O arcebispo Carlo Maria Viganò, cujo testemunho de 11 folhas de agosto sacudiu a Igreja, inclusive a Sé Apostólica, publicou hoje uma nova declaração, desafiando ao papa Francisco por seu silêncio frente às acusações por sua cumplicidade no encobrimento dos culpáveis de abuso sexual eclesiástico.
Em sua nova declaração, Viganò disse que sua decisão
de revelar “esses fatos graves” foi para ele “a decisão mais dolorosa e séria”
que já tomou em sua vida. “O fiz,” escreve Viganò, “depois de longas reflexões e
orações, durante meses de profundo sofrimento e angústia, durante um crescendo
de notícias contínuas de terríveis acontecimentos, com milhares de vítimas
inocentes destruídas e as vocações e vidas de jovens sacerdotes e religiosos
perturbadas.”
Viganò disse que embora algo do que ele revelou estivesse protegido pelo
segredo pontifício, “o objetivo de qualquer segredo, incluído o segredo pontifício,
é proteger a Igreja de seus inimigos, não ocultá-la e converter-se em cúmplice
dos crimes cometidos por alguns de seus membros.” Mais ainda, “como declara o Catecismo da Igreja Católica (par. 2491), o selo do
segredo não é vinculante quando um dano grave pode evitar-se unicamente ao
divulgar a verdade. Só o selo da confissão poderia haver justificado meu silêncio.”
Dado que nem o Papa nem nenhum dos cardeais em Roma negaram os fatos que
afirmou em seu testemunho – testemunho que Viganò declara “com a consciência tranquila
ante Deus” que é verdade – a máxima “Qui tacit consentit”
(quem cala consente) “seguramente se aplica aqui.” “Se negam meu testemunho,” aponta
o ex núncio papal, “só têm que dizê-lo e fornecer a documentação para respaldar
essa negação. Como podemos evitar concluir que a razão pela qual não fornecem a
documentação é porque sabem que confirma meu testemunho?”
Viganò repreende Francisco não só por sua promessa de
silêncio – “Não vou dizer uma palavra!” – mas também por seu fracasso em manter
o silêncio, comparando-o com “o de Jesus em Nazaré e ante Pilatos,” e
comparando Viganò “com o grande acusador, Satanás, que semeia o escândalo e a divisão
na Igreja, mesmo que sem pronunciar” o nome do arcebispo.
Em lugar de dizer que Viganò mentiu, escreve, “em seu
lugar implantou uma sutil calúnia contra mim: caluniar é uma ofensa que frequentemente
tem comparado com a gravidade do assassinato. De fato, o fez repetidas vezes, no
contexto da celebração do Santíssimo Sacramento, a Eucaristia, onde não corre o
risco de ser desafiado pelos jornalistas.”
A declaração de hoje é uma forte sequência ao já
publicado, e Viganò aclara que foi o cardeal Marc Ouellet quem lhe falou “das
sanções do papa Bento sobre McCarrick.” “Tem a sua disposição,” diz Viganò a Ouellet,
“documentos chave que incriminam McCarrick e muitos na cúria por seus encobrimentos.
Sua Eminência, lhe insto a que testifique-se da verdade.”
A declaração completa se encontra em seguida.
Steve Skojec
***
Arcebispo titular de Ulpiana
Núncio apostólico
Scio Cui credidi
(2 Tim.1, 12)
Antes de começar a escrever, gostaria de dar graças
e glorificar a Deus Pai por cada uma das situações e provas que me preparou e
preparará ao longo da vida. Como sacerdote e bispo da Santa Igreja Esposa de
Cristo, fui chamado como todos os batizados a dar testemunho da verdade. Pelo
dom do Espírito Santo que me sustenta com alegria no caminho que me chamou a
recorrer, [e que] é minha intenção fazê-lo até o final de meus dias. Nosso
único Senhor me convidou também a segui-lo, e é igualmente minha intenção segui-lo
com a ajuda de sua graça enquanto Deus me dê vida.
"Enquanto viver, cantarei à glória do Senhor,
salmodiarei ao meu Deus enquanto existir.
Possam minhas palavras lhe ser agradáveis!
Minha única alegria se encontra no Senhor."
Salmos, 103, 33-34
Já faz um mês que apresentei meu testemunho, sem outra
intenção que o bem da Igreja, sobre o sucedido na audiência com o papa
Francisco em 23 de junho de 2013 e com relação a certos assuntos que me foi
dado a conhecer no curso das missões que me foram confiadas quando trabalhava
na Secretaria de Estado e em Washington, no tocante aos responsáveis de encobrir
delitos cometidos pelo anterior prelado de dita capital.
