quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O projeto da Revolução de montar uma nova sociedade


O protestantismo fracassara; a França, após as guerras de religião, se mantivera católica. Mas um mau fermento fora depositado em seu seio. Sua fermentação produziu, além da corrupção dos costumes, três tóxicos de ordem intelectual: o galicanismo, o jansenismo e o filosofismo. A ação desses elementos sobre o organismo social acarretou a Revolução, segundo e muito mais terrível assalto contra a civilização cristã.

 Todo o movimento imprimido à cristandade pela Renascença, pela Reforma e pela Revolução é um esforço satânico para arrancar o homem da ordem sobrenatural estabelecida por Deus na origem e restaurada por Nosso Senhor Jesus Cristo, e confiná-lo no naturalismo.

 Como tudo era cristão na constituição francesa, tudo estava por ser destruído. A Revolução empenhou-se conscienciosamente nisso. Em alguns meses ela fez tábula rasa do governo da França, de suas leis e de suas instituições. Ela queria “moldar um povo novo”: é a expressão que se encontra, em cada página, sob a pena dos relatores da Convenção; mais ainda: “refazer o próprio homem”.



Os homens da Renascença não dirigiram seus olhares pelo menos nem todostão longe quanto os da Reforma. Os homens da Reforma foram ultrapassados pelos da Revolução. A Renascença tinha deslocado o lugar da felicidade e mudado suas condições: ela havia declarado que via esse lugar neste mundo inferior. A autoridade religiosa permanecia para afirmar: “Vós vos enganais; a felicidade está no Céu”. A Reforma afastou a autoridade, mas manteve o livro das Revelações divinas, que conservava a mesma linguagem. O Filosofismo negou que Deus tivesse algum dia falado aos homens, e a Revolução se esforçou em negar Seus testemunhos de sangue, a fim de poder estabelecer livremente o culto da natureza.

 O Journal des Débats, em um de seus números de abril de 1852, reconhecia essa filiação: “Nós somos revolucionários; mas somos filhos da Renascença e da filosofia antes de sermos filhos da Revolução”.

É inútil que nos estendamos longamente sobre a obra empreendida pela Revolução. O Papa Pio IX caracterizou-a em uma palavra, na Encíclica de 8 de dezembro de 1849: “A Revolução é inspirada pelo próprio Satã; seu objetivo é destruir, dos fundamentos à cúpula, o edifício do cristianismo e reconstruir sobre suas ruínas a ordem social do paganismo”.





No que concerne ao edifício político, a revolução apressou-se em proclamar a República, que a Renascença sonhara para a própria Roma, com a qual os protestantes tinham desejado substituir a monarquia francesa, e que foi realizada tão bem pelas obras da maçonaria.

 Discípulos de J.J. Rousseau, os convencionais de 1792 deram como fundamento do novo edifício o princípio segundo o qual o homem é bom por natureza; em cima, levantaram a trilogia maçônica: liberdade, igualdade, fraternidade. Liberdade para todos e para tudo, posto que no homem só há bons instintos; igualdade, porque, igualmente bons, os homens têm direitos iguais em tudo; fraternidade, ou ruptura de todas as barreiras entre indivíduos, famílias, nações, para deixar o gênero humano se abraçar numa República universal. (Projeto em curso da Nova Ordem mundial)

 Em matéria de religião, organizou-se o culto da natureza. Os humanistas da Renascença tinham-na chamado com seus desejos. Os protestantes não tinham ousado empurrar a Reforma até esse ponto. Nossos revolucionários o tentaram.

Eles não chegaram de uma só vez a esse excesso. Eles começaram por convidar o clero católico para suas festas.




Uma religião foi fundada, tendo seus dogmas, seus padres, seus domingos, seus santos. Deus foi substituído pelo Ser supremo e pela deusa Razão, o culto católico pelo culto da Natureza.

 Nada poderia melhor convir às aspirações dos humanistas da Renascença. Na festa de 19 de agosto de 1793, uma estátua da Natureza foi levantada na praça da Bastilha.

 A ata do evento acrescenta: “Em seguida a essa espécie de hino, única oração, desde os primeiros séculos do gênero humano, endereçada à Natureza pelos representantes de uma nação e por seus legisladores, o presidente encheu uma taça, de forma antiga, com água que corria do seio da Natureza: com ela fez libações ao redor da Natureza, bebeu um pouco da taça e a apresentou aos enviados do povo francês”. Como se vê, o culto é completo: oração, sacrifício, comunhão.

