Em uma de minhas conversas privadas com um
distinto membro da nossa "reserva indígena", meu confrade mais velho
Antonio Livi, muitas vezes abordei questões de caráter dogmático,
histórico e eclesiológico ligados à figura do Pontífice Romano em seu
duplo papel de Doutor privado e supremo guardião do depósito da fé e da
Doutrina católica. Um tema repetido várias vezes com um outro confrade
mais velho e igualmente destacado filósofo e teólogo, o dominicano
Giovanni Cavalcoli que é outro ponta de
lança da nossa "reserva indígena".
Há
um ano atrás, revelei a ambos um temor que eu já havia manifestado
apenas a alguns amigos mais íntimos. Para dizer a verdade, mais do que
manifestar, apenas me limitei a sussurrar em em voz baixa: "será que
estamos correndo o risco de em breve nos depararmos com dois papas
considerados "eméritos "e um terceiro pontífice eleito”?
Alguns sorriram e outros se perguntavam se era mais uma das minhas
provocações através do uso do paradoxo ou hipérbole, enquanto os dois
confrades mais velhos formados por décadas de filosofia e estudos
teológicos, bem como pela dedicação contínua aos ministérios pastorais
com os quais sempre defenderam a sã e sólida fé (que hoje parece quase
ter caído no esquecimento), ouviram atentamente, sem
responder naquele momento, tão pesado era o alcance daquela minha
perplexidade. Aquilo que me responderam então, não afetam estas linhas.
O
erro que cometi naquela época foi deixar escapar da minha boca aquele
pensamento que me atormentava com todas as conjecturas articuladas mais
abaixo, ao conversar com uma certa pessoa que logo depois publicou minha
dolorosa análise para o público, fazendo passá-la como de sua própria
autoria. Até aqui nenhum problema, pois não coloco direitos autorais em
meus discursos públicos ou privados. Quem o faz é meu meu editor e mesmo
assim só para meus livros impressos. Todavia não sou tão ingênuo a
ponto de não perceber aqui e ali o modo como alguns jornalistas e
comentaristas, várias vezes desenvolveram teses depois que meus escritos
foram publicados tanto na Riscossa Cristiana como na Corrispondenza
Romana, sem nunca
sequer terem a gentileza de mencionar quem havia formulado a análise.
No
entanto fui eu que a fiz, correndo por minha própria conta o risco,
dada a minha total dependência sacramental e jurídica daquelas
autoridades eclesiásticas que várias vezes me deixaram perplexo, mas sem
jamais desviar-me dos cânones do respeito e da devota obediência
sacerdotal que até o presente momento sempre procurei manter. Cheguei
mesmo ao ponto de defender tais autoridades diante daqueles que amam
agitar rebelião contra a legítima autoridade eclesiástica.
Por
um lado, há de fato o Evangelho que me indica como reagir de forma
decisiva contra certos maus costumes ou de como proceder se for
necessária a correção fraterna; e de outro há a lei da Igreja que me
assegura o direito legítimo à crítica [CIC 218, 386, 2 ] encerrado no
correto modo de agir do qual eu jamais me afastei. E a
prova disso é que jamais fui repreendido ou advertido sob acusação de
ter violado o que está sancionado pela doutrina, lei e moral da da
Igreja Católica. Nem tampouco qualquer bispo com jurisdição legal sobre
mim jamais me acusou de ter trazido desonra à Ordem sacerdotal. Muito
pelo contrário, quando aconteceu de algum leigo fanático – daquele tipo
que quer ser mais clerical do que qualquer sacerdote– ou qualquer
“monsenhorzinho” carreirista tomado pelo prurido, ousaram instigar a
autoridade eclesiástica a fazer uma “advertência adequada” contra certos
escritos meus, a resposta que receberam foi que não era sequer
concebível repreender e muito menos punir quem está dizendo a verdade,
ainda que de uma maneira dura, mas sem ofender ninguém, protegendo
palavra por palavra o Mistério da Revelação e os Dogma da Fé Católica e
jamais colocando-os em discussão, como é de costume para fazer-se
amigos, ou pior, como "pontos de
referência" reais para alguns leigos clericais e certos
“monsenhorzinhos” tomados por um prurido que os induzem a ressaltar
pontos imprecisos que não são de nenhum interesse para nós homens.