Minha decisão de revelar tão graves sucessos é uma das mais sérias e
dolorosas que já tomei na vida. A tomei após muita reflexão e oração, depois de
meses de profundo sofrimento e angústia, em meio de uma avalanche cada vez maior
de notícias de terríveis acontecimentos com milhares de vítimas inocentes
arruinadas e a vocação e a vida de jovens sacerdotes e religiosos vendo-se
truncadas. O silêncio dos pastores que poderiam ter facilitado o remédio e
evitado que houvesse mais vítimas foi se tornando cada vez mais inexcusável,
convertendo-se em um delito devastador para a Igreja. Apesar de ser bem
consciente das tremendas consequências que poderia ocasionar meu testemunho,
porque estava a ponto de revelar que o próprio sucessor de São Pedro estava
implicado, não me importou falar pelo bem da Igreja, e declaro ante Deus com a
consciência tranquila que meu testemunho é verdadeiro. Cristo deu a vida pela
Igreja, e Pedro, servus servorum Dei, é o
primeiro que está chamado a servir a Esposa de Cristo.
É indubitável que alguns dos fatos que fosse revelar pertenciam ao segredo
pontifício que eu havia prometido guardar e havia guardado fielmente desde o início
de meu serviço na Santa Sé. Mas o motivo de todo segredo, incluído o pontifício,
é defender a Igreja de seus inimigos, não encobrir e tornar-se cúmplice dos
delitos cometidos por alguns de seus membros. Eu era testemunha, não por
decisão própria, de uns acontecimentos escandalosos, e como diz o Catecismo da Igreja Católica (2491), o segredo não
obriga se, tornando a verdade conhecida, se pode evitar um dano muito grave. Só
o segredo de confissão poderia ter justificado meu silêncio.
Nem o Papa nem nenhum cardeal de Roma negaram o que declarei em meu
testemunho. A máxima quem cala, consente se
cumpre indubitavelmente neste caso, já que se quisessem negar meu testemunho não
teriam mais que desmenti-lo e fornecer a documentação que confirmasse seu
desmentido. É inevitável tirar a conclusão de que não fornecem a documentação
porque sabem que confirma meu testemunho.
Meu testemunho se centrava em que ao menos desde 23
de junho de 2013 o Papa conhecia, porque eu lhe havia dado a conhecer, a
perversidade e a maldade das intenções e ações de McCarrick, e em vez de tomar
as medidas que qualquer pastor bom teria tomado, o Papa nomeou McCarrick um de
seus principais assistentes no governo da Igreja, assuntos relativos aos EUA, à
Cúria e inclusive à China, como vemos nestes dias sentindo grande preocupação e
ansiedade por essa igreja mártir.
E não obstante, a resposta do Papa a meu testemunho foi «Não direi uma palavra!» mas em seguida, contradizendo-se,
comparou seu silêncio com o de Jesus em Nazaré e ante Pilatos, e a mim com o
grande acusador, Satanás, que semeia escândalo e divisão na Igreja, ainda que
não chegue a nomear-me. Se tivesse dito que Viganò mentia, teria posto em dúvida
minha credibilidade enquanto tratava de afirmar a sua. Com isso teria suscitado
uma maior demanda no povo de Deus e no mundo para que se publicasse a documentação
necessária para determinar quem dizia a verdade. En vez disso, emitiu uma sutil calúnia sobre
mim. E a calúnia é um delito tão grave que ele comparou com
o de assassinato. Em realidade o fez repetidamente no contexto da celebração do
Santíssimo Sacramento, da Eucaristia, porque nesse momento os jornalistas não
podiam preguntar-lhe nada. Quando falou com estes, pediu-lhes que fizessem uso
de sua maturidade profissional e tirassem suas próprias conclusões. E como os
repórteres vão averiguar a verdade se os diretamente implicados se negam a
responder preguntas e facilitar documentos? A negativa do Papa a responder a minhas
acusações e que faça ouvidos mocos aos fiéis não são muito coerentes com suas chamadas
à transparência e a construir pontes.
Ainda mais, está claro que não foi um erro isolado
que o Papa encobrisse McCarrick. Ultimamente se têm documentado muitos casos mais
na imprensa de que o papa Francisco defendeu sacerdotes homossexuais que cometeram
graves abusos contra menores ou adultos. Entre eles sua cumplicidade no caso do Pe.
