“Mas José, seu esposo, sendo justo e não querendo expô-la, quis dispensá-la em segredo”.
(S. Mateus I, 19)
Hoje falaremos do cuidado que devemos ter nas relações entre os homens e as mulheres, entre os rapazes e as moças.
Há
duas funções que estão ligadas diretamente à paternidade e, portanto, à
masculinidade: providenciar os bens que são necessários e proteger as
pessoas que lhe são confiadas.
O
papel de proteger a honra das mulheres é um papel que cabe
principalmente aos homens. É papel do marido e do pai proteger a
dignidade da esposa e das filhas, e de assegurar que suas roupas sejam
modestas e que elas tenham um comportamento moderado pela virtude da
modéstia. Uma mulher que queira se vestir com modéstia terá dificuldades
para fazê-lo se seu marido pouco se importa com isso ou, pior ainda, se
ele é contra. Esta preocupação de São José em proteger a honra de Nossa
Senhora é um exemplo claro de compreensão do papel que um esposo e um
pai deve ter em zelar pela honra de quem lhe foi confiado, não querendo
lesar a honra de Nossa Senhora diante dos outros.
Isso
se dá também de modo indireto, porque um homem correto se afasta
daquilo que ofende a modéstia. Uma moça que sabe que seu noivo é honesto
e que quer agradá-lo, veste-se com modéstia, uma vez que a castidade
está ligada à modéstia e faz com que os olhos sejam desviados de algo
que possa ofender a pureza. Um rapaz virtuoso, se vê na noiva uma falta
neste ponto, terminará se afastando dela, pois ele mantem a guarda dos
sentidos. Se uma jovem quer ter um noivo e, portanto, um marido que não
seja causa de muitas e graves infelicidades para ela e sua família, ela
deve zelar pela própria modéstia.
Desejar
encontrar um noivo ou uma noiva a todo custo é um erro tão grande que é
difícil encontrar uma palavra que qualifique bem uma imprudência
dessas. Escolher uma pessoa para ser marido ou esposa por toda a vida é
uma decisão tão séria que só deve ser tomada depois de pedir conselho,
de rezar muito e longamente (sobretudo diante do Santíssimo Sacramento),
de ter se instruído bem sobre as responsabilidades que a vida de casado
tem, as dificuldades comuns dela, o estado de espírito que se deve ter
ao ingressar neste estado de vida, do espírito de sacrifício que a vida
de casado pede e que é, pelo menos em certa medida, o eixo central do
casamento (digo em certa medida porque em todas as coisas o mais
importante é amar a Deus). Buscar um noivo ou uma noiva em uma festa,
entre as pessoas comuns da faculdade ou do trabalho, em grupos de
encontros, etc., é de uma imprudência sem medida. Em outra ocasião
veremos o que é necessário para um noivado ser bem sucedido, e que casar
não é uma loteria. Mas agora nos interessa ver como estes
comportamentos afetam a modéstia.
O
medo, muitas vezes bem exagerado, de talvez não casar, faz com que
muitas mulheres abandonem a modéstia, achando que assim garantem o
casamento que querem. Elas casarão, sem dúvida alguma. Mas a vida em
comum numa família exige qualidades que não se encontram em quem busca
um marido ou uma mulher de modo impulsivo. E como o ser humano é
racional, chega uma hora em que os graves defeitos do conjuge, tolerados
no noivado por interesse ou não observados por causa da cegueira que a
sensualidade dá, se tornam insuportáveis e nenhuma beleza ou dinheiro
consegue amenizar estes problemas.
Conheço
uma pessoa que casou-se e depois de separada viveu em concubinato mais
duas vezes. Ela me disse uma vez: “O senhor não sabe o que é chegar em
casa, olhar para o seu marido, e pensar: Este é o pai dos meus filhos?”.
Aqui vemos que o problema não estava somente em quem ela havia
escolhido para ser seu marido, pela primeira vez, mas ela também tinha
um defeito grande me saber como escolher um marido. Uma moça que quer
evitar um peso imenso desses deve saber que não se busca um rapaz pelo
anzol da falta de modéstia, e que este é o melhor meio de encontrar um
péssimo marido e de fazer um casamento fracassado.
