sábado, 19 de agosto de 2017

Capítulo VII – PASTORES, BISPOS, APÓSTOLOS... COM QUE AUTORIDADE? [A sucessão apostólica]





“Como tenho agido continuarei agindo, a fim de não dar nenhuma chance aos que dese­jam igualar-se a nós, pelos mesmos títulos de glória. Esses tais são falsos apóstolos, operários fraudulentos, disfarçados em apóstolos de Cristo”
(2 Cor XI, 12s).

A questão anterior nos leva necessariamente a esta, uma vez que todo neófito protestante deveria, antes de acolher a primeira seita que lhe bate à porta, in­dagar: QUEM fundou determinada igreja e QUEM deu autoridade aos ditos pastores para ser o que não são – contrariando assim o princípio aristotélico e o direito mais elementar? Tal pergunta deveria vir especialmente de católicos que abandonando seu Navio se lançam à deriva agarrando-se desesperadamente a canoas furadas na ilusão de que estando bem arrolhadas não venham cedo ou tarde a afundar, o que será apenas uma questão de tempo[1]. Por ser este tema de importância capital, tentaremos apontar o caminho para o entendimento.

Não é segredo que Cristo escolheu 12 Apóstolos e a eles deu autoridade e poder sobre os discípulos. E também não é segredo que aos discípulos (diáconos, presbíteros, anciãos) deu poder e autoridade sobre os demais. E ainda, que entre os 12 escolheu um, Pedro, para ser o condutor, o pai espiritual de todo o rebanho: apóstolos, discípulos e seguidores. Por isso dizemos que a Igreja é hierárquica, não democrática e igualitária, ou seja, desde o início obedece a uma hierarquia (princípio de autoridade[2]). Tudo isso está clara e incontestavelmente demons­trado em todo o Novo Testamento, como atesta S. Paulo (cf. 1 Cor XII, 28-30; Efe IV, 11; e especialmente Rom XIII, 1-7).

Nosso Senhor, ao transferir sua autoridade aos apóstolos e discípulos o quis fazê-lo não somente com palavras. Com gestos e sinais exteriores como o seu sopro (cf. Jo XX, 21ss)[3] e os eventos de Pentecostes (cf. At II, 1-4) confirmou aos que escolhera. Os apóstolos, já com o poder e a autoridade dados por Cristo continuaram repassando a quem escolhiam a mesma autoridade e da mesma forma que o Mestre (cf. At I, 15-23; XV, 27s). Dentre os sinais mais caracterís­ticos preservados pela Igreja, já existentes nas tradições do Antigo e do Novo Testamentos, está o da imposição de mãos (cf. Lv IV, 14s; Mc VI, 5 e At VI, 1-6). Por estas e outras passagens percebe-se que tal gesto não era destinado a qualquer um e tampouco em qualquer situação. Era – e sempre o foi na Igreja – um gesto de transmissão de poder e autoridade, incluindo os dons do Espí­rito Santo. Claro que somente as pessoas que recebiam esta autoridade é que poderiam repassá-la. Tais pessoas eram os Bispos (em latim, Epíscopos). Desde então, pela imposição de mãos e de outros sinais externos, os poderes deixados por Jesus Cristo à sua Igreja são legitimamente repassados a outros bispos, pa­dres (presbíteros), diáconos e fiéis, de maneira distinta, de acordo com a função (o múnus) de cada um. Portanto, jamais na história do cristianismo o poder e a autoridade de pastorear e administrar a Igreja foi dado a qualquer pessoa, por qualquer pessoa e de qualquer maneira. Daí a exortação de S. Paulo ao discípulo Timóteo, bispo da igreja de Éfeso: “Eu te conjuro diante de Deus, e de Jesus Cristo, e dos anjos escolhidos, que guardes estas coisas sem prevenção, não fa­zendo nada por inclinação particular. Não te apresses a impor as mãos a ninguém, e não te faças participante dos pecados dos outros...” (1 Tim V, 21s).


