sábado, 2 de dezembro de 2017

Parusia em castellani. A providência e os profetas finais









Tradução de Airton Vieira – É um trabalho árduo apresentar Leonardo Castellani e ademais apresentar um tema tão controverso e também escondido como é a Parusia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas tomemos o touro pelos chifres (ainda que nunca tenha visto fazer isso um toureiro ou um criollo dos Pampas, mas segundo o refrão é ir direto à coisa, como o porco à batata, que dizemos por aqui), e pincelemos o cura.

O Padre Leonardo Castellani[1] foi um luzeiro argentino que cresce com o tempo. Nasceu na selva do chaco santafesino[1] em 1899, filho de famílias nobres por parte da mãe e de italianos inteligentes e lutadores por parte do avô e pai, este assassinado pela polícia em épocas nas que um jornalista não podia falar contra a oligarquia partidocrática. Marcou a ferro o menino de 6 anos que há menos de três havia enfermado e perdido um olho pela alta febre; aprendeu a ler com sua avó aos três anos e meio, e leu tudo o que havia até sua morte apesar da limitação. Estudante destacadíssimo nos colégios dos jesuítas, noviço piedoso, mestre desde tenra idade, escritor de renome antes dos 21 anos (Camperas), crítico literário em nove línguas; filósofo em Roma discípulo do Pe. José Marechal SJ, introduz Marcel Jousse[2] na Argentina; teólogo e doutor sacro de primeira ordem da gregoriana, e doutor em filosofia aplicada à psicologia com tese na França e trabalho de campo em vários centros psiquiátricos europeus.

Escritor claro, agradável, gracioso, profundo, para todos os níveis da apreensão e educação. Seus mais de cinquenta livros são de duas ou mais leituras e a análise das consequências dos fatos que estuda se foram dando nos campos religiosos, políticos, educativos, jornalísticos. Explicou que profeta não é só aquele que vê o futuro pela Graça de Deus, mas também aquele que, também pela Graça de Deus, pode ler uma profecia realizada nos fatos. Castellani foi profeta seguramente pela segunda acepção. A vida espiritual sofrida e obediente o demonstram como um místico porque “em todo momento seguiu a voz do Espírito que lhe falava em sua consciência”, segundo nos explicou o que era um santo.


Apresentado o tremendo cura, falemos do tema Parusíaco que qualifica a obra de Castellani. A heresia do modernismo radica em negar o único dogma do Credo ainda não cumprido et venturus est iudicare vivos et mortuos. Diz a heresia que este mundo não tem fim, vai progredindo indefectivelmente, o centro é o homem… Deus não está nem no começo, nem no nó nem menos no desenlace da obra humana. Deus é o que evolui no homem e a natureza rumo ao pleroma gnóstico.
Como contraste, a característica dos cristãos fiéis nos Tempos Finais da Igreja, que coincidem com os últimos tempos do mundo, será em clamar como a Igreja Primitiva Maranatha, Vem Senhor Jesus!, mas já vendo a Aurora da Parusia. O homem não se dará o gosto de destruir a criação, impossível para ele, senão que o mesmo Jesus Cristo voltará para a renovação final. Isto crerá com firme esperança o pequeno rebanho do Fim dos Tempos. A caridade será pedir o regresso de Cristo Rei.
O assunto grave é conhecer se estamos ou não no fim dos Tempos. E Castellani argumenta com a Tradição que se Nosso Senhor nos deixou parábolas, descrições, signos e avisos de signos, profecias em definitivo, e até um livro revelado ao discípulo amado, logo isso deve suceder, como arranque de qualquer diálogo. E ademais, a medida que o Tempo se acerque, serão evidentes os signos profetizados por Jesus Cristo.

Ou seja, primeira contradição à heresia modernista: o tempo merecido para a Igreja militante se acabará igualmente ao do ser humano individual quando morre. Segunda contradição à heresia imanentista: o mundo não irá de bem a melhor, esse progresso pretendido de alfa ao ponto ômega não está nos “genes” da natureza senão na cabeça de Telar del Cardón (trocadilho com Teilhard de Chardin[2]); o homem não encontrará a paz senão sua caricatura como a paz de cemitério, não haverá paraíso terrenal por meio do esforço de todos e da guarda da ecologia nem menos com a ameaça de destruições nucleares e totais; pelo contrário, a guerra como instituição e a mentira como sistema, as calamidades naturais, a falsificação de Cristo e de sua igreja, o sistema pisando ao ser humano, os falsos cristos pululando e enganando aos que se deixem enganar será a nota distintiva do “começo das dores”.

