sexta-feira, 7 de março de 2014

A República moderna como governo ideal de uma sociedade anticristã

Waldeck Rousseau


A necessidade de suprimir a Igreja para assegurar o triunfo da civilização moderna foi o que Waldeck-Rousseau tinha dado a entender no discurso de Toulouse. Foi o que Viviani disse brutalmente, em 15 de janeiro de 1901, do alto da tribuna.

“Estamos encarregados de preservar de todo atentado o patrimônio da Revolução... Apresentamo-nos aqui carregando em nossas mãos, além das tradições republicanas, essas tradições francesas atestadas por séculos de combate, nos quais, pouco a pouco, o espírito laico foi se insinuando nas estreitezas da sociedade religiosa... Nós não estamos apenas frente à frente com as congregações, nós estamos frente à frente com a Igreja católica... Sob esse combate de um dia não é verdade que se reencontra mais uma vez esse conflito formidável em que o poder espiritual e o poder temporal disputam prerrogativas soberanas, tentando, no conquistarem as consciências, manter até o fim a direção da humanidade?


As Congregações e a Igreja não vos ameaçam apenas por suas intrigas, MAS PELA PROPAGAÇÃO DA FÉ... Não temais as batalhas que se vos oferecerão, ide; e se encontrardes diante de vós essa religião divina que torna poético o sofrimento mediante promessa de reparações futuras, oponde-lhe a religião da humanidade que, ela também, torna poético o sofrimento, oferecendo-lhe como recompensa a felicidade das gerações”.

Eis aí a questão claramente posta.

Ouvem-se nessas palavras menos os pensamentos pessoais de Viviani do que os da seita anticristã. Ela declara lutar há séculos contra a Igreja Católica: ela se vangloria de já ter obtido que o espírito laico se insinuasse pouco a pouco nas estreitezas da sociedade religiosa; ela diz que, no esforço feito para destruir as congregações, ela empenha apenas uma escaramuça, e que, para garantir o triunfo definitivo, ela deverá aplicar-se a novas e numerosas batalhas.

Em seu nome, Viviani declara que na batalha atual trata-se de coisa muito diferente da “defesa republicana”, de um lado, e da aceitação da forma de governo, de outro lado. Eis do que se trata: “insinuar o espírito laico nas estreitezas da sociedade religiosa”, “tomar as rédeas da humanidade”, “e destruir a sociedade baseada na vontade de Deus, para construir uma sociedade nova, baseada na vontade do homem”.

A verdadeira campanha é aquela que põe frente a frente a Igreja Católica e o Templo maçônico, isto é, a Igreja de Deus e a Igreja de Satã, conflito formidável do qual depende a sorte da humanidade. Durante o tempo em que a Igreja estiver de pé, Ela propagará a fé, Ela colocará no coração dos que sofrem e quem não sofre? as esperanças eternas. É somente sobre suas ruínas, pois, que se poderá edificar “a religião da humanidade, que promete a felicidade sobre esta terra”.

A continuação da discussão, no Senado assim como na Câmara, apenas acentuou a importância dessas declarações. Algumas curtas citações mostrarão que o discurso de Waldeck-Rousseau e de Viviani têm exatamente o significado que acabamos de dar.

Jacques Piou: “Aquilo que os socialistas querem, Viviani disse-o outro dia, sem rebuços. É arrancar as consciências do poder espiritual e conquistar a direção da humanidade”. O orador é interrompido por um membro da esquerda que lhe grita: Não são somente os socialistas que o querem, são todos os republicanos”.

Na sessão de 22 de janeiro, Lasies repõe a questão em seu verdadeiro terreno, nestes termos: “Há duas frases, direi dois atos, que dominam todo este debate. A primeira frase foi pronunciada por nosso nobre colega Viviani. Ele disse: “Guerra ao catolicismo!” Uma outra palavra foi pronunciada, e esta pelo digno Léon Bourgeois. A convite de Piou, Bourgeois afirmou novamente que o objetivo que ele persegue com seus amigos é substituir o espírito da Igreja, isto é, o espírito do catolicismo, pelo espírito da Reforma, pelo espírito da Revolução e pelo espírito da Razão.

Em 11 de março, C. Pelletan declara também que a luta atual se interliga ao grande conflito envolvendo os direitos do homem e os direitos de Deus. “Eis o conflito que paira acima de tudo neste debate”.

Em 28 de junho, no encerramento da discussão, o abade Gayraud pensa dever, antes da votação, lembrar aos deputados o que eles vão fazer, sobre o que eles vão se pronunciar. “A lei que ides votar não é uma lei de conciliação ou de pacificação. Está-se enganando o país com palavras. É uma lei de ódio contra a Igreja Católica. Viviani desvendou o fundo do projeto, quando declarou da tribuna a guerra à FÉ católica”.

No relatório que o Officiel publicou esta manhã e que tivemos que ler apressadamente, o digno Trouillot diz que a lei das associações é o prelúdio da separação entre as Igrejas e o Estado, que deverá ter por corolário indispensável uma lei geral sobre a disciplina dos cultos. A Câmara e o país estão, pois, esclarecidos. É a guerra aberta, declarada à Igreja Católica. Porque essa lei geral sobre a disciplina dos cultos não passará de um conjunto de prescrições de natureza a entravar, por todos os meios possíveis, os ministros do culto.

Quais devem ser essas medidas? Para onde devem tender? Viviani disse: substituir a religião católica pela religião da humanidade”, ou, segundo a fórmula de Bourgeois, “dar ao espírito da Revolução, da Filosofia e da Reforma, a vitória sobre a afirmação católica”: a afirmação católica que mostra o fim do homem além deste mundo e da vida presente, e o espírito da Filosofia e da Revolução, que limita o horizonte da humanidade à vida animal e terrestre.

