sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ritmo lento: Vamos em direção a uma igreja com três papas, dois "aposentados" e um eleito? "Papa Emérito" é uma instituição que ainda não existe

Padre Ariel S. Levi Gualdo - Tradução: Gercione Lima


Em uma de minhas conversas privadas com um distinto membro da nossa "reserva indígena", meu confrade mais velho Antonio Livi, muitas vezes abordei questões de caráter dogmático, histórico e eclesiológico ligados à figura do Pontífice Romano em seu duplo papel de Doutor privado e supremo guardião do depósito da fé e da Doutrina católica.  Um tema repetido várias vezes com um outro confrade mais velho e igualmente destacado filósofo e teólogo, o dominicano Giovanni Cavalcoli que é outro ponta de lança da nossa "reserva indígena".

Há um ano atrás, revelei a ambos um temor que eu já havia manifestado apenas a alguns amigos mais íntimos. Para dizer a verdade, mais do que manifestar, apenas me limitei a sussurrar em em voz baixa: "será que estamos correndo o risco de em breve nos depararmos com dois papas considerados "eméritos "e um terceiro pontífice eleito”? Alguns sorriram e outros se perguntavam se era mais uma das minhas provocações através do uso do paradoxo ou hipérbole, enquanto os dois confrades mais velhos formados por décadas de filosofia e estudos teológicos, bem como pela dedicação contínua aos ministérios pastorais com os quais sempre defenderam a sã e sólida fé (que hoje parece quase ter caído no esquecimento), ouviram atentamente, sem responder naquele momento, tão pesado era o alcance daquela minha perplexidade. Aquilo que me responderam então, não afetam estas linhas.

O erro que cometi naquela época foi deixar escapar da minha boca aquele pensamento que me atormentava com todas as conjecturas articuladas mais abaixo, ao conversar com uma certa pessoa que logo depois publicou minha dolorosa análise para o público, fazendo passá-la como de sua própria autoria. Até aqui nenhum problema, pois não coloco direitos autorais em meus discursos públicos ou privados. Quem o faz é meu meu editor e mesmo assim só para meus livros impressos. Todavia não sou tão ingênuo a ponto de não perceber aqui e ali o modo como alguns jornalistas e comentaristas, várias vezes desenvolveram teses depois que meus escritos foram publicados tanto na Riscossa Cristiana como na Corrispondenza Romana, sem nunca sequer terem a gentileza de mencionar quem havia formulado a análise. 
 
No entanto fui eu que a fiz, correndo por minha própria conta o risco, dada a minha total dependência sacramental e jurídica daquelas autoridades eclesiásticas que várias vezes me deixaram perplexo, mas sem jamais desviar-me dos cânones do respeito e da devota obediência sacerdotal que até o presente momento sempre procurei manter.  Cheguei mesmo ao ponto de defender tais autoridades diante daqueles que amam agitar rebelião contra a legítima autoridade eclesiástica. 
 
Por um lado, há de fato o Evangelho que me indica como reagir de forma decisiva contra certos maus costumes ou de como proceder se for necessária a correção fraterna; e de outro há a lei da Igreja que me assegura o direito legítimo à crítica [CIC 218, 386, 2 ] encerrado no correto modo de agir do qual eu jamais me afastei. E a prova disso é que jamais fui repreendido ou advertido sob acusação de ter violado o que está sancionado pela doutrina, lei e moral da da Igreja Católica. Nem tampouco qualquer bispo com jurisdição legal sobre mim jamais me acusou de ter trazido desonra à Ordem sacerdotal. Muito pelo contrário, quando aconteceu de algum leigo fanático – daquele tipo que quer ser mais clerical do que qualquer sacerdote– ou qualquer “monsenhorzinho” carreirista tomado pelo prurido, ousaram instigar a autoridade eclesiástica a fazer uma “advertência adequada” contra certos escritos meus, a resposta que receberam foi que não era sequer concebível repreender e muito menos punir quem está dizendo a verdade, ainda que de uma maneira dura, mas sem ofender ninguém, protegendo palavra por palavra o Mistério da Revelação e os Dogma da Fé Católica e jamais colocando-os em discussão, como é de costume para fazer-se amigos, ou pior, como "pontos de referência" reais para alguns leigos clericais e certos “monsenhorzinhos” tomados por um prurido que os induzem a ressaltar pontos imprecisos que não são de nenhum interesse para nós homens.

