“Como tenho agido continuarei agindo, a fim
de não dar nenhuma chance aos que desejam igualar-se a nós, pelos mesmos
títulos de glória. Esses tais são falsos apóstolos, operários fraudulentos,
disfarçados em apóstolos de Cristo”
(2 Cor
XI, 12s).
A questão anterior nos leva necessariamente a
esta, uma vez que todo neófito protestante deveria, antes de acolher a primeira
seita que lhe bate à porta, indagar: QUEM fundou determinada igreja e QUEM deu
autoridade aos ditos pastores para ser o que não são – contrariando assim o
princípio aristotélico e o direito mais elementar? Tal pergunta deveria vir
especialmente de católicos que abandonando seu Navio se lançam à deriva
agarrando-se desesperadamente a canoas furadas na ilusão de que estando bem
arrolhadas não venham cedo ou tarde a afundar, o que será apenas uma questão de
tempo[1].
Por ser este tema de importância capital, tentaremos apontar o caminho para o
entendimento.
Não é
segredo que Cristo escolheu 12 Apóstolos e a eles deu autoridade e poder sobre
os discípulos. E também não é segredo que aos discípulos (diáconos, presbíteros,
anciãos) deu poder e autoridade sobre os demais. E ainda, que entre os 12
escolheu um, Pedro, para ser o condutor, o pai espiritual de todo o rebanho:
apóstolos, discípulos e seguidores. Por isso dizemos que a Igreja é
hierárquica, não democrática e igualitária, ou seja, desde o início obedece a
uma hierarquia (princípio de autoridade[2]).
Tudo isso está clara e incontestavelmente demonstrado em todo o Novo
Testamento, como atesta S. Paulo (cf. 1 Cor XII, 28-30; Efe IV, 11; e
especialmente Rom XIII, 1-7).
Nosso
Senhor, ao transferir sua autoridade aos apóstolos e discípulos o quis fazê-lo não
somente com palavras. Com gestos e sinais exteriores como o seu sopro (cf. Jo
XX, 21ss)[3] e os eventos de Pentecostes
(cf. At II, 1-4) confirmou aos que escolhera. Os apóstolos, já com o poder e a
autoridade dados por Cristo continuaram repassando a quem escolhiam a mesma
autoridade e da mesma forma que o Mestre (cf. At I, 15-23; XV, 27s). Dentre os
sinais mais característicos preservados pela Igreja, já existentes nas
tradições do Antigo e do Novo Testamentos, está o da imposição de mãos (cf. Lv
IV, 14s; Mc VI, 5 e At VI, 1-6).
Por estas e outras passagens percebe-se que tal gesto não era destinado a
qualquer um e tampouco em qualquer situação. Era – e sempre o foi na Igreja –
um gesto de transmissão de poder e autoridade, incluindo os dons do Espírito
Santo. Claro que somente as pessoas que recebiam esta autoridade é que poderiam
repassá-la. Tais pessoas eram os Bispos (em latim, Epíscopos). Desde
então, pela imposição de mãos e de outros sinais externos, os poderes deixados
por Jesus Cristo à sua Igreja são legitimamente repassados a outros bispos, padres
(presbíteros), diáconos e fiéis, de maneira distinta, de acordo com a função (o
múnus) de cada um. Portanto, jamais na história do cristianismo o poder e a
autoridade de pastorear e administrar a Igreja foi dado a qualquer pessoa, por
qualquer pessoa e de qualquer maneira. Daí a exortação de S. Paulo ao discípulo
Timóteo, bispo da igreja de Éfeso: “Eu te conjuro diante de Deus, e de Jesus
Cristo, e dos anjos escolhidos, que guardes estas coisas sem prevenção, não
fazendo nada por inclinação particular. Não te apresses a impor as
mãos a ninguém, e não te faças participante dos pecados dos outros...”
(1 Tim V, 21s).
