sábado, 8 de julho de 2017

capítulo I – “QUE SEJAM UM”... não dois, vinte, TRINTA E OITO MIL... [A unidade cristã]








Autor da capa: Adolfo José


Capítulo I – “QUE SEJAM UM”... não dois, vinte, TRINTA E OITO MIL... [A unidade cristã]

“Quase existem tantas seitas e crenças quanto existem cabeças... esta não aceita o Batismo; esta rejeita o Sacramento do altar... umas ensinam que Jesus Cristo não é Deus. Não há um indivíduo, por mais imbecil que seja, que não proclame ser inspirado pelo Espírito Santo e não proclame como profecias seus devaneios e sonhos”[1]

A citação acima poderia dar ao presente trabalho a característica de ten­dencioso, não fosse um pequeno detalhe: as palavras terem saído da pena de Martinho Lutero (1483-1546), o “pai” do protestantismo.

Direto ao assunto

Este pode ser considerado certamente um dos pontos centrais ao se falar em uma “Igreja de Cristo”: a unidade. Há um só Deus em três pessoas, um só Jesus Cristo, logo somente poderia haver uma única Igreja. Cristo disse que todo reino dividido contra si não é obra sua, tendo como conse­quência a autodestruição (cf. Lc XI, 17ss). Na história humana podemos verifi­car esta lei perfeitamente aplicável a todo e qualquer agrupamento: reinos, im­périos, partidos políticos, famílias, equipes de futebol e quadrilhas de traficantes.

A Santíssima Trindade é o maior exemplo de união existente. Não por acaso o Filho, ao rogar ao Pai por todos os que nele cressem, o fez nestes termos: “Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um, como também nós somos um. Eu (estou) neles e tu (estás) em mim, para que sejam consumados na unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste...” (Jo XVII, 22s). Vejamos o que temos aqui: Jesus Cristo, o Filho, que havia dito a Pedro que sobre ele edificaria a sua Igreja (cf. Mt XVI, 18), roga agora ao Pai para que todo o corpo desta Igreja (seus membros) “sejam um” ou seja, sejam “consumados na unidade”. De que forma? “Como também nós somos um”. E para quê? “Para que o mundo conheça que tu me enviaste”.

Perfeito.

Ao pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) é atribuída a frase: “Me tornaria cristão se visse nos cristãos um exemplo de Cristo”. Não entran­do no mérito desta frase de efeito, nos chama à atenção um detalhe: a unidade dos cristãos como sinônimo de testemunho e confirmação de uma verdade,consequentemente, de credibilidade, pois Gandhi não apenas se referia aos modelos de cristãos que via ao seu entorno como à sua unidade, uma vez que sob o rótulo “cristãos” haviam, além dos católicos, os ortodoxos e protestantes. É justamente a isto que Cristo se refere e que os Atos dos Apóstolos bem destaca.

Então, vejamos.


Se a Bíblia nos diz que “Há um só corpo, um só Espírito... uma só esperança... um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Efe IV, 4s), pela lógica protestante – aqui em linguagem informática – somente um ultra, mega, giga programa de compactação poderia zipar as mais de 38.000 (TRINTA E OITO MIL) denominações existentes[2] para transformá-las n’A Igreja de Cristo. Restaria contudo um proble­ma fundamental: em qual computador alocar essa loucura, porque necessariamente teria de ser em um só.

Dirá alguém que a Igreja de Cristo “somos nós”, que ela não é uma institui­ção, mas a “união dos fiéis” etc etc. De acordo.Se esta “união dos fiéis” professasse “uma só esperança... uma só fé, um só batismo”, ou seja, se todos falassem a mesma língua, ao menos em questões fundamentais. Mas neste ponto também dirá alguém: “Nas questões fundamentais ou principais estamos todos de acordo”. Então aprovei­tando o novo acordo da língua portuguesa seria prudente solicitar a mudança de significação dos verbetes fundamental e principal, porque as divisões e os desen­tendimentos protestantes (e Lutero não nos deixa mentir) se dão justamente em questões fundamentais como o batismo, o dia de culto, a Santíssima Trindade, as imagens, a divindade de Cristo e a reverência a Maria Santíssima. Curiosa “unidade no fundamental”...

Para se ter noção, conheci um município com pouco mais de cinco mil habitantes em sua sede[3]. Nele, em um intervalo de 10 anos (2002-2012), o número de seitas triplicou de 11 para 32 segundo última contagem (dez 2012)[4]. Destas divisões, há pelo menos três subgrupos de Batistas e uns quatro de Assembleias de Deus. Apesar de manter o nome base também se dividem (ou subdividem) nas questões fundamentais acima: há Batistas que batizam crianças, enquanto outros não as batizam. Há adventistas que observam o domingo enquanto outros, o sábado. Há seitas[5] que ao modo de uma colcha de retalhos se assemelham a um Frankenstein evangélico,tal o caso de uma “Igreja Assembléia de Deus Adventista Romaria do Povo de Deus”. Vá se entender uma coisa dessas.

