
Em virtude desta unidade de pessoa atribui-se - ao homem o que é próprio de Deus, e a Deus
o que é próprio da carne. Por inspiração divina foi escrito que o Filho do
homem baixou do céu (Jo 3,13) e que o Senhor da majestade foi crucificado na
terra (1 Cor 2,8). Assim nós dizemos que o Verbo de Deus foi feito (Jô 1,14),
que a própria Sabedoria de Deus foi aperfeiçoada, que sua ciência foi criada,
quando a humanidade do Senhor é que foi feita, criada, como foi predito que
suas mãos e seus pés seriam transpassados (Sl 21,17).
Por causa desta unidade de pessoa e em razão deste mesmo
mistério, é perfeitamente católico crer que, quando nasceu a carne do Verbo de
uma Mãe imaculada, foi o mesmo Deus Verbo quem nasceu de uma Virgem. Negá-lo
seria uma grande impiedade. Ninguém, pois, tente jamais privar Maria Santíssima
do privilégio desta graça divina e de uma glória tão especial, Por desejo
determinado do Senhor, Deus nosso e Filho seu, devemos proclamá-la, com toda
verdade e acerto, Theotokus, Mãe de
Deus.
Não, certamente, no sentido de uma heresia ímpia, a qual
sustenta que Maria pode ser chamada Mãe de Deus somente de nome porque
engendrou um homem que depois se converteu em Deus; do mesmo modo como usamos a
expressão “ mãe de um sacerdote” ou “ mãe de um bispo”, não porque estas
mulheres tenham gerado a um presbítero ou a um bispo, mas porque puseram no
mundo homens que depois se fizeram sacerdotes ou bispos. Maria santíssima é Mãe
de Deus, não neste sentido, repito, mas sim, como dissemos, porque em seu
sagrado seio se realizou o mistério sacrossanto pelo qual, em razão de uma
particular e única unidade de pessoa, o Verbo é carne na carne, e o homem é
Deus em Deus.
LERINS, São Vicente - Comonitório: regras para conhecer a fé verdadeira. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2009. 88 p.
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