domingo, 4 de agosto de 2013

Um dia haverei de morrer

 É uma lembrança muito útil para a salvação eterna repetir sempre: um dia haverei de morrer. A Igreja lembra anualmente aos fiéis, no Dia das Cinzas: lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar. A verdade da morte vem mais vezes lembrada durante o ano, nos cemitérios, nas tumbas que vemos nas igrejas e nos mortos que levamos para o sepultamento.
Os móveis mais preciosos que os anacoretas carregavam consigo para suas grutas eram uma cruz e um crânio de morto: a cruz para recordar o amor que Jesus nos trouxe e o crânio para lembrar o dia da morte. E assim eles perseveravam na penitência até o fim dos seus dias, e, morrendo como pobres naquele deserto, morriam mais contentes do que os que monarcas em seus palácios.
“ É o fim! Vem o fim sobre os quatros cantos da terra!” (Ez 7,2). Nesta terra há os que vivem mais e os que vivem menos. Para ambos, no entanto, mais cedo ou mais tarde chegará o fim. E neste fim, que será a morte, nosso único consolo será o de ter amado a Jesus Cristo e suportando com paciência por seu amor as dificuldades desta vida. Não são de consolo nem as riquezas adquiridas, nem as honras obtidas, nem os prazeres sentidos. Todas as grandezas deste mundo não consolam os moribundos, mas trazem-lhes sofrimentos. E, quanto mais procuradas, tanto maior seu sofrimento. Dizia irmã Margarida Sant’ Ana, monja carmelita descalça e filha de Rodolfo II: “ Para que servem os reinos na hora da morte?”

Ah! A quantos mundanos acontece que – quando estão mais ocupados em buscar para si vantagens, poderes e cargos – vem a ordem: “ Põe ordem na tua casa que vais morrer e não viverás” (Is 38,1). “ Senhor X, é tempo de pensar em fazer o testamento, que estás mal!” Ó Deus, que aflição sentirá quem está prestes a ganhar aquele processo, a tomar posse daquele palácio ou daquele feudo, ao escutar o sacerdote que veio para recomendar-lhe a alma dizer: “ Parte deste mundo, alma cristã!” Parte e vai prestar conta a Jesus Cristo! “ Mas agora não estou bem preparado.” Que importa? É preciso partir agora.
Enfim, para todos há de chegar o fim e com aquele momento decisivo de uma eternidade feliz ou não: “Ó momento do qual depende a eternidade!” Oh! Se todos pensassem neste grande momento e na prestação de contas de toda vida que nele se deve fazer ao Juiz! “Se fossem sábios, compreenderiam e discerniriam o que os espera!”(Dt 32,29). Certamente não se preocupariam em acumular dinheiro e em trabalhar para fazerem-se grandes nesta vida que passa. Pensariam, no entanto, em fazerem-se santos e tornarem-se grandes naquela vida que nunca termina.
Se temos fé e acreditamos que existem a morte, o juízo e a eternidade, procuremos, nos dias que nos restam, viver unicamente para Deus. E por isso procuremos viver como peregrinos neste mundo, pensando que logo teremos de deixá-lo. Vivamos sempre em vista da morte, e nos afazeres desta vida escolhamos fazer aquilo que faríamos no momento da morte.
 As coisas da terra ou nos deixam ou as teremos de deixar. Ouçamos Jesus Cristo que diz: “Ajuntem riquezas espirituais, que nem a traça nem ferrugem podem destruir, e nem os ladrões conseguem assaltar e roubar” (Mt 6,20). Desprezemos os tesouros da terra que não podem nos contentar e logo terminam e conquistemos os tesouros do céu que nos farão felizes e não terminarão jamais.
Miserável de mim, Senhor, que voltei muitas vezes as costas a vós, Bem infinito, por causa das coisas da terra! Conheço minha loucura de, no tempo passado, ter procurado a fama e acúmulo de riquezas no mundo. Que de hoje em diante minha riqueza seja amar-vos e fazer em tudo vossa vontade. Meu Jesus, tirai-me o desejo de aparecer, fazei-me amar os desprezos e a vida oculta. Dai-me força para rejeitar tudo o que não vos agrada. Fazei que eu abrace com serenidade a doença, as perseguições, as desolações e todas as cruzes que me enviais. Oh! Pudesse eu morrer por vosso amor, abandonado de todos, como morreste por mim! Virgem Santa, vossas orações podem fazer-me encontrar  a verdadeira riqueza que é amar muito o vosso Filho; por favor, pedi-lo por mim! Eu confio em vós.
 
 
Uma estrada de salvação / Santo Afonso de Ligório.

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