Desde que... quando se trata de cometer "roubo de pensamento" para determinados personagens parece que está tudo bem, já que ... nós somos os barões pomposos e você apenas um padrezinho pregando para as areias do deserto, e ainda correndo  o risco de acabar com a cabeça sobre um prato como João Batista, citá-lo como o autor da análise que nós plagiamos não vem ao caso. Claro, gentileza para esses tais, seria se esnobassem tanto a análise como o “anônimo padrezinho” que a fez. 

Gostaria de salientar que a nível pessoal nada disso me importa porque o processo de substituição do egocentrismo humano pelo Cristocentrismo é a própria base do meu ministério sacerdotal, da minha formação passada e permanente. Tudo isso é contrário a alguns ou talvez infelizmente, muitos, que sobre o egocentrismo e a soberba elevada à máxima potência, construíram seu status de intelectuais. Enfim, os apologistas verdadeiros ou falsos, escritores e jornalistas católicos que sempre colocam em seus livros e escritos o  "EU" na frente de "Deus": "como eu disse ... como eu escrevi ... como já afirmei , tendo nisso total razão, como os fatos comprovam ... amém, aleluia." 

E de pensar que das minhas mal traçadas linhas saem ao invés, afirmações dolorosas como "... há alguns anos atrás eu afirmei certa coisa e só Deus sabe o quanto eu orava e esperava estar errado ao invés de encontrar-me hoje perante a realização concreta do que eu tinha previsto anteriormente apenas como uma hipótese. Infelizmente!” 
 
E quando alguns dos meus alunos me diziam: "tudo aconteceu exatamente como você havia previsto!” Eu então curvava a cabeça seriamente, com humildade cristã e tristeza realmente sentida e lhes dizia: "vocês não imaginam o quanto eu esperava estar errado e como eu rezava para ser capaz de dizer no futuro: você viu? Graças a Deus eu estava errado”. 
 
Porque intuir e analizar por antecipação o mal e os frutos que o mal pode produzir através do processo de decadência inexorável que avança sob os nossos olhos em turbilhão, em mim não produz qualquer prazer intelectual narcisista e muito menos qualquer complacência Católica. 

Sobre a retidão profissional de certos plagiadores, alguns até ilustres ou de assinatura prestigiosa, - e repito, precindindo totalmente do EU –teria não pouco o que dizer, especialmente porque para mim, a retidão e costume cristão me levam a mencionar a pessoa ou a fonte quando faço referência não apenas a um pensamento mas até o suspiro de alguém.  A prova disso está na abundância de notas e referências tanto no rodapé dos meus livros como no restante de todo artigo meu que é endereçado ao grande público. 
 
Porque se tomo emprestado até um suspiro de alguém, faço questão de registrar de quem é aquele suspiro, ao contrário de certos católicos famosos que do alto do seu egocentrismo desprezam notas e citações, tornando-se eles próprios fonte e citação e, com o perdão da palavra: a prova da verdade viva. 
 
Bem, quem vai dizer a estes "cattoliconi" que somos apenas servos da verdade que reside no mistério de Deus e na sua palavra divina e não a suposta encarnação viva da verdade que reside no egocentrismo do homem e em suas palavras vãs?

Só para citar,  como de costume, o que alguns expressaram em seus escritos e depois repetiram em discursos públicos, vou mencionar o que Antonio Livi escreveu em seu artigo memorável: “A obediência ao Papa apenas em relação a Cristo”. Nesse artigo, o autor explicou de modo educado e decisivo quando e como, ministros em sacris de um lado, e todo o Povo de Deus por outro lado, estamos obrigados pelos ditames do sucessor de Pedro, ou seja, quando ele exerce  seu próprio o Magistério em matéria de doutrina e fé, quando reafirma doutrinas da Igreja, quando atualiza, ou quando torna apropriado dar vida a novas doutrinas que estão de acordo com a Revelação, o Depósito da Fé e a Tradição Católica. 

