O protestantismo
fracassara; a França, após as guerras de religião, se mantivera católica. Mas
um mau fermento fora depositado em seu seio. Sua fermentação produziu, além da
corrupção dos costumes, três tóxicos de ordem intelectual: o galicanismo, o jansenismo
e o filosofismo. A ação desses elementos sobre o organismo social acarretou a
Revolução, segundo e muito mais terrível assalto contra a civilização cristã.
Todo o
movimento imprimido à cristandade pela Renascença, pela Reforma e pela
Revolução é um esforço satânico para arrancar o homem da ordem sobrenatural
estabelecida por Deus na origem e restaurada por Nosso Senhor Jesus Cristo, e
confiná-lo no naturalismo.
Como
tudo era cristão na constituição francesa, tudo estava por ser destruído. A Revolução
empenhou-se conscienciosamente nisso. Em alguns meses ela fez tábula rasa do governo da
França, de suas leis e de suas instituições. Ela queria “moldar um povo novo”: é a expressão
que se encontra, em cada página, sob a pena dos relatores da Convenção; mais ainda: “refazer o próprio
homem”.
Os
homens da Renascença não dirigiram seus olhares — pelo menos nem todos — tão
longe quanto os da Reforma. Os homens da Reforma foram ultrapassados pelos
da Revolução. A Renascença tinha deslocado o lugar da felicidade e mudado suas
condições: ela havia declarado que via esse lugar neste mundo inferior. A
autoridade religiosa permanecia para afirmar: “Vós vos enganais; a felicidade está no Céu”. A Reforma
afastou a autoridade, mas manteve o livro das Revelações divinas, que
conservava a mesma linguagem. O Filosofismo negou que Deus tivesse algum dia
falado aos homens, e a Revolução se esforçou em negar Seus testemunhos de sangue,
a fim de poder estabelecer livremente o
culto da natureza.
O Journal
des Débats, em um de seus números de abril de 1852,
reconhecia essa filiação: “Nós somos
revolucionários; mas somos filhos da Renascença e da filosofia antes de sermos filhos da Revolução”.
É
inútil que nos estendamos longamente sobre a obra empreendida pela Revolução. O
Papa Pio IX caracterizou-a em uma palavra, na Encíclica de 8 de dezembro de 1849: “A Revolução é inspirada pelo próprio Satã; seu objetivo é destruir,
dos fundamentos à cúpula, o edifício do cristianismo e reconstruir sobre suas ruínas a ordem
social do paganismo”.
No que
concerne ao edifício político, a revolução apressou-se em proclamar a
República, que a Renascença sonhara para a própria Roma, com a qual os
protestantes tinham desejado substituir a monarquia francesa, e que foi
realizada tão bem pelas obras da maçonaria.
Discípulos
de J.J. Rousseau, os convencionais de 1792 deram como fundamento do novo
edifício o princípio segundo o qual o homem é bom por natureza; em cima, levantaram
a trilogia maçônica: liberdade, igualdade, fraternidade. Liberdade para todos e
para tudo, posto que no homem só há bons instintos; igualdade, porque, igualmente
bons, os homens têm direitos iguais em tudo; fraternidade, ou ruptura de todas
as barreiras entre indivíduos, famílias, nações, para deixar o gênero humano se abraçar
numa República universal. (Projeto em curso da Nova Ordem mundial)
Em
matéria de religião, organizou-se o culto da natureza. Os humanistas da Renascença
tinham-na chamado com seus desejos. Os protestantes não tinham ousado
empurrar a Reforma até esse ponto. Nossos revolucionários o tentaram.
Eles
não chegaram de uma só vez a esse excesso. Eles começaram por convidar o clero
católico para suas festas.
Uma
religião foi fundada, tendo seus dogmas, seus padres, seus domingos, seus
santos. Deus foi substituído pelo Ser supremo e pela deusa Razão, o culto
católico pelo culto da Natureza.
Nada
poderia melhor convir às aspirações dos humanistas da Renascença. Na festa
de 19 de agosto de 1793, uma estátua da Natureza foi levantada na praça da Bastilha.
A ata do evento
acrescenta: “Em seguida a essa espécie de hino, única oração, desde
os primeiros séculos do gênero humano, endereçada à Natureza pelos representantes
de uma nação e por seus legisladores, o presidente encheu uma taça, de
forma antiga, com água que corria do seio da Natureza: com ela fez libações ao redor
da Natureza, bebeu um pouco da taça e a apresentou aos enviados do povo francês”. Como se vê,
o culto é completo: oração, sacrifício, comunhão.
