Airton Vieira
(tonvi68@gmail.com)
“...que ele
era suprema e diretamente devocional; e que amava apaixonadamente a devoção
católica muito antes de ter de lutar por ela”
(Chesterton sobre S. Tomás de Aquino)
Foi no dia do
franciscano Bernardino de Sena. Na cidade de Fortaleza. Em uma paróquia que
leva o nome do casto esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Eram 20h e 01 min
daquela lúgubre sexta-feira. Era uma sexta-feira, e era de noite...
O homem entrara
no templo, segundo relatos oculares, já fora de si (os motivos desconheço).
Assim se manteve durante a missa até a fatídica hora da Comunhão. É que após
passar a missa em estado aquém da mínima reverência exigida a lugares como este
se aventura à fila da Comunhão. Calçado, de bermuda, e sem camisa. Assim se aproximou o homem para comungar. E assim
recebeu das mãos da “ministra extraordinária da Eucaristia” a Sagrada Espécie.
Duas vezes. É que a primeira tentativa de dar-lhe a Hóstia ele a recusara.
Insistiu a caridosa mulher. Ele A recebeu, para em seguida retirá-lA de sua
boca com a mão e ali, em frente à ministra, em frente ao altar que continha o
sacerdote fora do seu lugar de direito (e dever) em horas com esta, mas
presenciando tudo, lançou ao chão o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso
Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, ato contínuo
pisoteando-O e esfregando-O para enfim cuspir enquanto lançava impropérios. E
retira-se com a irreverência com que chegara. A cena dantesca não termina aí. Ao
tempo em que temos o homem se aproximando nas condições narradas, cometendo o
sacrilégio e a profanação descritos, temos o sacerdote que presencia, segue a
comunhão oferecida aos “ministros”, e somente após Jesus ir ao chão, nas
condições em que o deixou o homem, sair com (convenhamos) uma estranha fleuma de
seu lugar, com o purificador [seco] para passá-lo no chão ao modo de um asseio doméstico.
Neste ínterim, antes mesmo da aproximação do sacerdote faxineiro, a ministra, após os poucos segundos de
“escandalização” suficientes para passar o susto, segue a distribuir hóstias
com o povo muito piedoso, mas pouco apiadado indo comungar. No instante em que
o profanador lança o Sacramentado ao chão, sai de um banco ao lado do altar
outra bem intencionada mulher, uma espécie de coroinha reserva, para “catar” o
que restara de Jesus Cristo hostilizado, sem ao certo saber o que fazer com
“aquilo” que tinha em suas mãos. O padre após limpar o chão volta ao seu lugar. Os comungantes voltam a comungar.
E a ministra, ali para distribuir Jesus às mãos dos pés que seguem a pisoteá-lO
em suas partículas pelo chão [mal e porcamente] purificado.
†
Santo Tomás de Aquino, o homem do Adoro Te Devote, disse sobre o
sacramento da Eucaristia ser o principal sacramento[1]:
1º.
Porque nela está contido substancialmente o próprio Cristo; enquanto que os
outros sacramentos contêm apenas uma força instrumental que participa de
Cristo. Ora, em todos os âmbitos, o que é por essência é mais digno do que aquilo
que é por participação.
Não errou Chesterton em dizer que este santo possuía ardente
devoção e zelo pela fé católica: porque a amava. E a amava porque a conhecia. E
a conhecia porque julgava ser esta a coisa mais importante de toda a existência
humana, digna portanto de ser conhecida.
Não ouso fazer julgamentos de intenções, pois há Quem os faça, das
minhas inclusive. Mas os fatos há que julgá-los, ou para imitá-los ou
rejeitá-los. E aqui há fatos que permitem constatações, das quais a primeira é
a da “apostasia generalizada”. Já não se crê que o que se tem diante de si na
Hóstia consagrada é somente uma aparência, mas de pão, o que é o mesmo que não
se crer que a Hóstia consagrada é Jesus
Cristo. Perguntei a uma pessoa mui querida que também presenciou virtualmente a
dantesca cena e que considerou minha constatação um tanto quanto “radical”, se
no lugar da Hóstia os presentes tivessem visto Jesus Cristo “em carne e osso”
diante de si sendo lançado ao chão, pisoteado, cuspido e escarnecido, teriam ainda assim
seguido normalmente sua obrigação dominical. E me pergunto: de que lado então estariam
no Gólgota?
O
Rei dos Reis e Senhor de Senhores é hoje tratado desta forma porque, como dizia
o Apóstolo[2]:
É
crendo no coração que se alcança a justiça, e é confessando com a boca que se
consegue a salvação. Pois a Escritura diz: ‘Todo aquele que nele crer não será
confundido... De fato, ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’.
Ora, como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele que não
ouviram? E como o ouvirão, se ninguém o proclamar? E como o proclamarão, se não
houver enviados?
Sim, os maiores responsáveis são e serão os únicos em
todo o mundo com o [digníssimo e excelso] poder de converter a simples matéria em
Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente. Mas eles não são ou serão os únicos.
O mesmo capítulo acima assim termina:
"E pergunto ainda: Acaso Israel não o
compreendeu? Já Moisés lhes havia dito: Eu vos despertarei ciúmes com um povo
que não merece este nome; provocar-vos-ei a ira contra uma nação insensata (Dt
32,21). E Isaías se abalança a dizer: Fui achado pelos que não me buscavam;
manifestei-me aos que não perguntavam por mim (Is 65,1). Ao passo que a
respeito de Israel ele diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo
desobediente e teimoso (Is 65,2)."
Há duas espécies de ignorância, a vencível e a
invencível. A primeira refere-se aos que por algum motivo não logram entender.
A segunda àqueles que tendo as devidas condições, por algum motivo não querem
entender. A quem muito foi dado, muito será pedido. Deus é misericórdia. E Deus
é justiça. Há um tempo para tudo, diz a Escritura. Findo o tempo da
misericórdia chegará o da justiça. Antes, ao povo judeu lhes foi tirado porque
não souberam reconhecer e receber o Amor devido à sua ignorância vencível
negligentemente não vencida. Fugiremos à esta mesma justiça os católicos que
procuram desesperadamente vencer a ignorância do que é material e transitório, descuidando
das coisas eternas? Não há a mínima isso ocorrer: ficaremos de fora como as
virgens néscias, chorando e rangendo dentes.
Penso que a chave de tudo descansa em uma pergunta que
seguirá ecoando até o fim do mundo, posto que por ela seremos julgados. A mesma
que tememos tanto ouvir para ter de responder. Ela foi feita ao primeiro Papa
ao largo das margens de um lago. Ela é feita desde então a cada um de nós ao
largo de toda uma vida: “Pedro, tu me amas?”
Regina confessorum, ora pro nobis!
Jesu fili David,
miserere nobis!
Em 23 de maio do ano da
graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2017.
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