Por mais de um ano e até agora permanece no entanto, uma perigosa confusão na comunidade dos fiéis que formam o corpo vivo da Igreja, fomentada pelo artifício de pensadores, intelectuais e jornalistas, principalmente os não-crentes; começando obviamente, por Eugenio Scalfari que vive num entra-e-sai na Domus Sanctae Martae onde não conseguiram entrar, ou onde sequer foram recebidos, bispos de dioceses espalhadas pelo mundo inteiro, obrigados a lidar com situações gravíssimas e até perseguições sangrentas infligidas aos fiéis de suas igrejas locais. Bispos que tiveram seus seríssimos problemas reenviados ao Secretário de Estado ou a algum outro departamento da Santa Sé. 
A questão é portanto rigorosa: quando é que o Romano Pontífice é infalível e quando, sem entrar na causa do dogma da infalibilidade e na instituição da infalibilidade, que tudo o que o Santo Padre sancionou e estabeleceu através de um simples discurso público - que na prática, porém, sempre foi seguido por um documento claro e detalhado - pode ser e é considerado doutrina vinculante? 

No curso desses últimos tempos eu tenho queimado tempo, energia e palavras para explicar a alguns Católicos, ainda que a evidência dos fatos o demonstrem, como a velha esquerda radical se voltou para a Igreja depois da queda do muro de Berlim muito mais como inconsoláveis órfãos com sede de ideologia e que tem na figura do Pontífice Romano, seja ele quem for, uma abordagem fechada como se ele fosse um mito intocável como um Che Guevara ou Mao Tse-Tung.
 
 Essa abordagem além de não ser sã de um ponto de vista puramente humano, também não é adequada a um católico, pois tal atitude cria conflito com o pressuposto daquela liberdade dos filhos de Deus, que desde o Jardim do Éden encontra sua síntese nas palavras do Apóstolo que adverte: "a verdade vos libertará" [João 8: 32 ]. E para atingir essa verdade é preciso que se tenha liberdade, da mesma forma e vice-versa é necessário para se chegar à verdade, um espírito de liberdade. E para ser livre na fé é necessário sermos livres de ideologias, porque como sempre, a ideologia é o veneno mortal da fé. 

Ninguém conseguiria semear tanto dano como conseguiram os “ex- comunistinhas” que se aproximaram da fé católica com aquele espírito ideológico que os levou do culto ao velho ídolo do Che Guevara rumo à mais dura e pura papolatria. Esses chegam ao ponto de reivindicar o direito de viver no total desprezo daquela liberdade da qual ainda querem privar todos os demais e o que é pior, em nome de Cristo. Em suma, uma verdadeira blasfêmia.

Estes indivíduos que mudaram só a banda mas não trocaram a música e que jamais se deixaram tocar pelo mistério da graça, simplesmente se limitaram a trocar de bandeira pra arrumar uma nova tribuna de onde vociferar, uma nova praça pública de onde possam gritar, um novo ídolo para adorar e de um modo coercitivo e cada vez mais agressivo, sempre atacando, como de praxe, as pessoas ao invés de suas idéias, já que são incapazes de respeitar pessoas.  
Visto que o mal expresso e mal entendido conceito de "quem sou eu para julgar",  como eu escrevi há muito tempo atrás, na verdade significa: "quem sou eu para julgar a profunda consciência do homem que só Deus pode ler e julgar", me parece que agora na Igreja e com o novo Pontificado estes indivíduos passaram a usar a mesma abordagem que os jovens militantes da velha esquerda radical usavam com certas figuras que se tornaram seus símbolos intocáveis. 
 
Isso pra não mencionar o dano que eles começaram a causar no mundo eclesial quando alguns bispos decidiram salvar do desemprego pequenos exércitos de medíocres incapazes de encontrar ou criar-se um emprego, e capacitou-os como professores de religião em escolas públicas. Ou quando muitos párocos, tão envolvidos em atividades pastorais não tão específicas, passaram a delegar a esses personagens a organização e gestão do catecismo para a educação de nossas crianças e dos nossos jovens; coisas que deveriam estar o máximo possível sob os cuidados dos sacerdotes e não sob a cura de um exército de piedosas mulheres que brincam de sacerdotisas. 
 
