terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A misericórdia de Deus


 

É tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores, quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por isso escreve São Tiago: “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência, da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18, Vulgata). E dizia também: Por causa de teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.

Isaías dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou Zacarias: “Pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc 1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu, antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não ficássemos perdidos.



Para se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho: “Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”? Assim diz Deus a cada um de nós.

Vendo nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz pelo profeta Isaías: “ Ele te fará misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).

“És pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6). Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20). Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de compaixão: Filho, por que queres te perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos pedimos: Reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.

Se, mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo 6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc 1,3). Ao ímpio que se arrepende promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele” (Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde, debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta à palavra dada”.

Não. O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl 50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que  se faz mais festa no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos no amor a Deus do que os tíbios inocentes.



 
É tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores, quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por isso escreve São Tiago: “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência, da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18, Vulgata). E dizia também: Por causa de teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.
Isaías dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou Zacarias: “Pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc 1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu, antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não ficássemos perdidos.
Para se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho: “Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”? Assim diz Deus a cada um de nós.
Vendo nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz pelo profeta Isaías: “ Ele te fará misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).
“És pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6). Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20). Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de compaixão: Filho, por que queres te perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos pedimos: Reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.
Se, mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo 6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc 1,3). Ao ímpio que se arrepende promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele” (Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde, debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta à palavra dada”.
Não. O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl 50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que  se faz mais festa no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos no amor a Deus do que os tíbios inocentes.


 
É tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores, quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por isso escreve São Tiago: “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência, da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18, Vulgata). E dizia também: Por causa de teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.
Isaías dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou Zacarias: “Pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc 1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu, antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não ficássemos perdidos.
Para se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho: “Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”? Assim diz Deus a cada um de nós.
Vendo nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz pelo profeta Isaías: “ Ele te fará misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).
“És pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6). Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20). Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de compaixão: Filho, por que queres te perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos pedimos: Reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.
Se, mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo 6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc 1,3). Ao ímpio que se arrepende promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele” (Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde, debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta à palavra dada”.
Não. O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl 50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que  se faz mais festa no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos no amor a Deus do que os tíbios inocentes.


Uma estrada de salvação – Santo Afonso de Ligório.




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