terça-feira, 18 de novembro de 2014

Regras para distinguir a verdade católica do erro


Após interrogar com frequência, cuidado e atenção numerosíssimas pessoas, destacadas em santidade e doutrina, sobre como distinguir por meio de uma regra segura, geral e normativa, a verdade da fé católica da falsidade perversa da heresia, quase todas me responderam o mesmo: “Todo cristão que queira desmascarar as  intrigas dos hereges que brotam ao nosso redor, evitar suas  armadilhas e manter-se íntegro e incólume na fé imaculada, deve, com a ajuda de Deus, adornar a sua fé de duas maneiras: em primeiro lugar, com a autoridade da lei divina, e com a tradição da Igreja Católica”. Contudo alguém poderia objetar: visto que o cânon das Escrituras é por si só perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja?

 Precisamente porque a Escritura, por sua própria sublimidade, não é entendida por todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Poderíamos dizer que existem tantas interpretações quanto leitores. Vemos, por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo, Sabélio de outro, Donato, Ário, Eunômio, Macedônio, de outro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinário, Prisciliano, Joviniano, Pelágio, Celéstio e, em nossos dias, Nestório. É, pois, sumamente necessário, por causa das tão numerosas e intricadas faces do erro, que a linha de interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça segundo a norma do sentido Católico e da Igreja.


Na Igreja Católica é preciso pôr o maior cuidado para manter o que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Eis o que é verdadeira e propriamente católico, segundo a ideia de universalidade que se encerra na própria etimologia da palavra. Mas isso será conquistado se nós seguimos a universalidade, a antiguidade, o consenso geral. Seguiremos a universalidade se professarmos a única e verdadeira fé a que a Igreja inteira professa em todo o mundo; a antiguidade, se não nos separarmos de nenhuma forma dos sentidos que foram proclamados por nossos santos predecessores e padres; o consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçarmos as definições e as doutrinas de todos, ou de quase todos, os bispos e mestres.

 

 

EXEMPLO DE COMO APLICAR A REGRA

 

Qual deverá ser a conduta de um católico, se alguma pequena parte da Igreja se separar da comunhão na fé universal?

Não cabe dúvida de que deverá antepor a saúde do corpo inteiro a um membro podre e contagioso.

Mas, e se se trata de uma novidade herética que não está limitada a um pequeno grupo, que ameaça contagiar a Igreja inteira?

Em tal caso, o cristão deverá fazer todo o possível para aderir à antiguidade, a qual não pode mais, evidentemente, ser alterada por nenhuma novidade mentirosa.

E se na antiguidade e descobre que um erro foi compartilhado por dois ou três homens, ou mesmo por toda uma cidade, ou uma região inteira?

Neste caso deve-se ter o máximo cuidado em preferir os decretos universais e antigos d Igreja Católica, se houver, à temeridade e à ignorância daqueles poucos.

E se surgir uma nova opinião sobre a qual nada foi ainda definido?

Então é preciso indagar as opiniões dos nossos maiores, daqueles que, em diversos tempo e lugares, sempre permaneceram na comunhão e na fé da única Igreja Católica e vieram a ser  mestres comprovados, para confrontá-las com a nossa opinião. E tudo aquilo que estiver sendo sustentado, escrito e ensinado aberta, frequente e constantemente, não por um ou dois apenas, mas por todos juntos com um mesmo e único sentido, entenda que isto mesmo deve ser crido sem violação alguma.

 

OBS: Magistral capítulo escrito há mais de um milênio para servir aos católicos atuais diante das novidades e erros do Concílio Vaticano II, ensinamento histórico que impressionam pela semelhança em nossa época.

 

Comonitório – Regras para conhecer a fé verdadeira. São Vicente Lerins

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