Pois então este é o drama eclesial e pastoral de hoje em dia: muitos pastores são capazes de entregar a chave do tabernáculo até nas mãos da pior das “solteironas amargas”, que muitas vezes acabam se sentindo até mesmo como proprietárias do Santíssimo Sacramento, mas nenhum deles jamais lhes dariam as chaves do cofre intocável onde guardam seu precioso e amado dinheiro. E quem quiser uma prova concreta do que eu estou dizendo, basta dar um giro pelas paróquias e fazer a conta do número cada vez maior de sacerdotes que usando como desculpa os extensos deveres pastorais - repito: todos dignos de serem investigados - não têm tempo para ensinar o catecismo básico às crianças e adolescentes, não têm tempo para visitar os doentes e levar-lhes a Santa Eucaristia, delegando tudo isso às inevitáveis "mulheres piedosas". 

Com a melhor das intenções e com o uso de todas as minhas modestas capacidades, tentei argumentar com aqueles papólatras que vêem em Jorge Mario Bergoglio um substituto ideal de Che Guevara e Mao Tse-Tung, isso para não mencionar um verdadeiro substituto de nosso Senhor Jesus Cristo, ao invés de ver e venerar nele o mistério da Igreja edificada sobre Pedro. 

Conversando com essas pessoas, eu acabava sempre me debatendo com uma parede de borracha, muitas vezes tendo ainda que improvisar como resposta lições de teologia e eclesiologia para pessoas que muito mais movidas por orgulho obstinado do que por fatos concretos, não conhecem sequer o Catecismo da Igreja Católica, mas que presumem não só saber como ousam querer corrigir com erros crassos aqueles que servem aos mistérios da fé, que os realiza por graça de Deus e que os conhece bem melhor, não por outro motivo senão o dever do ofício sacramental. 

A comunidade eclesial sempre necessitou do valioso trabalho de leigos e leigas aos quais se pede antes de mais nada, ter consciência do seu próprio ser e a capacidade de distinguir qual é seu lugar dentro da Igreja. 
 
Ou como um irmão no sacerdócio disse a uma "pia mulher " quando durante o verão foi chamado a substituir em duas paróquias um pároco que tinha saído de férias”:"dê-me imediatamente a chave do tabernáculo; e se você realmente quiser fazer um serviço útil, tenha em mente que os paramentos estão com mau cheiro, as camisas encardidas e o chão da igreja imundo. E não se atreva a dizer que sou um padre machista, porque eu não tenho a menor intenção de limpar a igreja, enquanto a senhora está ilicitamente empenhada em guardar e administrar a Santíssima Eucaristia ". 
Quando esse irmão me narrou o fato eu respondi: "Você fez bem, porque certas “sem noção” seriam capazes de colocar a vassoura na mão do Bispo e tomar-lhes o báculo de sua autoridade pastoral”. 
Falando face a face sobre questões dogmáticas com o irmão John Cavalcoli em uma pausa durante a última conferência patrocinada pela Associação Internacional de Tomas Tyn, eu disse: você que é um sacerdote e teólogo idoso me corrija se eu estiver errado: a infalibilidade reside na graça vinculada à instituição da qual o Romano Pontífice se vale ou para melhor entender; a pessoa não é infalível em si e por si, mas sim pelo que a pessoa-instituição expressa em matéria de doutrina e fé, por aquilo que a pessoa-instituição representa por mandato divino e certamente não por aquilo que a pessoa humanamente falando é. 
Este é o elemento teológico que escapa ao entendimento de papólatras ideológicos ou aos meios de comunicação de nossos dias. E não creio que afirmar isso seja jogar com questões de lã caprina, porque o homem, como demonstra o Pedro narrado nos Evangelhos, pode até ser fraco, frágil e inadequado e quando é levado pelo emocional chega a se expressar com a valentia de um leão, mas ao primeiro sinal de perigo foge assustado como um coelho afirmando: "eu não conheço esse homem" (Mt 26,69-75), ou então afirmando de uma forma diferente: "Eu estou velho e cansado e não aguento mais”.  
No entanto, acima de tudo isso está o ofício que ele ocupa edificado sobre um mistério de fé, ou seja, sobre um dogma fundamental da Igreja pelo qual Pedro e todos os seus sucessores receberam as chaves do Reino, juntamente com o poder de ligar e desligar (Mt 16, 14-18), e conforme sempre ocorreu no exercício do seu ofício apostólico, todos os Pontífices - todos, inclusive o pior que a história da Igreja  já registrou - serão assistidos pelo poder do Espírito Santo que através deles falará e guiará a Igreja sempre. 
Nisso reside o verdadeiro Dogma da Infalibilidade, todo o resto não passa de idolatria da parte de pessoas mais ou menos católicas, mais ou menos de boa fé, mais ou menos ignorantes em matéria de doutrina, mas que com uma singular arrogância frequentemente ousam impor suas idéias e opiniões como se fossem real, autêntica e única doutrina da Igreja e em total desprezo e violação das leis da Igreja "[CIC can 227]. 

