terça-feira, 29 de setembro de 2015

O exemplo tem força

A correção deve começar por quem a defende. São Gregório Magno ensina que os sacerdotes e bispos são aqueles que sustentam os vasos sagrados. Primeiramente, os vasos materiais, a patena, o cálice e as âmbulas, usando-os na Santa Missa e apresentando a Deus a Vítima do Santo Sacrifício por meio desses vasos. Mas, de modo espiritual e mais importante, esses vasos sagrados são os fiéis que lhe são confiados e que são sustentados com a doutrina, a oração e os sacrifícios.

Hoje falta muito de doutrina, muito de oração, muito de exemplo. E mais mal fazem as más obras do que o bem feito pelas boas palavras. O que São João Batista pedia era que as pessoas reformassem o estilo de vida que tinham. Pois nele, antes, tudo era já reformado: seus vestidos, seu comer, seu aspecto, sua habitação.
 
O bom exemplo afasta os maus dos bons, e protege os bons da companhia dos maus. São Romualdo tinha tanta modéstia e as virtudes brilhavam tanto nele que uma vez um marquês de vida ruim e sem pudor disse: "Nem o imperador nem ninguém me dá medo. A única coisa que me dá medo é o aspecto de Romualdo, porque diante dele não sei o que dizer, nem encontro algo para me justificar". Quanto mais alguém está longe da virtude, mais treme diante de um santo e de seu bom exemplo, porque os opostos, um diante do outro, aparecem mais claramente. E o vício só tem cara para aparecer onde não é estranhado. Assim foram os irmãos de José com ele, foi o faraó com Moisés, Acab com Elias, Ezequias e Isaías, Nabucodonosor com Daniel, Constantino com Santo Antão, Arcádio e São João Crisóstomo, Constâncio e Santo Atanásio. Os santos são retratos de Cristo feitos com o pincel da graça e só não vê beleza nesses quadros quem não tem luz. Se ficamos incomodados com esses retratos de Cristo agora, que pavor teremos quando Ele nos julgar pessoalmente na morte e vier pessoalmente julgar o mundo inteiro? Por este mesmo motivo é que os rapazes sem virtude afastam de si mesmos quem seria boa esposa, e as moças sem modéstia afastam de si bons partidos e atraem os rapazes que, mais tarde, lhes darão tristezas.

O exemplo tem muita força por muitos motivos. Primeiro, como diz Aristóteles, cada homem é mais inclinado a seguir o bem em particular e concreto, do que um bem geral e abstrato; e o bem mostrado com exemplo é mais concreto do que o bem ensinado. Depois, segundo Sêneca, porque o bom exemplo é testemunha de que o que foi ensinado é realmente capaz de ganhar existência. E assim, conheço quem começou a ter muitos filhos e parou de evitá-los quando viu uma família numerosa, o que o fez compreender imediatamente que é possível (e por isso, quem quer evitar filhos e ter vida fácil tem muito ódio de quem não os evita). Em terceiro lugar, porque a palavra que louva a boa obra é efeito da obra boa, que e causa produtora dos louvores, e a causa tem sempre mais força do que o efeito. Em quarto lugar, porque a inteligência compreende mais facilmente o que é simples e uno, e tem dificuldade de compreender o que é longo e complicado. Ora, no bom exemplo a inteligência vê, na simplicidade de uma só ação, o que as palavras ensinam com muitos raciocínios. Em quinto lugar, porque as ações virtuosas têm beleza, por terem integridade nas partes que as compõem, harmonia entre essas partes e tudo isso brilha aos olhos da inteligência de quem as vê, que fica admirada e atraída; e de uma maior admiração da inteligência segue um maior impulso na vontade em fazer o que se admira. Em sexto lugar, porque os homens naturalmente copiam os outros, e se inclinam a fazer o que vêm. Finalmente, porque a virtude sempre arranca louvores e elogios, mesmo de quem não a pratica, e os bons frutos produzidos pelas boas obras sempre são gratificantes.

Na sua Ética, Aristóteles diz que "tem bom senso aquele que recebe os bons conselhos que lhe dão; mas aquele que não sabe refletir por si mesmo, nem recebe em seu coração as lições dos outros, este homem não serve para nada". Assim, quem deseja se conhecer a si mesmo com luz verdadeira, coloque os olhos sobre quem dá mais bom exemplo e mostra ter mais virtude, para que a beleza deles o informe fielmente da feiura que tem, e veja como fazer o bem.




Fonte: IBP-SP - Sermão do XVI domingo depois de Pentecostes


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