A
PALAVRA MISSA . O primeiro nome dado ao Sacrifício eucarístico é aquele da
fração do pão (Atos 20: 6-7). S.
Paulo o chama também como Ceia do Senhor,
às vezes comunhão.
O nome que prevalece entre
os orientais é Liturgia ou
serviço divino, e Missa,
ou Reenvio, no Ocidente.
A
Igreja permitia que os catecúmenos e os penitentes assistissem as instruções e
as orações, mas tinha o cuidado de retirá-los do templo e reenviá-los quando se
começava a oblação do santo Sacrifício, eis o que fez chamar o oficio divino de
Missa ou Reenvio.
.É certo, diz Bossuet, que não havia nada no Sacrifício que marcasse mais a
atenção do povo. É ele que oferece os nomes, e ele os dá porque os baliza, e é
porque se anunciava esse reenvio solenemente por três ou quatro vezes, que
chamavam o Sacrifício de missa, somente
no singular, mas também no plural missae.
LÍNGUA
LITURGICA . Nosso Senhor, celebrando pela primeira vez no cenáculo,
emprega a língua falada em seu tempo, o siríaco,
que os maronitas conservaram em sua liturgia. Os Apóstolos e seus primeiros
sucessores celebraram na língua vulgar das nações recém convertidas, que não
entendiam outra língua que não a sua. No Egito, era o copta, o armênio na
Armênia, e no império romano o latim, a língua universal
do Ocidente.
Como
todas as coisas desse mundo, as línguas
estão submetidas às variações, e, por isso, a Igreja, sempre sábia, não quis sujeitar a língua da oração
pública a essas mudanças. Refutando em sua liturgia as mudanças que
sobressaem nas línguas dos povos, ela se ateve constantemente aos textos
primitivos.
Prudente
sabedoria que nem sempre se soube compreender, pois a majestade de nossos
mistérios não se prestou às mudanças sucessivas que se produzem na língua
humana. Caso contrário, no lugar de exercitar a piedade, as palavras da
liturgia provocariam o riso.
Se
a língua litúrgica seguisse o curso móvel das variações da língua ordinária,
seria preciso, constantemente, submeter a novas traduções os livros de oração
pública.
Inconveniência,
de um lado, para o fiel, e do outro, trabalho incessante imposto à Igreja para
prevenir os erros que poderiam se insinuar nas traduções das línguas novas.
Quem ignora que os arianos, pela mudança de uma única e pequena palavra no
símbolo de Nicéia, escorregaram em um erro capital que foi a fonte de numerosos
problemas na Igreja!
A
comodidade da língua conserva a catolicidade da fé. Ela mantém uma comunicação
doutrinal mais fácil entre as diversas igrejas do mundo, e as torna mais
ligadas ao centro da unidade católica. Se os gregos e os latinos tivessem
somente uma língua, o cisma teria sido facilmente consumido? Não teria sido
assim tão fácil para Photius arrastar
para a revolta toda a Igreja grega, atribuindo à Igreja romana erros que ela
jamais conheceu e abusos do qual ela jamais foi culpável Isso que dissemos dos
gregos, podemos dizer também para os russos. Se a língua latina fosse a língua
de Moscou, ela teria, talvez, retido os eslavos na hora em que eles se lançaram
nos braços dos gregos vexados.
Toda
língua viva, diz de Maistre, pouco
convém para uma religião imutável. Como a marca, os gestos, a língua, e até
os hábitos de um homem sábio anunciam seu caráter, é preciso também que o exterior da Igreja católica anuncie seu caráter
eterno e invariável.
O
que dizer, contra essas razões, a objeção corriqueira do uso de uma língua
incompreendida pelo povo?
Incompreendida,
não. Ignorada, sim. Mas pela falta de quem? Aquele que não entende a Missa e o
Ofício é bem capaz para aprender o latim. Este é o voto da Igreja.
Quanto
ao povo, propriamente dito, acrescenta de Maistre, se ele não entende as
palavras, é tanto melhor. O respeito aí ganha, e a inteligência não perde nada.
Aquele que não compreende, entende melhor que aquele que compreende mal.
Forneceu-se, além do mais, para todas as orações da Igreja, traduções. Umas
representam as palavras, e as outras o sentido. Esses livros, em número
infinito, se adaptam a todas as idades, a todas as inteligências, a todos os
estilos. Certas palavras marcadas na língua original e conhecidas de todos os
ouvidos, certas cerimônias, certos movimentos, certos sons advertem o assistente,
até o menos letrado, do que se faz e do que se diz..
