Esta unicidade na pessoa de Cristo não se realizou somente
depois do parto virginal, mas foi perfeita no próprio seio da Virgem. Portanto,
devemos, como todo cuidado, professar não somente que Cristo é um, mas que
sempre foi um. Seria uma blasfêmia intolerável sustentar que agora Cristo é um,
mas que durante um determinado período de tempo existiram dois: um Cristo
depois do batismo, dois quando nasceu. Podemos evitar tão grande sacrilégio
somente se crermos que sua natureza humana foi unida à divindade na unidade de
pessoa já desde o seio materno, no mesmo instante da concepção virginal e não
no momento da ascensão ou da ressurreição ou no batismo.
Em virtude desta unidade de pessoa atribui-se - ao homem o que é próprio de Deus, e a Deus
o que é próprio da carne. Por inspiração divina foi escrito que o Filho do
homem baixou do céu (Jo 3,13) e que o Senhor da majestade foi crucificado na
terra (1 Cor 2,8). Assim nós dizemos que o Verbo de Deus foi feito (Jô 1,14),
que a própria Sabedoria de Deus foi aperfeiçoada, que sua ciência foi criada,
quando a humanidade do Senhor é que foi feita, criada, como foi predito que
suas mãos e seus pés seriam transpassados (Sl 21,17).
Por causa desta unidade de pessoa e em razão deste mesmo
mistério, é perfeitamente católico crer que, quando nasceu a carne do Verbo de
uma Mãe imaculada, foi o mesmo Deus Verbo quem nasceu de uma Virgem. Negá-lo
seria uma grande impiedade. Ninguém, pois, tente jamais privar Maria Santíssima
do privilégio desta graça divina e de uma glória tão especial, Por desejo
determinado do Senhor, Deus nosso e Filho seu, devemos proclamá-la, com toda
verdade e acerto, Theotokus, Mãe de
Deus.
Não, certamente, no sentido de uma heresia ímpia, a qual
sustenta que Maria pode ser chamada Mãe de Deus somente de nome porque
engendrou um homem que depois se converteu em Deus; do mesmo modo como usamos a
expressão “ mãe de um sacerdote” ou “ mãe de um bispo”, não porque estas
mulheres tenham gerado a um presbítero ou a um bispo, mas porque puseram no
mundo homens que depois se fizeram sacerdotes ou bispos. Maria santíssima é Mãe
de Deus, não neste sentido, repito, mas sim, como dissemos, porque em seu
sagrado seio se realizou o mistério sacrossanto pelo qual, em razão de uma
particular e única unidade de pessoa, o Verbo é carne na carne, e o homem é
Deus em Deus.
LERINS, São Vicente - Comonitório: regras para conhecer a fé verdadeira. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2009. 88 p.
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