Desde
que... quando se trata de cometer "roubo de pensamento" para
determinados personagens parece que está tudo bem, já que ... nós somos
os barões pomposos e você apenas um padrezinho pregando para as areias
do deserto, e ainda correndo o risco de acabar com a cabeça sobre um
prato como João Batista, citá-lo como o autor da análise que nós
plagiamos não vem ao caso. Claro, gentileza para esses tais, seria se
esnobassem tanto a análise como o “anônimo padrezinho” que a fez.
Gostaria
de salientar que a nível pessoal nada disso me importa porque o
processo de substituição
do egocentrismo humano pelo Cristocentrismo é a própria base do meu
ministério sacerdotal, da minha formação passada e permanente. Tudo isso
é contrário a alguns ou talvez infelizmente, muitos, que sobre o
egocentrismo e a soberba elevada à máxima potência, construíram seu
status de intelectuais. Enfim, os apologistas verdadeiros ou falsos,
escritores e jornalistas católicos que sempre colocam em seus livros e
escritos o "EU" na frente de "Deus": "como eu disse ... como eu escrevi
... como já afirmei , tendo nisso total razão, como os fatos comprovam
... amém, aleluia."
E
de pensar que das minhas mal traçadas linhas saem ao invés, afirmações
dolorosas como "... há alguns anos atrás eu afirmei certa coisa e só
Deus sabe o quanto eu orava e esperava estar errado ao invés de
encontrar-me hoje perante a realização concreta do que eu tinha
previsto anteriormente apenas como uma hipótese. Infelizmente!”
E
quando alguns dos meus alunos me diziam: "tudo aconteceu exatamente
como você havia previsto!” Eu então curvava a cabeça seriamente, com
humildade cristã e tristeza realmente sentida e lhes dizia: "vocês não
imaginam o quanto eu esperava estar errado e como eu rezava para ser
capaz de dizer no futuro: você viu? Graças a Deus eu estava errado”.
Porque
intuir e analizar por antecipação o mal e os frutos que o mal pode
produzir através do processo de decadência inexorável que avança sob os
nossos olhos em turbilhão, em mim não produz qualquer prazer intelectual
narcisista e muito menos qualquer complacência Católica.
Sobre
a retidão profissional de certos plagiadores, alguns até ilustres ou de
assinatura
prestigiosa, - e repito, precindindo totalmente do EU –teria não pouco o
que dizer, especialmente porque para mim, a retidão e costume cristão
me levam a mencionar a pessoa ou a fonte quando faço referência não
apenas a um pensamento mas até o suspiro de alguém. A prova disso está
na abundância de notas e referências tanto no rodapé dos meus livros
como no restante de todo artigo meu que é endereçado ao grande público.
Porque
se tomo emprestado até um suspiro de alguém, faço questão de registrar
de quem é aquele suspiro, ao contrário de certos católicos famosos que
do alto do seu egocentrismo desprezam notas e citações, tornando-se eles
próprios fonte e citação e, com o perdão da palavra: a prova da verdade
viva.
Bem, quem vai dizer a estes
"cattoliconi" que somos apenas servos da verdade que reside no mistério
de Deus e na sua palavra divina e não
a suposta encarnação viva da verdade que reside no egocentrismo do
homem e em suas palavras vãs?
Só
para citar, como de costume, o que alguns expressaram em seus escritos
e depois repetiram em discursos públicos, vou mencionar o que Antonio
Livi escreveu em seu artigo memorável: “A obediência ao Papa apenas em
relação a Cristo”. Nesse artigo, o autor explicou de modo educado e
decisivo quando e como, ministros em sacris de um lado, e todo o Povo de
Deus por outro lado, estamos obrigados pelos ditames do sucessor de
Pedro, ou seja, quando ele exerce seu próprio o Magistério em matéria
de doutrina e fé, quando reafirma doutrinas da Igreja, quando atualiza,
ou quando torna apropriado dar vida a novas doutrinas que estão de
acordo com a Revelação, o Depósito da Fé e a Tradição Católica.
Por
mais de um ano e até agora permanece no entanto, uma perigosa confusão
na comunidade dos fiéis que formam o corpo vivo da Igreja, fomentada
pelo artifício de pensadores, intelectuais e jornalistas, principalmente
os não-crentes; começando obviamente, por Eugenio Scalfari que vive num
entra-e-sai na Domus Sanctae Martae onde não conseguiram entrar, ou
onde sequer foram recebidos, bispos de dioceses espalhadas pelo mundo
inteiro, obrigados a lidar com situações gravíssimas e até perseguições
sangrentas infligidas aos fiéis de suas igrejas locais. Bispos que
tiveram seus seríssimos problemas reenviados ao Secretário de Estado ou a
algum outro departamento da Santa Sé.
