Ao longo do último meio-século
tem vindo a desenrolar-se dentro da Igreja
Católica, uma estranha
história que poderá vir a ter implicações gravíssimas para o Mundo inteiro.
Em 1917, Nossa Senhora
desceu do Céu até à pequena aldeia de Fátima, mais propriamente até à Cova da
Iria - onde três pequeninos se ocupavam a guardar o rebanho familiar -, para
lhes confiar essa Mensagem como um segredo que devia ser cuidadosamente guardado
por muitos anos, até a Santíssima Virgem indicar que era chegado o momento de
revelar a todo o mundo aquela Mensagem vinda do Céu.
O conteúdo e a forma como
foi transmitida a Mensagem são únicos na História da Igreja - o que distancia
as aparições de Fátima de todas as outras manifestações visíveis de Nossa
Senhora, mesmo daquelas que deram nome a Santuários Marianos mundialmente
conhecidos, como Lourdes (França) ou Guadalupe (México).
Muito longe de ser um
acontecimento privado, Nossa Senhora dialogou com os pastorinhos (só a Lúcia
Lhe falava diretamente) em pleno campo, na presença de muitas pessoas. Além
disso, o próprio Deus quis autenticar as Aparições de Sua Mãe em Fátima,
através de um milagre público - o Milagre do Sol -, anunciado três meses antes,
testemunhado por mais de 70.000 pessoas e noticiado em todo o mundo, em títulos
de caixa alta, nas primeiras páginas dos jornais da época. Esta forma espetacular
- que não tinha acontecido em aparição alguma - foi propositada: ―para que
todos acreditassem.
Também
o conteúdo da Mensagem confiada aos pastorinhos era único nos anais da
Cristandade: continha um pedido, e uma advertência sobre castigos iminentes se
não se obedecesse a esse pedido. Nenhuma aparição anterior, pública ou privada,
tinha transmitido uma mensagem semelhante à Humanidade.
Quando,
nos anos 40, este conteúdo foi mais largamente publicado, tanto maior foi o
apoio que se começou a reunir em prol da autenticidade da Mensagem de Fátima.
Continha
ela uma série de profecias – o fim da I Guerra Mundial, a eleição do Papa Pio
XI, o começo da II Guerra Mundial e a expansão da Rússia comunista –, cada uma
das quais aconteceu como fora predito. Desde o tempo das aparições que as
evidências provaram ser suficientes para suscitar a adesão de seis Papas
sucessivos, assim como de milhões de Fiéis; e foram também suficientes para
levar o Vaticano, no reinado do atual Papa, a beatificar os pequenos Francisco
e Jacinta Marto, falecidos ainda crianças, e a comemorar as aparições de Nossa
Senhora de Fátima no Missal Romano - livro oficial da Igreja para a celebração
da Santa Missa.
A
Igreja é geralmente relutante em confirmar, de ânimo leve, fatos deste gênero.
Por
isso, e como em todos os casos semelhantes, o Vaticano procedeu a uma
investigação intensa e exaustiva - e não encontrou nenhuma inconsistência,
contradição ou discrepância como as que frequentemente invalidam outras
supostas ―aparições. Pelo contrário, os inquiridores encontraram tudo em ordem,
e reconheceram também a natureza única do Milagre do Sol, evento para o qual
ainda não há uma explicação científica adequada.
Quanto
ao pedido da Consagração da Rússia - que, se for feita, trará «ao Mundo algum
tempo de paz» e, se não for, «várias nações serão aniquiladas» (entre outros males
de que o mundo há de padecer) -, será credível o castigo que ameaça o seu não cumprimento?
Claro
que uma Mensagem vinda do Céu é, naturalmente, um assunto de Fé e de
crença
religiosa. Por isso poderia parecer que diria respeito só à Igreja Católica e aos
seus Fiéis, tal como o castigo iminente se não se atender ao pedido da Senhora
mais brilhante do que o Sol. Se fosse só isso o que nos diz a Mensagem,
os não católicos e os não cristãos (e até muitos Católicos com outros modos de
devoção) poderiam não fazer caso dela. Mas, tanto para uns como para os outros,
é impossível - e gravemente insensato - ignorar ou desprezar tudo o que diz
respeito a Fátima. Com efeito, não é preciso acreditar que esta mensagem veio
do Céu para ela merecer uma consideração séria - que lhe dê, pelo menos, o
―benefício da dúvida -, uma vez que está em causa o futuro de «várias nações».
É
isto precisamente que dá a Fátima a sua dimensão universal.
