Autor da capa: Adolfo José
“Quase existem tantas
seitas e crenças quanto existem cabeças... esta não aceita o Batismo; esta
rejeita o Sacramento do altar... umas ensinam que Jesus Cristo não é Deus. Não
há um indivíduo, por mais imbecil que seja, que não proclame ser inspirado pelo
Espírito Santo e não proclame como profecias seus devaneios e sonhos”[1]
A citação acima poderia dar ao presente
trabalho a característica de tendencioso, não fosse um pequeno detalhe: as
palavras terem saído da pena de Martinho Lutero (1483-1546), o “pai” do
protestantismo.
Direto ao assunto
Este pode ser considerado certamente um dos
pontos centrais ao se falar em uma “Igreja de Cristo”: a unidade. Há um só Deus
em três pessoas, um só Jesus Cristo, logo somente poderia haver uma única
Igreja. Cristo disse que todo reino dividido contra si não é obra sua, tendo como
consequência a autodestruição (cf. Lc XI, 17ss). Na história humana podemos
verificar esta lei perfeitamente aplicável a todo e qualquer agrupamento:
reinos, impérios, partidos políticos, famílias, equipes de futebol e
quadrilhas de traficantes.
A Santíssima Trindade é o maior exemplo de
união existente. Não por acaso o Filho, ao rogar ao Pai por todos os que nele
cressem, o fez nestes termos: “Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que
sejam um, como também nós somos um. Eu (estou) neles e tu (estás) em
mim, para que sejam consumados na unidade, e para que o mundo conheça que tu me
enviaste...” (Jo XVII, 22s). Vejamos o que temos aqui: Jesus Cristo, o Filho,
que havia dito a Pedro que sobre ele edificaria a sua Igreja (cf. Mt XVI, 18),
roga agora ao Pai para que todo o corpo desta Igreja (seus membros) “sejam um”
ou seja, sejam “consumados na unidade”. De que forma? “Como
também nós somos um”. E para quê? “Para que o mundo conheça que tu me
enviaste”.
Perfeito.
Ao pacifista indiano Mahatma Gandhi
(1869-1948) é atribuída a frase: “Me tornaria cristão se visse nos cristãos um
exemplo de Cristo”. Não entrando no mérito desta frase de efeito, nos chama à
atenção um detalhe: a unidade dos cristãos como sinônimo de testemunho e
confirmação de uma verdade,consequentemente, de credibilidade, pois Gandhi não
apenas se referia aos modelos de cristãos que via ao seu entorno como à sua
unidade, uma vez que sob o rótulo “cristãos” haviam, além dos católicos, os
ortodoxos e protestantes. É justamente a isto que Cristo se refere e que os
Atos dos Apóstolos bem destaca.
Então, vejamos.
Se a Bíblia nos diz que “Há um
só corpo, um só Espírito... uma
só esperança... um só Senhor, uma só fé, um
só batismo” (Efe IV, 4s), pela lógica protestante – aqui em linguagem
informática – somente um ultra, mega, giga programa de compactação poderia
zipar as mais de 38.000 (TRINTA E OITO MIL) denominações existentes[2]
para transformá-las n’A Igreja de Cristo. Restaria contudo um problema
fundamental: em qual computador alocar essa loucura, porque necessariamente
teria de ser em um só.
Dirá alguém que a Igreja de Cristo “somos
nós”, que ela não é uma instituição, mas a “união dos fiéis” etc etc. De
acordo.Se esta “união dos fiéis” professasse “uma só esperança... uma
só fé, um só batismo”, ou seja, se todos falassem a mesma língua, ao
menos em questões fundamentais. Mas neste ponto também dirá alguém: “Nas
questões fundamentais ou principais estamos todos de acordo”. Então aproveitando
o novo acordo da língua portuguesa seria prudente solicitar a mudança de
significação dos verbetes fundamental
e principal, porque as divisões e os
desentendimentos protestantes (e Lutero não nos deixa mentir) se dão
justamente em questões fundamentais como o batismo, o dia de culto, a
Santíssima Trindade, as imagens, a divindade de Cristo e a reverência a Maria
Santíssima. Curiosa “unidade no fundamental”...
Para se ter noção, conheci um município com
pouco mais de cinco mil habitantes em sua sede[3].
Nele, em um intervalo de 10 anos (2002-2012), o número de seitas triplicou de
11 para 32 segundo última contagem (dez 2012)[4].
Destas divisões, há pelo menos três subgrupos de Batistas e uns quatro de
Assembleias de Deus. Apesar de manter o nome base também se dividem (ou
subdividem) nas questões fundamentais acima: há Batistas que batizam crianças,
enquanto outros não as batizam. Há adventistas que observam o domingo enquanto outros,
o sábado. Há seitas[5]
que ao modo de uma colcha de retalhos se assemelham a um Frankenstein
evangélico,tal o caso de
uma “Igreja Assembléia de Deus Adventista Romaria do Povo de Deus”. Vá se
entender uma coisa dessas.
