quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Catequese Mariana


   Devemos crer e confessarmos que o mesmo Jesus Cristo, nosso único Senhor e Filho de Deus, assumindo carne humana no seio da Virgem pela nossa salvação, não foi concebido de germe masculino, como os outros homens, mas por obra do Espírito Santo (Mt,1;20), acima de todas as leis da natureza, de sorte que a mesma Pessoa permaneceu Deus, qual era desde toda a eternidade, e se tornou  Homem, o que antes nunca tinha sido (Jo 1;24).
   Assim também explicou São João Evangelista: “ No princípio era o Verbo e o verbo estava com Deus,  e o Verbo era Deus” (Jo 1;1).
   O Verbo, que é uma pessoa da natureza divina, assumiu de tal forma a natureza humana que uma e a mesma Pessoa é o “suporte” das naturezas divina e humana.

   Daí resultou que, nessa admirável união, se conservaram as operações e propriedades de uma e outra natureza. E na frase do célebre Pontífice Leão Magno, “nem a glória da natureza superior destruiu a inferior, nem  a elevação da natureza inferior diminuiu a dignidade da superior”.
   Quando dizemos que o filho de Deus foi concebido por obra do Espírito Santo, não afirmamos que esta Pessoa da Santíssima Trindade consumou sozinha o mistério da Encarnação. Ainda que só o filho assumiu a natureza humana, nem por isso deixaram de ser autoras deste mistérios todas as três Pessoas da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
   A única coisa que não pode ser em comum a todas Pessoas, é o modo de proceder a uma da outra. Com efeito, só o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
   Apesar disso, a Sagrada Escritura costuma, das coisas que são comuns às três Pessoas, atribuir umas a esta Pessoa, outras àquela, como por exemplo, ao Pai o supremo poder sobre todas as coisas, ao Filho a sabedoria, e o amor ao Espírito Santo.
   Como o mistério da Encarnação de Deus nos revela a singular e imensa benignidade de Deus para conosco, é por esse motivo que, de modo particular, atribuímos essa operação ao Espírito Santo.
Caráter da conceição de Cristo:
aspecto natural. Verifica-se, neste mistério, que alguns elementos superam a ordem da natureza, e que outros lhe são conformes.
   Cremos que o Corpo de Cristo se formou do sangue da Virgem sua Mãe, e nisso reconhecemos uma operação da natureza humana. É  lei natural que todo corpo humano se forme do sangue materno.
aspecto sobrenatural. Mas o que ultrapassa a ordem natural das coisas, e supera a fôrça de nossa inteligência é o fato de que, no instante de consentir a bem-aventurada Vírgem às palavras do Anjo, declarando: “ Eis aqui a escrava do Senhor, cumpre-se em mim a Vossa Palavra”, - logo começou a formar-se nela o santíssimo Corpo de Cristo, ao qual, se uniu uma alma dotada de inteligência, de sorte que, no mesmo instante , o Deus perfeito se tornou perfeito homem (Lc 1,38).
   Acresce ainda outro fato, digno de maior admiração. Tanto que a alma se uniu ao corpo, a própria Divindade se uniu também ao corpo e à alma. Por conseguinte, logo que o corpo foi formado, e simultaneamente animado, a Divindade ficou ligada tanto ao corpo como à alma.
Maria Mãe de Deus. Daí se segue que, no mesmo instante, Deus perfeito veio a ser perfeito homem; e que a Santíssima Vírgem pode, verdadeira e propriamente ser chamada Mãe de Deus, porque no mesmo instante concebia a Deus e ao Homem.
   É o que também lhe foi significado, quando o Anjo lhe dissera: “ Eis que conceberás no teu seio, e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Este será grande, e chamar-Lhe-ão Filho do Altíssimo” (Lc 1,31). E por este fato se realizou a profecia de Isaías: “ Eis que uma Virgem conceberá, e dará  à luz um filho” (Is 7,14).
   Assim também reconheceu Isabel a conceição do Filho de Deus, quando toda cheia do Espírito Santo prorrompeu nas palavras: “ Donde me vem esta graça de chegar a mim a Mãe do meu Senhor ?”(Lc  1,43).
