“Para
ele [Lutero] não havia outra fonte de verdade revelada senão um livro mudo
(embora inspirado) de que cada indivíduo é constituído juiz.”
(Pe.
Júlio Maria de Lombaerde)
Direto
ao assunto
Como foi dito acima, de
fato, somente os fariseus e
protestantes fizeram isto até hoje, acrescentar e retirar palavras das Sagradas
Escrituras. E mais que palavras.
Para entender a questão
necessitaremos do auxílio da história. A Igreja, segura de possuir a verdade
jamais dela teve medo, pois sabe que “nada há oculto que não venha a
descobrir-se” (Lc XII, 2), de louvável para a exaltação dos bons, de deplorável
para a humilhação dos maus, e de tudo para a glória da justiça divina.
Portanto, aos fatos.
As categorias de judeus
que não aceitaram a Cristo como Salvador e por consequência todo o
cristianismo, nossos “Cains” e “Esaús”, aproximadamente em 90 d.C, reunidos na
cidade palestina de Jâmnia, recusaram de seus escritos sagrados 7 livros do A.T [Tobias (Tob), Judite
(Jud), Eclesiástico (Eclo), Sabedoria (Sab), Baruque (Bar), 1 e 2 Macabeus
(Mac); além de trechos dos livros de Ester (X, 4-16.24) e Daniel (III, 24-90;
XIII-XIV)] que Cristo, os Apóstolos e a Igreja utilizaram. Lutero, 1400 anos
depois desses judeus, fará o mesmo. As bíblias protestantes, por isso, têm 7
LIVROS a menos e passagens inteiras de outros dois. E teriam menos ainda se
alguns companheiros de Lutero não o tivessem feito desistir de retirar outros
que ele considerava não inspirados.
Seitas como as Testemunhas de Jeová irão além, adulterando várias passagens
para negar a SS. Trindade e a divindade de Cristo. Outros seguirão o seu (mau)
exemplo. Estes são os fatos, que poderão ser comprovados pelas indicações de
leitura. Passemos, resumidamente, às explicações.
Por volta de 300 a.C
Israel antiga foi tomada pelos gregos sob o comando de Alexandre Magno. Com o
passar do tempo, devido à invasão grega os israelitas foram perdendo costumes e
língua. Ocorre que uma colônia judaica se estabeleceu na cidade de Alexandria,
ao norte da África, tendo de conviver quase que exclusivamente com a língua dos
colonizadores. Como havia o risco de se perder com o exílio muito dos livros
religiosos originais e pelo distanciamento gradual do hebraico por parte do
povo, um grupo de sábios e estudiosos da colônia traduziu estes escritos,
passando a utilizá-los em língua grega. Com o evoluir do tempo novos livros
foram surgindo, alguns nesta língua, o que não foi problema para considerá-los
inspirados ou dignos de veneração. No tempo de Cristo e dos Apóstolos existiam
duas versões destes escritos: a assim chamada versão dos 70 (ou septuaginta ou
grega), devido ao grupo de setenta e dois homens responsaveis pelo trabalho de
tradução, e a versão hebraica, com os escritos em língua original, além de uma
terceira, posterior, oriunda da tradução do hebraico ao aramaico para os judeus
da Palestina. Todas as cópias eram utilizadas.
Ocorre que na
septuaginta figuravam os 7 livros acima (o que não ocorria na dos judeus da Palestina)
e estes, como vimos, eram também considerados inspirados, uma vez que
mencionavam implícita ou explicitamente a figura do Messias, revelando
doutrinas que os cristãos as incorporariam posteriormente. Não por acaso Cristo
e os Apóstolos deles fizeram menção. A partir dos anos 90 d.C, com o concílio
dos fariseus definindo somente a versão hebraica como a inspirada, por questões
políticas, culturais e religiosas que envolviam diretamente os cristãos, a
versão grega foi banida e mesmo anatematizada por tais judeus, que não mais a
utilizaram e proibiram utilizar, sob sanção. Os critérios de retirada desses
livros foram basicamente:
a) por não terem sido
escritos em hebraico;
b) por serem utilizados
pelos cristãos devido às fortes referências a Jesus, que rejeitavam como
Messias;
c) por falar abertamente
dos pecados dos líderes do povo, os doutores da Lei, fariseus e anciãos, ou
seja, deles próprios;
d) por terem sido
escritos depois de Esdras (458-428 a.C), pois consideravam que após o profeta
Malaquias (contemporâneo do primeiro), a profecia teria cessado.
O primeiro critério, por
si já descartaria praticamente todo o Novo Testamento, uma vez que este foi
escrito em grego. O último anularia por completo o profetismo de João Batista,
pela afirmação de Jesus o último dos profetas (cf. Mt XI, 13), sem falar ainda
em livros inteiros como o do Apocalipse, pura e legítima profecia. Por aí se
entrevê que a história não acabaria bem...
