quinta-feira, 12 de maio de 2016

O papel da mãe no ensino religioso da filha


Eis-nos chegado a outra fase da vida da criança. Época de transição e às vezes até de mudança completa; momento decisivo e solene em que, iluminada e atraída a alma recentemente pela razão, e também recentemente fascinada e arrastadas pelas paixões, se inclina alternativamente ante àquela amiga ou ante estas inimigas e acaba por lançar-se nos braços de uma ou nas garras mortíferas das outras.


Tudo se dilata na adolescência: tanto as faculdades para o bem como os maus instintos. Comprimida até então a inteligência, busca por todas as partes alimentos; o espírito de insubordinação domina geralmente esta idade: precisa pois de movimento para o corpo, trabalho para o entendimento e emoções para o coração.

Nesta, como em todas as idades, vem a religião auxiliar a mãe, e se encarrega de apresentar ao entendimento e ao coração os estudos e os sentimentos que reclamam. Dá-lhes por objetos e por mobil ao exercícios das faculdades, a primeira comunhão, que já é a única coisa que pode satisfazer, e geralmente a confirmação, outro mistério cuja majestade inspira os grandes pensamentos e produz as ações nobres.

Se há no céu uma estrela para guiar o marinheiro; se há no porto um farol para alumiar o pescador; se há um momento na vida para assinalar-se entre todos os outros, é esse instante solene e misterioso em que, despojando-se a criança das mantilhas para se revestir do mesmo Deus, se despede da infância e se prepara para começar a vida real, a vida das dores, a vida dos trabalhos e sofrimentos.

Deve a primeira comunhão deixar numa alma a recordação sempre viva, e qual farol luminoso divisar-se de todos os pontos da existência. É uma grande desgraça quando só produz uma impressão passageira e estéril; é grande desgraça se mais tarde não se comove o coração ao recordar esse dia, e se não se desperta com tudo quanto o memora o zelo religioso, as aspirações generosas e as resoluções virtuosas. Grande desgraça é para o homem se não pode apegar-se a esse pensamento como a um cabo de salvação, quando ameaçam traga-los as vagas tumultuosas das paixões. Grande desgraça é quando, perdido no árido e seco deserto da razão humana, não encontra o espírito esse fértil oásis, onde pode sua fé refrigerar-se sempre.


Sim, é uma grande desgraça para a criança; mas é uma responsabilidade imensa para a mãe se a causou a sua imprudente precipitação. Quantas podem hoje fazer a si próprias esta acusação dolorosa! Quantas, por considerações sem importância, por satisfazer pequenas exigências de família, de estudos ou de viagens, adiantam a primeira comunhão de seu filho sem se preocuparem se sabe tudo o que deve experimentar, alcançam de um sacerdote a quem enganam que o admita   na mesa dos santos! “É tão pura esta ama, dizem, é tão inocente, como há de achar-se preparada?” Ah! Com efeito, se é pura como dizeis, não cometerá um sacrilégio, e até considerará Deus com o amor com que olha a tudo o que está isento de pecado; mas em tal caso, porque não fixastes a primeira comunhão na idade de dois anos ou um ano, onde seria mais certa a inocência?

Porém, a primeira comunhão exige estudos particulares e exercícios especiais; absorve o tempo que a precede e afasta os outros estudos; mas vós estais ansiosa por começar uma educação de que já cria uma brilhante ideia à vossa vaidade maternal, e então – falemos sem rodeios – quereis desembaraçar-vos desse estorvo. Á vista disso, só vos perguntarei com o catecismo: “Sois Cristã?” Ou não me respondeis, ou, se me dizeis como ele: “Sim, sou por graça de Deus”, despojai-vos do direito de considerar este tempo como perdido e estes estudos como inúteis; prescindis sobretudo do de sacrificar nas aras do orgulho os interesses de uma alma que vos está confiada.  

Ainda quando consagrásseis, dos numerosos anos destinados à educação, um quase inteiro ao estudo da religião e da virtude, seria acaso demais? Ainda quando pagásseis deste o modo a Deus o dízimo, - e não se vos pede tanto – julgar-vos-íeis por isso com direito de ir farisaicamente lançar lhe em rosto vossos serviços?

Tão grande é durante os anos que seguem, durante a vida toda a porção de tempo que exige a religião          ou que se emprega na oração, que seja ainda preciso ratinhar com Deus? Ele felizmente não nos trata assim. Dá-nos a vida, dá-nos o tempo, dá-nos a eternidade; e nós recusamos-Lhe um desses anos que Dele recebemos! Mas é u provérbio muito sábio, que os maus amos são sempre os mais bem servidos. Se Deus exigisse mais de nós, se fosse um senhor mais imperioso e menos dispostos a perdoar, seria plena a nossa obediência e desapareceriam os murmúrios.

Ah! Deixa chegar a criança à idade em que pôde gostar do dom de Deus. Não leste no Evangelho que o pai e a mãe de Jesus o levaram aos doze anos a Jerusalém para celebrar ali a festa da Páscoa? É um piedoso pensamento o de imitar Jesus e os pais de Jesus: escolhei pois aquela idade para o místico banquete da Páscoa Cristã.

