“Em todas as tuas obras, lembra-se dos novíssimos, e
nunca chegarás a pecar” (Eclo 7,40). Estas santas palavras das escrituras são
uma tácita advertência de que não devemos deixar a assídua meditação da morteComo o Sacramento da Extrema-Unção traz forçosamente
consigo a recordação daquele último dia, desde logo compreende a necessidade de
sempre tornar a explicá-lo, não só pela máxima conveniência de versar os Mistérios relativos à salvação, como
também para que reprimamos as paixões desordenadas, quando se recordam de que a
todos foi imposta a necessidade de morrer.
Primeiro, é preciso demonstrar que a Extrema-Unção possui
um caráter de verdadeiro Sacramento. Far-se-á com a maior clareza, se analisarmos as palavras com que o
Apóstolo São Tiago promulgou a obrigatoriedade deste Sacramento. Diz ele: “Há
entre vós alguém enfermo? Mande chamar os sacerdotes da Igreja para rezarem
sobre ele, e ungirem-no com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o
enfermo, e o Senhor lhe dará alívio. E, se estiver em pecados, ser-lhe-ão
perdoados” (Tg 5,14).
Quando o Apóstolo diz que os pecados são perdoados, quer
por aí declarar a ação e a natureza de um Sacramento. Esta foi sempre e
inalterável doutrina da Igreja Católica acerca da Extrema-Unção, a ponto do
Concílio de Trento fulminar pena de excomunhão a quem ousasse ensinar e pensar
de outra maneira.
O elemento ou matéria deste Sacramento é o óleo
consagrado belo Bispo, não qualquer líquido consistente e gorduroso, mas só o
azeite extraído dos bagos de oliveira.
A forma sacramental consiste nos dizeres da solene
deprecação, que o sacerdote profere, ao aplicar cada uma das unções. Seu teor é
o seguinte: “Por esta santa Unção, Deus te perdoe tudo quanto fizeste de mal
pela vista... pelo olfato... pelo tato...” .
Tal é a forma autêntica e própria deste Sacramento, como
o dá a entender o Apóstolo São Tiago com as palavras: “ E rezem sobre ele, e a
oração da fé salvará o enfermo” (Tg 5,14-15).
Entretanto, esse teor chegou até nós, pelos Santos
Padres, de sorte que todas as igrejas conservam a mesma forma empregada pela
Santa Igreja de Roma.
Ficou provado que a Extrema-Unção pertence ao número dos Sacramentos, em
sentido próprio e verdadeiro.
No mais, ao que parece, Cristo já havia uma unção
semelhante, quando enviou Seus Discípulos, dois a dois, diante de si. Deles escreveu João
Evangelista: “ Postos a caminho, pregavam que fizessem penitência. Expulsavam
muitos demônios. Ungiam com óleo muitos enfermos, e eles saravam” (Mc 6,12).
Assim o testemunham São Dionísio, Santo Ambrósio, São
João Crisóstomo e São Gregório Magno.
Não resta, pois, nenhuma. Com profundo respeito, devemos considerar na
Extrema-Unção um dos sete Sacramentos da Igreja Católica.
Os
que podem receber o Sacramento. Este Sacramento só pode ser
ministrado aos que sofrem de doenças tão grave, que para eles haja o perigo de
um desenlace fatal. Cometem também falta muito grave os responsáveis que, para
ungir o doente, aguardam o momento em que o mesmo, já sem nenhuma esperança de
salvar-se, começa a perder a vida e os sentidos.
Não se deve dar o Sacramento a quem não estiver
gravemente enfermo, ainda que se exponha a perigo de vida, como aos que partem para uma
navegação arriscada ou que vão para a batalha, ou aos que serão levados a
sentença capital.
Não podem receber esse Sacramento todos os que estão
privados do uso da razão: crianças que não cometem pecados; os alienados e
loucos, a não ser que tenham intervalos lúcidos, durante os quais mostrem
sentimentos religiosos, e peçam a Extrema-Unção. Não pode receber os loucos de
nascença.
Se convalescer depois da Unção, o doente poderá ter o
socorro deste Sacramento, todas as vezes que cair em novo perigo de vida.
Neste Sacramento cumpre observar também o costume que a
Igreja Católica sempre manteve, de ministrar-se antes da Extrema-Unção os
Sacramentos da penitência e da Eucaristia.
Da boca do Apóstolo, que promulgou o preceito de Nosso
Senhor, ficamos também sabendo que é o ministro da Extrema-Unção, Conforme o
Concílio do Trento, quando o Apóstolo diz que “ chame os Presbíteros” (Tg
5,14), não quer por esta palavras designar os mais idosos, nem os nobres do
povo, mas os sacerdotes validamente ordenados pelos Bispos, mediante imposição
das mãos.
Acima de tudo, não se perca de vista que, nessa administração,
como aliás em todos os demais Sacramentos, o sacerdote faz as vezes de Cristo
Nosso Senhor e da Santa Igreja, Sua Esposa.
A graça conferida por este Sacramento, apaga os pecados,
principalmente veniais; as faltas mortais são tiradas pelo Sacramento da
Penitência. A Extrema-Unção não foi instituída com o foto primordial de
extinguir pecados graves; somente o Batismo e a Penitência é que o fazem, em
virtude de sua própria finalidade.
OBS: Acidentalmente,
a Extrema-Unção confere a graça primeira, quando já não é possível a confissão, contanto que haja contrição e o
desejo de confessar-se, se fora possível, não realça um efeito importante da
Extrema-Unção. Quando recebida em boas disposições, a Extrema-Unção extingue os
castigos temporais do pecado; livra, portanto, do Purgatório.
Muito aflitiva é também a lembrança de que, dentro em
breve, é preciso apresentar-se no tribunal de Deus que, segundo nossos
merecimentos, há de proferir sobre nós uma sentença de inexorável justiça. Não
raras vezes acontece que, sob influência desse terror, os fiéis sentem uma
perturbação extraordinária.
Enquanto vivemos, o inimigo do gênero humano não deixa
jamais de premeditar a nossa ruína e destruição; mas, para alcançar nossa perda
completa, e, possivelmente, para nos tirar toda a esperança na misericórdia
divina, em tempo algum investe com mais força, senão quando ver aproximar-se o
último dia de nossa vida. Por isso é que este Sacramento fornece aos fiéis
armas e recursos com que possam quebrar a violenta arrancada do inimigo, e
opor-lhe a mais tenaz resistência. A alma toma novo alento pela esperança na
bondade divina, e, assim confortada, suporta mais facilmente o incômodo da
doença.
Sem embargo do que Deus, e Seus desígnios, aprouver
determinar acerca da saúde corporal, cumpre que os fiéis tenham firme esperança
de alcançar a saúde espiritual, e de sentirem em si, quando sobrevier a morte,
os salutares efeitos daquelas palavras das Escrituras: “ Bem-aventurados os
mortos que morrem no Senhor!” (Ap 14,13).
Catecismo Romano. II Parte: Dos Sacramentos VI da Extrema-Unção.
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