Como desde o princípio a
Igreja os adotou, especialmente em função de Cristo, dos Apóstolos e dos
discípulos dos Apóstolos o terem feito, direta ou indiretamente, não teve
problemas quando mil e trezentos anos depois do concílio judaico de Jâmnia precisou
definir, no concílio de Florença (1442), o cânon (ou cânone, isto é, a relação)
dos livros inspirados, dando ao mundo a Bíblia Sagrada tal qual a conhecemos,
com 46 (45) livros no AT (esta variação se dá em função de algumas versões
unirem o livro de Baruque com o de Jeremias, pois Baruque, discípulo e
secretário do último, foi quem o escreveu com base nas revelações ditadas pelo
profeta) e 27 no NT, totalizando 73 (72) livros. Contudo, muito antes, já nos
concílios de Cartago e Hipo (393 e 397) a Igreja dava como certos e inspirados
estes livros.
Antes de tudo temos de
ter claro que foi a Igreja Católica quem trouxe à lume a Santa Bíblia, foi a
sua autoridade – não a da Bíblia em si mesma – que decretou quais
livros eram inspirados e quais não eram, o que suscitou a afirmação de S.
Agostinho citada
no capítulo anterior. E isso por 1500 anos, até
que...
... a partir de 1517 um
monge e sacerdote alemão, mais tarde excomungado devido às heresias e ao ódio
contra a Igreja
[como se verá ao final], por sua conta e risco
resolve que o (cânon do) Antigo Testamento válido não era o que a Igreja vinha
utilizando por pelo menos doze séculos, que Cristo e os Apóstolos haviam
utilizado, mas o que ele dizia ser o
inspirado, isto é, o dos judeus de Jâmnia, o escolhido pelas mesmas pessoas que
negaram e mataram o Salvador.
Curioso...
Mas não parou por aí.
Lutero em sua soberba desenfreada quis mais. Se dependesse dele o
protestantismo também não teria livros como a epístola de S. Tiago, a segunda
carta de S. Pedro, a carta aos Hebreus e – pasmem os (neo) pentecostais! – o Apocalipse, pois nenhum destes os
considerava inspirados. Agradeçam os protestantes atuais a alguns
contemporâneos de Lutero menos megalomaníacos, que o impediram de ir adiante
neste desvario. Insatisfeito, porém, de não poder levar a cabo sua intenção de
mutilar ainda mais sua bíblia, o heresiarca alemão irá desferir outro grande
atentado contra a Revelação Sagrada escrita, que dizia seguir e ser sua única
regra de fé: acrescentará palavra. A adulteração servirá de respaldo à sua
coluna doutrinal da sola fide, que
hoje a maioria dos protestantes sabe não passar de uma estaca rota e mal
fincada, já descartada por muitas seitas. Na prática o lema de Lutero será:
“adulterar para enganar”, o que não nos causa espanto vindo do mesmo homem que
afirmou: “Se os nossos adversários fazem valer a Sagrada Escritura contra Jesus
Cristo, nós fazemos valer Jesus Cristo contra a Escritura” (opera latina
I-387-a); e “Tu fazes grande caso da Escritura que é serva de Jesus Cristo; eu,
pelo contrário, dela não me importo” (Walch VIII -2140 segs.). E se isso não
bastar, podemos dar a conhecer sua resposta quando a Igreja se colocou
fortemente contra a insolência e profanação bíblica cometidas: “Se o papista
faz tão grande escândalo pela palavra ‘somente’, diga-lhe diretamente: ‘assim o
quer o Dr. Martinho Lutero’, e ordeno que assim seja, e a minha vontade é razão
suficiente.”.
Diante deste quadro,
torna-se pertinente a pergunta: como continuar adotando uma bíblia que se sabe
traduzida e imposta por alguém que de livre e espontânea vontade acrescentou
palavras e retirou livros inteiros, fazendo assim o que a própria Bíblia
condena? E mais: como confiar na palavra de um único homem contra a da Igreja
que deu à luz as Escrituras? Deus, pela boca do profeta, não disse ser maldito
o homem que confia em outro homem (cf. Jr XVII,
5)? E como tudo o que está oculto acaba por
revelar-se como afirmou Nosso Senhor, reproduzo um recente achado científico
que uma vez mais confirma as verdades católicas, agora sobre este ponto
específico. Sugiro que aprofundem também aqui as pesquisas:
Recentemente, porém,
graças às descobertas de Qûmram, mais conhecidos como Manuscritos do Mar Morto,
o cânon tradicional católico foi mais uma vez confirmado, porque se descobriu
que aquela comunidade hebraica mais antiga dispunha de uma coleção semelhante à
tradução dos Setenta. Ou seja, não foram os alexandrinos (os “setenta”) que
ampliaram o catálogo dos Livros Sagrados, mas a Escola de Jamnia que o reduziu.
