quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A cura do corpo e da alma


Jesus entrou num barco e atravessou sobre a água até chegar na sua cidade. Por que Jesus teria entrado num barco se Ele não é o mesmo quem dividiu as águas para o povo eleito atravessar o mar e também quem fez Pedro andar sobre as águas como se andasse sobre terra sólida? Jesus não faz isso, mas Ele entra no barco para se assemelhar conosco em nossas fraquezas. Ele se fez fraco para nos fazer fortes. Ele foi humilhado para nos dar honra. Ele se fez pobre para nos fazer ricos, na graça, como diz a epístola de hoje: somos ricos em Cristo, isto é, a verdadeira riqueza consiste em estar em estado de graça, e não em obter coisas que são obstáculos a essa mesma graça. Enfim, Ele se fez homem, para nos aproximar de Deus.

Em seguida, Jesus encontra um paralítico de quem Ele perdoa os pecados. Jesus cura primeiro a doença da alma, pois é mais importante que a doença do corpo. E aqui São Pedro Crisólogo faz uma boa consideração: notemos que após receber o perdão dos pecados o paralítico não demonstra gratidão, nem fala coisa alguma, ele estaria mais ansioso em ser curado do corpo do que ser liberto da doença da alma e da consequente condenação eterna. Quantos não acabam indo para a confissão apenas para buscar um alívio psicológico ou alguma consolação sensível e esquecem de agradecer a Cristo pelo enorme bem da remissão dos pecados? Quantos de fato terminam a confissão dizendo “obrigado, padre”, não mecanicamente, mas de coração?


Cristo, como um bom médico, não dá importância para os desejos do paciente, que muitas vezes desejam coisas que lhe são prejudiciais, mas sim para o bem objetivo do paciente e, por isso, dá prioridade em curar a alma do paralítico ao invés de satisfazer seu desejo de poder sair da paralisia. Cristo age assim constantemente conosco, colocando a prioridade do bem de nossas almas acima dos nossos caprichos que pedimos a Ele. Vemos isso nos eventos que ocorrem em nossas vidas que não são aleatórios, mas permitidos por Deus. Devemos sempre vê-los como atos de misericórdia conosco, pois Deus, por definição, é sumamente bom e amável. Se algo de bom ocorre conosco, devemos agradecê-Lo, pois não merecemos tal bem. Se algo de ruim ocorre, também devemos agradecê-Lo, como fez o santo Jó: “o Senhor o deu, o Senhor o tirou, como foi do agrado do Senhor, assim sucedeu; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1, 21). Na realidade, o único verdadeiro mal que deve nos preocupar e nos deixar triste, não com uma tristeza que paralisa, mas que nos motiva a buscar o bem, é o mal do pecado. Se estamos em estado de graça, o que importa o resto?

E Jesus, ao mostrar a todos que além de perdoar os pecados é capaz de curar os paralíticos, causa estupor em todos, principalmente nos fariseus que se diziam: “só Deus pode perdoar os pecados!” É isso mesmo, apenas Deus pode perdoar os pecados! Vejam que os fariseus não são ignorantes, e o pecado de malícia é manifesto, pois vendo Jesus perdoar os pecados, ao invés de O reconhecerem como Deus, negam exatamente isso. Eles viram o milagre, mas endureceram o próprio coração. São João Batista já os tinha alertado antes que Cristo era o Cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). E notem que Jesus faz três milagres aqui: curou o paralítico, perdoou seus pecados e explicitou os pensamentos escondidos dos fariseus. E os fariseus não perceberam esse último milagre, que apenas eles sabiam ser verdade? O que falta para os fariseus é a iniciativa própria e interna para acreditar em Jesus, pois da parte externa não lhe faltavam meios disponíveis para acreditar prudente e facilmente. E aqui fica patente a verdade expressa por Santo Agostinho: “Deus, que nos criou sem nós, não quis salvar-nos sem nós” (Sermão 169, 11, 13: PL 38, 923). Tudo pode facilitar nossa verdadeira conversão a Cristo, mas se não dermos o nosso passo, não seremos salvos por Cristo.

Assim, aceitando os desígnios de Deus em nossas vidas, reconhecendo Cristo como Deus e Salvador nosso, pois fez abundantes milagres provando isso, vivendo a vida com Cristo, podemos, então, coerentemente imitá-lo, curando os nossos próximos de suas doenças espirituais, sobretudo a cegueira intelectual atual, que nega o Sol ao meio-dia. Se o nosso próximo continua a negar o Sol, que é Cristo, apesar das reiteradas provas e explicações, lembremo-nos dos fariseus que tinham tudo para acreditar e não acreditaram. Podemos ajudar a salvar o nosso próximo, mas não força-lo a isso. Sempre há a opção de rezar para que mudem o coração, todavia, além disso, resta apenas Deus e a escolha pessoal de cada um.