Nada, porém, é novidade porque o que dará
origem a uma diversidade não de línguas, mas de seitas, não será o Espírito
Santo, sim o luterano, o do inventor do protestantismo, seguindo as baforadas
de outro espírito. Vejamos o que este personagem pouco e mal conhecido da
história e de seus filhos e netos dirá logo após sua fracassada tentativa de
“reformar” a Igreja:
“Os
evangélicos são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa
doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula,
à embriaguez, e a toda a espécie de vícios (sic). Expulsamos um demônio e
vieram sete piores. Príncipes, senhores, nobres, burgueses e agricultores
perderam de todo o temor de Deus” [Weimar XXVIII-763].
(...) “Quem de
nós se teria abalançado a pregar, se pudesse prever que tanta desgraça, tanto
escândalo, tanto crime, tanta ingratidão e malvadez seriam o resultado da nossa
pregação? Agora, uma vez que chegamos a este estado, soframos-lhe as
conseqüências” [Walch VIII-564].
Esta é a história do protestantismo atestada
por seu próprio inventor. Como vimos acima, antes de suicidar[6]
Lutero lamentava amargamente o fato de suas heresias terem não reformado, mas
deformado a Igreja, abrindo uma brecha para que a partir daquele momento
qualquer um pudesse ser um “reformador”. Em outras palavras, só depois de ver a
reprise pela televisão é que se deu conta do gol contra que fizera. Não seria
de admirar, conhecendo o primeiro protestante a partir de suas próprias
palavras: “Quem não crê como eu é destinado ao inferno. Minha doutrina e a
doutrina de Deus são a mesma coisa. Meu julgamento é o julgamento de Deus”
(Weimar X 2 Abt. 107).
Ecce homo[7]que pretendia reformar a
Igreja! O desfecho está diante de nós: mais de 38.000 (TRINTA E OITO MIL)...
mas sem a mínima chance desta aberração ser “graças a Deus!”. De outro lado, o
que nos dirá o fundador do Cristianismo? “Eu sou o bom pastor. Tenho também
outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que eu as traga,
e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”[8].
Há quem aguarde temerariamente a volta de
Cristo a fim de ouvir estas palavras de sua boca e atender a este chamado.
Estes são os que correm o risco do azeite acabar[9].
Encontrarão a porta ainda aberta?
Em tempo: 1) Em um site protestante
(http://www.cristianismohoje.com.br/materias/brasil/parece-mas-nao-e –
21.11.2010[10]),
vemos que o fenômeno da multiplicação das seitas não somente fugiu ao controle
das mesmas, como vem corroborando ipsis litteris o que há 500 anos já
vislumbrava Lutero como consequência de seu ato soberbo e rebelde. Com precisão
matemática podemos afirmar que não há mais volta a tal desenfreio enquanto não
reconhecerem o problema de fundo, que está no princípio luterano do Livre exame
ou Livre interpretação. Ou então até que Cristo retorne, o que, como dito, é
muito mais arriscado.
2) A quase totalidade dos
protestantes não se coloca – ou coloca superficialmente – uma questão
fundamental: se o que Lutero pretendia era “reformar”, como aceder à tentação
de “construir”? E se de fato era, como dizia, um “reformador”, não seria
porque, antes, não aceitava o fato de a Igreja católica ser a única verdadeira (do
contrário não haveria por que reformá-la)?Se foi, como deixar de ser? Mesmo com
todos os pecados de Israel, que já os sabia de antemão, Deus não escolheu outro
povo quando tais pecados começaram a aparecer, mas enviou homens que durante
todo o tempo os exortava a voltar ao caminho, permanecendo fiel à sua escolha.
Não faria o mesmo com a Igreja?
Introdução do livro
[1] Martinho
Lutero, John A. O’Brien, Ed. Vozes, 1959, p.32 e Grisar, Luther, IV, 386-407,
B. Herder, St. Louis, 1917. Apud
http://eucaristiadiaria.blogspot.com.br/2013/01/lutero-em-sua-famosa-frase-ha-tantas.html.
Acesso em 06/06/2016.
[2]Fonte: Moura, Jaime
Francisco. Porque estes exprotestantes se tornaram católicos! São José dos
Campos: Editora com Deus, 2006, p.18.
[3] Ano de
referência: 2012.
[4]
Atualmente, segundo informações, giram em tornode 40-45.
[5] De sectário:
separado, dividido; daí que toda denominação protestante ainda que se valha do
epíteto de igreja não consegue ir além de uma seita, pois há 500 anos se
separaram da Igreja Católica Romana, única existente durante os primeiros mil
anos de cristianismo, única fundada por Jesus Cristo. E daí em diante viverão se
separando umas das outras como o fazem até o presente momento.
[6]Ver: O Diabo, Lutero e o Protestantismo (Bibliografia/Fontes).
Em que pese a controvérsia e a dúvida de se foi suicídio, como poderá ser visto
nesta obra, tal possibilidade não se tem por inteiro descartada. O que se pode
afirmar é que Lutero teve morte horrenda, digna de todo grande perseguidor da
Igreja.
[7] Expressão
latina que significa: “eis o homem!”, frase originalmente pronunciada por
Pilatos a Cristo (cf. Jo XIX, 5).
[8]Jo X, 14.16.
[10]
Verifiquei recentemente esta postagem (30.05.2017) e vi que foi retirada do
site. Em outro local (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2075792.
Acesso na data acima) pode-se verificar matéria com teor semelhante.
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