Com o
culto, as instituições. “É pelas instituições,
escrevia o ministro de polícia Duval, que se compõem a opinião e a moralidade dos
povos”. Entre essas instituições, aquela considerada mais
necessária para fazer o povo esquecer seus antigos hábitos religiosos e fazê-lo
adquirir novos foi o Décadi ou
domingo civil. Assim, foi a essa criação que a República dispensou a maior
parte de seus decretos e esforços.
OBS: Recorrer à história para enxergar a raiz do
presente é de importância fundamental. No parágrafo acima fala do uso das
instituições para remodelar o povo. Fica claro hoje como o sistema educacional
e todo aparelhamento estatal é utilizado na construção de um mundo anticristão
e rebelde a Deus e sua legítima instituição: A Igreja que fundou a verdadeira
civilização.
Tal foi
o resultado fatal das ideias que a Renascença tinha semeado nos espíritos. A
Reforma havia ensaiado uma realização tímida, imperfeita: contentara-se em
corromper o cristianismo; a Revolução o aniquilou tanto quanto dependia dela, e
sobre suas
ruínas edificou altares à Razão e à Volúpia.
Sabemos
para onde conduziu o naturalismo que, no pensamento de seus promotores, devia
exaltar a dignidade do homem. Barbé-Marbois, em seu relatório ao Conselho dos Anciãos,
denunciava a juventude escolar como “ultrapassando em seus
excessos todos os limites, e até aqueles que a própria natureza parece ter
fixado para as
desordens da infância”. E, na outra extremidade da vida, todos os documentos da época
mostram-nos
os mortos entregues a “coveiros impuros”, as famílias que se habituam a “considerar
os restos de um marido, de um pai, de um filho, de um irmão, de uma
irmã, de um amigo, como aqueles de qualquer outro animal dos quais nos livramos”. Em 1800, o
cidadão Cambry, encarregado pela administração central do Sena para
fazer um relatório sobre o estado das sepulturas em Paris acreditou não poder
publicá-lo senão em latim, tanto havia de vergonhoso nesses funerais bárbaros.
Frequentemente
os corpos eram dados como comida aos animais. Todos
os que tinham conservado alguma honestidade se espantavam com a desordem dos
costumes chegada assim ao cúmulo. Com a ruína dos costumes e a abolição
do culto cristão tinham chegado a bancarrota e a miséria.
Ruína,
miséria, desordem moral não podiam durar e se agravar para sempre. O clamor
público reclamava o restabelecimento do culto católico. Ele jamais deixara de ser
praticado, ainda que com risco de vida: padres tinham permanecido no meio das populações,
as quais se expunham a todos os perigos para favorecer o exercício do santo
ministério.
Em 1800
a obra da restauração se impunha todas as criações destinadas a substituir o
cristianismo tinham caído num descrédito absoluto e universal. Os Conselhos
Gerais eram unânimes em reconhecer e declarar essa realidade. Napoleão chegou.
Se ele restabeleceu, de comum acordo com Pio VII, a Igreja na França, ele
também tomou medidas — através dos artigos orgânicos, da instituição da Universidade, do
Código Civil etc. — para que a civilização cristã não pudesse retomar seu completo domínio
sobre as almas e não fosse restaurada nas instituições. Ele não fez, como se
disse muito bem, senão represar a Revolução.
A
Revolução pôde pois retomar seu curso com uma espécie de regularidade que vai ser
mantida até que seja chegado o momento de uma desordem completa e dessa vez
definitiva, como ela crê, da civilização cristã e de tudo o que foi edificado
em nome de
Cristo, para estabelecer sobre as ruínas da ordem sobrenatural o reino do
naturalismo, a deificação do homem.
O que
aparece à primeira vista na Revolução, o que de Maistre viu nela e assinalou
desde o dia em que se pôs a considerá-la, e o que nós vemos no presente momento
com mais evidência ainda, é o ANTICRISTIANISMO. A Revolução consiste
essencialmente na revolta contra Cristo, e mesmo na revolta contra Deus, mais
ainda, na
negação de Deus. Seu objetivo supremo é subtrair o homem e a sociedade ao sobrenatural.
A palavra LIBERDADE, na boca da Revolução, não tem outro significado: liberdade
para a natureza humana ser dela, como Satã quis se pertencer, e isto,
como explicaremos mais adiante, por instigação de Lúcifer, que quer recobrar a supremacia
que a superioridade de sua natureza lhe dava sobre a natureza humana, e da qual
foi despojado pela elevação do cristão à ordem sobrenatural. E é por isso que J. de Maistre
justissimamente caracterizou a Revolução com essa palavra: “satânica”.
