É
tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo
Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em
recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma
levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem
um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes
de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas
misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está
cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores,
quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e
pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por
isso escreve São Tiago: “A misericórdia
triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência,
da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o
perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18,
Vulgata). E dizia também: Por causa de
teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso
nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.
Isaías
dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela
lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua
grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se
homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou
Zacarias: “Pelas entranhas da
misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc
1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma
misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu,
antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não
ficássemos perdidos.
Para
se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo
de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho:
“Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que
mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”?
Assim diz Deus a cada um de nós.
Vendo
nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se
queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra
tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a
ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham
razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz
pelo profeta Isaías: “ Ele te fará
misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).
“És
pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do
que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu
pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua
graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E
lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para
que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6).
Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20).
Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que
havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de
compaixão: Filho, por que queres te
perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar
para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos
pedimos: Reconciliai-vos com Deus!”
(2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O
próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.
Se,
mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor
fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo
6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc
1,3). Ao ímpio que se arrepende
promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá
com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele”
(Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde,
debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão
brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde
a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta
à palavra dada”.
Não.
O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl
50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha
perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de
regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que se faz mais festa no céu por um pecador que
se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São
Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos
no amor a Deus do que os tíbios inocentes.
É
tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo
Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em
recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma
levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem
um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes
de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas
misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está
cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores,
quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e
pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por
isso escreve São Tiago: “A misericórdia
triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência,
da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o
perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18,
Vulgata). E dizia também: Por causa de
teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso
nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.
Isaías
dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela
lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua
grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se
homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou
Zacarias: “Pelas entranhas da
misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc
1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma
misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu,
antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não
ficássemos perdidos.
Para
se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo
de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho:
“Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que
mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”?
Assim diz Deus a cada um de nós.
Vendo
nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se
queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra
tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a
ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham
razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz
pelo profeta Isaías: “ Ele te fará
misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).
“És
pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do
que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu
pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua
graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E
lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para
que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6).
Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20).
Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que
havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de
compaixão: Filho, por que queres te
perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar
para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos
pedimos: Reconciliai-vos com Deus!”
(2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O
próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.
Se,
mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor
fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo
6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc
1,3). Ao ímpio que se arrepende
promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá
com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele”
(Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde,
debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão
brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde
a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta
à palavra dada”.
Não.
O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl
50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha
perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de
regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que se faz mais festa no céu por um pecador que
se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São
Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos
no amor a Deus do que os tíbios inocentes.
É
tão grande o desejo de Deus em nos distribuir suas graças que ( como diz Santo
Agostinho) ele tem muito mais vontade de nos dispensá-las do que nós em
recebê-las. Isto porque, como dizem os filósofos, a bondade é, por si mesma
levada a difundir-se em benefício dos outros. Deus, sendo bondade infinita, tem
um infinito desejo de comunicar-se com suas criaturas e fazer-nos participantes
de seus bens. Daí nasce a grande misericórdia que o Senhor tem de nossas
misérias. Dizia Davi que a terra está cheia da misericórdia divina. Não está
cheia da justiça divina, porque Deus só a exerce, punindo os malfeitores,
quando convém e quando quase contrito a usá-la. Pelo contrário, ele é fácil e
pródigo em usar de sua misericórdia para com todos e em todos os tempos. Por
isso escreve São Tiago: “A misericórdia
triunfa sobre o juízo” (Tg 2, 13). A misericórdia arrebata, com frequência,
da mão da justiça os castigos preparados para os pecadores e lhes obtém o
perdão. Assim o profeta chamava a Deus com o nome de misericórdia: “Meu Deus, minha misericórdia” Sl 58,18,
Vulgata). E dizia também: Por causa de
teu nome, Senhor, perdoa minha culpa, que é grave” (Sl 24,11). Pelo vosso
nome perdoai-me, Senhor, vós que sois a própria misericórdia.
