domingo, 2 de agosto de 2015

O pensamento da eternidade





Santo Agostinho dizia que o pensamento da eternidade é o grande pensamento. Ele levou os santos a pensar que todos os tesouros e grandezas desta terra não eram senão palha, lama, fumaça e esterco. Fez também com que muitos anacoretas adentrassem pelos desertos e grutas e tantos jovens se fechassem num claustro. Ele deu coragem a tantos mártires para suportar tantas formas de martírio e até a morte pelo fogo.

Deus não nos criou para este mundo, mas para que, com nossas boas obras, mereçamos a vida eterna: “tendes por fruto a santidade e, por fim, a vida eterna” (Rm 6,22). Por isso, dizia santo Euquério, nossa única preocupação neste mundo é a eternidade, isto é, ganhar a eternidade feliz e evitar a infeliz: aquilo por que lutamos é a vida eterna. Se assegurarmos isso, seremos sempre felizes; se deixarmos perder, sempre infelizes.

Feliz é quem vive sempre à luz da eternidade, com viva fé de que, em breve, há de morrer e nela entrar! O justo vive da fé (Gl 3,11). A fé é o que faz com que os justos vivam na graça de Deus e o que dá vida às almas, desprendendo-se dos afetos terrenos e recordando-lhes os bens eternos que Deus propõe àqueles que o amam.

Dizia Santa Teresa que todos os pecados têm sua origem na falta de fé. Por isso para vencer as paixões e as tentações é preciso que sempre reavivemos a fé, dizendo: creio na vida eterna, creio que após esta vida, que logo passará, existe a vida eterna, repleta de alegria ou de sofrimento, de acordo com nossos méritos ou deméritos.

Santo Agostinho dizia que quem crê na eternidade e não se converte a Deus perdeu o juízo ou a fé: “Ó eternidade (são palavras suas), quem em ti pensa e não se arrepende ou não tem fé ou, se a tem, não tem coração”. A este respeito conta são João Crisóstomo que os pagãos, quando viam os cristãos caírem em pecado, chamavam-nos de mentirosos ou de loucos: se vós (diziam eles) não credes naquilo que dizem crer, sois mentirosos; se, no entanto, credes na eternidade e pecais, sois loucos. Ai dos pecadores (exclama são Cesário) que entram na eternidade, desconhecendo-a, por não terem querido pensar nela. E depois acrescenta: Miseráveis! A estes a porta do inferno se abre só para entrarem, não para saírem.

Santa Teresa dizia às suas discípulas: Filhas, uma alma, uma eternidade! Queria dizer: Filhas, temos uma única alma; perdida esta, tudo perdido. Em síntese, daquele último suspiro, na hora da morte, depende sermos para sempre felizes ou infelizes eternamente. Se a eternidade da outra vida, o paraíso, o inferno fossem meras opiniões dos sábios e coisas duvidosas, mesmo assim deveríamos ter todo o cuidado para viver bem e não nos colocarmos em perigo de perder a alma para sempre; não são, porém, coisas duvidosas, mas certas, coisas de fé, muito mais certas do que o que vemos da carne.

Peçamos, portanto, ao Senhor que aumente nossa fé: Senhor aumentai nossa fé! Porque, se não fomos fortes na fé, nós nos tornaremos piores que Lutero e Calvino. Ao contrário, um pensamento com fé viva sobre a eternidade não se orgulham nas coisas prósperas e nem se abatem nas coisas adversas, pois, nada desejando deste mundo, nada temem.

Quando nos toca sofrer alguma enfermidade ou perseguição, recordemo-nos do inferno que, com nossas culpas, temos merecido. Assim fazendo, toda cruz parecerá leve e agradeceremos ao Senhor, dizendo: “Devido à misericórdia do Senhor não fomos consumidos (Lm 3,22). Digamos com Davi: se Deus não tivesse tido piedade de mim, já me encontraria no inferno desde aquele primeiro momento em que o ofendi com o pecado grave: “Se o Senhor não tivesse me auxiliado, eu já habitaria no silêncio” (Sl 93,17). Eu, por mim mesmo, já estava perdido: ó Deus de misericórdia, fostes vós que me estendestes a mão e me tirastes para fora do inferno: “Preservastes minha vida da fossa da destruição” (Is 38,17).

 
Uma estrada de salvação – Santo Afonso de Ligório.


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