Aclarado isto, vejamos: Martinho Lutero antes de apostatar (abandonar, renegar a fé) era um monge e sacerdote católico, pois havia recebido legitima­mente os poderes e a autoridade sacerdotal pelas mãos de bispos legítimos. Mas ele não foi bispo, portanto não tinha poder algum de ordenar (conferir a um di­ácono o sacramento da Ordem, tornando-o sacerdote), que permaneceu restrito aos bispos como no tempo dos apóstolos, que foram os primeiros bispos da Igre­ja, sendo Pedro o “Bispo dos bispos”. Ocorre que ao ser excomungado por suas heresias (a maioria das 95 teses não passava disto e o que nelas havia de correto a Igreja o admitiu, mesmo porque já fazia parte do ensino dos Santos Padres e Doutores, isto é, do Depósito da fé), fruto de seu orgulho e ódio contra a Igreja, perdeu os poderes de que um sacerdote é investido, ou seja, já não era capaz de consagrar o pão e vinho no Corpo e Sangue de Nosso Senhor ou absolver peca­dos, entre outros. E ele foi o primeiro protestante...

Com isso retomamos a pergunta do início, cujo propósito não é o de pre­conceito ou discriminação como alguns poderão ser tentados a considerar, mas de justiça e de direito: que autoridade tem qualquer protestante de se autointi­tular pastor, bispo ou, principalmente, apóstolo? Quem lhe deu esta autoridade? Jesus Cristo? 1500, 1600... 2000 anos depois de sua ascensão aos céus? De que forma?

Esclarecendo

Para se ordenar um homem como sacerdote (padre) não bastará que este tenha somente estudado filosofia e teologia – o que para um sem número de pastores atuais é impensado. Após passar em média sete ou oito anos em um seminário (lembremos as recomendações de S. Paulo a Timóteo mais acima), sobre ele haverá bispos que lhe imporão as mãos e o ungirão em uma cerimônia solene e com a autoridade que Cristo repassou à sua (única) Igreja, lhe confe­rindo o Sacramento da Ordem; só então poderá se intitular (não autointitular) um pastor de almas, um sacerdote de Deus. E para chegar a bispo, outros tantos anos de estudo, serviço e dedicação à Igreja, sendo reconhecido por méritos pessoais como, p. ex., santidade, sabedoria, oratória, conhecimento, liderança e administração, ainda que exista quem não acumule todos os atributos ou quem indignamente receba o poder, o que já é outro assunto, mas cujas indicações de leitura ao final suprirão as lacunas.

Alguém dirá que faz o que faz porque tem “diploma”. De pastor? Reco­nhecido pelo MEC? Mas então estes tais deveriam ter cursando pastoreio, não teologia. Porque teologia forma licenciados (professores) da área ou bacharéis, que são os teólogos propriamente ditos. Baseando-nos em sua própria doutrina, pediríamos então ao pastor para mostrar “onde está na Bíblia” que Cristo con­feriu tal autoridade por via diplomática? Os padres e bispos católicos o são não porque possuam um diploma – este sim existente – de Teologia ou Filosofia, mas por receber de outros bispos o Sacramento da Ordem e o Episcopado pela “imposição de mãos” e outros sinais autorizados pela única Igreja que recebeu o poder diretamente de Jesus Cristo (cf. 1 Tim IV, 14). Se se tornarão bons ou maus pastores – e ambos existem certamente – é outra questão, o que não inva­lidará a autoridade a eles conferida por Cristo e pela Igreja, a não ser que sejam excomungados, como o foi Lutero, ou suspensos de Ordem. O maior exemplo vem de S. Pedro, que caindo e negando a Cristo mesmo após a sua eleição, não teve retirado o poder e a autoridade, uma vez que ela procede diretamente de Deus, ao contrário do que ocorre com os pastores, bispos e apóstolos, com ou sem diploma. Tanto assim que depois de trair, mas de arrepender-se e renovar sua profissão de fé, Cristo lhe dirá (a ele somente): “... apascenta os meus cordeiros... apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas” (Jo XXI, 15ss).

Daí que se existe um nome apropriado aos que se autointitulam pastores, sacerdotes, bispos etc é o de usurpador, porque de fato o que fazem é nada me­nos que usurpar um título e uma função (múnus) que jamais lhes pertenceu por direito. A estes, o alerta vem do profeta Ezequiel:

Filho do homem, profetiza contra os (falsos) profetas de Israel, que se metem a profetizar; e dirás a êsses homens que profetizam de suas cabeças... Ai dos profetas insensatos, que seguem o seu próprio espírito e não vêem nada! (...) Êles vêem coisas vãs, e profetizam a mentira, dizendo: O Senhor assim o disse, sendo que o Senhor não os enviou; e persistem em afirmar o que uma vez disseram. (...) Porque tendes dito coisas vãs, e tendes tido visões mentirosas, por isso eis que venho contra vós... A minha mão descarregará sôbre os profetas que têm visões vãs e que profetizam a mentira... Porque êles enganaram o meu povo... (XIII, 2s.6-10).