Em
1849, Pio IX disse — nós já lembramos essas palavras — com mais autoridade ainda: “A Revolução é inspirada pelo
próprio Satã; seu objetivo é destruir da base ao topo o edifício do cristianismo, e
reconstruir sobre suas ruínas a ordem social do paganismo”.
Após
nossos desastres de 1870-1871, Saint-Bonnet dizia: “A França trabalha há um
século para afastar de todas as suas instituições Aquele a quem ela deve seu
território, sua existência! Para mostrar todo seu ódio contra Ele, para
fazer-Lhe a injúria de expulsá-Lo para fora das muralhas de nossas cidades, a
seita estimula, desde 1830, uma imprensa odiosa a aguardar impacientemente a
época da festa desse “Cristo que ama os Francos”, dAquele que se fez “Homem para
salvar o homem, que se fez Pão para alimentá-lo!” E conclui: “E a França indaga qual a causa
de suas infelicidades”.
Ao ódio
contra Cristo, que não se teria crido possível no seio do cristianismo, junta-se
a revolta contra Deus.
Há
razões para crer que uma tal revolta contra Deus não pôde ter ocorrido nem mesmo
no ardor do grande combate entre Lúcifer e o arcanjo São Miguel. É preciso ter
o espírito limitado do homem para se levantar contra o Infinito. É preciso
também corrupção e extrema baixeza do coração.
O que
não se via, vê-se hoje. “A Revolução é a luta entre o homem e Deus; quer ser o
triunfo
do homem sobre Deus”. Assim,
Saint-Bonnet não diz nada de mais, não diz talvez bastante, quando afirma que “o tempo presente
não pode ser comparado senão àquele da revolta dos anjos”. E
consequentemente, de Maistre, Bonald, Donoso-Cortés, Blanc de Saint-Bonnet e outros
concordam em afirmar: “O mundo não pode permanecer como está”. Ou ele
chega ao fim, no ódio que o Anticristo tornará mais generalizado e mais violento
contra Deus e Seu Cristo; ou ele se encontra na véspera da maior misericórdia
que Deus possa ter exercido nesse mundo, afora o Ato Redentor.
Vem a
restauração dos Bourbons. Ele jamais deixara de anunciar, com uma imperturbável
segurança, apesar da chegada do Império, da sagração de Bonaparte e da
marcha constantemente triunfante de Napoleão através da Europa, que o rei retornaria.
Sua profecia se realiza; ele revê os Bourbons sobre o trono de seus pais e diz: “Um certo não-sei-o-quê, anuncia que NADA
acabou”. “O cúmulo da infelicidade para os
franceses seria acreditar que a Revolução terminou e que a coluna foi recolocada
porque foi reerguida. Deveis acreditar, ao contrário, que o espírito revolucionário
é sem comparação mais forte e mais perigoso do que era há alguns anos. Que pode o rei
quando a inteligência de seu povo está apagada?” “Nada é estável
ainda, e veem-se de todos os lados sementes de infelicidade”. “O
estado atual
da Europa (1819) causa horror; o da França, particularmente, é inconcebível. A Revolução
está de pé sem dúvida, e não somente está de pé, mas ela caminha, corre, se
precipita. A única diferença que percebo entre esta época e aquela do grande Robespierre,
é que então as cabeças caíam e que hoje elas viram. É infinitamente provável
que os franceses nos propiciarão ainda uma tragédia”.
“Desde a época da
Reforma, dizia, e mesmo depois daquela de Wiclef, existiu na Europa um
certo espírito terrível e invariável que tem trabalhado sem descanso para derrubar
as monarquias europeias e o cristianismo... Nesse espírito destruidor têm vindo
se enxertar todos os sistemas antissociais e anticristãos que apareceram em nossos
dias: calvinismo, jansenismo, filosofismo, iluminismo
etc. (acrescentemos: liberalismo,
internacionalismo, modernismo); tudo isso não forma senão um todo e não deve
ser considerado senão como uma única
seita que jurou a destruição do cristianismo e de todos os tronos cristãos, mas
sobretudo e antes de tudo a destruição da casa de Bourbon e da Sé de Roma.
No
cabeçalho de um memorial endereçado em 1809 a seu soberano, Victor-Emanuel I, ele dizia:
“Se há alguma coisa evidente, é a imensa base da Revolução atual, que não tem
outras fronteiras que não o mundo”.