A
questão é portanto rigorosa: quando é que o Romano Pontífice é infalível
e quando, sem entrar na causa do dogma da infalibilidade e na
instituição da infalibilidade, que tudo o que o Santo
Padre sancionou e estabeleceu através de um simples discurso público -
que na prática, porém, sempre foi seguido por um documento claro e
detalhado - pode ser e é considerado doutrina vinculante?
No
curso desses últimos tempos eu tenho queimado tempo, energia e palavras
para explicar a alguns Católicos, ainda que a evidência dos fatos o
demonstrem, como a velha esquerda radical se voltou para a Igreja depois
da queda do muro de Berlim muito mais como inconsoláveis órfãos com
sede de ideologia e que tem na figura do Pontífice Romano, seja ele quem
for, uma abordagem fechada como se ele fosse um mito intocável como um
Che Guevara ou Mao Tse-Tung.
Essa abordagem
além de não ser sã de um ponto de vista puramente humano, também não é
adequada a um católico, pois tal atitude cria conflito com o pressuposto
daquela
liberdade dos filhos de Deus, que desde o Jardim do Éden encontra sua
síntese nas palavras do Apóstolo que adverte: "a verdade vos libertará"
[João 8: 32 ]. E para atingir essa verdade é preciso que se tenha
liberdade, da mesma forma e vice-versa é necessário para se chegar à
verdade, um espírito de liberdade. E para ser livre na fé é necessário
sermos livres de ideologias, porque como sempre, a ideologia é o veneno
mortal da fé.
Ninguém
conseguiria semear tanto dano como conseguiram os “ex- comunistinhas”
que se aproximaram da fé católica com aquele espírito ideológico que os
levou do culto ao velho ídolo do Che Guevara rumo à mais dura e pura
papolatria. Esses chegam ao ponto de reivindicar o direito de viver no
total desprezo daquela liberdade da qual ainda querem privar todos os
demais e o que é pior, em nome de Cristo. Em suma, uma
verdadeira blasfêmia.
Estes
indivíduos que mudaram só a banda mas não trocaram a música e que
jamais se deixaram tocar pelo mistério da graça, simplesmente se
limitaram a trocar de bandeira pra arrumar uma nova tribuna de onde
vociferar, uma nova praça pública de onde possam gritar, um novo ídolo
para adorar e de um modo coercitivo e cada vez mais agressivo, sempre
atacando, como de praxe, as pessoas ao invés de suas idéias, já que são
incapazes de respeitar pessoas.
Visto que o
mal expresso e mal entendido conceito de "quem sou eu para julgar",
como eu escrevi há muito tempo atrás, na verdade significa: "quem sou
eu para julgar a profunda consciência do homem que só Deus pode ler e
julgar", me parece que agora na Igreja e com o novo Pontificado estes
indivíduos passaram a usar a mesma abordagem que os jovens
militantes da velha esquerda radical usavam com certas figuras que se
tornaram seus símbolos intocáveis.
Isso pra
não mencionar o dano que eles começaram a causar no mundo eclesial
quando alguns bispos decidiram salvar do desemprego pequenos exércitos
de medíocres incapazes de encontrar ou criar-se um emprego, e
capacitou-os como professores de religião em escolas públicas. Ou quando
muitos párocos, tão envolvidos em atividades pastorais não tão
específicas, passaram a delegar a esses personagens a organização e
gestão do catecismo para a educação de nossas crianças e dos nossos
jovens; coisas que deveriam estar o máximo possível sob os cuidados dos
sacerdotes e não sob a cura de um exército de piedosas mulheres que
brincam de sacerdotisas.
Pois então este é o
drama eclesial e pastoral de hoje em dia: muitos pastores são capazes
de entregar a chave do
tabernáculo até nas mãos da pior das “solteironas amargas”, que muitas
vezes acabam se sentindo até mesmo como proprietárias do Santíssimo
Sacramento, mas nenhum deles jamais lhes dariam as chaves do cofre
intocável onde guardam seu precioso e amado dinheiro. E quem quiser uma
prova concreta do que eu estou dizendo, basta dar um giro pelas
paróquias e fazer a conta do número cada vez maior de sacerdotes que
usando como desculpa os extensos deveres pastorais - repito: todos
dignos de serem investigados - não têm tempo para ensinar o catecismo
básico às crianças e adolescentes, não têm tempo para visitar os doentes
e levar-lhes a Santa Eucaristia, delegando tudo isso às inevitáveis
"mulheres piedosas".