Pessoalmente eu marcho por Cristo e  se por Cristo eu tiver que lutar, o faço na certeza da fé que "Εν τούτῳ νίκα, in hoc signo vinces". Pois à frente de cada “batalha”está o comando supremo de Pedro que é sinal vivo e pedra viva sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja. Isto enquanto Pedro estiver investido de seu papel de guia supremo e de pastor supremo da Igreja universal e não quando é Simão se expressando como “doutor privado” ou como pra usar outra linguagem, age e fala como qualquer outro cidadão. 

Sempre que falo de Simão, a liberdade que é concedida aos filhos de Deus me permite expressar todas as dúvidas razoáveis sobre as muitas expressões mutiladas ou ambíguas das quais ele faz uso pra se expressar como um "cidadão livre". 
Por isso, na obediência mais fiel ao depósito da fé, ao Magistério e à Doutrina Católica é perfeitamente legal - se quiser até mesmo obrigatório - argumentar que aquilo que Simão diz ao assumir o papel de “doutor privado” ou por assim dizer, falando como um cidadão livre, não é doutrina vinculante da Igreja.  E isto não é porque o explica o filósofo metafísico e teólogo Antonio Livi ou por que digo eu, ou qualquer outra pessoa, mas porque o assim o diz a Doutrina Católica, com todo o respeito ao exército consistente e perigoso de novos papólatras emocionais ou midiáticos que apareceram como órfãos da esquerda radical descobrindo o encanto do seu novo Che Guevara ou seu novo Mao Tse-Tung. 

Vinculante é o Magistério, vinculaste são os documentos do magistério supremo e tudo o que Pedro expressa em matéria de doutrina e de fé, e não certamente as entrevistas de braços dados com jornalistas mais ou menos incrédulos, e outros até orgulhosos de seu ateísmo, mas que se sentem cada vez mais legitimados em sua própria descrença em virtude da amistosa consideração concedida a eles por parte de Simão. 

Pedro sempre falou através de suas encíclicas, suas alocuções, suas homilias e através de vários atos oficiais do seu magistério supremo. Hoje ao invés, Simão responde a jornalistas e entrevistadores, chegando inclusive a falar com um deles recentemente, sobre uma nova instituição da igreja, aquela do “papado emérito”, ainda que o jornalista em questão sequer tenha perguntado a respeito. 

Pergunta dirigida ao Santo Padre pelo jornalista Johannes Schidelko da Agência Católica Alemã: 
Obrigado! Santidade, que tipo de relacionamento existe entre si e Bento XVI? Existe uma troca regular de opiniões, de ideias; há um projecto comum depois desta Encíclica?

(Papa Francisco)

Vemo-nos... Antes de sair, fui encontrá-lo. Duas semanas antes, ele enviou-me um escrito interessante: pedia-me a opinião... Temos um relacionamento normal, porque – e volto a esta idéia que talvez não agrade a qualquer teólogo; eu não sou teólogo – penso que o Papa emérito não seja uma excepção, mas, depois de muitos séculos, este é o primeiro emérito. Pensemos antes no que ele disse: «Envelheci, não tenho as forças…» Foi um belo gesto de nobreza e também de humildade e coragem. Penso: há 70 anos, os bispos eméritos também eram uma excepção, não existiam; hoje, os bispos eméritos são uma instituição. Eu penso que «Papa emérito» seja já uma instituição. Porquê? Porque se alonga a nossa vida e, a uma certa idade, não há a capacidade de governar bem, porque o corpo se cansa, a saúde talvez ainda seja boa, mas não se tem a capacidade para resolver todos os problemas de um governo como o da Igreja. E eu creio que o Papa Bento XVI tenha feito este gesto que, de fato, institui os Papas eméritos. Repito: talvez algum teólogo me diga que isto não está certo, mas eu penso-a assim. Os séculos dirão se é assim ou não; veremos! O senhor poderá dizer-me: «E se um dia o Santo Padre sentir que não consegue continuar?» Eu faria o mesmo, faria o mesmo! Rezarei muito, mas faria o mesmo. Ele abriu uma porta que é institucional, não excepcional. O nosso relacionamento é, verdadeiramente, de irmãos. Como já disse, sinto-o como se tivesse o avô em casa pela sabedoria: é um homem com uma grande sabedoria, com nuances, que me faz bem ouvi-lo. E também me encoraja muito. Este é o relacionamento que tenho com ele.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/august/documents/papa-francesco_20140818_corea-conferenza-stampa.html