A época
da Revolução é a época do mais agudo antagonismo entre a civilização cristã
e a civilização pagã, entre o naturalismo e o sobrenatural, entre Cristo e
Satã.
Qual
será o resultado dessa luta? Lúcifer e os seus pensam em triunfar. Os judeus dizem
que a vinda de seu Messias, que o reino do Anticristo está próximo, e que esse
reino abrirá, em proveito deles, a maior época do mundo.
A
derrota da Revolução inaugurará o reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo
sobre o gênero humano, formando um só rebanho sob um só Pastor.
No
discurso que pronunciou em 28 de outubro de 1900 em Toulouse, como introdução à
discussão da lei sobre as associações religiosas, Waldeck-Rousseau colocou
nestes termos a questão que, naquele momento, mantinha a França em suspenso e o
mundo atento ao que se passava entre nós.
“Neste país, em que a unidade moral construiu, através dos séculos, a
força e a grandeza,
duas juventudes, menos separadas por suas condições sociais do que pela educação que recebem, crescem sem se conhecer,
até o dia em que elas se reencontrarão, tão dessemelhantes que estarão sujeitas
a não mais se compreender.
Pouco a pouco se preparam, assim, duas sociedades
diferentes uma
cada vez mais democrática, levada pela larga corrente da
Revolução, a outra cada vez mais imbuída de doutrinas que se acreditava não terem
sobrevivido ao grande movimento do século XVIII e
destinadas um dia a se chocarem”.
Mas
após mais de quatro séculos, o espírito da Renascença ainda não pôde triunfar
sobre o espírito do cristianismo e refazer, em sentido oposto, a unidade moral
do país. Nem as violências, nem as perfídias e as traições da Reforma; nem a
corrupção dos espíritos e dos costumes empreendida pelo Filosofismo; nem os
confiscos, os exílios, os massacres da Revolução, não puderam ter razão contra
as doutrinas e as virtudes com as quais o cristianismo embebeu a alma francesa
durante quatorze séculos. Napoleão viu esse espírito de pé sobre as ruínas
acumuladas pelo Terror, e não encontrou nada melhor do que deixá-lo viver,
recusando-lhe, todavia, os meios de restaurar plenamente a civilização cristã.
Daí o conflito com as alterações diversas, entretido, como nota
Waldeck-Rousseau, não tanto pela diversidade das classes sociais quanto pela
presença das duas educações: a educação universitária fundada por Napoleão, e a
educação cristã que se manteve nas famílias, na igreja, e, por
conseguinte, no ensino livre.
Assim,
pois, a Igreja está sempre presente, continuando a dizer que a verdadeira civilização
é aquela que dá resposta à verdadeira condição do homem, aos destinos que seu
Criador lhe traçou e àqueles que seu Redentor tornou possíveis; e que,
consequentemente, a sociedade deve ser constituída e governada de tal maneira
que favoreça
os esforços dirigidos para a santidade.
E a
Revolução também está sempre presente, dizendo que o homem tem apenas um fim
terreno, que a inteligência lhe foi dada para satisfazer seus apetites; e que,
por consequência,
a sociedade deve ser organizada de tal maneira
que consiga oferecer a todos a maior soma possível de satisfações mundanas e
carnais.
Aí não
há somente divisão, mas conflito; conflito patente após a Renascença, conflito
surdo desde as origens do cristianismo; porque, a partir do dia em que a Igreja
se esforçou em estabelecer e propagar a verdadeira civilização, ela encontrou
diante de Si os maus instintos da natureza humana para Lhe resistir.
“É preciso acabar com
isso de uma vez por todas, dissera Raoul Rigault ao conduzir
os reféns ao muro de execuções; É preciso acabar de vez com isso! Foi essa a
palavra do Terror, foi essa a palavra da Comuna. É a palavra de Waldeck-Rousseau.
As duas juventudes,
as duas sociedades devem se chocar num conflito supremo; uma, levada pela
larga corrente da Revolução, a outra sustentada e empurrada pelo sopro do Espírito
Santo ao encontro das ondas revolucionárias. É preciso que uma triunfe sobre a outra.