Com
a melhor das intenções e com o uso de todas as minhas modestas
capacidades, tentei argumentar com aqueles papólatras que vêem em Jorge
Mario
Bergoglio um substituto ideal de Che Guevara e Mao Tse-Tung, isso para
não mencionar um verdadeiro substituto de nosso Senhor Jesus Cristo, ao
invés de ver e venerar nele o mistério da Igreja edificada sobre Pedro.
Conversando
com essas pessoas, eu acabava sempre me debatendo com uma parede de
borracha, muitas vezes tendo ainda que improvisar como resposta lições
de teologia e eclesiologia para pessoas que muito mais movidas por
orgulho obstinado do que por fatos concretos, não conhecem sequer o
Catecismo da Igreja Católica, mas que presumem não só saber como ousam
querer corrigir com erros crassos aqueles que servem aos mistérios da
fé, que os realiza por graça de Deus e que os conhece bem melhor, não
por outro motivo senão o dever do ofício sacramental.
A
comunidade
eclesial sempre necessitou do valioso trabalho de leigos e leigas aos
quais se pede antes de mais nada, ter consciência do seu próprio ser e a
capacidade de distinguir qual é seu lugar dentro da Igreja.
Ou
como um irmão no sacerdócio disse a uma "pia mulher " quando durante o
verão foi chamado a substituir em duas paróquias um pároco que tinha
saído de férias”:"dê-me imediatamente a chave do tabernáculo; e se você
realmente quiser fazer um serviço útil, tenha em mente que os paramentos
estão com mau cheiro, as camisas encardidas e o chão da igreja imundo. E
não se atreva a dizer que sou um padre machista, porque eu não tenho a
menor intenção de limpar a igreja, enquanto a senhora está ilicitamente
empenhada em guardar e administrar a Santíssima Eucaristia ".
Quando esse irmão me narrou o fato eu respondi: "Você fez bem, porque certas “sem noção” seriam
capazes de colocar a vassoura na mão do Bispo e tomar-lhes o báculo de sua autoridade pastoral”.
Falando
face a face sobre questões dogmáticas com o irmão John Cavalcoli em uma
pausa durante a última conferência patrocinada pela Associação
Internacional de Tomas Tyn, eu disse: você que é um sacerdote e teólogo
idoso me corrija se eu estiver errado: a infalibilidade reside na graça
vinculada à instituição da qual o Romano Pontífice se vale ou para
melhor entender; a pessoa não é infalível em si e por si, mas sim pelo
que a pessoa-instituição expressa em matéria de doutrina e fé, por
aquilo que a pessoa-instituição representa por mandato divino e
certamente não por aquilo que a pessoa humanamente falando é.
Este
é o elemento teológico que escapa ao entendimento de papólatras
ideológicos ou aos meios de comunicação de nossos dias. E não creio que
afirmar isso seja jogar com questões de lã caprina, porque o homem,
como demonstra o Pedro narrado nos Evangelhos, pode até ser fraco,
frágil e inadequado e quando é levado pelo emocional chega a se
expressar com a valentia de um leão, mas ao primeiro sinal de perigo
foge assustado como um coelho afirmando: "eu não conheço esse homem" (Mt
26,69-75), ou então afirmando de uma forma diferente: "Eu estou velho e
cansado e não aguento mais”.
No entanto,
acima de tudo isso está o ofício que ele ocupa edificado sobre um
mistério de fé, ou seja, sobre um dogma fundamental da Igreja pelo qual
Pedro e todos os seus sucessores receberam as chaves do Reino,
juntamente com o poder de ligar e desligar (Mt 16, 14-18), e conforme
sempre ocorreu no exercício do seu ofício apostólico, todos os
Pontífices - todos, inclusive o pior que a história da Igreja já
registrou - serão assistidos pelo poder do
Espírito Santo que através deles falará e guiará a Igreja sempre.
Nisso
reside o verdadeiro Dogma da Infalibilidade, todo o resto não passa de
idolatria da parte de pessoas mais ou menos católicas, mais ou menos de
boa fé, mais ou menos ignorantes em matéria de doutrina, mas que com uma
singular arrogância frequentemente ousam impor suas idéias e opiniões
como se fossem real, autêntica e única doutrina da Igreja e em total
desprezo e violação das leis da Igreja "[CIC can 227].
