Capítulo do Livro Fiançailles Chrétiennes (1956), do Padre François Dantec.
Alguns conselhos práticos ou os principais meios de guardar a castidade durante o noivado
Os noivos devem saber que a castidade nem sempre é fácil durante o noivado, sobretudo quando este é demasiadamente prolongado. Todavia, eles devem também estar convencidos de que esta castidade lhes será sempre possível, com a ajuda da graça de Deu, com a qual eles poderão sempre contar.
Para guardar a castidade durante todo o noivado, lhes será preciso cumprir certas condições e pôr em prática certos meios sem os quais eles só poderiam chegar a lamentáveis fracassos.
As condições necessárias.
Antes de mais nada, eles devem ambos ter o sentido da, a estima e o amor pela castidade. E devem saber, ainda, que Deus nunca pede o impossível… e que, a todas as almas sinceras e que rezam, Ele dá a força de realizar o que Ele ordena.
Porém, por causa da força dos impulsos carnais, a virtude da castidade só pode ser mantida sob uma dupla condição: primeiramente uma atitude de esforço e de luta; em seguida - e sobretudo – uma vida sobrenatural intensa alimentada pela oração e pela recepção frequente da Penitência e da Eucaristia.
Um esforço pessoal.
O esforço será primeiramente pessoal e deverá portar não somente sobre o domínio do instinto sexual e sobre a virtude da castidade, mas também em todos os planos e sobre todas as virtudes. Em particular, será preciso dar ao espírito de sacrifício e de mortificação o lugar que lhe é sempre devido numa vida seriamente cristã.
Um esforço em conjunto.
A este esforço pessoal deverá se juntar um esforço conjunto, especialmente por ocasião dos encontros. Os noivos devem não somente evitar tudo o que constitui uma falta contra a castidade, mas eles devem guardar entre eles, sempre e onde quer que estejam, uma certa reserva, uma certa modéstia, um verdadeiro pudor que os preservará de muitas tentações e de muitas dificuldades.
Eles deverão mostrar uma verdadeira simplicidade ou franqueza mútua no combate pela castidade. Que cada um diga com clareza ao outro aquilo que constitui para ele (da parte do outro) uma ocasião de tentação e de dificuldade. A experiência mostra que esta simplicidade mútua – que infelizmente é rara – é para os noivos uma ajuda muito importante para a salvaguarda da pureza.
A noiva, guardiã da castidade.
Neste esforço em comum dos noivos para garantir o domínio sobre suas sensibilidades, a moça deve saber que ela tem o papel principal. Assim como ela pode causar tentações, fraquezas e quedas para seu noivo, mostrando-se imprudente, imodesta e provocante, ela pode também ajudá-lo e dar-lhe apoio, se ela souber ser o que ela deve ser. Lembrando-se do que dissemos acima sobre as diferenças consideráveis que separam o homem e a mulher no campo da excitabilidade sexual, a noiva sempre deverá considerar-se como a guardiã e a principal responsável da castidade do noivado. Longe de querer ser para seu noivo uma fonte de tentações e provocações inconsideradas, ela desejará ser para ele uma companheira delicada com a qual ele poderá contar sempre em todas as ocasiões e à qual ele será sempre muito grato pelo auxílio que ela lhe terá prestado no rude combate da pureza.
Indicações práticas para os encontros
Em toda a medida do possível, os noivos não devem se isolar num lugar onde eles não possam ser surpreendidos de um momento para outro.
Além disso, nunca se desaconselharia demasiado aos noivos cristãos os divertimentos (bailes, teatros, cinema) que arriscam provocar em demasia os sentidos e tornar muito mais difícil o combate pela pureza.
Da mesma forma, eles evitarão as viagens, os passeios prolongados, sobretudo se eles fossem fazê-lo sozinhos.
É preciso também recusar um costume que tende a se espalhar em certos meios cristãos: a estada dos noivos sob o mesmo teto. Práticas como esta são extremamente perigosas (a experiência o prova), e devemos rejeitá-las em nome da prudência cristã[1].
No que diz respeito à frequência e à duração dos encontros, não é possível dar regras precisas que seriam válidas para todos.
Se um ou outro tiver, por causa dos encontros muito frequentes, certas tentações excepcionais ou certo enfraquecimento de suas forças morais e espirituais, isso seria um sinal que deveria fazer os noivos espaçarem mais os encontros[2].
Os encontros solitários e prolongados, sobretudo à noite, são desaconselhados.
O melhor lugar para o encontro é, geralmente, o meio familiar. Não somente por que neste ambiente o risco de exposição às tentações vindas de certas imprudências é menor, mas também porque no meio familiar aprenderão a se conhecer melhor, observando o comportamento do outro em relação aos seus…
“Desconfiemos daqueles que, sob o pretexto de uma maior intimidade, querem esquivar-se do olhar dos parentes e que se sentem bem somente quando estão afastados daqueles que mais poderiam protegê-los. Se um rapaz ama verdadeiramente uma moça, ele facilmente aceitará vê-la em seu ambiente natural, onde ele poderá conhecê-la melhor.”
“Quanto às frequentações habituais em restaurantes, na rua, em parques públicos, no automóvel, ou, o que é ainda mais deplorável, no quarto, não se poderia tolerá-las. Trata-se de ocasiões próximas demais de pecado para serem aceitas por pessoas sérias.”
