinasse, mas não podia consentir em que ele governasse, em que ele tivesse nas mãos a autoridade eficaz e real. A Carta declarou que a autoridade residia inteiramente na pessoa do rei, e que a religião católica era a religião do Estado: o artigo 6° testemunhava as intenções do rei, mas eram apenas palavras contraditadas pelo artigo 5° e pelo artigo 7°. E da mesma forma que a Constituição concedia a liberdade dos cultos e a liberdade de imprensa, ela restaurava a liberdade da tribuna, silenciosa fazia dez anos. Dois mestres iluministas, Talleyrand e Dallery, usaram junto a Luís XVIII influências das quais J. de Maistre acaba de falar, para obter que o rei trouxesse com ele essas pestes, como as chama Gregório XVI. Outros agiram junto a Alexandre, e foi a seu peremptório convite que Luís XVIII fez a declaração de Saint-Ouen, que deu à seita a garantia das liberdades constitucionais. Foi nesse preciso momento que se criou a palavra liberal, destinada a servir de véu às ideias e às obras da Franco-Maçonaria.

No entanto, o entusiasmo com o qual a França acolheu seu rei, e a alegria com a qual ela se dirigiu aos altares, fez temer que as precauções tomadas se tornassem inúteis. O retorno de Napoleão foi resolvido, preparado, terminado.

O regime constitucional foi desde então implantado na França, e com ele a maçonaria permanecia dirigente. “Luís XVIII, diz o secretário do Grande-Oriente Bazot, promulgou a Carta. É o governo constitucional. Esse princípio nos protege”.

OBS: Para explicar a derrocada do poder político colossal de Napoleão I, Chateaubriand dizia: “A força do campo escondia a fraqueza da cidade”. E para explicar a queda da Restauração, dizia com a mesma precisão: “Julgou-se ter sido restaurada a monarquia, havia-se simplesmente instituído uma democracia real. Foram trocados os lençóis do leito imperial, mas nem mesmo se virou o colchão”. Ao vírus revolucionário introduzido nas leis francesas por Napoleão I veio, pois, juntar-se o parlamentarismo em que as paixões de um quarto de hora substituem os planos longamente amadurecidos. Essas duas causas deviam fatalmente terminar a obra da destruição das energias morais e das forças materiais da nação.

Era, com efeito, a realeza limitada ao poder executivo, e a autoridade real dada a ministros, comissários efêmeros das Câmaras, as quais, elas próprias, acabariam por ser devotas da seita. Por isso Thiers pôde dizer num discurso pronunciado em 1873, na Casa Legislativa: “A Constituição de 1814 saiu das entranhas da própria Revolução”. Nenhum sistema político é mais favorável aos desígnios da seita, nenhum lhe dá mais facilidade de paralisar a autoridade legítima, para acorrentar a Igreja e A perseguir. A maçonaria não o dispensa, mesmo sob os reis legítimos. Estes, sobretudo Carlos X, fizeram o que puderam para resistir aos seus empreendimentos; o sistema era mais forte do que eles. Assim, não é de estranhar que, instruído por essa triste experiência, Henrique V se tenha recusado a recomeça-la em sua pessoa, em 1873. Era também o regime constitucional que queriam lhe impor, com aquilo que era símbolo desse regime, homens que não sabiam a que espírito obedeciam, nem mesmo talvez que influências sofriam e para que abismo iam nos arrastar.

Apesar das precauções tomadas pela seita para impedir à Restauração o favorecimento do retorno a uma civilização verdadeiramente cristã, a Restauração, no entanto, fez o que pôde para secundar a ação do clero na sua obra de renovação religiosa.

A partir de 29 de fevereiro de 1816, os religiosos são autorizados a ensinar. Comissões regionais são nomeadas para fiscalizar e encorajar a instrução; os curas não somente participam dessas comissões, mas as presidem. É concedida permissão aos bispos para estabelecerem escolas eclesiásticas, os seminários não estão mais adstritos a seguir os cursos dos liceus, os bispos podem ordenar quem eles julgam digno, sem autorização do poder. As missões paroquiais são encorajadas, apesar dos clamores e das calúnias, das canções e das caricaturas dos liberais, e os missionários são colocados sob a proteção do Capelão-Mor. Capelães são dados ao exército. Uma lei é baixada para a observância do domingo. Uma comissão é nomeada para estudar os meios de devolver à Igreja seu antigo esplendor. O arcebispo de Reims fica encarregado de apresentar ao rei os súditos que lhe parecem mais dignos de serem elevados ao episcopado. Enfim, um acordo com o Soberano Pontífice aumenta o número de dioceses.

Nas instruções que foram encaminhadas ao conde de Blacas para negociar uma nova Concordata mais favorável à Igreja do que aquela concluída com Napoleão, o rei dizia: “Sua Majestade aprecia, como deve, a posição difícil em que se encontrava então a Santa Sé; mas ela também vê que as disposições tomadas em circunstâncias tão diferentes, tão tempestuosas para a Igreja da França, não se aplicam à situação atual, e que aquilo que poderia convir para salvá-La do naufrágio não seria mais suficiente para Sua regeneração”.

Para execução desse desígnio foi redigido um projeto de acordo em 25 de agosto de 1816, assinado pelo Papa no dia 4 de setembro, e logo transmitido a Luís XVIII. A Concordata de 1816 devia ser restabelecida; as duas partes contratantes procederiam de comum acordo a uma nova circunscrição das dioceses e à transferência de certos bispos; enfim, os artigos orgânicos seriam abolidos.

O alto franco-maçom Decazes, que a cada dia adquiria maior influência sobre o rei, demonstrou que o Soberano Pontífice exigia demais e que em particular não era possível deixar suprimir assim os artigos orgânicos, principal garantia dos direitos do Estado e das liberdades da Igreja da França.