Pessoalmente
eu marcho por Cristo e se por Cristo eu tiver que lutar, o faço na
certeza da fé que "Εν τούτῳ νίκα, in hoc signo vinces". Pois à frente de
cada “batalha”está o comando supremo de Pedro que é sinal vivo e pedra
viva sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja. Isto enquanto Pedro
estiver investido de seu papel
de guia supremo e de pastor supremo da Igreja universal e não quando é
Simão se expressando como “doutor privado” ou como pra usar outra
linguagem, age e fala como qualquer outro cidadão.
Sempre
que falo de Simão, a liberdade que é concedida aos filhos de Deus me
permite expressar todas as dúvidas razoáveis sobre as muitas expressões
mutiladas ou ambíguas das quais ele faz uso pra se expressar como um
"cidadão livre".
Por isso, na obediência
mais fiel ao depósito da fé, ao Magistério e à Doutrina Católica é
perfeitamente legal - se quiser até mesmo obrigatório - argumentar que
aquilo que Simão diz ao assumir o papel de “doutor privado” ou por assim
dizer, falando como um cidadão livre, não é doutrina vinculante da
Igreja. E isto não é porque o explica o filósofo metafísico e teólogo
Antonio
Livi ou por que digo eu, ou qualquer outra pessoa, mas porque o assim o
diz a Doutrina Católica, com todo o respeito ao exército consistente e
perigoso de novos papólatras emocionais ou midiáticos que apareceram
como órfãos da esquerda radical descobrindo o encanto do seu novo Che
Guevara ou seu novo Mao Tse-Tung.
Vinculante
é o Magistério, vinculaste são os documentos do magistério supremo e
tudo o que Pedro expressa em matéria de doutrina e de fé, e não
certamente as entrevistas de braços dados com jornalistas mais ou menos
incrédulos, e outros até orgulhosos de seu ateísmo, mas que se sentem
cada vez mais legitimados em sua própria descrença em virtude da
amistosa consideração concedida a eles por parte de Simão.
Pedro
sempre falou através de suas encíclicas,
suas alocuções, suas homilias e através de vários atos oficiais do seu
magistério supremo. Hoje ao invés, Simão responde a jornalistas e
entrevistadores, chegando inclusive a falar com um deles recentemente,
sobre uma nova instituição da igreja, aquela do “papado emérito”, ainda
que o jornalista em questão sequer tenha perguntado a respeito.
Pergunta dirigida ao Santo Padre pelo jornalista Johannes Schidelko da Agência Católica Alemã:
Obrigado!
Santidade, que tipo de relacionamento existe entre si e Bento XVI?
Existe uma troca regular de opiniões, de ideias; há um projecto comum
depois desta Encíclica?
(Papa Francisco)
Vemo-nos...
Antes de sair, fui
encontrá-lo. Duas semanas antes, ele enviou-me um escrito interessante:
pedia-me a opinião... Temos um relacionamento normal, porque – e volto a
esta idéia que talvez não agrade a qualquer teólogo; eu não sou teólogo
– penso que o Papa emérito não seja uma excepção, mas, depois de muitos
séculos, este é o primeiro emérito. Pensemos antes no que ele disse:
«Envelheci, não tenho as forças…» Foi um belo gesto de nobreza e também
de humildade e coragem. Penso: há 70 anos, os bispos eméritos também
eram uma excepção, não existiam; hoje, os bispos eméritos são uma
instituição. Eu penso que «Papa emérito» seja já uma instituição.
Porquê? Porque se alonga a nossa vida e, a uma certa idade, não há a
capacidade de governar bem, porque o corpo se cansa, a saúde talvez
ainda seja boa, mas não se tem a capacidade para resolver todos os
problemas de um governo como o da Igreja. E eu creio que o Papa Bento
XVI tenha feito
este gesto que, de fato, institui os Papas eméritos. Repito: talvez
algum teólogo me diga que isto não está certo, mas eu penso-a assim. Os
séculos dirão se é assim ou não; veremos! O senhor poderá dizer-me: «E
se um dia o Santo Padre sentir que não consegue continuar?» Eu faria o
mesmo, faria o mesmo! Rezarei muito, mas faria o mesmo. Ele abriu uma
porta que é institucional, não excepcional. O nosso relacionamento é,
verdadeiramente, de irmãos. Como já disse, sinto-o como se tivesse o avô
em casa pela sabedoria: é um homem com uma grande sabedoria, com
nuances, que me faz bem ouvi-lo. E também me encoraja muito. Este é o
relacionamento que tenho com ele.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/august/documents/papa-francesco_20140818_corea-conferenza-stampa.html
Diante
dessa resposta surge uma nova questão: Foi Pedro que falou ou foi
Simão? Devemos portanto observar que embora tal expressão tenha sido
usada pelo Santo Padre, para nós católicos esta instituição de "Papa
Emérito" até agora não existe e não existirá enquanto não for sancionada
por um documento oficial, inserida no Código de Direito Canônico e
assumida como uma disciplina vinculante da Igreja.