Aos de reta intenção, bastará um mínimo de História Eclesiástica[4] para saber do que estamos falando. Ou então o velho e bom bom senso, pois qualquer protes­tante, mesmo depois de estudar teologia e filosofia (quando estuda), por quem e com que autoridade são “consagrados”? E já que muitos pretendem remontar aos tempos apostólicos quando falam de sua seita, pode-se afirmar que a única semelhança entre estes homens e os legítimos homens de Deus estará em um nome. O Papa é o sucessor em linha direta de um Simão, o Pedro; os pastores etc. também o são de um Simão, mas o Mago[5].

Desconfiamos ser este o principal motivo de não incentivarem seus fiéis a estudar a história cristã, a conhecer os documentos dos primeiros Padres da Igreja chamados escritos patrísticos, feitos pelos discípulos dos apóstolos, pelos primeiros mártires, doutores e historiadores, pelo primeiro catecismo da Igreja, a Didaqué, escrito ao que tudo indica antes dos textos de S. João (Evangelho, Epístolas e Apocalipse); todo este conhecimento depõe contra o protestantismo, desmascarando os usurpadores. Neles se pode comprovar de onde vem toda a prática da Igreja, do culto dos santos ao uso das velas, do purgatório às imagens, tudo dentro e em perfeita harmonia com as Sagradas Escrituras e a Tradição (oral) apostólica. Um belo exemplo nos chega através de um dos maiores no­mes do protestantismo anglicano convertido à Igreja, que obteve recentemente a honra dos altares. Buscando a verdade pelo estudo honesto da História, o beato John Henry Newman (Cardeal Newman – 1801-1890) nos deixou estas como­ventes palavras: “Como protestante, a minha religião parecia-me miserável, mas não a minha vida. E agora, como católico, a minha vida é miserável, mas não a minha religião”[6]. Aqui o exemplo de um autêntico seguidor de Jesus Cristo[7].

Não são poucas às vezes em que a Escritura nos alerta sobre os falsos profe­tas e doutores, sobre os lobos em pele de cordeiro, os mercenários que abunda­riam, especialmente nos últimos tempos e que arrastariam muitos. Destacamos alguns exemplos: Eze XIII; Mt VIII, 15; XXIV, 11.24; Jo XI, 11ss; At XX, 29ss; 2 Cor XI, 13ss; 2 Pe II, 1ss; 1 Jo IV, 1ss e Jd 17ss. Serão os personagens destas passagens os papas, bispos e padres fiéis à Igreja Católica e sua doutrina ou jus­tamente os que dela se afastaram, implícita ou explicitamente[8]? A Bíblia não deixa dúvidas neste aspecto quando diz que ao rol dos “falsos” pertencem os que se introduzem para causar discórdias e divisões, tendo como destino a separação do corpo, portanto, o sectarismo, pois como se diz, o Espírito Santo não divide, une; não retira pessoas de sua Igreja, as põe.

Todo protestante é por isso direta ou indiretamente um sectário, sepa­rado da Igreja Católica, a árvore mãe, o tronco, pelo simples fato dela ter sido arrancado, espontaneamente ou não, e não o contrário. Ao ser cortado se tornará, como um galho seco, inevitavelmente mais vulnerável às armadilhas dos falsos profetas, pastores e doutores. Por isso acabará como a figueira secada por Cristo (cf. Mc XI, 11-20), ainda que pareça estar vivo e dando fruto. Esta realidade a cada dia se torna mais palpável com os maquilamentos, pirotecnia, cenários e figurinos dos cultos que não servem a outro propósito que disfarçar os furos das canoas, uma metáfora da contraditória doutrina protestante.