 Com o culto, as instituições. “É pelas instituições, escrevia o ministro de polícia Duval, que se compõem a opinião e a moralidade dos povos”. Entre essas instituições, aquela considerada mais necessária para fazer o povo esquecer seus antigos hábitos religiosos e fazê-lo adquirir novos foi o Décadi ou domingo civil. Assim, foi a essa criação que a República dispensou a maior parte de seus decretos e esforços.

 OBS: Recorrer à história para enxergar a raiz do presente é de importância fundamental. No parágrafo acima fala do uso das instituições para remodelar o povo. Fica claro hoje como o sistema educacional e todo aparelhamento estatal é utilizado na construção de um mundo anticristão e rebelde a Deus e sua legítima instituição: A Igreja que fundou a verdadeira civilização.

 Tal foi o resultado fatal das ideias que a Renascença tinha semeado nos espíritos. A Reforma havia ensaiado uma realização tímida, imperfeita: contentara-se em corromper o cristianismo; a Revolução o aniquilou tanto quanto dependia dela, e sobre suas ruínas edificou altares à Razão e à Volúpia.

 Sabemos para onde conduziu o naturalismo que, no pensamento de seus promotores, devia exaltar a dignidade do homem. Barbé-Marbois, em seu relatório ao Conselho dos Anciãos, denunciava a juventude escolar como “ultrapassando em seus excessos todos os limites, e até aqueles que a própria natureza parece ter fixado para as desordens da infância”. E, na outra extremidade da vida, todos os documentos da época mostram-nos os mortos entregues a “coveiros impuros”, as famílias que se habituam a “considerar os restos de um marido, de um pai, de um filho, de um irmão, de uma irmã, de um amigo, como aqueles de qualquer outro animal dos quais nos livramos”. Em 1800, o cidadão Cambry, encarregado pela administração central do Sena para fazer um relatório sobre o estado das sepulturas em Paris acreditou não poder publicá-lo senão em latim, tanto havia de vergonhoso nesses funerais bárbaros.

Frequentemente os corpos eram dados como comida aos animais. Todos os que tinham conservado alguma honestidade se espantavam com a desordem dos costumes chegada assim ao cúmulo. Com a ruína dos costumes e a abolição do culto cristão tinham chegado a bancarrota e a miséria.

 Ruína, miséria, desordem moral não podiam durar e se agravar para sempre. O clamor público reclamava o restabelecimento do culto católico. Ele jamais deixara de ser praticado, ainda que com risco de vida: padres tinham permanecido no meio das populações, as quais se expunham a todos os perigos para favorecer o exercício do santo ministério.

 Em 1800 a obra da restauração se impunha todas as criações destinadas a substituir o cristianismo tinham caído num descrédito absoluto e universal. Os Conselhos Gerais eram unânimes em reconhecer e declarar essa realidade. Napoleão chegou. Se ele restabeleceu, de comum acordo com Pio VII, a Igreja na França, ele também tomou medidas através dos artigos orgânicos, da instituição da Universidade, do Código Civil etc. para que a civilização cristã não pudesse retomar seu completo domínio sobre as almas e não fosse restaurada nas instituições. Ele não fez, como se disse muito bem, senão represar a Revolução.

 A Revolução pôde pois retomar seu curso com uma espécie de regularidade que vai ser mantida até que seja chegado o momento de uma desordem completa e dessa vez definitiva, como ela crê, da civilização cristã e de tudo o que foi edificado em nome de Cristo, para estabelecer sobre as ruínas da ordem sobrenatural o reino do naturalismo, a deificação do homem.

 O que aparece à primeira vista na Revolução, o que de Maistre viu nela e assinalou desde o dia em que se pôs a considerá-la, e o que nós vemos no presente momento com mais evidência ainda, é o ANTICRISTIANISMO. A Revolução consiste essencialmente na revolta contra Cristo, e mesmo na revolta contra Deus, mais ainda, na negação de Deus. Seu objetivo supremo é subtrair o homem e a sociedade ao sobrenatural. A palavra LIBERDADE, na boca da Revolução, não tem outro significado: liberdade para a natureza humana ser dela, como Satã quis se pertencer, e isto, como explicaremos mais adiante, por instigação de Lúcifer, que quer recobrar a supremacia que a superioridade de sua natureza lhe dava sobre a natureza humana, e da qual foi despojado pela elevação do cristão à ordem sobrenatural. E é por isso que J. de Maistre justissimamente caracterizou a Revolução com essa palavra: “satânica”.