Nós
que vivemos concretamente na sala de emergência da "Igreja Hospital de
Campanha", sabemos bem como é grande o número de sacerdotes que sofrem
diante de um Simão que vive de braços dados com jornalistas
comunicando-lhes projetos e decisões futuras ou dando-lhes respostas
ligadas a assuntos delicados e temas relacionados à doutrina e a lei da
Igreja, enquanto os bispos por um lado, e os sacerdotes por outro lado,
têm que sofrer a
humilhação de tomar conhecimento sobre tudo isso a partir das colunas
de jornais sustentados pela esquerda anti-católica, abortista,
pró-homossexualismo e pró-eutanásia. Isso quando não são jornais
apoiados diretamente pelo lobby maçônico, como se os homens chamados
através dos três graus da ordem sagrada para servir à Igreja com
fidelidade e colaborar com Pedro fossem apenas um apêndice
insignificante colocado lá como um acessório na extremidade.
Ou
talvez alguém possa pensar que podemos realmente fazer uso deste
exército pernicioso de leigos não-católicos, pentecostais hereges,
descrentes de várias formas ligados até à medula às lojas maçônicas,
para produzir algum bem no seio da Igreja e em seguida transmitir ao
mundo através da obra pastoral da Igreja! Não devemos esquecer jamais
que a Igreja recebeu do Verbo de Deus este mandato preciso: "Ide por
todo o mundo e pregai o evangelho a toda
criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado "[Mc16,15-16]. E para aqueles que quiserem se aprofundar mais
sobre esse assunto basta ler atentamente a Declaração Dominus Jesus,
muito abrangente a este propósito.
Ainda
bem que eu sou apenas um pobre pecador e um pequeno sacerdote, porque
se eu tivesse a autoridade do apóstolo Paulo que repreendeu Pedro em
Antioquia [Cf Gal 2,1-2,7-14 e Cf. Catecismo de João Paulo II sobre a
autoridade de São Pedro] ou a santidade de um São Bernardo de Clairvaux
ou de Santa Catarina de Siena, creio que a este respeito escreveria
muito mais, usando talvez termos até mais severos. Infelizmente me faltam esses dois pressupostos fundamentais e imprescindíveis: a autoridade paulina e
santidade dos doutores da Igreja, Bernardo e Catarina.
Diante
de tudo isso é perfeitamente legítimo responder que não basta um
simples precedente histórico, ainda que de alcance extraordinário como a
traumática abdicação de Bento XVI ao trono sagrado, para que se
comunique à inteira orbe católica e através de um simples jornalista, a
existência de uma instituição que entre outras coisas está diretamente
ligada a um dogma fundamental do mistério da Igreja: "Tu es Petrus" [cf
Mt 16, 14-18]. Ou por acaso é lícito acordar numa certa manhã e resolver
declarar assim, de veneta, a existência de uma nova instituição,
falando de improviso e em tom amável a jornalistas como o correspondente
alemão que, entre outras coisas, a este respeito, sequer havia
perguntado algo sobre o específico assunto? Ou deveríamos, talvez,
deduzir que basta a praxes
para modificar doutrinas e leis que fazem parte da "chatolica traditio"
edificada sobre a Revelação e o Depositum Fidei?
Nesta
atmosfera de total confusão é evidente para qualquer pessoa que queira
ver a realidade, como está havendo uma procura mais ou menos sensacional
e espasmódica por "novas palavras" destinadas na prática a agradar, mas
infelizmente nenhuma busca por palavras claras e inequívocas destinadas
nem sempre a agradar, mas fundamentadas sobre aqueles mistérios da fé
que nos colocam diante das nossas responsabilidades e que nos lembram
firmemente que não se pode servir a dois senhores [CF Lc 16, 13,].