Isaías
dizia que o castigo não é obra conforme o coração de Deus; em certo sentido ela
lhe é estranha e não de acordo com sua inclinação (cf Is 28,21, Vulgata). Sua
grande misericórdia levou-o a enviar seu próprio Filho ao mundo, a fazer-se
homem e a morrer numa cruz para nos libertar da morte eterna. Por isso cantou
Zacarias: “Pelas entranhas da
misericórdia de nosso Deus pela qual nos visitou, nascendo do Alto” (Lc
1,78, Vulgata). Pela expressão “entranhas da misericórdia” deve-se entender uma
misericórdia que procede do mais profundo do coração de Deus. Ele preferiu,
antes, que seu Filho feito homem morresse o mais depressa possível para que não
ficássemos perdidos.
Para
se compreender quanto sejam grandes a piedade de Deus para conosco e seu desejo
de nos fazer o bem, basta ler aquelas poucas palavras que ele diz no Evangelho:
“Pedi e será dado” (Mt 7,7). O que
mais pode um amigo dizer a seu amigo, para demonstrar-lhe seu afeto, senão “peça-me aquilo que quiser e lho darei”?
Assim diz Deus a cada um de nós.
Vendo
nossa miséria, convida-nos a irmos até ele e promete aliviar-nos: “Vinde a mim todos nós, fatigados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Aos hebreus, que, se
queixavam de Deus e não queriam mais pedir-lhe graças, respondeu-lhe Jeremias: “Sou eu um deserto para Israel ou uma terra
tenebrosa? Por que o povo diz: Queremos errar livremente, não voltaremos mais a
ti?” (Jr 2,21). Com isso Deus mostrava aos hebreus que eles não tinham
razão, pois ele sempre e imediatamente consola quem a ele recorre, como nos diz
pelo profeta Isaías: “ Ele te fará
misericórdia logo que gritares, ao ouvir-te, ele responderá”(Is 30,19).
“És
pecador e queres o perdão? Não duvides, diz são João Crisóstomo, que Deus tem mais desejo de te perdoar do
que tu de seres perdoado”. Se, pois, Deus vê alguém obstinado em seu
pecado, ele o espera para usar de misericórdia para com ele: “O Senhor espera o momento de vos mostrar sua
graça, ele se levanta para manifestar-vos a sua misericórdia” (Is 30,18). E
lhe mostra também o castigo que lhe espera, a fim de que se emende: “ Mas deste um sinal aos que te temem, para
que fugissem diante do arco. Para que se salvem teus prediletos”(Sl 59,6).
Agora ele se põe a bater à porta do seu coração para que abra: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20).
Ou lhe vai atrás, dizendo: “Por que
havereis de morrer, casa de Israel?” (Ez 18,31). Como te disse, movido de
compaixão: Filho, por que queres te
perder? Escreve Dionísio Areopagita que Deus chega até mesmo a suplicar
para que não se perca. Assim também o apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo vos
pedimos: Reconciliai-vos com Deus!”
(2 Cor 5,20). São João Crisóstomo comenta: “O
próprio Cristo vos pede, mas o quê? Reconciliai-vos com Deus”.
Se,
mesmo assim, alguns querem seguir como obstinados, o que mais pode o Senhor
fazer? Ele faz saber a todos que não rejeitará aquele que a ele se converte: “Quem vem a mim não jogarei fora” (Jo
6,37). Ele está disposto a abraçar a todo aquele que a ele se converte: “Retornai a mim e eu retornarei a vós” (Zc
1,3). Ao ímpio que se arrepende
promete perdoar e esquecer-se de seus pecados: “ Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados cometidos... viverá
com certeza e não morrerá. Nenhum dos crimes cometidos será lembrado contra ele”
(Ex 18,21-22). Chega mesmo a dizer: “Vinde,
debatamos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão
brancos como a neve” (Is 1,18). Ele diz “debatamos”, como se dissesse “vinde
a mim arrependidos e, se eu não vos abraçar, proclamai-me como aquele que falta
à palavra dada”.
Não.
O Senhor não sabe desprezar um coração contrito: “Um coração contrito e humilhado tu, ó Deus, não rejeitas” (Sl
50,19). Lê-se em são Lucas que ele abraçou, com grande alegria, a ovelha
perdida (cf. Lc 15,5). E com que amor acolheu o filho extraviado, quando de
regresso a casa (Lc 15,20). Neste mesmo texto Jesus diz que se faz mais festa no céu por um pecador que
se arrepende do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). A razão disto, diz São
Gregório, é que os pecadores compungidos em geral costumam ser mais fervorosos
no amor a Deus do que os tíbios inocentes.
Uma estrada de
salvação – Santo Afonso de Ligório.
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