Em
segundo lugar, é certo que um rapaz que olha para uma moça atraído pela
falta de modéstia dela, depois de casado também olhará para outras,
atraído pela falta de modéstia delas. O número de padres que falam sobre
isso nos seus manuais de moral, de pastoral e que dão testemunho disso é
enorme. Uma moça e um rapaz que agem sem modéstia devem saber que se
tornam ocasião de pecado também para pessoas casadas e que cooperam para
destruir casamentos, o que é gravíssimo. Se não cooperam de modo
imediato e pessoal, ajudam a fazer com que um dia isso aconteça, por
facilitar o aparecimento e a aquisição dessa disposição. E isto nos faz
tratar também da familiaridade que devemos evitar com pessoas do sexo
oposto.
Pio XI, na encíclia Divini illius Magistri,
sobre a educação da juventude, relembra princípios fundamentais.
Primeiramente, os pais devem se lembrar da verdadeira natureza dos
filhos que têm: “nunca se deve perder de vista que o sujeito da educação
cristã é o homem inteiro; um espírito unido a um corpo, na unidade de
natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais, tal
como nós conhecemos pela reta razão e pela Revelação”.
Nós
temos um corpo; mas não temos somente um corpo. Temos um espírito, mas
não somos somente um espírito. Nem anjo, nem animal. “Um espírito unido a
um corpo na unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e
sobrenaturais”. Eis o que nunca se deve perder de vista. Os pais não
devem perder de vista, também, que os seus pequenos e estimados filhos,
tão belos e tão bonitinhos, são todos eles filhos de Adão, o pecador,
resgatados por Cristo e incorporados nele pelo batismo, mas carregando
neles a consequência do pecado original: “É também o homem caído do seu
estado original, (...) que não possui os privilégios preternaturais da
imortalidade do corpo, da integridade e do equilíbrio de suas
inclinações. Permanecem, na natureza humana, os efeitos do pecado
original e, em particular, o enfraquecimento da vontade e a desordem de
suas inclinações”. E “o grande erro (desse naturalismo na educação) é
não querer admitir a fragilidade nativa na natureza humana, de fazer
abstração desta outra lei, da qual o Apóstolo nos fala, que luta contra a
lei do espírito: de ignorar as lições da experiência que mostram até a
evidência que, especialmente entre os jovens, as faltas contra os bons
costumes são menos um efeito da ignorância intelectual que da fraqueza
da vontade exposta às ocasiões e privada dos socorros da graça”. “O
homem, diz a escritura, é inclinado ao mal desde a infância”.
Se,
para educar os filhos, os pais guardam muito claro na inteligência a
verdadeira natureza deles: animais racionais, machucados pelo pecado
original, redimidos por Cristo, mas carregando com eles as consequências
do pecado original, então eles rejeitarão qualquer sistema de educação
que não leve em conta as verdades reveladas. “Portanto, a Igreja nos
diz, é falso qualquer naturalismo pedagógico que, de qualquer modo que
seja, exclui ou tende a diminuir a ação sobrenatural do cristianismo na
formação da juventude; é errôneo qualquer método de educação que se
baseie, totalmente ou em parte, na negação ou esquecimento do pecado
original ou do papel da graça, para apoiar-se somente nas forças da
natureza”.
Por
isso a Igreja sempre ensinou que não deve haver familiaridades entre
homens e mulheres. Por causa da fraqueza humana, é colocar-se em ocasião
de pecado, que será leve ou grave em função da intenção, da maior ou
menor força que a ocasião tem para arrastar ao pecado, das
circunstâncias. Pio XII, em um discurso de 22 de maio de 1941, dizia:
“Ó, com que razão se observou que se certas cristãs suspeitassem as
tentações e as quedas que elas causam em outros pelo modo com que se
arrumam e as familiaridades, às quais elas dão tão pouca importância, na
leviandade delas, elas se aterrorizariam da responsabilidade que têm”
(Discurso às moças da Ação Católica de Roma, membros da cruzada da
pureza).
É
necessário ilustrar em que consistem estas familiaridades, de modo
geral. Elas consistem em: trocas de presentes entre rapazes e moças,
mesmo que sejam coisas bem pequenas como artesanatos, imagens, desenhos,
etc., e manifestações de estima e de afeto sem motivo e sentimentais;
ficar falando com alguém de outro sexo, sem motivo, ainda que não
estejam sozinhos e que possam ser vistos por outros, porque vistos ou
não, os afetos mútuos aparecem e influenciam depois o comportamento de
ambos; cumprimentar as pessoas do outro sexo com familiaridade e uma
proximidade que não convem, como beijos e abraços (exceção feita a
certas pessoas da família).