Hoje
fazem uma nova objeção. Recitando, dizem, orações ou cantos em uma língua
desconhecida, como as pessoas poderiam ser iluminadas pelas chamas da devoção?
Achamos em um Padre da Igreja a resposta para esta dificuldade: Há coisas que
parecem obscuras, mas que ao fazê-las entrarem em nossos ouvidos, trazem, contudo,
uma grande utilidade para nossa alma. As Virtudes celestes e os anjos de Deus
que estão conosco, como o Senhor o ensinou por sua Igreja sobre os pequenos
filhos, alegram-se ouvindo sair de nossa boca, como piedosos encantamentos, as
palavras da Escritura e os nomes que ali se leem. Se não compreendemos as
palavras que profere nossa boca, essas Virtudes que nos assistem, as ouvem, e,
convidadas como por nossos cantos, se atiram, se prestando a chegar até nós e
nos trazer o socorro..
DIA
DA CELEBRAÇÃO DA MISSA . Ele surge, evidentemente, dos Atos e
das Epístolas dos Apóstolos, que afirmam que a fração do pão ocorria aos
domingos. Mais tarde, na África, esse privilégio se estende à quarta-feira e ao
sábado, em honra dos mistérios dolorosos que se cumpriram nesses dias. Também
se diziam a Missa nos dias dos mártires, e, talvez, é preciso, por isso,
atribuir a Missa cotidiana graças ao número
sempre crescente de fieis mortos pela fé e que se honravam pela oblação
sagrada.
Em
várias Igrejas, sobretudo na Ásia menor, como não se trabalhava tanto no sábado
como no domingo, a Missa era celebrada nesses dois dias. O culto de Maria
também teve seu berço nos lugares onde ela habitou sob a guarda filial de S.
João, e este apóstolo propagou com zelo, em Éfeso e nos territórios vizinhos, a
devoção pela Mãe de todos os homens.
Esses
diferentes dias da semana são ainda, da parte da Igreja, objeto de uma
veneração especial.
HORA
DA CELEBRAÇÃO DA MISSA . Sobre esta questão, havia, no
princípio do Cristianismo, uma grande
variedade. O Salvador tendo celebrado a Ceia eucarística sobre o entardecer,
foi seguido pelos Apóstolos. A celebração da Missa era então ordinariamente
precedida de uma refeição fraternal nomeada ágape. Em lembrança daquela no qual
Nosso
Senhor participou com os seus, antes de dar seu corpo e seu sangue adorável.
Durante
as perseguições, os cristãos se reuniam como podiam para celebrar os santos
mistérios. Era mais frequente que essas reuniões ocorressem antes do levantar
do sol. Quando foi dada à Igreja a alegria da paz, pôde-se ordenar a hora da
Missa.
Nos
dias de festa e no domingo, ela era dita na terceira hora, ou seja, 9 horas da
manhã. Nos dias de jejum, a Missa era dita por volta da nona hora, ou, três
horas da tarde.
É
em lembrança deste uso que, nas igrejas onde se recita o ofício canônico, se
diz a Missa dos domingos e dias de festa após a Terça, que é o ofício da terceira
hora, ou nove horas da manhã. Nos dias de jejum ordinário, é após a Sexta, e
durante a quaresma é após a Nona. Sexta e Nona eram o ofício do meio dia e das
três horas da tarde.
CO-CELEBRANTES
. A liturgia dos primeiros séculos nos mostra o bispo e o altar
cercado por outros bispos ou padres, que ofereciam o Sacrifício conjuntamente
com ele e comungavam de sua mão. Isso ocorria, sobretudo, nas grandes
solenidades, e diversos concílios prescrevem aos padres de se abster da
celebração privada dos santos mistérios, e de assistir o bispo na sede
episcopal. Este costume edificante etraçava
admiravelmente o que o divino Salvador fez com seus Apóstolos na véspera de sua
paixão.
O
antigo uso dos co-celebrantes se conservou na Igreja de Lyon. Nas Missas
pontifícias ou mesmo nas Missas solenes, há sempre seis ou quatro padres
assistentes revestidos dos hábitos sacerdotais. Enquanto o pontífice está
sentado sobre a cadeira episcopal, os padres sentam-se a seu lado; quando ele
sobe ao altar para
a celebração dos santos mistérios, eles sobem com ele e ali permanecem sob seus
olhos, do lado da epístola e do evangelho.
Desta
co-celebração, encontramos alguns vestígios na Missa ordinária, na sagração dos
bispos e na Missa da quinta-feira santa. Nas Missas solenes só nos foi
conservado um padre, que sob o nome de assistente se põe atrás do celebrante.