Aclarado
isto, vejamos: Martinho Lutero antes de apostatar (abandonar, renegar a fé) era
um monge e sacerdote católico, pois havia recebido legitimamente os poderes e
a autoridade sacerdotal pelas mãos de bispos legítimos. Mas ele não foi bispo,
portanto não tinha poder algum de ordenar (conferir a um diácono o sacramento
da Ordem, tornando-o sacerdote), que permaneceu restrito aos bispos como no
tempo dos apóstolos, que foram os primeiros bispos da Igreja, sendo Pedro o
“Bispo dos bispos”. Ocorre que ao ser excomungado por suas heresias (a maioria
das 95 teses não passava disto e o que nelas havia de correto a Igreja o
admitiu, mesmo porque já fazia parte do ensino dos Santos Padres e Doutores,
isto é, do Depósito da fé), fruto de seu orgulho e ódio contra a Igreja, perdeu
os poderes de que um sacerdote é investido, ou seja, já não era capaz de
consagrar o pão e vinho no Corpo e
Sangue de Nosso Senhor
ou absolver pecados, entre outros. E ele foi o primeiro protestante...
Com isso
retomamos a pergunta do início, cujo propósito não é o de preconceito ou
discriminação como alguns poderão ser tentados a considerar, mas de justiça e
de direito: que autoridade tem qualquer protestante de se autointitular pastor,
bispo ou, principalmente, apóstolo? Quem lhe deu esta autoridade? Jesus Cristo?
1500, 1600... 2000 anos depois de sua ascensão aos céus? De que forma?
Esclarecendo
Para se
ordenar um homem como sacerdote (padre) não bastará que este tenha
somente estudado filosofia e teologia – o que para um sem número de pastores
atuais é impensado. Após passar em média sete ou oito anos em um seminário
(lembremos as recomendações de S. Paulo a Timóteo mais acima), sobre ele haverá
bispos que lhe imporão as mãos e o ungirão em uma cerimônia solene e com a
autoridade que Cristo repassou à sua (única) Igreja, lhe conferindo o Sacramento
da Ordem; só então poderá se intitular (não autointitular) um pastor de
almas, um sacerdote de Deus. E para chegar a bispo, outros tantos anos de
estudo, serviço e dedicação à Igreja, sendo reconhecido por méritos pessoais
como, p. ex., santidade, sabedoria, oratória, conhecimento, liderança e
administração, ainda que exista quem não acumule todos os atributos ou quem
indignamente receba o poder, o que já é outro assunto, mas cujas indicações de
leitura ao final suprirão as lacunas.
Alguém
dirá que faz o que faz porque tem “diploma”. De pastor? Reconhecido pelo MEC?
Mas então estes tais deveriam ter cursando pastoreio, não teologia. Porque
teologia forma licenciados (professores) da área ou bacharéis, que são os
teólogos propriamente ditos. Baseando-nos em sua própria doutrina, pediríamos
então ao pastor para mostrar “onde está na Bíblia” que Cristo conferiu
tal autoridade por via diplomática? Os padres e bispos católicos o são não
porque possuam um diploma – este sim existente – de Teologia ou Filosofia, mas
por receber de outros bispos o Sacramento da Ordem e o Episcopado pela
“imposição de mãos” e outros sinais autorizados pela única Igreja que recebeu o
poder diretamente de Jesus Cristo (cf. 1 Tim IV, 14). Se se tornarão bons ou
maus pastores – e ambos existem certamente – é outra questão, o que não invalidará
a autoridade a eles conferida por Cristo e pela Igreja, a não ser que sejam
excomungados, como o foi Lutero, ou suspensos de Ordem. O maior exemplo vem de
S. Pedro, que caindo e negando a Cristo mesmo após a sua eleição, não teve
retirado o poder e a autoridade, uma vez que ela procede diretamente de Deus,
ao contrário do que ocorre com os pastores, bispos e apóstolos,
com ou sem diploma. Tanto assim que depois de trair, mas de arrepender-se e
renovar sua profissão de fé, Cristo lhe dirá (a ele somente): “... apascenta os
meus cordeiros... apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas”
(Jo XXI, 15ss).
Daí que
se existe um nome apropriado aos que se autointitulam pastores, sacerdotes,
bispos etc é o de usurpador, porque de fato o que fazem é nada menos que
usurpar um título e uma função (múnus) que jamais lhes pertenceu por direito. A
estes, o alerta vem do profeta Ezequiel:
Filho do
homem, profetiza contra os (falsos) profetas de Israel, que se metem a
profetizar; e dirás a êsses homens que profetizam de suas cabeças... Ai dos
profetas insensatos, que seguem o seu próprio espírito e não vêem nada! (...)