Um
rapaz não fica agindo de modo imodesto sobretudo na presença de outras
moças: movimentos e gestos amplos, chamativos, falando alto, indo em
direção a elas para fazer piadas e chamar a atenção, dando mostras de
suas habilidades esportivas, etc. Uma moça não fica mexendo no cabelo o
tempo inteiro porque tem outros rapazes por perto, ou tirando o espelho
da bolsa, ou ficar andando de um lado para o outro, sozinha ou
acompanhada de outras, ou falando alto, etc. Tudo isso mostra uma falta
de controle da inteligência sobre si mesmo. Os rapazes e moças devem
aprender, quando estão entre pessoas do mundo, como cumprimentar sem
permitir familiaridades, guardando uma reserva e uma distância
suficientes.
Dom Antônio de Castro Mayer, no seu já citado Catecismo das verdades oportunas que se opõe aos erros contemporâneos,
condena a proposição seguinte: “Por um desígnio da providência, a maior
parte das pessoas é chamada a viver no estado do matrimônio. As moças
de colégio que namoram estão, pois, em seu caminho natural. Portanto,
não se deve impedir que o façam” (proposição 60). Ele responde dizendo
que os professores devem instruir os alunos para que saibam fazer uma
escolha conforme à vontade de Deus. Diz, ainda, que devem impedir nas
escolas tudo aquilo que seja um obstáculo aos estados de vida mais
nobres e generosos, como a vida religiosa e o sacerdócio. Deixar os
jovens livres para namorar seria entregá-los não a um amor perfeito, mas
à sensualidade, seria destruir as pessoas que têm condições de seguir a
vida sacerdotal e religiosa, seria destruir os futuros casamentos. A
proposição condenada não distingue entre o amor que leva ao casamento e
um comportamento imoral.; não distingue entre o amor na idade apropriada
e entre aquele que acontece numa idade em que se é incapaz de casar. Só
é possível defender a familiaridade entre rapazes e moças se fechamos
os olhos para o dogma
do pecado original. Quando vemos, no final da manhã, as portas dos
colégios católicos tomadas por casais de namorados, como podemos nos
espantar que não haja mais vocações, não só nos seminários mas também
entre as religiosas?
É
necessário ser realista e saber que não há amor platônico entre moças e
rapazes. Os rapazes devem ter bem claro que uma moça é uma futura mãe.
Que um dia ela será escolhida por alguém e que, um dia, ele escolherá
alguém. Não se brinca, então, com o coração das moças. O mesmo princípio
vale para as moças. Elas devem ver bem claro que um rapaz será um
futuro pai e esposo.
Os
rapazes devem saber que, pela imaturidade da adolescência, acabarão não
sabendo se comportar com as moças e frequentemente as machucam
sentimentalmente. Mais tarde, quando está mais maduro e decide casar,
não sabe se comportar com uma moça e é enganado pela primeira moça que
aparece. As moças devem saber que, por buscar um rapaz com quem possam
namorar, que elas trabalham ativamente para destruir a própria imagem e
correm o risco altíssimo de jamais serem estimadas por um rapaz de
valor. As moças não conseguem estimar o tamanho do prejuízo que dão à
própria pessoa e à própria honra quando agem de modo leviano.
A
familiaridade entre rapazes e moças não prejudica os casamentos somente
no fato de impedir uma escolha correta. O hábito adquirido de tratar
com familiaridade o sexo oposto causa problemas depois do casamento.
Gera, primeiramente, ciúmes no conjuge, e isso pode ir bem longe e
tornar a vida conjugal muito pesada. Gera ocasiões para adultérios,
evidentemente, (que é um pecado gravíssimo) e são muitos os livros de
moral e de teologia pastoral que o afirmam, porque adquiriu-se o hábito
de sempre tratar qualquer um do sexo oposto com gentilezas que são
perigosas.
Enfim,
se uma mulher quer saber o que é um comportamento modesto, reflita
sobre como Nossa Senhora se comportava. E se um homem quer saber como
deve ser um comportamento modesto, veja como São José se comportava.
Para os rapazes a devoção a São José e a consideração das virtudes dele é
importantíssimo para que possuam as qualidades que um marido e um
esposo precisa ter. E o mesmo vale para as moças quanto à devoção à
Nossa Senhora. A Sagrada Família nos foi dada por Deus para nosso modelo
e ajuda. Ide à casa de Nazaré e encontrai repouso alí. Jesus, Maria e
José, salvai nossas famílias.
Fonte: IBP-SP
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