Procura um
tempo adequado para pensar em ti.
Rememora
sempre os dons de Deus.
Despreza as
curiosidades e dedica-te às leituras que não são simples distração, mas que
levam à compunção.
Evitando as
conversas supérfluas, os passeios inúteis, as novidades e os mexericos,
encontrarás o tempo suficiente e apropriado para te consagrar às boas
meditações.
Os grandes
santos evitavam a companhia das pessoas e preferiam viver na privacidade com
Deus.
Sempre que estive entre os homens,
senti-me menos homem,
disse um filósofo (Sêneca, carta 7). É o que às vezes sentimos nas conversas
sem fim.
É mais fácil
calar do que não se exceder nas confabulações.
É mais fácil
se proteger em casa do que na rua.
Quem busca
prosseguir no caminho espiritual interior deve pois, como Jesus, apartar-se das
turbas.
Só se
manifesta com firmeza quem gosta de viver oculto.
Só fala com
acerto, quem sabe permanecer calado.
Só preside
com sabedoria, quem sabe servir.
Só manda com
discrição quem sabe obedecer.
Só se alegra
de fato quem conserva pura a consciência.
Toda firmeza
dos santos alimenta-se do temor de Deus. Todos os que brilham pelas virtudes e
pela graça são sempre humildes e prestativos.
Mas a firmeza
dos maus, que nasce do orgulho e da presunção, acaba levando ao desespero.
Religioso ou
secular, nunca esteja seguro nesta terra, por melhor que sejas aos teus olhos.
Os que se
julgam mais santos são os que estão mais dispostos a cair, por causa da
excessiva confiança em si mesmo.
Por isso, é
muito melhor ser sempre um pouco tentado, ter que combater, para não ficar de
todo tranquilo e não se envaidecer permitindo-se satisfazer com consolações exteriores
indevidas.
Como se
conservaria pura a consciência de quem nunca buscasse alegrias passageiras nem
tivesse preocupações mundanas.
De quanta paz
e tranquilidade gozaria quem cortasse toda preocupação vã, só cuidasse
santamente de todas as coisas e de Deus, nele colocando toda sua esperança.
Não é digno
da consolação celestial senão quem se esforça por viver em santa compunção.
Para alcançar
a compunção do coração, entra em teu quarto e afasta o bulício do mundo, como
está escrito, reflete no silêncio de teu
leito (Sl 4:5).
Aí
encontrarás o que perdeste lá fora.
Cultivada
desde o início, a intimidade é doce e a dispersão do espírito enfadonha.
Sempre
entretida, ela se converterá aos poucos numa amiga fiel, fonte de grandes
consolações.
Os segredos
da Escritura se revelam no silêncio e na tranquilidade.
Deles brotam
as lágrimas que nos lavam e purificam as noites, tornando-nos íntimos de Deus e
cada vez mais distantes da agitação mundana.
Afastados dos
conhecidos e amigos, aproximamo-nos de Deus, dos anjos e dos santos.
Melhor do que
chamar atenção é viver voltado intimamente para o coração.
Para o
religioso é louvável sair pouco e parecer que foge de ser visto pelos homens.
Para que ver
o que ao se deve ter? O mundo passa, e
também sua cobiça (1 Jo 2:17).
Temos sempre
vontade de espairecer. Passando o tempo, porém, que resta senão o espírito
disperso e a consciência pesada?
O que dá
prazer no início acaba em abatimento. Boa noitada precede manhã sombria. A
satisfação de nossos impulsos, de início atraente, decepciona e nos deixa
prostrados no fim.
(Que espera
de outro lugar, que aqui não tenhas?)
(Os elementos
do céu e da terra são sempre os mesmos em toda parte.)
Não adianta
pensar que haja sob o sol algo que dure para sempre.
Pensas talvez
que te possuas satisfazer plenamente, mas não o conseguirás.
Ainda que
visses tudo que existe, seria uma visão inútil.
Levanta teus
olhos a Deus nas alturas e reza pelos teus pecados e negligências.
Deixa as
vaidades aos vãos, e aplica-se ao que Deus ordena.
Fecha a porta
de teu aposento e clama por teu amado, Jesus.
Fica com ele
na intimidade e terás a paz que não se encontra alhures.
Permanecerás
feliz e na paz, se não salvares e não deres ouvido a nenhuma notícia.
Como porém
gostas de saber o que se passa de tempos em tempos, terás que suportar a agitação
do coração.
Imitação de Cristo – Tomás de Kempis.
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