É,
portanto, legítimo se perguntar: e se Bento XVI tivesse parado ao longo
da Via Sacra, dizendo mais ou menos que estava muito velho e incapaz de
carregar a cruz
em suas costas porque estava sofrendo de artrite reumatóide? Poderíamos
portanto, presumir - na sequência do precedente inaugurado por Bento
XVI - que o seu sucessor teria que ficar vagando ao sopé da colina do
Vaticano esperando até familiarizar-se com o fato histórico do martírio
do Príncipe dos Apóstolos [Cf Clemente de Roma, Epístola aos Coríntios,
V]; ou com a idéia de que no topo da colina está a cruz na qual Pedro
terminará inevitavelmente crucificado de cabeça para baixo e diante da
qual não será possível dizer: "Eu tenho problemas no fêmur e não posso
subir até lá, portanto é melhor que arrumem alguém com pernas mais
jovens que as minhas porque graças a Deus, contra a Via Dolorosa e a
Cruz, nós clérigos maliciosos resolvemos inventar a instituição do
"papado emérito " que providencialmente poderá vir em nosso socorro".
Dito
isto,
considero supérfluo reiterar minha obediência devota e filial ao
pontífice reinante, pois eu já fiz isso em vários artigos, incluindo um
dedicado à teologia da esperança e ao fundamento de fé do ministério
petrino, além de ter publicamente repreendido várias vezes alguns
católicos, ou presumidos católicos que se deixaram levar não por
críticas respeitosas, legítimas e como tais reconhecidas e tuteladas
pela mesma lei da Igreja [ver Canons já mencionados. 218, 386, 2
C.I.C.], mas a verdadeiras agressões visando o Romano Pontífice de modo
insolente e, portanto, totalmente inaceitáveis. E não repito o óbvio
porque a esse ponto eu poderia correr o risco de dar a impressão de que
pretendo colocar as mãos adiante ou de alguma maneira me proteger.
Enquanto na verdade não é assim: quem me conhece ou é meu leitor deveria
saber que vivo de modo aberto e em todos os sentidos, porque o espírito
temeroso e omisso certamente não são dois
pilares sobre os quais é possível construir ou exercer o ministério
sacerdotal ou pior, como se fosse um trampolim para uma respeitável e às
vezes até mesmo cobiçada carreira.
As
alternativas não são muitas: ou nesse preciso momento histórico Pedro
aceita subir sobre a cruz com os pés ensanguentados e acorrentados ou
após o banho de celebridade e frases de efeito mais ou menos distorcidas
e com os mais diversos e ambíguos significados, este Pedro poderia
correr o risco de acabar por dizer que a idade, a saúde e as forças já
não o permitem mais seguir em frente. E assim em um período de tempo nem
tão longo, a Igreja de Deus poderia acabar com dois pontífices chamados
eméritos e um terceiro eleito. E ainda assim, se o terceiro não decidir
tomar o touro pelos chifres de modo decidido, talvez corremos o risco
de acabar como o Império Romano no período de
seu maior declínio quando os imperadores continuavam a se suceder um
após o outro, até que a certo ponto a maioria das pessoas nem mesmo
sabia seus nomes.
Entre
as evidências produzidas pela apostasia da fé, não mais disfarçadas mas
agora óbvias que têm se desenvolvido ao longo do último meio século na
Igreja, com os hereges que agora perseguem abertamente os filhos
dedicados à Igreja e ao Depósito da fé católica, por um lado, nós
rezamos para que em breve Simão resolva assumir o papel de Pedro e por
outro lado, para que a misericórdia de Deus nos salve através do poder
do Espírito Santo, ou que nos conceda a graça de entrar em colapso o
quanto antes possível.
Uma vez que a Igreja
será de fato impolida sobre si mesma e dizimada pela peste da apostasia
que concretamente é muito pior do que a grande epidemia de
1348, poderemos trabalhar sobre as cinzas para reconstruir tudo de
novo, como já aconteceu muitas vezes ao longo da nossa história quando a
peste matava apenas os corpos, ao contrário da atual em que se matam
as almas "como uma onda livre" que vai levando a todos, enquanto a voz
de Cristo ressoa cada vez mais distante: "venham, venham comigo ... se
aproximem de Mim ", caindo cada vez mais no nada, nesse nosso diabólico
ritmo lento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário