Está dito no
Evangelho de João: “Deus é espírito”. É preciso dizer de modo absoluto: Deus
não é um corpo, o que se pode demonstrar de três maneiras:
Primeira. Porque nenhum corpo move se não é movido, como ensina a
experiência de cada caso. Ora foi demonstrado que Deus é o primeiro motor
imóvel. Logo, fica claro que Ele não é corpo.
Segunda. Porque o que é o primeiro ente tem
de estar necessariamente em ato (ponto de partida do movimento) de modo algum
em potência (aquilo que requer uma realização). Embora em uma única e mesma
coisa que passa da potência ao ato, a potência seja anterior ao ato no tempo;
no entanto, absolutamente falando, o ato é anterior à potência, pois o que está
em potência só é levado ao ato a potência por um ente em ato. Ora, foi mostrado acima
que Deus é o primeiro ente. É, por conseguinte, impossível que a existência em
Deus de algo em potência. Ora, todo corpo se encontra em potência, pois o
contínuo, como tal, é divisível ao infinito. É então impossível que Deus seja
um corpo.
Terceira. É impossível que um corpo seja o
mais nobre dos entes. Pois um corpo é vivo ou não vivo; o corpo vivo é
manifestamente mais nobre do que o corpo não vivo. Por outro lado, o corpo vivo
não vive por ser corpo, pois se assim fosse todo corpo viveria; é preciso
que viva por alguma outra coisa, como
nosso corpo vive pela alma. Ora, o que leva o corpo a viver é mais nobre do
que ele. Por conseguinte, é impossível Deus ser um corpo.
OBS: O desfecho perfeito de São Tomás
de Aquino é fatal para o materialismo, pois, mostra claramente a
impossibilidade do homem ter vida sem alma dando exemplo irrefutável de que o
homem material não tem vida própria.
A Sagrada
Escritura nos transmite as coisas divinas e espirituais mediante imagens
corporais. Daí que, quando atribui a Deus as três dimensões, ela designa,
mediante a imagem de uma quantidade corporal, a quantidade de seu poder. Assim,
pela profundidade designa o poder de conhecer que é oculto; pela altura, a
superioridade de seu poder sobre tudo; pelo comprimento, a duração de sua
existência; pela largura, a disposição de seu amor por todas as coisas.
Deve-se dizer
que o homem é a imagem e semelhança de Deus, não pelo seu corpo. Mas segundo
aquilo que o homem supera os outros animais. Eis por que, depois das palavras
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, o Gêneses acrescenta: “para que domine sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e da mesma forma sobre todos
os répteis que se arrastam sobre a terra”,
( Gn 1;26). Ora, o homem é superior a todos os animais pela razão e pelo
intelecto. Portanto, é segundo o intelecto e a razão que são incorpóreos, que o
homem é a imagem de Deus.
OBS: O parágrafo acima mostra o caráter satânico de
grupos que tentam apagar da consciência humana sua semelhança em Deus,
rebaixando o homem a semelhança de um animal irracional. Uns, querendo dar aos
bichos e as plantas algo que é inerente exclusivamente à natureza do homem; o direito. Outros querendo convencer
que o homem veio do chimpanzé, como se a racionalidade não fosse um abismo que
separa um do outro. Mas o que os dois têm em comum nada mais é que o ódio a
Deus, não podendo atacar diretamente a Deus, Satanás (o adversário)tenta
destruir Sua maior obra.
É impossível
haver em Deus alguma matéria. Porque a matéria é o que está em potência. Já se
demonstrou que Deus é ato puro, nele não
existindo nada de potencial. Impossível, por conseguinte, que Deus seja
composto de matéria e forma.
OBS: Os materialistas que negam a Deus
não entendem que essa negação é justo por negar a razão. Negam a existência de Deus
por não prová-la pelos sentidos. Ora, os sentidos vêm de um órgão material,
olho, língua, o corpo (tato), ouvido e nariz. Se Deus não é matéria, só podemos
saber de sua existência pelo que temos semelhante a ele; o intelecto, é a nossa inteligência, que, por não está presa a um
órgão material, reconhece a existência de Deus. A negação de Deus é justamente
fruto da irracionalidade.
Porque, a
perfeição e a bondade de um composto de matéria e de forma lhe vêm de sua
forma; portanto, é necessário que seja bom por participação, na medida em que a
matéria participa da forma. Ora, Deus, o bem primeiro e ótimo, não é bom por
participação; pois, o que é bom por essência é anterior ao que é bom por
participação. Impossível, portanto, que Deus seja composto de matéria e forma.
Porque todo
agente age por sua forma. Portanto, conforme alguma coisa está para sua forma,
assim está para o fato de ser agente. Em consequência, o que é primeiro e agente por si é necessário que seja forma por si
mesmo e primeiramente. Ora, Deus é o primeiro agente, sendo a primeira
causa eficiente, como foi mostrado. É, pois, forma por essência, e não composto
de matéria e de forma.
OBS: O raciocínio lógico apresentado
por São Tomás de Aquino mostra com maior clareza a irracionalidade do panteísmo
e diversas seitas orientais que pregam que todas as coisas contém Deus, o que é
impossível, se assim fosse, tudo o que é corpóreo seria eterno.Para existir as
criaturas tem que haver antes o criador, não podendo assim, todas as coisas
conterem Deus.
Deve-se dizer
que atribui-se alma a Deus por uma semelhança com o ato. Se queremos algo, isto
vem da nossa alma, por isso se diz que agradou à alma de Deus aquilo que
agradou à sua vontade.
Deve-se dizer
que a cólera e coisas parecidas são atribuídas a Deus por uma semelhança dos
efeitos. Porque é próprio da pessoa encolerizada punir, chama-se
metaforicamente a cólera de Deus de punição.
Deve-se
afirmar que as formas suscetíveis de
serem recebidas na matéria são individualizadas pela matéria, que, por ser o
primeiro sujeito receptivo, não pode ser recebida em outro. A forma, pelo
contrário, por sua própria natureza, salvo impedimento vindo de fora, pode ser
recebida na matéria e é subsistente em si mesma, por isso mesmo é
individualizada de modo a não poder ser recebida em outra, e tal forma é Deus.
Daí não segue que Ele tenha matéria.
Santo Tomás de Aquino – Suma Teológica,
Vol I; Questão 3; art. 1 e 2.
Deus: imaterial, onisciente, onipotente e perfeito.
ResponderExcluirA ciência não pode justificar ou desmentir a existência de Deus, agindo apenas em corpos reais (dotados de matéria).
Assim, Deus, caso exista, não pode ser material. A existência já o torna imperfeito, o que contradiz aos princípios de Deus.