Nada, porém, é novidade porque o que dará origem a uma diversidade não de línguas, mas de seitas, não será o Espírito Santo, sim o luterano, o do inven­tor do protestantismo, seguindo as baforadas de outro espírito. Vejamos o que este personagem pouco e mal conhecido da história e de seus filhos e netos dirá logo após sua fracassada tentativa de “reformar” a Igreja:

“Os evangélicos são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez, e a toda a espécie de vícios (sic). Expulsamos um demônio e vieram sete piores. Prínci­pes, senhores, nobres, burgueses e agricultores perderam de todo o temor de Deus” [Weimar XXVIII-763].
(...) “Quem de nós se teria abalançado a pregar, se pudesse prever que tanta desgraça, tanto escândalo, tanto crime, tanta ingratidão e malvadez seriam o resultado da nossa pregação? Agora, uma vez que chegamos a este estado, soframos-lhe as conseqüências” [Walch VIII-564].

Esta é a história do protestantismo atestada por seu próprio inventor. Como vimos acima, antes de suicidar[6] Lutero lamen­tava amargamente o fato de suas heresias terem não reformado, mas deformado a Igreja, abrindo uma brecha para que a partir daquele momento qualquer um pudesse ser um “reformador”. Em outras palavras, só depois de ver a reprise pela televisão é que se deu conta do gol contra que fizera. Não seria de admirar, conhecendo o primeiro protestante a partir de suas próprias palavras: “Quem não crê como eu é destinado ao inferno. Minha doutrina e a doutrina de Deus são a mesma coisa. Meu julgamento é o julgamento de Deus” (Weimar X 2 Abt. 107).

Ecce homo[7]que pretendia reformar a Igreja! O desfecho está diante de nós: mais de 38.000 (TRINTA E OITO MIL)... mas sem a mínima chance desta aberração ser “graças a Deus!”. De outro lado, o que nos dirá o fundador do Cristianismo? “Eu sou o bom pastor. Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor[8].

Há quem aguarde temerariamente a volta de Cristo a fim de ouvir estas palavras de sua boca e aten­der a este chamado. Estes são os que correm o risco do azeite acabar[9]. Encontrarão a porta ainda aberta?

Em tempo: 1) Em um site protestante (http://www.cristianismohoje.com.br/mate­rias/brasil/parece-mas-nao-e – 21.11.2010[10]), vemos que o fenômeno da multiplicação das seitas não somente fugiu ao controle das mesmas, como vem corroborando ipsis litteris o que há 500 anos já vislumbrava Lutero como consequência de seu ato soberbo e rebelde. Com precisão matemática podemos afirmar que não há mais volta a tal desenfreio enquanto não reconhecerem o problema de fundo, que está no princípio luterano do Livre exame ou Livre interpretação. Ou então até que Cristo retorne, o que, como dito, é muito mais arriscado.

2) A quase totalidade dos protestantes não se coloca – ou coloca superficialmente – uma questão fundamental: se o que Lutero pretendia era “reformar”, como aceder à tentação de “construir”? E se de fato era, como dizia, um “reformador”, não seria porque, antes, não aceitava o fato de a Igreja católica ser a única verdadeira (do contrário não haveria por que reformá-la)?Se foi, como deixar de ser? Mesmo com todos os pecados de Israel, que já os sabia de antemão, Deus não escolheu outro povo quando tais pecados começaram a aparecer, mas enviou homens que durante todo o tempo os exortava a voltar ao caminho, permanecendo fiel à sua escolha. Não faria o mesmo com a Igreja?

Apresentação do livro

Introdução do livro



[1] Martinho Lutero, John A. O’Brien, Ed. Vozes, 1959, p.32 e Grisar, Luther, IV, 386-407, B. Herder, St. Louis, 1917. Apud http://eucaristiadiaria.blogspot.com.br/2013/01/lutero-em-sua-famosa-frase-ha-tantas.html. Acesso em 06/06/2016.
[2]Fonte: Moura, Jaime Francisco. Porque estes exprotestantes se tornaram católicos! São José dos Campos: Editora com Deus, 2006, p.18.
[3] Ano de referência: 2012.
[4] Atualmente, segundo informações, giram em tornode 40-45.
[5] De sectário: separado, dividido; daí que toda denominação protestante ainda que se valha do epíteto de igreja não consegue ir além de uma seita, pois há 500 anos se separaram da Igreja Católica Romana, única existente durante os primeiros mil anos de cristianismo, única fundada por Jesus Cristo. E daí em diante viverão se separando umas das outras como o fazem até o presente momento.
[6]Ver: O Diabo, Lutero e o Protestantismo (Bibliografia/Fontes). Em que pese a controvérsia e a dúvida de se foi suicídio, como poderá ser visto nesta obra, tal possibilidade não se tem por inteiro descartada. O que se pode afirmar é que Lutero teve morte horrenda, digna de todo grande perseguidor da Igreja.
[7] Expressão latina que significa: “eis o homem!”, frase originalmente pronunciada por Pilatos a Cristo (cf. Jo XIX, 5).
[8]Jo X, 14.16.
[9]Cf. Mt XXV, 1-13.
[10] Verifiquei recentemente esta postagem (30.05.2017) e vi que foi retirada do site. Em outro local (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2075792. Acesso na data acima) pode-se verificar matéria com teor semelhante.

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