A Câmara de 1815, a Câmara Rara, favorecia as boas disposições do rei. Mas a maçonaria vigiava. Ela soubera colocar perto do soberano, fazer entrar na sua intimidade, um dos seus, Decazes, comendador do supremo conselho do 33° grau do Escocismo. Afastado do ministério após a morte do duque de Berry, ele se pôs à frente da oposição.

Foi então que surgiu, do seio da Franco-Maçonaria, uma outra sociedade mais secreta, com juramentos mais terríveis e sanções fatais, o carbonarismo. Vindo da Itália, ele se espalhou com uma impressionante rapidez por toda a Europa. Na França, ele organizou as conspirações militares de Belfort, Saumur, la Rochelle etc.,que felizmente puderam ser frustradas.

As lojas se multiplicavam: faziam-se entrar nelas os oficiais inativos, os adquirentes dos bens da nobreza e do clero. O Grande-Oriente mandava-os procurar nos lugares em que se encontrassem em número suficiente para formar uma loja; ele enviava um venerável, estrangeiro na região; o venerável se instalava entre eles, e através deles espalhava na população as idéias maçônicas, dava a palavra de ordem todas as vezes em que havia uma medida a adotar ou a fazer adotar nos conselhos comunais ou departamentais, para conseguir oprimir a Igreja com prudência e arte.

Ao mesmo tempo, a tribuna e a imprensa conduziam a campanha contra a Restauração. Elas não cessavam de opor o imortal 89 ao Ancien Régime redivivo, a liberdade ao despotismo, a democracia à autocracia, a revolução à contra-revolução.

Enquanto os espíritos eram assim trabalhados, o carbonarismo se armava e preparava os desordeiros para a ação, quando julgada oportuna a hora de uma nova revolução. A loja dos Amigos da Verdade organizou a revolta de junho de 1820. Foi também ela que organizou a conspiração militar de 19 de agosto.

Nesse ínterim, Carlos X tinha sucedido a Luís XVIII. Apesar das dificuldades com as quais a seita atrapalhava seu governo, o povo era feliz. Um dos mais tenazes adversários da Igreja, um dos mais decididos revolucionários, Henri Beyle, que tinha por pseudônimo Stendhal, é para nós testemunha irrefutável. Forçado pela evidência, ele assim caracteriza esse reinado: “Seriam necessários talvez séculos para que a maior parte dos povos da Europa alcançasse o grau de felicidade de que a França desfruta sob o reinado de Carlos X”. Ao mesmo tempo, ela retomava a posse de sua preeminência na Europa e no mundo: a Argélia era conquistada, a aliança com a Rússia dar-nos-ia a fronteira do Reno sem efusão de sangue.

Tem-se podido dizer que a História talvez não ofereça obra mais extraordinária do que a do governo da Restauração, que em tão poucos anos soube reparar as ruínas materiais e morais produzidas pela Revolução e restabelecer o país em sua força e em seu prestígio.

Apesar disso, ou melhor, por causa disso mesmo, o nobre ancião está cercado de tantas armadilhas que lhe é impossível escapar a todas; resta-lhe apenas a escolha dos erros. Impõem-se-lhe medidas que fazem sangrar seu coração de filho primogênito da Igreja, que ele queria ser não somente de nome, mas na realidade.

Todas as imunidades da Carta são empregadas para demolir o trono. Ele cede num ponto, noutro ponto, e acaba por dizer: “Fui confirmado na fé de toda a minha vida: toda concessão aos liberais é inútil”. Ele teria podido dizer “funesta”. Quantas vezes, nesses últimos anos, a Igreja da França pôde se convencer dessa verdade!


Baseando-se lealmente no artigo 14 da Carta, Carlos X assina, em 25 de julho de 1830, decretos que não contrariam nem o texto, nem o espírito desse ato. Eles regulamentam a liberdade da imprensa, procurando reprimir os mais gritantes abusos. Em lugar de serem aceitos como um benefício, eles constituem o sinal da revolução que a seita preparava de longa data, de acordo com aquele que ela tinha escolhido para favorecer.

Deschamps e Claudio Jannet mostram, com apoio em documentos, que os principais atores da “comédia de quinze anos” eram todos franco-maçons. Foi um franco-maçom que pôs fim nisso. No momento decisivo, quando Carlos X estava rodeado de tropas fiéis a Rambouilet, e dispunha de toda a facilidade para reprimir a revolta e retornar à capital como senhor, foi o marechal Maison quem, através da mais odiosa traição ao juramento militar, consumou a obra da revolução. Louis Blanc fornece a esse respeito provas que não permitem nenhuma dúvida.

Os conjurados não puderam conter a alegria e a manifestação das esperanças que a queda do trono permitia-lhes conceber. Assim que viu a família real a caminho do exílio, Barante escreveu à sua mulher: “Eles partiram. Creio que vamos avançar”. Um inspetor geral da Universidade, Dubois, dizia na mesma época, com mais ênfase, à juventude das escolas: “Caminhamos rumo a uma grande época, e talvez assistamos aos funerais de um grande culto”. Três anos antes, em 30 de novembro de 1827, Lamennais escrevera a Berryer: “Vejo muita gente que se inquieta pelos Bourbons; não nos enganemos: creio que eles terão o destino dos Stuarts. Mas não está aí, certamente, o primeiro pensamento da Revolução. Ela tem vistas muito profundas para uma questão diferente: é o catolicismo que ela quer destruir, unicamente ele; NÃO EXISTE OUTRA QUESTÃO NO MUNDO”.


Fonte: C O N J U R A Ç Ã O A N T I C R I S T Ã O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da I g r e j a C a t ó l i c a





































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