Diante dessa resposta surge uma nova questão: Foi Pedro que falou ou foi Simão? Devemos portanto observar que embora tal expressão tenha sido usada pelo Santo Padre, para nós católicos esta instituição de "Papa Emérito" até agora não existe e não existirá enquanto não for sancionada por um documento oficial, inserida no Código de Direito Canônico e assumida como uma disciplina vinculante da Igreja.

Nós que vivemos concretamente na sala de emergência da "Igreja Hospital de Campanha",  sabemos bem como é grande o número de sacerdotes que sofrem diante de um Simão que vive de braços dados com jornalistas comunicando-lhes projetos e decisões futuras ou dando-lhes respostas ligadas a assuntos delicados e temas relacionados à doutrina e a lei da Igreja, enquanto os bispos por um lado, e os sacerdotes por outro lado, têm que sofrer a humilhação de tomar conhecimento sobre tudo isso a partir das colunas de jornais sustentados pela esquerda anti-católica, abortista, pró-homossexualismo e pró-eutanásia. Isso quando não são jornais apoiados diretamente pelo lobby maçônico, como se os homens chamados através dos três graus da ordem sagrada para servir à Igreja com fidelidade e colaborar com Pedro fossem apenas um apêndice insignificante colocado lá como um acessório na extremidade. 
Ou talvez alguém possa pensar que podemos realmente fazer uso deste exército pernicioso de leigos não-católicos, pentecostais hereges, descrentes de várias formas ligados até à medula às lojas maçônicas, para produzir algum bem no seio da Igreja e em seguida transmitir ao mundo através da obra pastoral da Igreja! Não devemos esquecer jamais que a Igreja recebeu do Verbo de Deus este mandato preciso: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado "[Mc16,15-16]. E para aqueles que quiserem se aprofundar mais sobre esse assunto basta ler atentamente a Declaração Dominus Jesus, muito abrangente a este propósito.   

Ainda bem que eu sou apenas um pobre pecador e um pequeno sacerdote, porque se eu tivesse a autoridade do apóstolo Paulo que repreendeu Pedro em Antioquia [Cf Gal 2,1-2,7-14  e Cf. Catecismo de João Paulo II sobre a autoridade de São Pedro] ou a santidade de um São Bernardo de Clairvaux ou de Santa Catarina de Siena, creio que a este respeito escreveria muito mais, usando talvez termos até mais severos. Infelizmente me faltam esses dois pressupostos fundamentais e imprescindíveis: a autoridade paulina e santidade dos doutores da Igreja, Bernardo e Catarina. 

Diante de tudo isso é perfeitamente legítimo responder que não basta um simples precedente histórico, ainda que de alcance extraordinário como a traumática abdicação de Bento XVI ao trono sagrado, para que se comunique à inteira orbe católica e através de um simples jornalista, a existência de uma instituição que entre outras coisas está diretamente ligada a um dogma fundamental do mistério da Igreja: "Tu es Petrus" [cf Mt 16, 14-18]. Ou por acaso é lícito acordar numa certa manhã e resolver declarar assim, de veneta, a existência de uma nova instituição, falando de improviso e em tom amável a jornalistas como o correspondente alemão que, entre outras coisas, a este respeito, sequer havia perguntado algo sobre o específico assunto? Ou deveríamos, talvez, deduzir que basta a praxes para modificar doutrinas e leis que fazem parte da "chatolica traditio" edificada sobre a Revelação e o Depositum Fidei? 

Nesta atmosfera de total confusão é evidente para qualquer pessoa que queira ver a realidade, como está havendo uma procura mais ou menos sensacional e espasmódica por "novas palavras" destinadas na prática a agradar, mas infelizmente nenhuma busca por palavras claras e inequívocas destinadas nem sempre a agradar, mas fundamentadas sobre aqueles mistérios da fé que nos colocam diante das nossas responsabilidades e que nos lembram firmemente que não se pode servir a dois senhores [CF Lc 16, 13,]. 