Êles vêem coisas vãs, e profetizam a mentira, dizendo: O Senhor assim o disse,
sendo que o Senhor não os enviou; e persistem em afirmar o que uma vez
disseram. (...) Porque tendes dito coisas vãs, e tendes tido visões mentirosas,
por isso eis que venho contra vós... A minha mão descarregará sôbre os profetas
que têm visões vãs e que profetizam a mentira... Porque êles enganaram o meu
povo... (XIII, 2s.6-10).
Aos de reta
intenção, bastará um mínimo de História Eclesiástica[4] para saber do que estamos
falando. Ou então o velho e bom bom senso, pois qualquer protestante,
mesmo depois de estudar teologia e filosofia (quando estuda), por quem e com
que autoridade são “consagrados”? E já que muitos pretendem remontar aos tempos
apostólicos quando falam de sua seita, pode-se afirmar que a única semelhança
entre estes homens e os legítimos homens de Deus estará em um nome. O Papa é o
sucessor em linha direta de um Simão, o Pedro; os pastores etc. também o
são de um Simão, mas o Mago[5].
Desconfiamos
ser este o principal motivo de não incentivarem seus fiéis a estudar a história
cristã, a conhecer os documentos dos primeiros Padres da Igreja chamados
escritos patrísticos, feitos pelos discípulos dos apóstolos, pelos primeiros
mártires, doutores e historiadores, pelo primeiro catecismo da Igreja, a
Didaqué, escrito ao que tudo indica antes dos textos de S. João (Evangelho,
Epístolas e Apocalipse); todo este conhecimento depõe contra o protestantismo,
desmascarando os usurpadores. Neles se pode comprovar de onde vem toda a
prática da Igreja, do culto dos santos ao uso das velas, do purgatório às
imagens, tudo dentro e em perfeita harmonia com as Sagradas Escrituras e a
Tradição (oral) apostólica. Um belo exemplo nos chega através de um dos maiores
nomes do protestantismo anglicano convertido à Igreja, que obteve recentemente
a honra dos altares. Buscando a verdade pelo estudo honesto da História, o
beato John Henry Newman (Cardeal Newman – 1801-1890) nos deixou estas comoventes
palavras: “Como protestante, a minha religião parecia-me miserável, mas não a
minha vida. E agora, como católico, a minha vida é miserável, mas não a minha
religião”[6].
Aqui o exemplo de um autêntico seguidor de Jesus Cristo[7].
Não são
poucas às vezes em que a Escritura nos alerta sobre os falsos profetas e
doutores, sobre os lobos em pele de cordeiro, os mercenários que abundariam,
especialmente nos últimos tempos e que arrastariam muitos. Destacamos alguns
exemplos: Eze XIII; Mt VIII, 15; XXIV, 11.24; Jo XI, 11ss; At XX, 29ss; 2 Cor
XI, 13ss; 2 Pe II, 1ss; 1 Jo IV, 1ss e Jd 17ss. Serão os personagens destas passagens os papas,
bispos e padres fiéis à Igreja Católica e sua doutrina ou justamente os que
dela se afastaram, implícita ou explicitamente[8]? A Bíblia não deixa
dúvidas neste aspecto quando diz que ao rol dos “falsos” pertencem os que se
introduzem para causar discórdias e divisões, tendo como destino a
separação do corpo, portanto, o sectarismo, pois como se diz, o Espírito Santo
não divide, une; não retira pessoas de sua Igreja, as põe.
Todo
protestante é por isso direta ou indiretamente um sectário, separado da Igreja
Católica, a árvore mãe, o tronco, pelo simples fato dela ter sido arrancado,
espontaneamente ou não, e não o contrário. Ao ser cortado se tornará, como um
galho seco, inevitavelmente mais vulnerável às armadilhas dos falsos profetas,
pastores e doutores. Por isso acabará como a figueira secada por Cristo (cf. Mc
XI, 11-20), ainda que pareça estar vivo e dando fruto. Esta realidade a cada
dia se torna mais palpável com os maquilamentos, pirotecnia, cenários e
figurinos dos cultos que não servem a outro propósito que disfarçar os furos das
canoas, uma metáfora da contraditória doutrina protestante.