Sendo um bispo, dois padres assistentes ficam ao seu lado durante o santo
Sacrifício
MINISTRO
SERVINDO O ALTAR . O celebrante, nos tempos antigos, era
assistido sempre por um diácono, mesmo para as Missas que, durante as
perseguições, se diziam sem assistência. As oblações sagradas, tornando-se mais
conhecidas, acabaram impossibilitando o acompanhamento de um diácono por padre,
e os concílios decretaram que o diácono deveria ser sempre um clérigo
tonsurado, revestido da sobrepeliz.
O
último concílio que trata desta matéria, o de Avignon, tido em 1594,
estabeleceu que um leigo só servisse na missa, havendo necessidade. O concílio
de Aix, em 1585, estabelece que sendo impossível a presença de um clérigo, se
obtenha do bispo a permissão escrita para um leigo auxiliar na missa.
Essas
santas funções são, em nossos dias, comumente realizadas pelas crianças
(acólitos).
PLANO
E DIVISÃO
Dois
métodos se oferecem (para a explicação das cerimônias da Missa): considerando o
primeiro, no augusto Sacrifício - a paixão do Salvador - cada cerimônia
representa uma circunstância desse drama doloroso.
No
segundo método, a Missa é a representação perfeita de todos os mistérios de
Jesus Cristo: de sua Encarnação, Natividade, de sua santíssima vida, de sua
Paixão, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua Ascensão. Representação tão
perfeita, diz o padre Molina, que o próprio Cristo ali assiste, realmente em
pessoa.
Dos
dois métodos, adotamos o segundo, mais completo que o primeiro. Contudo, ao dar
preferência a esse plano, não passaremos inteiramente em silêncio sob a
explicação da Missa segundo a paixão. Esse contexto virá,
por sua vez, garantir que nosso quadro seja completo. Falemos das augustas
autoridades em favor do método adotado aqui, citando algumas delas ao leitor
desejoso de conhecê-las. Primeiro, temos o grande papa Inocêncio III: a ordem
da Missa,
diz ele, se acha disposta em um plano tão bem concebido, que as coisas feitas
por Jesus Cristo ou se reportando a Ele, desde que Ele desceu do céu até sua
subida, estão contidas ali em grande parte, seja em palavras, seja em ações
admiravelmente representadas.
Se
é verdade, diz por sua vez o padre Nouet, que a vida de Jesus Cristo não foi
mais que uma Missa solene, que começa na manjedoura e termina sobre o Calvário,
posso dizer que a Missa não é senão a vida e a morte de Jesus Cristo, cujo
mistério durará até a consumação dos séculos.
Gavantos,
Lebrun, Olier, Rodrigues, partilham do mesmo sentimento. O testemunho dos
antigos liturgistas vem ainda corroborar esta interpretação. A Igreja grega,
sinaliza Bento XIV, oferece o santo Sacrifício em memória da Encarnação, da
Natividade, da Paixão, da Ressurreição, da Ascensão e da Vinda do Espírito
Santo, cujos mistérios são renovados na Missa. A liturgia Moçárabe exprime o
mesmo pensamento por uma cerimônia
cujos sentidos não pode escapar a ninguém. Na fração da hóstia consagrada, o
padre a divide em nove partes; sobre cada uma delas um nome está escrito:
Encarnação, Natividade, Circuncisão, Epifania, Paixão, Morte, Ressurreição,
Ascensão, Triunfo, para indicar, por uma representação sensível, que Jesus
Cristo, realmente presente sobre o altar, acaba de renovar, em sua própria
carne, os mistérios de Nazaré, de Belém, do Calvário, do santo Sepulcro e do
monte das Oliveiras.
Que
amor deve inspirar os santos mistérios considerando-o sob este ponto de vista,
uma vez que, no espaço de meia hora, somos as felizes testemunhas do que viram,
há dezoito séculos, Maria e José, os pastores e os magos, os Apóstolos e as
santas mulheres?
Tal
é o plano que vamos desenvolver. Três épocas dividem a vida de Nosso Senhor, a
Missa, que é seu memorial, deve naturalmente compreender três partes:
A
primeira, desde o Intróito até o Credo, responde à vida oculta e pública de
Nosso Senhor até a instituição da Eucaristia;
A
segunda, do Credo até o Pai Nosso, compreende a paixão de Jesus Cristo ou sua
vida dolorosa.
A
terceira, do Pai Nosso até o último Evangelho, abraça a vida gloriosa.
O
Culto Católico Em Suas Cerimônias e em Seus Símbolos – Abbé A. Durand.
Tradução: Robson Carvalho.
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