Julio Grassi em Buenos Aires, a reabilitação do Pe. Mauro Inzoli depois de que o papa Bento o manteve apartado do ministério
(até que foi preso, após o que Francisco o reduziu ao estado laico) e sua
interrupção da investigação sobre as acusações de abusos sexuais contra o cardeal
Cormac Murphy O’Connor.
Enquanto isso, uma delegação da Conferência
Episcopal dos EUA presidida pelo cardeal Di Nardo foi a Roma para solicitar uma
investigação de McCarrick. O cardeal Di Nardo e outros prelados deveriam dizer à
Igreja dos EUA e do mundo inteiro se o Papa se negou a investigar os delitos de
McCarrick e dos encobridores. Os fiéis têm direito de sabê-lo.
Em particular gostaria de apelar ao cardeal Ouellet, porque quando era Núncio
sempre trabalhei muito estreitamente com ele, e sempre lhe tive grande estima e
afeto. Recordará que ao final de minha nunciatura em Washington me recebeu uma tarde
em seu apartamento de Roma e mantivemos uma longa conversação. No início do
pontificado de Francisco, havia mantido sua dignidade, como havia demonstrado
valorosamente quando era arcebispo de Quebec. Mas mais tarde, sendo prefeito da
Congregação para os Bispos, foi assediado, porque as recomendações para as
ordenações episcopais eram passadas diretamente a Francisco pelos amigos homossexuais de seu dicastério, e terminou
por dar-se por vencido. O longo artigo que escreveu em L’Osservatore romano a favor dos aspectos mais
controvertidos de Amoris laetitia supôs sua
rendição. Eminência: antes de que eu partisse para Washington, foi o senhor quem
me falou das sanções de Bento a McCarrick. Tem inteiramente a sua disposição
documentos chave que incriminam McCarrick e a muitos encobridores seus na Cúria.
Eminência, o insto a dar testemunho da verdade.
Por último, quisera animar a todos os fiéis, meus irmãos em Cristo: não
desesperem! Façam seu o ato de fé e confiança em Cristo Jesus nosso Salvador
que fez São Paulo em sua segunda epístola a Timóteo, scio Cui credidi, sei em Quem acreditei, que escolhi
como lema episcopal. É um momento de arrependimento, de conversão, de orações,
de graça, para preparar a Igreja, esposa do Cordeiro, para combater e ganhar
com Maria a batalha contra o dragão antigo.
Scio Cui credidi (2 Tim 1:12)
Em Ti, Jesus, meu único Senhor, deposito minha inteira
confiança.
«Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus»
(Rom. 8,28)
Para comemorar minha ordenação episcopal em 26 de
abril de 1992, pelas mãos de João Paulo II, elegi esta imagem tomada de um
mosaico da basílica de São Marcos em Veneza, que representa o milagre da
tormenta que Jesus acalmou. Me chamou poderosamente a atenção que na barca de São
Pedro açoitada pela tempestade Jesus apareça duas vezes. Uma, profundamente
dormido na proa enquanto Pedro trata de despertar-lhe: «Mestre, não te preocupas
de que pereçamos? Enquanto isso, os apóstolos, aterrorizados, olhavam para outro
lado sem reparar em que Jesus estava de pé às costas deles, abençoando-os e
garantindo-lhes que estava no comando da embarcação: Despertando, mandou ao
vento e disse ao mar: Cala, emudece… E logo lhes disse: “Por que temeis? Ainda
não tendes fé?”» (Mc
4,38-40).
A cena é muito oportuna porque representa a atroz
tormenta que atravessa a Igreja neste momento, mas com uma diferença crucial:
que o sucessor de São Pedro não só não se dá conta de que o Senhor está
verdadeiramente ao timão, mas que nem sequer tem intenção de despertar a Jesus
que dorme na proa.
Será que Cristo se tornou invisível para seu
vigário? Será que tem a tentação de tornar-se substituto de nosso único Mestre e
Senhor?
O Senhor tem inteiramente em suas mãos o governo da
barca!
Que Cristo, a Verdade, nos ilumine sempre o caminho!
+ Carlo Maria Viganò
Arcebispo titular de Ulpiana
Núncio apostólico
29 de setembro de 2018
Festividade de São Miguel Arcanjo
(Artículo traducido por Marilina Manteiga. Carta traducida por Bruno de la Inmaculada /Adelante la Fe)
https://adelantelafe.com/vigano-vuelve-a-escribir-es-que-cristo-se-ha-vuelto-invisible-para-su-vicario/
Nenhum comentário:
Postar um comentário