 Em 1849, Pio IX disse nós já lembramos essas palavras com mais autoridade ainda: “A Revolução é inspirada pelo próprio Satã; seu objetivo é destruir da base ao topo o edifício do cristianismo, e reconstruir sobre suas ruínas a ordem social do paganismo”.

 Após nossos desastres de 1870-1871, Saint-Bonnet dizia: “A França trabalha há um século para afastar de todas as suas instituições Aquele a quem ela deve seu território, sua existência! Para mostrar todo seu ódio contra Ele, para fazer-Lhe a injúria de expulsá-Lo para fora das muralhas de nossas cidades, a seita estimula, desde 1830, uma imprensa odiosa a aguardar impacientemente a época da festa desse “Cristo que ama os Francos”, dAquele que se fez “Homem para salvar o homem, que se fez Pão para alimentá-lo!” E conclui: “E a França indaga qual a causa de suas infelicidades”.

Ao ódio contra Cristo, que não se teria crido possível no seio do cristianismo, junta-se a revolta contra Deus.

 Há razões para crer que uma tal revolta contra Deus não pôde ter ocorrido nem mesmo no ardor do grande combate entre Lúcifer e o arcanjo São Miguel. É preciso ter o espírito limitado do homem para se levantar contra o Infinito. É preciso também corrupção e extrema baixeza do coração.

 O que não se via, vê-se hoje. “A Revolução é a luta entre o homem e Deus; quer ser o triunfo do homem sobre Deus”. Assim, Saint-Bonnet não diz nada de mais, não diz talvez bastante, quando afirma que “o tempo presente não pode ser comparado senão àquele da revolta dos anjos”. E consequentemente, de Maistre, Bonald, Donoso-Cortés, Blanc de Saint-Bonnet e outros concordam em afirmar: “O mundo não pode permanecer como está”. Ou ele chega ao fim, no ódio que o Anticristo tornará mais generalizado e mais violento contra Deus e Seu Cristo; ou ele se encontra na véspera da maior misericórdia que Deus possa ter exercido nesse mundo, afora o Ato Redentor.

 Vem a restauração dos Bourbons. Ele jamais deixara de anunciar, com uma imperturbável segurança, apesar da chegada do Império, da sagração de Bonaparte e da marcha constantemente triunfante de Napoleão através da Europa, que o rei retornaria. Sua profecia se realiza; ele revê os Bourbons sobre o trono de seus pais e diz: “Um certo não-sei-o-quê, anuncia que NADA acabou”. “O cúmulo da infelicidade para os franceses seria acreditar que a Revolução terminou e que a coluna foi recolocada porque foi reerguida. Deveis acreditar, ao contrário, que o espírito revolucionário é sem comparação mais forte e mais perigoso do que era há alguns anos. Que pode o rei quando a inteligência de seu povo está apagada?” “Nada é estável ainda, e veem-se de todos os lados sementes de infelicidade”. “O estado atual da Europa (1819) causa horror; o da França, particularmente, é inconcebível. A Revolução está de pé sem dúvida, e não somente está de pé, mas ela caminha, corre, se precipita. A única diferença que percebo entre esta época e aquela do grande Robespierre, é que então as cabeças caíam e que hoje elas viram. É infinitamente provável que os franceses nos propiciarão ainda uma tragédia”.

“Desde a época da Reforma, dizia, e mesmo depois daquela de Wiclef, existiu na Europa um certo espírito terrível e invariável que tem trabalhado sem descanso para derrubar as monarquias europeias e o cristianismo... Nesse espírito destruidor têm vindo se enxertar todos os sistemas antissociais e anticristãos que apareceram em nossos dias: calvinismo, jansenismo, filosofismo, iluminismo etc. (acrescentemos: liberalismo, internacionalismo, modernismo); tudo isso não forma senão um todo e não deve ser considerado senão como uma única seita que jurou a destruição do cristianismo e de todos os tronos cristãos, mas sobretudo e antes de tudo a destruição da casa de Bourbon e da Sé de Roma.

No cabeçalho de um memorial endereçado em 1809 a seu soberano, Victor-Emanuel I, ele dizia: “Se há alguma coisa evidente, é a imensa base da Revolução atual, que não tem outras fronteiras que não o mundo”.