   Mas, como acabamos de dizer, o Corpo de Cristo se formou do puríssimo sangue da Vírgem toda Imaculada, sem nebhuma interferência de varão, mas unicamente pela virtude do Espírito Santo.
   O Anjo foi o primeiro a anunciar ao mundo esta mensagem de felicidade, e sua palavras nos dão a entender, com quanta alegria e elevação de espírito não devemos meditar este mistério da fé: “ Eis que venho anunciar-vos uma grande alegria para todo o povo”. E também os cantares da  milícia celeste: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade!” (Lc 2;10-14).
   Desde aquele instante, começou realmente a cumprir-se a grandiosa promessa de Deus a Abraão, quando lhe dissera que, um dia, “todos os povos seriam abençoados em sua descendência” (Gn 22,18). Maria, a quem proclamamos e veneramos como verdadeira Mãe de Deus, - por ter dado à luz aquela Pessoa que era ao mesmo tempo Deus e Homem, - descendia da estirpe real de Davi (Mt 1, 1-17).
   Se a conceição de Cristo já excede toda ordem da natureza, em Seu nascimento nada podemos contemplar que não seja de caráter divino.
   O que há de mais admirável, o que sobrepuja a tudo quanto o homem possa dizer ou imaginar, é o fato de nascer Ele de Sua Mãe, sem que daí resultasse a menor lesão da virgindade materna.
   Assim como mais tarde saiu do sepulcro fechado e selado; assim como “ entrou para junto de Seus Discípulos, apesar das portas fechadas” ( Jo 20,19); assim como, na observação diária da natureza, vemos os raios solares atravessarem um vidro compacto, sem o quebrar, e sem lhe fazer o menor estrago; - assim também, e de maneira mais sublime, nasceu Jesus cristo do seio de Sua Mãe, sem nenhum dano para a integridade materna.
Segunda Eva. De vez em quando, costuma o Apóstolo designar a Cristo como o “segundo Adão” (1Cor 15, 21-32), e confrontá-l’O com o primeiro Adão. Realmente, assim como pelo primeiro Adão todos os homens sofrem a morte, assim pelo segundo são todos novamente chamados à vida. Assim foi o pai do gênero humano segundo as leis da natureza, assim também Cristo é para todos o autor da graça e bem-aventurança.
   Por analogia, podemos igualmente comparar com Eva a Virgem Mãe de Deus. À primeira Eva corresponde a segunda, que é Maria; assim como acabamos de mostrar que o segundo Adão – Cristo – correponde ao primeiro Adão.
   Por ter dado crédito à serpente (Gn 3,6), Eva acarretou maldição e morte ao gênero humano. Maria acreditou na palavra do Anjo (Lc 1,38), e obteve que aos homens viesse bênção e vida (Ef 1,3). Por culpa de Eva, nascemos filhos da ira (Ef 2,3); por Maria recebemos Jesus Cristo, que nos fez renascer como filhos da graça (Gl 4, 4-7). A Eva foi dito: Em dores darás a luz (Gn 3,16). Maria ficou isenta desta lei. Conservando a integridade de sua virginal pureza, como dizíamos a pouco, Maria deu à luz a Jesus, Filho de Deus, sem sofrer dor de espécie alguma.
   Esta é a razão por que os Santos Doutores aplicam a este mistério muitos trechos, que lemos em vários lugares na Sagrada Escritura. Entre os quais se fala principalmente daquela porta do Santuário, que Ezequiel viu fechada (Ez 44,2); daquela pedra que se despendeu do monte, “ sem a intervenção de mãos humanas”, como diz Daniel, “ a qual se avolumou em grande montanha, e encheu toda a superfície da terra” (Dn 2 ,34-35); da “vara de Aarão, a única que deitou rebentos, entre as varas dos príncipes de Israel” (Nm 17,8); da “sarça, que Moisés viu arder sem se consumir” (Ex 3,2).
Catecismo Romano.