É, portanto, legítimo se perguntar: e se Bento XVI tivesse parado ao longo da Via Sacra, dizendo mais ou menos que estava muito velho e incapaz de carregar a cruz em suas costas porque estava sofrendo de artrite reumatóide? Poderíamos portanto, presumir - na sequência do precedente inaugurado por Bento XVI - que o seu sucessor teria que ficar vagando ao sopé da colina do Vaticano esperando até familiarizar-se com o fato histórico do martírio do Príncipe dos Apóstolos [Cf Clemente de Roma, Epístola aos Coríntios, V]; ou com a idéia de que no topo da colina está a cruz na qual Pedro terminará inevitavelmente crucificado de cabeça para baixo e diante da qual não será possível dizer: "Eu tenho problemas no fêmur e não posso subir até lá, portanto é melhor que arrumem alguém com pernas mais jovens que as minhas porque graças a Deus, contra a Via Dolorosa e a Cruz, nós clérigos maliciosos resolvemos inventar a instituição do "papado emérito " que providencialmente poderá vir em nosso socorro". 

Dito isto, considero supérfluo reiterar minha obediência devota e filial ao pontífice reinante, pois eu já fiz isso em vários artigos, incluindo um dedicado à teologia da esperança e ao fundamento de fé do ministério petrino, além de ter publicamente repreendido várias vezes alguns católicos, ou presumidos católicos que se deixaram levar não por críticas respeitosas, legítimas e como tais reconhecidas e tuteladas pela mesma lei da Igreja [ver Canons já mencionados. 218, 386, 2 C.I.C.], mas a verdadeiras agressões visando o Romano Pontífice de modo insolente e, portanto, totalmente inaceitáveis. E não repito o óbvio porque a esse ponto eu poderia correr o risco de dar a impressão de que pretendo colocar as mãos adiante ou de alguma maneira me proteger. Enquanto na verdade não é assim: quem me conhece ou é meu leitor deveria saber que vivo de modo aberto e em todos os sentidos, porque o espírito temeroso e omisso certamente não são dois pilares sobre os quais é possível construir ou exercer o ministério sacerdotal ou pior, como se fosse um trampolim para uma respeitável e às vezes até mesmo cobiçada carreira.

As alternativas não são muitas: ou nesse preciso momento histórico Pedro aceita subir sobre a cruz com os pés ensanguentados e acorrentados ou após o banho de celebridade e frases de efeito mais ou menos distorcidas e com os mais diversos e ambíguos significados, este Pedro poderia correr o risco de acabar por dizer que a idade, a saúde e as forças já não o permitem mais seguir em frente. E assim em um período de tempo nem tão longo, a Igreja de Deus poderia acabar com dois pontífices chamados eméritos e um terceiro eleito. E ainda assim, se o terceiro não decidir tomar o touro pelos chifres de modo decidido, talvez corremos o risco de acabar como o Império Romano no período de seu maior declínio quando os imperadores continuavam a se suceder um após o outro, até que a certo ponto a maioria das pessoas nem mesmo sabia seus nomes. 

Entre as evidências produzidas pela apostasia da fé, não mais disfarçadas mas agora óbvias que têm se desenvolvido ao longo do último meio século na Igreja, com os hereges que agora perseguem abertamente os filhos dedicados à Igreja e ao Depósito da fé católica, por um lado, nós rezamos para que em breve Simão resolva assumir o papel de Pedro e por outro lado, para que a misericórdia de Deus nos salve através do poder do Espírito Santo, ou que nos conceda a graça de entrar em colapso o quanto antes possível.
 
 Uma vez que a Igreja será de fato impolida sobre si mesma e dizimada pela peste da apostasia que concretamente é muito pior do que a grande epidemia de 1348, poderemos trabalhar sobre as cinzas para reconstruir tudo de novo, como já aconteceu muitas vezes ao longo da nossa história quando a peste matava apenas os corpos, ao contrário da atual   em que se matam as almas "como uma onda livre" que vai levando a todos, enquanto a voz de Cristo ressoa cada vez mais distante: "venham, venham comigo ... se aproximem de Mim ", caindo cada vez mais no nada, nesse nosso diabólico ritmo lento.

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