Para concluir, como
muitos nunca tiveram a oportunidade de ter diante de si os sete livros inspirados,
além dos exemplos já fornecidos e de outros que virão, daremos a citação
textual de dois. Através deles se poderá entender um pouco do porquê dos
inimigos de Cristo os terem retirado de suas escrituras: o primeiro vem do
Livro da Sabedoria, composto em grego por volta de 100 a.C., uma das mais
contundentes profecias sobre o Messias que pouco mais de um século se faria
carne no seio da virgem Mãe:
Armemos, pois, laços ao
justo, porque nos é molesto, e é contrário às nossas obras, e nos lança em rosto as transgressões da lei,
e desonra-nos, publicando as faltas do nosso procedimento. Êle afirma que tem a ciência de Deus, e chama-se a si
mesmo filho de Deus. Fêz-se o sensor
dos nossos próprios pensamentos. Só o vê-lo nos é insuportável; porque a sua vida não é semelhante a dos outros, e
o seu proceder é muito diferente. Somos considerados por êle como pessoas
vãs, e abstém-se do nosso modo de viver como duma coisa imunda, e prefere o fim
dos justos, e gloria-se de que tem a Deus por pai. Vejamos, pois, se os seus
discursos são verdadeiros, e experimentemos o que lhe acontecerá, e veremos
qual será o seu fim. Porque, se é
verdadeiro Filho de Deus, (Deus) o amparará, e o livrará das mãos dos seus
inimigos. Ponhamo-lo à prova por
meio de ultrajes e tormentos, para que conheçamos
a sua mansidão, e provemos a sua paciência. Condenemo-lo
à morte mais infame, e ver-se-á o resultado das suas palavras (II,
12-20).
E o segundo nos vem do
livro do Eclesiástico (não confundir com Eclesiastes). Aqui há que destacar
quatro pontos: no primeiro o texto menciona a existência de uns misteriosos
personagens que hoje algumas ciências como a Arqueologia vêm estudando em
profusão. O autor sagrado (hagiógrafo) corrobora o que já fora mencionado no
livro do Gênesis sobre a raça conhecida como a dos “gigantes”. No segundo responde a uma categoria de pessoas
que hoje pensa e vê Deus somente em sua dimensão de misericórdia, que tudo
perdoa indiscriminadamente, e que por isso seguem ainda aqui (por conveniência?
malícia?) os passos de Lutero: “crê firmemente e peca muitas vezes”. No
terceiro, totalmente de acordo com o conjunto das Escrituras, derruba ainda uma
vez a tese da sola fide luterana. Por
fim, vaticina um futuro nada distante, também muito
especulado em nossos dias, o do “fim dos tempos”:
O fogo acender-se-á na reunião dos pecadores, e a ira (de Deus)
inflamar-se-á contra a nação incrédula. Não obtiveram perdão dos seus
pecados os antigos gigantes que foram
destruídos por confiarem na sua fortaleza. E Deus não perdoou a cidade, em
que Lot morava como estrangeiro, e detestou os seus habitantes, por causa da
insolência das suas palavras... Porque a
misericórdia e a ira estão sempre com êle; é poderoso para perdoar, e
também o é para derramar a sua ira. Os
seus castigos igualam a sua misericórdia; julga o homem segundo as suas obras. Não
escapará (ao castigo) o pecador com as suas rapinas, e a paciência do
que usa de misericórdia não tardará em ser recompensada. Tôda a obra de
misericórdia preparará a cada um o seu lugar, segundo o merecimento das suas obras, e segundo a prudência (com que tiver vivido) neste lugar de
exílio (XVI, 7ss.12-15).
Em tempo: pegue uma
Bíblia católica e compare:
1) 2 Mac VI, 18 – VII, 42 com Heb XI, 32-38;
2) Sab III, 5s com 1 Pe
I, 6s;
3) Sab XIII, 1-9 com Rom
I, 18-32;
4) Eclo XVI, 13ss com
Apo II, 23-26.
5) Eclo XLIV, 16 e XLIX,
16 com Gên V, 24 e Heb XI, 5
Estes são apenas cinco
dos muitos exemplos existentes. Para termos uma ideia, das 360 citações que o
Novo faz do Antigo Testamento, 300 são extraídas da septuaginta e somente 60 da
hebraica. Disso podemos deduzir que se uma letra já causará enorme prejuízo, o
quanto não será cobrado pela “rapina” de sete livros?
†
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