Numa família piedosa e bem regulada foi pura e inocente até aquela idade a vida duma criança; pôde ser sólida e vasta a instrução religiosa, viva e esclarecida a fé, ardente o amor, sincero o entusiasmo e duradoura a recordação, porquanto, gravada numa memória infantil, será conservada por uma cabeça que se torna reflexiva.

Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo.
Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes.
Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo.
As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas.
Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram.
No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro.
E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas.
As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando.
As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.
Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta.
Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos!
Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço!” (São Mateus 25: 1-12).
Ah! Se procede a jovem virgem de que nos ocupamos as néscias do Evangelho, a quem um dia pedirá o esposo contas deste proceder será à mãe, a mãe encarregada de alimentar a lâmpada, de recarregar o coração e iluminar o espírito.
E se esta virgem, chegando demasiadamente tarde, com uma lâmpada sem azeite e uma luz mortiça, ver fechar diante dela a porta, se volverá para sua mãe e lhe perguntará: Não teria podido velar uma hora comigo, livrar-me da sonolência, dar-me um pouco de azeite e ensinar-me a preparar a minha lâmpada?
E se finalmente, se, penetrando no santuário, posto que sem luz nem lume, a virgem recebida pelo esposo indignado não ouve outras palavras mais que estas: Não vos conheço! As devolverá a sua mãe; e estas palavras lhe ficarão impressas na alma como uma nódoa e um remorso: foco de dor em que por desgraça nunca faltará azeite!
Ah! Se é prudente a mãe, não será néscia a filha; e se é néscia a mãe, dificilmente será a virgem prudente.
Se é piedosa a mãe, não será preguiçosa nem covarde, e, cingindo os rins, limpará, varrerá e adornará a mansão do esposo. Neste trabalho nada lhe causará desgosto, e em verdade vos digo, em nome do Senhor: Ser-lhe-á dada a recompensa dos seus trabalhos.
Cheia deste pensamento, repleta de esperança e de temor é que deve por mãos à obra uma mãe, e ocupar-se em preparar a alma virginal que lhe está confiada. Deve lembrar-se continuamente destas palavras de Santo Agostinho: A família é uma igreja privada, cujos sacerdotes são os pais e cujos fiéis são os filhos; e movida da santa do seu ministério, penetrada de emoção e respeito pelos resplendores do Sinai, em cujo topo recebe a Lei antes de a promulgar, deve desempenhar as suas augustas funções com o zelo, inteligência e decisão de um pastor.
Sim, não o esqueças, ó mães suficientemente cristãs para compreenderdes e apreciardes a missão que vos confiou, o ano da primeira comunhão não é um ano da ciência, nem o ano do prazer; é o tempo de sua aprendizagem. É uma espécie de contribuição cobrada antecipadamente da vida em nome de Deus, mas de cuja importância Ele não se apropria, senão que forma dela, se me é lícito falar assim, uma caixa de socorros, uma caixa econômica para a eternidade. Ditosas as que tem direito de recorrer a ela, tanto no dia da morte quanto durante a vida!
A esta preparação deve ceder o passo os estudos, os recreios, tudo e inclinar-se ante ela com a deferência de um criado para com seu amo: não podendo empregar-se os estudos como distração, e os recreios senão como uma interrupção necessária à saúde, e útil à piedade. A instrução religiosa, a oração e as boas obras são, pelo demais, o princípio e como a atmosfera desta vida já perfumada pela flor que deve desabrochar. Entremeando-se com prudência, e distribuindo-se com método, não se cansará a imaginação, nem tão pouco se fatigará o corpo; e passando-se santamente o dia, também transcorrerá docemente.
Sobretudo no campo onde se junta o dever do exemplo às necessidades da criança, consiste o primeiro ponto desta preparação em assistir regularmente à catequese pública, ampliada e recordada ao depois pelas instruções mais particulares da mãe. Porém se é então um ponto capital o estudo da religião. É outro não menos importante a prática da piedade. Uma criança é geralmente capaz de uma reflexão nesta idade; e por isso não são as orações vocais as únicas possíveis, e, portanto, as únicas necessárias. Guiada por sua mãe, deve a menina assistir diariamente a missa (caso possível) e fazê-la seguir duma breve meditação, oferecendo a Deus o seu dia e a sua vida, e solicitando constantemente da sua bondade uma só e a mesma graça.
OBS: Fala-se aqui da criança educada e preparada, não só à vista de sua mãe, senão por sua própria mãe.
E, para acabar a santificação completa do dia, deve ocorrer de vez em quando o pensamento da primeira comunhão, como sobrenadando por cima de todos os outros, despertado pela mãe, segundo o anjo custódio de sua filha.
Se não obstante comete uma falta, - e quem pode esperar evita-las todas? – é necessário recordar à culpada, séria e tristemente, as suas resoluções, os seus deveres, o objeto único das suas ações, e leva-la depois à Igreja para implorar valor e e perdão. São inúteis o castigo se são geralmente boas as disposições da menina, e se exercem império nela os pensamentos religiosos; mas bastam e até produzem impressões muito mais eficazes que os castigos, a aflição de sua mãe e algumas ideias de arrependimento e de piedoso temor, suscitada com prudência.

A mulher cristã desde o nascimento até a morte, estudos e conselhos – M.me M. de Marcey

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