Santo
Agostinho dizia que o pensamento da eternidade é o grande pensamento. Ele levou
os santos a pensar que todos os tesouros e grandezas desta terra não eram senão
palha, lama, fumaça e esterco. Fez também com que muitos anacoretas adentrassem
pelos desertos e grutas e tantos jovens se fechassem num claustro. Ele deu
coragem a tantos mártires para suportar tantas formas de martírio e até a morte
pelo fogo.
Deus não nos criou para
este mundo, mas para que, com nossas boas obras, mereçamos a vida eterna: “tendes
por fruto a santidade e, por fim, a vida eterna” (Rm 6,22). Por isso, dizia
santo Euquério, nossa única preocupação
neste mundo é a eternidade, isto é, ganhar a eternidade feliz e evitar a
infeliz: aquilo por que lutamos é a
vida eterna. Se assegurarmos isso, seremos sempre felizes; se deixarmos
perder, sempre infelizes.
Feliz
é quem vive sempre à luz da eternidade, com viva fé de que, em breve, há de
morrer e nela entrar! O justo vive da fé
(Gl 3,11). A fé é o que faz com que os justos vivam na graça de Deus e o que dá
vida às almas, desprendendo-se dos afetos terrenos e recordando-lhes os bens
eternos que Deus propõe àqueles que o amam.
Dizia
Santa Teresa que todos os pecados têm sua origem na falta de fé. Por isso para
vencer as paixões e as tentações é preciso que sempre reavivemos a fé, dizendo:
creio na vida eterna, creio que após
esta vida, que logo passará, existe a vida eterna, repleta de alegria ou de
sofrimento, de acordo com nossos méritos ou deméritos.
Santo
Agostinho dizia que quem crê na eternidade e não se converte a Deus perdeu o
juízo ou a fé: “Ó eternidade (são
palavras suas), quem em ti pensa e não se
arrepende ou não tem fé ou, se a tem, não tem coração”. A este respeito
conta são João Crisóstomo que os pagãos, quando viam os cristãos caírem em
pecado, chamavam-nos de mentirosos ou de loucos: se vós (diziam eles) não
credes naquilo que dizem crer, sois mentirosos; se, no entanto, credes na
eternidade e pecais, sois loucos. Ai dos
pecadores (exclama são Cesário) que entram na eternidade, desconhecendo-a, por
não terem querido pensar nela. E depois acrescenta: Miseráveis! A estes a porta do inferno se abre só para
entrarem, não para saírem.
Santa
Teresa dizia às suas discípulas: Filhas,
uma alma, uma eternidade! Queria dizer: Filhas, temos uma única alma;
perdida esta, tudo perdido. Em síntese, daquele último suspiro, na hora da
morte, depende sermos para sempre felizes ou infelizes eternamente. Se a eternidade
da outra vida, o paraíso, o inferno fossem meras opiniões dos sábios e coisas
duvidosas, mesmo assim deveríamos ter todo o cuidado para viver bem e não nos
colocarmos em perigo de perder a alma para sempre; não são, porém, coisas
duvidosas, mas certas, coisas de fé, muito mais certas do que o que vemos da
carne.
Peçamos,
portanto, ao Senhor que aumente nossa fé: Senhor
aumentai nossa fé! Porque, se não fomos fortes na fé, nós nos tornaremos
piores que Lutero e Calvino. Ao contrário, um pensamento com fé viva sobre a
eternidade não se orgulham nas coisas prósperas e nem se abatem nas coisas
adversas, pois, nada desejando deste mundo, nada temem.
Quando
nos toca sofrer alguma enfermidade ou perseguição, recordemo-nos do inferno
que, com nossas culpas, temos merecido. Assim fazendo, toda cruz parecerá leve
e agradeceremos ao Senhor, dizendo: “Devido
à misericórdia do Senhor não fomos consumidos (Lm 3,22). Digamos com Davi:
se Deus não tivesse tido piedade de mim, já me encontraria no inferno desde
aquele primeiro momento em que o ofendi com o pecado grave: “Se o Senhor não tivesse me auxiliado, eu já
habitaria no silêncio” (Sl 93,17). Eu, por mim mesmo, já estava perdido: ó
Deus de misericórdia, fostes vós que me estendestes a mão e me tirastes para
fora do inferno: “Preservastes minha vida
da fossa da destruição” (Is 38,17).
Uma estrada de salvação –
Santo Afonso de Ligório.
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