“Se eles não podem se encontrar sem estar de fato expostos a uma ocasião próxima de pecado, é preciso que eles façam todos os sacrifícios necessários para salvar, antes de tudo, suas almas”[3].
Com o fim de não se expor a tentações violentas (e inúteis), os noivos evitarão entre eles todas as familiaridades e as atitudes particularmente perigosas: desta forma, eles não devem nunca se deitar um perto do outro nem se sentar no colo um do outro.[4] (Ler a nota do tradutor)
Enfim, talvez não seja inútil apontar que é nos momentos da despedida que eles deverão ser particularmente vigilantes e reservados, pois é então que a tentação se mostra em geral mais forte.
Como regra geral, saibam os noivos que a castidade se torna mais e mais difícil na medida em que o noivado se prolonga e na medida em que eles se aproximam do casamento.
Este será, portanto, um motivo a mais para “vigiar e orar” com maior fervor. Talvez seja então o momento de fazer encontros menos frequentes e mais reservados.
Em meio às suas dificuldades e lutas, os noivos hão de invocar a Santíssima Virgem Maria: não é Ela a Mãe da Pureza e a Mãe do belo amor?… Eles recorrerão juntos a Ela, quando se encontrarem, e também separadamente.
Eles serão mais do que nunca fiéis à prática regular da confissão. Juntos ou separadamente (de acordo com as circunstâncias), eles deverão buscar com frequência, na Santíssima Eucaristia, as energias sobrenaturais que em vão se buscaria obter longe dela.
É desta forma que eles alcançarão de Deus o suplemento de força para permanecerem sempre puros.
Conclusão da exposição sobre a castidade no noivado
Tais são as regras que regem a castidade no noivado cristão.
Elas podem parecer severas. De fato, elas o são, sobretudo se as comparamos com a devassidão desavergonhada dos costumes de nosso tempo.
No entanto, esta severidade é tão somente a expressão da prudência, e da prudência mais elementar.
E se todos os noivos tivessem a sabedoria de observá-las, eles evitariam um grande número de tentações, tribulações e quedas, de pecados e de misérias, que infelizmente somos levados a constatar e deplorar em muitos e muitos casos.
Mais ainda, todos aqueles que aceitarem conformar sua conduta a essas regras, encontrarão aí recompensas inestimáveis: eles verão crescer entre eles o amor juntamente com o respeito, a estima e a confiança. Eles terão um pelo outro uma profunda admiração e gozarão juntos das alegrias tão puras e tão altas que o combate vitorioso da pureza traz a todas as almas de bem.
Enfim, tudo isso atrairá sobre suas almas graças preciosas no presente e no futuro.
E, um dia, eles descobrirão que nada terá contribuído tanto à edificação de seu amor cristão quanto a luta travada em conjunto, com a graça de Deus, pelo respeito absoluto da castidade durante o noivado[5].
[1] A respeito disso, devemos aprovar as sensatas observações que seguem, dirigidas aos pais: “Os pais não podem tolerar, sem incorrer a mais grave responsabilidade moral, que os noivos partam em férias a sós, ou estejam sozinhos em casa em sua ausência. Eles devem se opor a isto com veemência e não aceitar nenhum argumento.” (“Les Gardiennes du Foyer”, junho 1956, p. 8).
[2] Todavia, visitas quotidianas e prolongadas devem ser consideradas como excessivas e perigosas. Ao se tratar de visitas mais prolongadas (algumas horas), seria conveniente limitá-las a uma, ou no máximo duas por semana.
[3] Centro Católico da Universidade de Ottawa: Cours de Préparation au mariage, p. 73.
[4] Nota do Tradutor: O exemplo do nosso autor poderia dar a impressão de que o que está abaixo disso não é familiaridade indevida ou atitude particularmente perigosa. Não é essa a intenção de quem deu outras regras a respeito da castidade presentes em partes precedentes de seu livro. Assim, podemos lembrar com ele que o beijo passional na boca é um pecado grave, bem como o beijo prolongado nos lábios. Como são gravemente proibidos mesmo os beijos na fronte ou na bochecha, se são prolongados, muito vivos ou repetidos, porque assim provocariam certamente emoções indevidas em um ou no outro. Seguindo o conselho do padre Lodi, evitar ir além de conversar e dar as mãos no namoro.
[5] Num artigo recente da revista familiar: Le Gardiennes du Foyer, nº 153, janeiro de 1956, p.18, encontramos uma frase muito interessante: “A natureza humana é feita de tal forma que um homem e uma mulher, quando se amam, são um para o outro uma terrível tentação. É o que São Jerônimo havia dito numa frase célebre: ‘Um homem e uma mulher são fogo e palha, e o demônio assopra sobre eles.’ Nossos noivos se amam. Eles são homem e mulher, atenção ao demônio!..” A mesma revista nº 156, junho de 1956, pp. 24-28, consagrou um artigo considerável à moral cristã da castidade. Quando o capítulo presente estava em preparação, tivemos a graça de ler estas páginas e de aí nos inspirar para muitos detalhes e mesmo para algumas frases particularmente bem encontradas.
Fonte: Scutum Fidei - Namoro católico (iv): meios para guardar a castidade no namoro/noivado
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