 A época da Revolução é a época do mais agudo antagonismo entre a civilização cristã e a civilização pagã, entre o naturalismo e o sobrenatural, entre Cristo e Satã.

Qual será o resultado dessa luta? Lúcifer e os seus pensam em triunfar. Os judeus dizem que a vinda de seu Messias, que o reino do Anticristo está próximo, e que esse reino abrirá, em proveito deles, a maior época do mundo.




A derrota da Revolução inaugurará o reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o gênero humano, formando um só rebanho sob um só Pastor.

No discurso que pronunciou em 28 de outubro de 1900 em Toulouse, como introdução à discussão da lei sobre as associações religiosas, Waldeck-Rousseau colocou nestes termos a questão que, naquele momento, mantinha a França em suspenso e o mundo atento ao que se passava entre nós.

 Neste país, em que a unidade moral construiu, através dos séculos, a força e a grandeza, duas juventudes, menos separadas por suas condições sociais do que pela educação que recebem, crescem sem se conhecer, até o dia em que elas se reencontrarão, tão dessemelhantes que estarão sujeitas a não mais se compreender.

Pouco a pouco se preparam, assim, duas sociedades diferentes  uma cada vez mais democrática, levada pela larga corrente da Revolução, a outra cada vez mais imbuída de doutrinas que se acreditava não terem sobrevivido ao grande movimento do século XVIII e destinadas um dia a se chocarem”.

 Mas após mais de quatro séculos, o espírito da Renascença ainda não pôde triunfar sobre o espírito do cristianismo e refazer, em sentido oposto, a unidade moral do país. Nem as violências, nem as perfídias e as traições da Reforma; nem a corrupção dos espíritos e dos costumes empreendida pelo Filosofismo; nem os confiscos, os exílios, os massacres da Revolução, não puderam ter razão contra as doutrinas e as virtudes com as quais o cristianismo embebeu a alma francesa durante quatorze séculos. Napoleão viu esse espírito de pé sobre as ruínas acumuladas pelo Terror, e não encontrou nada melhor do que deixá-lo viver, recusando-lhe, todavia, os meios de restaurar plenamente a civilização cristã. Daí o conflito com as alterações diversas, entretido, como nota Waldeck-Rousseau, não tanto pela diversidade das classes sociais quanto pela presença das duas educações: a educação universitária fundada por Napoleão, e a educação cristã que se manteve nas famílias, na igreja, e, por conseguinte, no ensino livre.

 Assim, pois, a Igreja está sempre presente, continuando a dizer que a verdadeira civilização é aquela que dá resposta à verdadeira condição do homem, aos destinos que seu Criador lhe traçou e àqueles que seu Redentor tornou possíveis; e que, consequentemente, a sociedade deve ser constituída e governada de tal maneira que favoreça os esforços dirigidos para a santidade.

 E a Revolução também está sempre presente, dizendo que o homem tem apenas um fim terreno, que a inteligência lhe foi dada para satisfazer seus apetites; e que, por consequência, a sociedade deve ser organizada de tal maneira que consiga oferecer a todos a maior soma possível de satisfações mundanas e carnais.

 Aí não há somente divisão, mas conflito; conflito patente após a Renascença, conflito surdo desde as origens do cristianismo; porque, a partir do dia em que a Igreja se esforçou em estabelecer e propagar a verdadeira civilização, ela encontrou diante de Si os maus instintos da natureza humana para Lhe resistir.

“É preciso acabar com isso de uma vez por todas, dissera Raoul Rigault ao conduzir os reféns ao muro de execuções; É preciso acabar de vez com isso! Foi essa a palavra do Terror, foi essa a palavra da Comuna. É a palavra de Waldeck-Rousseau. As duas juventudes, as duas sociedades devem se chocar num conflito supremo; uma, levada pela larga corrente da Revolução, a outra sustentada e empurrada pelo sopro do Espírito Santo ao encontro das ondas revolucionárias. É preciso que uma triunfe sobre a outra.