Instruída
pela experiência, a seita da qual Waldeck-Rousseau se fez mandatário, emprega,
para chegar a seus fins, meios menos sanguinários do que em 93, porque ela
acredita serem mais eficazes. O primeiro desses meios foi a abolição das
congregações religiosas. Waldeck-Rousseau, no discurso de Toulouse, expôs
nestes termos a razão da prioridade a dar à lei que as fazia desaparecer. Esse substratum
de influências, essa potência rival, que Waldeck-Rousseau assim denunciava,
ele pretendia encontrá-las nas congregações religiosas. Waldeck-Rousseau proporcionou-nos essa legislação
eficaz, de comum acordo com o Parlamento. Ela tinha sido longamente estudada,
sabiamente preparada nas lojas (maçônicas) para o efeito a ser alcançado.
No
entanto, a supressão das congregações não põe fim ao conflito. Waldeck não o
ignorava.
Assim, tivera o cuidado de dizer que “a lei das associações é apenas um ponto de partida”. De
fato. Suponhamos que todas as congregações desapareçam, sem
esperança de ressurreição: seria ingênuo crer que a ideia cristã desapareceria com
elas. Atrás de seus batalhões se
encontra a Santa Igreja Católica. E é a Igreja quem
diz, não somente aos congregacionistas, mas a todos os cristãos e a todos os homens: “Vosso fim último não está aqui em baixo;
aspirai a mais alto”. É n’Ela que se encontra, para falar como Waldeck-Rousseau, esse substratum
de influências que não deixou de agir há mais de dezoito séculos. É Ela
que seria preciso destruir para matar a ideia. Waldeck-Rousseau
sabe disso, e foi por isso que apresentou sua lei como sendo
somente um ponto de partida.
Uma
EVOLUÇÃO SOCIAL, eis aí, segundo o desejo do próprio Waldeck- Rousseau, o que é
preparado pela lei que ele se propusera então apresentar à sanção do
Parlamento, e que atualmente está em vigor.
A
evolução social desejada, perseguida, é, veremos em toda a sequência desta obra, a
saída, sem esperança de retorno, das vias da civilização cristã, e a marcha para
frente nas vias da civilização pagã.
Como pode a destruição
das congregações religiosas ser o “ponto de partida”?
Ah! é
que a só presença dos religiosos no meio do povo cristão é um sermão contínuo,
que não o deixa perder de vista o fim último do homem, a finalidade principal
da sociedade e o caráter que deve ter a verdadeira civilização. Vestidos com um hábito especial que marca o
que eles são e o que eles pretendem neste mundo, eles dizem às multidões em
meio às quais circulam, que somos todos feitos para o Céu e que devemos tender
a ele. A esse sermão mudo acrescentam o de suas obras, obras de
dedicação que não pedem retribuição aqui em baixo, e que afirmam, por esse
desinteresse, que há uma recompensa maior que todos devem ambicionar. Enfim, seu ensinamento nas escolas e no púlpito não
cessa de semear na alma das crianças, de fazer crescer na alma dos adultos, de
propagar em todas as direções, a fé nos bens eternos. Não
existe nada que se oponha mais diretamente e mais eficazmente ao restabelecimento da ordem social
pagã. Pelo tempo em que os monges estão presentes, agem e ensinam, há e haverá
não somente duas juventudes, mas duas Franças, a França católica e a França
maçônica, tendo uma e outra ideais diferentes e mesmo opostos, lutando entre si
para fazer triunfar cada qual o seu. E como a maçonaria, assim como o
catolicismo, se estende ao mundo inteiro, e como por toda a parte as duas
Cidades estão uma em face da outra, também em toda a parte se vê ao mesmo tempo
o mesmo engajamento na mesma batalha. Em toda a parte a guerra está declarada
aos religiosos, em toda a parte a palavra de ordem é expulsá-los,
desbaratá-los. Quantas leis, quantos decretos a franco-maçonaria fez promulgar
contra eles, em todos os países, somente no século XIX.
Mas a
abolição da vida monástica não é e não pode ser, como diz Waldeck- Rousseau, senão “um ponto de
partida”. Depois dos religiosos vêm os padres, e mesmo que os padres
viessem a ser dispersos, a Igreja permaneceria, com nos dias das
Catacumbas, para manter a fé num certo número de famílias e num certo número de
corações; e um dia ou outro, a fé traria de volta padres e religiosos, como ela
o fez em
1800.
É
preciso, pois, algo mais.
Primeiro,
acabar de subjugar a Igreja, depois
aniquilá-La. Tentaram subjugá-La através da “estrita execução da Concordata”; esperam chegar a aniquilá-La através da lei da separação entre a Igreja e
o Estado.
OBS: A fonte azul é nossa.
A Conjuração Anticristã,
O Templo Maçônico que
quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica (Tomo I) - Monsenhor Henri Delassus.
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