Um último detalhe

Um dos principais chavões, de maneira especial em seitas pentecostais, é o pouco inteligente: “onde está na Bíblia?”. Será necessário de uma vez por todas fazer com que se enxergue a arma supos­tamente apontada aos católicos que nunca deixou de estar voltada a eles mesmos os protestantes, pois é a própria Escritura que os condena. Ao dizer que só acei­tam o que está na Bíblia, novamente lhes devolvemos a pergunta: mostrem-nos então “onde está na Bíblia” o respaldo, o suporte, a base para as autointituladas diaconisas, pastoras, presbíteras, sacerdotisas, bispas ou apóstolas? Em que livro, ca­pítulo, versículo do Antigo ou do Novo Testamento, do Gênesis ao Apocalipse, Deus escolheu e consagrou mulheres para o episcopado, o sacerdócio, o diacona­to ou mesmo o pastoreio[9]?

Então, se só vale o que “está na Bíblia” e nada disso está na Bíblia, como os protestantes que dizem só aceitar o que “está na Bíblia” podem aceitar isso? E se uns aceitam e outros não, onde está a “unidade no fundamental”, pois aqui teríamos algo de certo fundamental?

Algumas seitas ainda tripudiam sobre a ignorância dos seus membros ao empurrar o disparate de que se é pastora por ser mulher do pastor; bispa por ser mulher do bispo ou (sic!) do apóstolo; e por aí vai. Isto, além de distorcer a gra­mática será um atentado ao bom senso e à inteligência, pois é o mesmo que dizer que mulher (e não feminino) de presidente é presidenta, de diretor é diretora, de padre é madre. Tenha santa paciência!

Em tempo: alguns pastores e pastoras (sic) tem ousado utilizar em suas pregações passagens da História da Igreja[10], comprovando em público, ainda que distorcendo fatos e conclusões, que durante mil anos só existiu no mundo a Igreja Católica e nela, desde o princípio, existiram os santos e os mártires, com seus cultos oficiais aceitos por toda a cristandade, venerando as relíquias (restos mortais) dos que morriam em santi­dade, tudo sem fanatismos ou idolatrias. Mas como “entender e não agir é perigoso”[11], isto só lhes agrava a culpa.





[1] De fato é o que se presencia a uma velocidade considerável. Com a mesma rapidez com que muitas seitas nascem mais rapidamente morrem, arrastando uma a outra, como em efeito dominó. São João Bosco já o profetizara em uma visão que se tornou conhecida e autorizada na e pela Igreja. Tal profecia, conhecida popularmente como “O sonho de D. Bosco”, de 1862, vem sendo cumprida na íntegra.
[2] Cf. Lc XX, 23ss; Jo XIX, 10s; 1 Pe II, 13ss; Ti III, 1.
[3] Por esta passagem se vê de forma objetiva a origem bíblica da autoridade do clero católico de perdoar (reter) ou não os pecados, o que será detalhado posteriormente.
[4] Ou História da Igreja.
[5] Cf. At VIII, 14-21.
[6] Fonte: Newman Católico. A fidelidade na provação. Paul Thureau-Dangin. Cultor de livros, SP.
[7] Como exposto no capítulo IV.
[8] Utilizo estes termos significando, para os que se afastam implicitamente da Igreja os que permanecem nela sem seguir sua doutrina e mandamentos de forma integral. São os que escolhem o que crer, que estão na Igreja porque acham que ela não proíbe nada, que é liberal etc.; estes são os maus ou pseudo-católicos. Estão agrupados sob a tenda de uma heresia chamada Modernismo, detalhada e con­denada na Encíclica Pascendi, de S. Pio X, dela podendo fazer parte tanto leigos quanto clérigos. Os que se afastam explicitamente são todos os que por algum motivo (vencível) já não fazem parte de seu Corpo; aqui se encaixam os hereges (protestantes), cismáticos (ortodoxos) e pagãos (das falsas religiões).
[9] De fato há uma única passagem em que a Bíblia cita mulheres sacerdotisas, isso entre os pagãos (cf. Nau II, 8). De resto, somente profetizas, o que é mui distinto. Aqui cabe salientar ainda uma vez a tentativa atual de impor à Igreja o fim do celibato aos padres e a or­denação sacerdotal às mulheres, por influência protestante e maçônica, o que jamais se logrará, pois ambos os preceitos (o do padre celibatário, solteiro, e o da consagração de homens somente) possuem completo respaldo bíblico e de tradição apostólica, como se verá abaixo.
[10] Como exemplo, temos o vídeo “Pastora Ana Paula fala sobre a Patrística” (https://www. youtube.com/watch?v=IDjFytYtrqk). Acesso em 18/06/2016.
[11] Santo Agostinho.

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