Ora
em 26 de Junho de 2000 esta ‗estranha história' em torno de Fátima foi ainda
mais estranhamente ‗desfigurada', quando, no Vaticano, o Cardeal Prefeito da
Congregação
para a Doutrina da Fé e o seu mais direto colaborador deram uma conferência de
imprensa a que o jornal Los Angeles Times chamou uma tentativa de
«desacreditar ―com luva branca o culto de Fátima». A intenção foi divulgar
amplamente, através da imprensa, a ideia de que as profecias de Fátima eram
―revelações
privadas e que estas já ―pertenciam ao passado - pelo que, neste momento, nem
profecias são.
Que
aconteceu entretanto? Como é que as aparições de Fátima passaram de oficialmente
fidedignas a oficialmente desacreditadas por um alto Prelado? Que aconteceu à
Mensagem, com o seu pedido e a sua ameaça de castigo pelo seu não- cumprimento?
O pedido é que a Rússia seja
consagrada, pelo Papa em conjunto com todos os
Bispos Católicos do mundo,
ao Imaculado Coração de Maria. Uma Consagração,
cerimônia de funda tradição
na Igreja Católica e que só Ela pode efetuar, tem um efeito santificante. Aos
olhos dos Católicos, seria vantajosa para a Rússia. Para os descrentes pode ter
pouco ou nenhum significado, mas é evidente que não faz mal a ninguém. Além
disso, se a Mensagem tivesse a mínima hipótese de ser autêntica, o benefício da
Consagração da Rússia do modo como fora pedido poderia ser de um valor
mundialmente incalculável: a anunciada recompensa («será concedido ao Mundo
algum tempo de paz»), e não o anunciado castigo («várias nações serão
aniquiladas»). Dadas as circunstâncias,
mesmo para os mais cépticos a Consagração ―valia a pena.
Realizaram-se já várias
consagrações formais (numa delas, inclusive, a Rússia foi nomeada
explicitamente) - mas ficaram sempre por cumprir todos [ou alguns d]os
requisitos que Nossa Senhora pedira em Fátima: que o Papa, em conjunto com
todos os Bispos católicos do Mundo, consagrassem a Rússia, pelo seu nome, e em cerimônia
solene e pública.
Em (2001), o Papa João Paulo
II e 1.500 Bispos visitantes fizeram, em Roma, uma Consagração do Mundo. Muitas
pessoas pensaram então que o Papa aproveitaria a oportunidade para realizar o
pedido da Virgem de Fátima - mas, para desilusão geral, a Rússia não foi
mencionada.
O que estará coração e no
espírito desses Prelados do Vaticano, conspiradores que desprezam a Mensagem de
Fátima? Não o sabemos. Só podemos julgar esses indivíduos pelas consequências
lógicas da posição que abertamente assumiram e pelas suas próprias ações.
Fátima tem também
implicações políticas que poderiam ter influenciado o modo como o Vaticano a
(mal) tratou. No seu contexto ideológico atual, a Mensagem de Fátima é vista
como ―politicamente incorreta: pede a Consagração da Rússia (pelo seu nome)
para que essa nação se converta ao Catolicismo; no entanto, essa cerimônia iria
contra a Ostpolitik (que o aparelho de estado do Vaticano adotou, por
respeito para com o Comunismo internacional e a Igreja Ortodoxa Russa). Assim,
e para não ser ―politicamente incorreta, a Igreja Católica abandona a sua
atitude militante e o seu ensino tradicional; abstém-se de denunciar o comunismo
como um mal e deixa de procurar
converter ao Catolicismo os Ortodoxos Russos.
Poderíamos, então, pensar
que o Vaticano não fará a Consagração da Rússia simplesmente por motivos
políticos. Mas, o que pesaria mais para o Vaticano? O aniquilamento de várias
nações ou um incidente diplomático? E a Rússia? Sentir-se-ia realmente ofendida
com uma cerimônia de Consagração? E mesmo que ficasse ofendida, que poderia
fazer a Rússia de pior do que o anunciado castigo por não se ter feito a Consagração
«deste pobre país»? Vendo bem, parece pouco provável que, por si só, tais
considerações diplomáticas levassem o Vaticano a não fazer caso de uma mensagem
vinda do Céu. Dá a impressão de que uma outra coisa tinha que estar em
laboração: algo ainda mais profundo e mais escuro que as políticas mundiais.
O Derradeiro Combate do Demônio - Padre Paul Kramer
Nenhum comentário:
Postar um comentário