Um último
detalhe
Um dos
principais chavões, de maneira especial em seitas pentecostais, é o pouco
inteligente: “onde está na Bíblia?”. Será necessário de uma vez por todas fazer
com que se enxergue a arma supostamente apontada aos católicos que nunca
deixou de estar voltada a eles mesmos os protestantes, pois é a própria
Escritura que os condena. Ao dizer que só aceitam o que está na Bíblia,
novamente lhes devolvemos a pergunta: mostrem-nos então “onde está na Bíblia” o
respaldo, o suporte, a base para as autointituladas diaconisas, pastoras,
presbíteras, sacerdotisas, bispas ou apóstolas? Em
que livro, capítulo, versículo do Antigo ou do Novo Testamento, do Gênesis ao
Apocalipse, Deus escolheu e consagrou mulheres para o episcopado, o sacerdócio,
o diaconato ou mesmo o pastoreio[9]?
Então, se
só vale o que “está na Bíblia” e nada disso está na Bíblia, como os
protestantes que dizem só aceitar o que “está na Bíblia” podem aceitar isso? E
se uns aceitam e outros não, onde está a “unidade no fundamental”, pois aqui
teríamos algo de certo fundamental?
Algumas
seitas ainda tripudiam sobre a ignorância dos seus membros ao empurrar o
disparate de que se é pastora por ser mulher do pastor; bispa por
ser mulher do bispo ou (sic!) do apóstolo; e por aí vai. Isto,
além de distorcer a gramática será um atentado ao bom senso e à inteligência,
pois é o mesmo que dizer que mulher (e não feminino) de presidente é
presidenta, de diretor é diretora, de padre é madre. Tenha santa paciência!
Em tempo:
alguns pastores e pastoras (sic) tem ousado utilizar em suas
pregações passagens da História da Igreja[10],
comprovando em público, ainda que distorcendo fatos e conclusões, que durante
mil anos só existiu no mundo a Igreja Católica e nela, desde o princípio,
existiram os santos e os mártires, com seus cultos oficiais aceitos por toda a
cristandade, venerando as relíquias (restos mortais) dos que morriam em santidade,
tudo sem fanatismos ou idolatrias. Mas como “entender e não agir é perigoso”[11],
isto só lhes agrava a culpa.
†
[1] De fato é o
que se presencia a uma velocidade considerável. Com a mesma rapidez com que
muitas seitas nascem mais rapidamente morrem, arrastando uma a outra, como em
efeito dominó. São João Bosco já o profetizara em uma visão que se tornou
conhecida e autorizada na e pela Igreja. Tal profecia, conhecida popularmente
como “O sonho de D. Bosco”, de 1862, vem sendo cumprida na íntegra.
[2] Cf. Lc XX,
23ss; Jo XIX, 10s; 1 Pe II, 13ss; Ti III, 1.
[3] Por esta
passagem se vê de forma objetiva a origem bíblica da autoridade do clero
católico de perdoar (reter) ou não os pecados, o que será detalhado
posteriormente.
[4] Ou História
da Igreja.
[5] Cf. At VIII,
14-21.
[6] Fonte: Newman
Católico. A fidelidade na provação. Paul Thureau-Dangin. Cultor de livros, SP.
[7] Como exposto
no capítulo IV.
[8] Utilizo estes
termos significando, para os que se afastam implicitamente
da Igreja os que permanecem nela sem seguir sua doutrina e mandamentos de forma
integral. São os que escolhem o que crer, que estão na Igreja porque acham que
ela não proíbe nada, que é liberal etc.; estes são os maus ou pseudo-católicos.
Estão agrupados sob a tenda de uma heresia chamada Modernismo, detalhada e condenada
na Encíclica Pascendi, de S. Pio X, dela podendo fazer parte tanto leigos
quanto clérigos. Os que se afastam explicitamente
são todos os que por algum motivo (vencível) já não fazem parte de seu Corpo;
aqui se encaixam os hereges (protestantes), cismáticos (ortodoxos) e pagãos
(das falsas religiões).
[9] De fato há uma única passagem em que a Bíblia cita mulheres
sacerdotisas, isso entre os pagãos (cf. Nau II, 8). De resto, somente
profetizas, o que é mui distinto. Aqui cabe salientar ainda uma vez a tentativa
atual de impor à Igreja o fim do celibato aos padres e a ordenação sacerdotal
às mulheres, por influência protestante e maçônica, o que jamais se logrará,
pois ambos os preceitos (o do padre celibatário, solteiro, e o da consagração
de homens somente) possuem completo respaldo bíblico e de tradição apostólica,
como se verá abaixo.
[10] Como exemplo, temos o vídeo “Pastora Ana Paula fala sobre a
Patrística” (https://www. youtube.com/watch?v=IDjFytYtrqk). Acesso em
18/06/2016.
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