Terceira contradição à apetência maçônica do modernismo: só Cristo voltando sobre as nuvens do céu e evidente como um raio sulca a imensidade vencerá com o sopro de sua boca ao Anticristo e ao demônio; então ressuscitarão os santos, então começará o Juízo, então se encadeará ao Mau por um tempo, então haverá algo de paz enquanto Gog e Magog se reordenam, acabado esse tempo, se solta ao Mau, cai fogo do céu, e vence a Igreja militante…
“Ele não diz que este seu Reino, que predisseram os profetas, não esteja neste mundo; não diz que seja um puro reino invisível de Espíritos, é um reino de homens; Ele diz que não provém deste mundo, que seu princípio e seu fim está mais acima e mais abaixo das coisas inventadas pelo homem. O profeta Daniel, resumindo os ditos de toda uma série de profetas, disse que depois dos quatro grandes reinos que apareceriam no Mediterrâneo, o reino da leoa, do urso, do leopardo e da Besta Poderosa, apareceria o Reino dos Santos, que duraria para sempre. Esse é seu Reino…” (Extrato do Sermão “Meu reino não é deste mundo”[3])

Então haverá Céus Novos e Terra Nova onde apascentará o cordeirinho com o leão e o menino meterá a mão na cova da víbora sem que o pique porque tudo será renovado.
Meu Deus, que tema, quantas dificuldades, quaatas perguntas!

É verdade tudo isto? Os Padres da Igreja receberam dos Apóstolos algo que Jesus lhes dissera sobre isto e tenha fundamento bíblico? Quem é a Besta do Mar e quem a Besta da terra? Quem é Jezabel? O texto apocalíptico é literal ou alegórico? A quem representa a Mulher que dá à luz com dores de parto? As igrejas do Apocalipse são imagens ou momentos históricos? Os Últimos tempos é sinônimo do fim dos Tempos? Quais são os signos do fim dos Tempos? Quais são os signos da Parusia? Que é a Parusia? Há triunfo da Igreja ou derrota? Se converterão os judeus antes ou durante a Parusia? O Anticristo é uma pessoa ou um movimento?
Em definitivo, há respostas de hermenêutica bíblica e de gênero apocalíptico ou são lendas cristãs? A história da Igreja é linear ou cíclica? O Magistério ensinou algo de tudo isto e Santo Tomás de Aquino? Não foi condenado o Milenarismo? Que disseram os Padres Apostólicos, os amigos imediatos dos Apóstolos, destes relatos ouvidos dos mesmos Apóstolos, em especial de João a Águia de Patmos?
Castellani entra com pé firme nestes temas dificilíssimos[4].

Aos sessenta anos de idade, torna ao grego e traduz o Apocalipse diretamente do original. E escreve toda uma saga para explicar-se. Até a Divina Providência o faz cruzar, sendo mais jovem, com um padrezinho jesuíta da espanhola Cuenca que havia recopilado toda a Patrística Apostólica com o tema do Milenismo do capítulo XX do Apocalipse, e desde a Didaqué, estão todos os textos. Passa o escrito latim a Castellani e lhe diz que o traduza e faça o que melhor lhe pareça. Sai uma joia “A Parusia na Patrística[3] de Alcañiz e Castellani.

E quando críamos que o cura expulso dos jesuítas pelas certeiras críticas que lhes fez por escrito com respeito aos votos[5], havia escrito seu melhor livro no Evangelho de Jesus Cristo[4], apareceu o Apocalipse de São João[5]. Apoiado por Cristo Volta ou não volta?[6], por Os Papéis de Benjamim Benevides[7], por Marcelino Birlibirloque[8], e até por Sua Majestade Dulcineia[9]… Sermões, novelas, artigos, ensaios, todos os gêneros literários que lhe serviam com servidão utiliza para gritar que Cristo Voltará Sobre as Nuvens do Céu para Julgar Vivos e Mortos e que está às Portas porque a figueira suavizou os seus ramos, os signos estão aqui, olhem. Por algo somará alguns comentários às aparições marianas como Fátima nos adjuntos de Cristo Volta ou não volta?

Em conclusão, a Parusia é um dogma de grande consolo interior pregado sempre assim pela Tradição. É a satisfação na Fé de saber com certeza que Cristo triunfará. Os signos do amanhecer trazem tranquilidade. Não se vê o mundo com ódio, mas com lástima. As almas cobram o valor de seu resgate desperdiçado. Os amigos que comungam na finalidade ansiada se estreitam ainda mais, se ajudam, se riem pelos tombos do símio de Deus, encontram motivação para opor-se aos apetites torcidos.

A Parusia exalta o valor da Cruz redentora e ilumina os olhos da Corredentora porque faz sonhar com contemplá-los no Regresso. A Parusia coloca a Igreja Militante na admiração da Igreja Triunfante. A Parusia apressa a ânsia apostólica porque o tempo se acaba. Esconder este Mistério sublime é achatar ao cristão e o demônio o sabe.
Daniel Giaquinta
[4]https://www.youtube.com/watch?v=Wp_tBOJxzQ0 : Conferência do Pe. Castellani sobre Parusia.
[5] Castellani, L. Cristo y los Fariseos, edición (sic)

___________________
Fonte: http://adelantelafe.com/parusia-castellani-la-providencia-los-profetas-finales/




[1] Área rural do Distrito de Santa Fé-AR (NdT).
[2] (1881-1955) Teólogo e filósofo modernista Jesuita.
[3] La Parusía en la Patrística. NdT
[4] El Evangelio de Jesucristo. Id.
[5] El Apocalipsis de San Juan. Id
[6] Cristo Vuelve o no vuelve? Id
[7] Los Papeles de don Benjamín Benavides. Id
[8] Sem tradução. Pode-se conjeturar o mesmo que “louquinho” ou “amalucado”.
[9] Su Majestad Dulcinea. Id

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