 Instruída pela experiência, a seita da qual Waldeck-Rousseau se fez mandatário, emprega, para chegar a seus fins, meios menos sanguinários do que em 93, porque ela acredita serem mais eficazes. O primeiro desses meios foi a abolição das congregações religiosas. Waldeck-Rousseau, no discurso de Toulouse, expôs nestes termos a razão da prioridade a dar à lei que as fazia desaparecer. Esse substratum de influências, essa potência rival, que Waldeck-Rousseau assim denunciava, ele pretendia encontrá-las nas congregações religiosas. Waldeck-Rousseau proporcionou-nos essa legislação eficaz, de comum acordo com o Parlamento. Ela tinha sido longamente estudada, sabiamente preparada nas lojas (maçônicas) para o efeito a ser alcançado.

 No entanto, a supressão das congregações não põe fim ao conflito. Waldeck não o ignorava. Assim, tivera o cuidado de dizer que “a lei das associações é apenas um ponto de partida”. De fato. Suponhamos que todas as congregações desapareçam, sem esperança de ressurreição: seria ingênuo crer que a ideia cristã desapareceria com elas. Atrás de seus batalhões se encontra a Santa Igreja Católica. E é a Igreja quem diz, não somente aos congregacionistas, mas a todos os cristãos e a todos os homens: “Vosso fim último não está aqui em baixo; aspirai a mais alto”. É n’Ela que se encontra, para falar como Waldeck-Rousseau, esse substratum de influências que não deixou de agir há mais de dezoito séculos. É Ela que seria preciso destruir para matar a ideia. Waldeck-Rousseau sabe disso, e foi por isso que apresentou sua lei como sendo somente um ponto de partida.

 Uma EVOLUÇÃO SOCIAL, eis aí, segundo o desejo do próprio Waldeck- Rousseau, o que é preparado pela lei que ele se propusera então apresentar à sanção do Parlamento, e que atualmente está em vigor.

 A evolução social desejada, perseguida, é, veremos em toda a sequência desta obra, a saída, sem esperança de retorno, das vias da civilização cristã, e a marcha para frente nas vias da civilização pagã.

 Como pode a destruição das congregações religiosas ser o “ponto de partida”?

Ah! é que a só presença dos religiosos no meio do povo cristão é um sermão contínuo, que não o deixa perder de vista o fim último do homem, a finalidade principal da sociedade e o caráter que deve ter a verdadeira civilização. Vestidos com um hábito especial que marca o que eles são e o que eles pretendem neste mundo, eles dizem às multidões em meio às quais circulam, que somos todos feitos para o Céu e que devemos tender a ele. A esse sermão mudo acrescentam o de suas obras, obras de dedicação que não pedem retribuição aqui em baixo, e que afirmam, por esse desinteresse, que há uma recompensa maior que todos devem ambicionar. Enfim, seu ensinamento nas escolas e no púlpito não cessa de semear na alma das crianças, de fazer crescer na alma dos adultos, de propagar em todas as direções, a fé nos bens eternos. Não existe nada que se oponha mais diretamente e mais eficazmente ao restabelecimento da ordem social pagã. Pelo tempo em que os monges estão presentes, agem e ensinam, há e haverá não somente duas juventudes, mas duas Franças, a França católica e a França maçônica, tendo uma e outra ideais diferentes e mesmo opostos, lutando entre si para fazer triunfar cada qual o seu. E como a maçonaria, assim como o catolicismo, se estende ao mundo inteiro, e como por toda a parte as duas Cidades estão uma em face da outra, também em toda a parte se vê ao mesmo tempo o mesmo engajamento na mesma batalha. Em toda a parte a guerra está declarada aos religiosos, em toda a parte a palavra de ordem é expulsá-los, desbaratá-los. Quantas leis, quantos decretos a franco-maçonaria fez promulgar contra eles, em todos os países, somente no século XIX.

 Mas a abolição da vida monástica não é e não pode ser, como diz Waldeck- Rousseau, senão “um ponto de partida”. Depois dos religiosos vêm os padres, e mesmo que os padres viessem a ser dispersos, a Igreja permaneceria, com nos dias das Catacumbas, para manter a fé num certo número de famílias e num certo número de corações; e um dia ou outro, a fé traria de volta padres e religiosos, como ela o fez em 1800.

 É preciso, pois, algo mais.

Primeiro, acabar de subjugar a Igreja, depois aniquilá-La. Tentaram subjugá-La através da “estrita execução da Concordata”; esperam chegar a aniquilá-La através da lei da separação entre a Igreja e o Estado.

OBS: A fonte azul é nossa.




A Conjuração Anticristã, O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica (Tomo I) - Monsenhor Henri Delassus.

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