É uma
lembrança muito útil para a salvação eterna repetir sempre: um dia haverei de morrer. A Igreja
lembra anualmente aos fiéis, no Dia das Cinzas: lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar. A verdade
da morte vem mais vezes lembrada durante o ano, nos cemitérios, nas tumbas que
vemos nas igrejas e nos mortos que levamos para o sepultamento.
Os móveis
mais preciosos que os anacoretas carregavam consigo para suas grutas eram uma
cruz e um crânio de morto: a cruz para recordar o amor que Jesus nos trouxe e o
crânio para lembrar o dia da morte. E assim eles perseveravam na penitência até
o fim dos seus dias, e, morrendo como pobres naquele deserto, morriam mais
contentes do que os que monarcas em seus palácios.
“ É o fim! Vem o fim sobre os quatros
cantos da terra!” (Ez
7,2). Nesta terra há os que vivem mais e os que vivem menos. Para ambos, no
entanto, mais cedo ou mais tarde chegará o fim. E neste fim, que será a morte,
nosso único consolo será o de ter amado a Jesus Cristo e suportando com
paciência por seu amor as dificuldades desta vida. Não são de consolo nem as
riquezas adquiridas, nem as honras obtidas, nem os prazeres sentidos. Todas as grandezas deste mundo não consolam
os moribundos, mas trazem-lhes sofrimentos. E, quanto mais procuradas,
tanto maior seu sofrimento. Dizia irmã Margarida Sant’ Ana, monja carmelita
descalça e filha de Rodolfo II: “ Para
que servem os reinos na hora da morte?”
Ah! A quantos
mundanos acontece que – quando estão mais ocupados em buscar para si vantagens,
poderes e cargos – vem a ordem: “ Põe
ordem na tua casa que vais morrer e não viverás” (Is 38,1). “ Senhor X, é tempo
de pensar em fazer o testamento, que estás mal!” Ó Deus, que aflição
sentirá quem está prestes a ganhar aquele processo, a tomar posse daquele
palácio ou daquele feudo, ao escutar o sacerdote que veio para recomendar-lhe a
alma dizer: “ Parte deste mundo, alma
cristã!” Parte e vai prestar conta a Jesus Cristo! “ Mas agora não estou
bem preparado.” Que importa? É preciso partir agora.
Enfim, para
todos há de chegar o fim e com aquele momento decisivo de uma eternidade feliz
ou não: “Ó momento do qual depende a
eternidade!” Oh! Se todos pensassem neste grande momento e na prestação de
contas de toda vida que nele se deve fazer ao Juiz! “Se fossem sábios, compreenderiam e discerniriam o que os espera!”(Dt
32,29). Certamente não se preocupariam em acumular dinheiro e em trabalhar para
fazerem-se grandes nesta vida que passa. Pensariam, no entanto, em fazerem-se
santos e tornarem-se grandes naquela vida que nunca termina.
Se temos fé e
acreditamos que existem a morte, o juízo e a eternidade, procuremos, nos dias
que nos restam, viver unicamente para Deus. E por isso procuremos viver como
peregrinos neste mundo, pensando que logo teremos de deixá-lo. Vivamos sempre
em vista da morte, e nos afazeres desta vida escolhamos fazer aquilo que
faríamos no momento da morte.
As coisas da
terra ou nos deixam ou as teremos de deixar. Ouçamos Jesus Cristo que diz: “Ajuntem riquezas espirituais, que nem a
traça nem ferrugem podem destruir, e nem os ladrões conseguem assaltar e roubar”
(Mt 6,20). Desprezemos os tesouros da terra que não podem nos contentar e logo terminam
e conquistemos os tesouros do céu que nos farão felizes e não terminarão
jamais.
Miserável de
mim, Senhor, que voltei muitas vezes as costas a vós, Bem infinito, por causa
das coisas da terra! Conheço minha loucura de, no tempo passado, ter procurado
a fama e acúmulo de riquezas no mundo. Que de hoje em diante minha riqueza seja
amar-vos e fazer em tudo vossa vontade. Meu Jesus, tirai-me o desejo de aparecer,
fazei-me amar os desprezos e a vida oculta. Dai-me força para rejeitar tudo o
que não vos agrada. Fazei que eu abrace com serenidade a doença, as perseguições,
as desolações e todas as cruzes que me enviais. Oh! Pudesse eu morrer por vosso
amor, abandonado de todos, como morreste por mim! Virgem Santa, vossas orações
podem fazer-me encontrar a verdadeira riqueza
que é amar muito o vosso Filho; por favor, pedi-lo por mim! Eu confio em vós.
Uma estrada de salvação / Santo Afonso de Ligório.
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