Que o Espírito Santo, conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, “ilumine os que estão nas trevas e na sombra da morte, (bem como) para dirigir os nossos passos no caminho da paz” (Lc 1, 79).Jesus entrou num barco e atravessou sobre a água até chegar na sua cidade. Por que Jesus teria entrado num barco se Ele não é o mesmo quem dividiu as águas para o povo eleito atravessar o mar e também quem fez Pedro andar sobre as águas como se andasse sobre terra sólida? Jesus não faz isso, mas Ele entra no barco para se assemelhar conosco em nossas fraquezas. Ele se fez fraco para nos fazer fortes. Ele foi humilhado para nos dar honra. Ele se fez pobre para nos fazer ricos, na graça, como diz a epístola de hoje: somos ricos em Cristo, isto é, a verdadeira riqueza consiste em estar em estado de graça, e não em obter coisas que são obstáculos a essa mesma graça. Enfim, Ele se fez homem, para nos aproximar de Deus.

Em seguida, Jesus encontra um paralítico de quem Ele perdoa os pecados. Jesus cura primeiro a doença da alma, pois é mais importante que a doença do corpo. E aqui São Pedro Crisólogo faz uma boa consideração: notemos que após receber o perdão dos pecados o paralítico não demonstra gratidão, nem fala coisa alguma, ele estaria mais ansioso em ser curado do corpo do que ser liberto da doença da alma e da consequente condenação eterna. Quantos não acabam indo para a confissão apenas para buscar um alívio psicológico ou alguma consolação sensível e esquecem de agradecer a Cristo pelo enorme bem da remissão dos pecados? Quantos de fato terminam a confissão dizendo “obrigado, padre”, não mecanicamente, mas de coração?

Cristo, como um bom médico, não dá importância para os desejos do paciente, que muitas vezes desejam coisas que lhe são prejudiciais, mas sim para o bem objetivo do paciente e, por isso, dá prioridade em curar a alma do paralítico ao invés de satisfazer seu desejo de poder sair da paralisia. Cristo age assim constantemente conosco, colocando a prioridade do bem de nossas almas acima dos nossos caprichos que pedimos a Ele. Vemos isso nos eventos que ocorrem em nossas vidas que não são aleatórios, mas permitidos por Deus. Devemos sempre vê-los como atos de misericórdia conosco, pois Deus, por definição, é sumamente bom e amável. Se algo de bom ocorre conosco, devemos agradecê-Lo, pois não merecemos tal bem. Se algo de ruim ocorre, também devemos agradecê-Lo, como fez o santo Jó: “o Senhor o deu, o Senhor o tirou, como foi do agrado do Senhor, assim sucedeu; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1, 21). Na realidade, o único verdadeiro mal que deve nos preocupar e nos deixar triste, não com uma tristeza que paralisa, mas que nos motiva a buscar o bem, é o mal do pecado. Se estamos em estado de graça, o que importa o resto?

E Jesus, ao mostrar a todos que além de perdoar os pecados é capaz de curar os paralíticos, causa estupor em todos, principalmente nos fariseus que se diziam: “só Deus pode perdoar os pecados!” É isso mesmo, apenas Deus pode perdoar os pecados! Vejam que os fariseus não são ignorantes, e o pecado de malícia é manifesto, pois vendo Jesus perdoar os pecados, ao invés de O reconhecerem como Deus, negam exatamente isso. Eles viram o milagre, mas endureceram o próprio coração. São João Batista já os tinha alertado antes que Cristo era o Cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). E notem que Jesus faz três milagres aqui: curou o paralítico, perdoou seus pecados e explicitou os pensamentos escondidos dos fariseus. E os fariseus não perceberam esse último milagre, que apenas eles sabiam ser verdade? O que falta para os fariseus é a iniciativa própria e interna para acreditar em Jesus, pois da parte externa não lhe faltavam meios disponíveis para acreditar prudente e facilmente. E aqui fica patente a verdade expressa por Santo Agostinho: “Deus, que nos criou sem nós, não quis salvar-nos sem nós” (Sermão 169, 11, 13: PL 38, 923). Tudo pode facilitar nossa verdadeira conversão a Cristo, mas se não dermos o nosso passo, não seremos salvos por Cristo.

Assim, aceitando os desígnios de Deus em nossas vidas, reconhecendo Cristo como Deus e Salvador nosso, pois fez abundantes milagres provando isso, vivendo a vida com Cristo, podemos, então, coerentemente imitá-lo, curando os nossos próximos de suas doenças espirituais, sobretudo a cegueira intelectual atual, que nega o Sol ao meio-dia. Se o nosso próximo continua a negar o Sol, que é Cristo, apesar das reiteradas provas e explicações, lembremo-nos dos fariseus que tinham tudo para acreditar e não acreditaram. Podemos ajudar a salvar o nosso próximo, mas não força-lo a isso. Sempre há a opção de rezar para que mudem o coração, todavia, além disso, resta apenas Deus e a escolha pessoal de cada um.

Que o Espírito Santo, conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, “ilumine os que estão nas trevas e na sombra da morte, (bem como) para dirigir os nossos passos no caminho da paz” (Lc 1, 79).


Fonte: IBP-SP - Sermão do XVIII Domingo depois de Pentecostes.

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