Viviani disse: “Não estamos somente enfrentando as Congregações, nós estamos face a face com a Igreja Católica”, para combatê-La, para dedicar-lhe uma guerra de EXTERMÍNIO”.

Há muito tempo este pensamento povoa o espírito dos inimigos de Deus. Há muito tempo eles se vangloriam de poder exterminar a Igreja.

Em uma carta escrita em 25 de fevereiro de 1758, Voltaire dizia: “Ainda vinte anos e Deus terá o melhor jogo”. Ao tenente de polícia Hérault, que lhe repreendia a impiedade dizendo: “O senhor se esforça em vão; apesar do que escreve, não conseguirá destruir a religião cristã”, Voltaire respondeu: “É o que veremos”.

Deus teve o melhor jogo... contra Voltaire. No que diz respeito à Igreja, eis não vinte anos, mas séculos se passaram; e a Igreja Católica continua de pé.

G. de Pascal escrevia na Revue Catholique et Royaliste, número de março de 1908: “Faz muitos anos, o cardeal Mermillod me contou um episódio que retrata bem a situação, quando ele ainda estava em Genebra: o ilustre prelado via de tempos em tempos o príncipe Jerônimo Bonaparte, que morava na região de Prangins. O príncipe revolucionário apreciava muito a conversa do espiritual bispo. Um dia, ele lhe disse: “Não sou um amigo da Igreja Católica, não acredito em sua origem divina, mas conhecendo o que se trama contra ela, os esforços admiravelmente executados contra sua existência, se Ela resistir a esse assalto serei obrigado a concordar que há aí alguma coisa que ultrapassa o humano”.


Em junho de 1903, a Vérité Française referia que Ribot, numa conversa íntima, falara da mesma maneira: “Sei o que se prepara; conheço em detalhes as malhas da vasta rede que está estendida. Muito bem, se a Igreja romana escapa desta vez na França, isto será um milagre, milagre tão deslumbrante a meus olhos que me farei católico convosco”.

Nós vimos esse milagre no passado, nós o veremos no futuro. Os jacobinos podiam crer-se muito seguros, mais seguros mesmo do sucesso do que nossos livres pensadores; eles tiveram de reconhecer que se tinham enganado, ...e eles não se converteram. “Vi, disse Barruel em suas Mémoires, vi Cerutti acercar-se insolentemente do secretário do Núncio de Pio VI, e com uma alegria ímpia, com o sorriso da piedade, dizer-lhe: “Protegei bem vosso Papa; protegei bem este, e embalsamai-o bem após sua morte, porque eu vos anuncio, e podeis estar bem certo disto, não tereis outro”. Ele então não adivinhava, esse pretenso profeta, continua Barruel, que ele apareceria antes de Pio VI perante o Deus que, apesar das tempestades do jacobinismo, como apesar de tantas outras, nem por isso não estará menos com Pedro e Sua Igreja até o fim dos séculos”.

Numa obra editada em Friburgo, sob o título A deificação da humanidade, ou o lado positivo da maçonaria, o padre Patchtler bem demonstrou o significado que a maçonaria dá à palavra “humanidade” e o uso que dela faz. “Essa palavra, diz ele, é empregada por milhares de homens (iniciados ou ecos inconscientes dos iniciados), num sentido confuso, sem dúvida, mas sempre, entretanto, como o nome de guerra de um certo partido para uma certa finalidade, que é a oposição ao cristianismo positivo. Essa palavra, na boca deles, não significa somente o ser humano por oposição ao ser bestial... ela coloca, em tese, a independência absoluta do homem no domínio intelectual, religioso e político; ela nega todo fim sobrenatural do homem, e requer que a perfeição puramente natural da raça humana seja encaminhada pelas vias do progresso. A esses três erros correspondem três etapas na via do mal: a Humanidade sem Deus, a Humanidade que se faz de Deus, a Humanidade contra Deus. Tal é o edifício que a maçonaria pretende erguer no lugar da ordem divina que é Humanidade com Deus.

Nada mais claro: a humanidade é Deus, os direitos do homem devem substituir os da lei divina, o culto dos instintos do homem deve tomar o lugar daquele rendido ao Criador, a procura do progresso nas satisfações a dar aos sentidos deve substituir as aspirações da vida futura.

Mas a destruição da Igreja não deixará o lugar suficientemente limpo para a construção do Templo maçônico; aos clamores contra a Igreja juntam-se sempre gritos não menos raivosos contra a ordem social, contra a família e contra a propriedade. E assim deve ser, posto que as verdades da ordem religiosa entraram na própria substância dessas instituições.

A sociedade repousa sobre a autoridade, que tem seu princípio em Deus; a família, sobre o casamento que retira da benção divina sua legitimidade e sua indissolubilidade; a propriedade, sobre a vontade de Deus, Que a promulgou no sétimo e no décimo mandamento para protegê-la contra o roubo e mesmo contra a cobiça. É tudo isto que importa destruir, se se quer, como pretende a seita, fundar a civilização sobre novas bases.

Leão XIII anotou isso na sua encíclica Humanum genus: “Aquilo a que os maçons se propõe, disse ele, aquilo para que tendem todos os seus esforços, é a completa destruição de toda a disciplina religiosa e social nascidas das instituições cristãs, e a substituição por uma outra, adaptada às suas ideias, cujo princípio e leis fundamentais são tirados do naturalismo”.

Em 1865 realizou-se em Liége o congresso dos estudantes. Mais de mil jovens, vindos da Alemanha, da Espanha, da Holanda, da Inglaterra, da França, da Rússia, estiveram presentes. Eles se mostraram unânimes em seus sentimentos de ódio contra os dogmas e mesmo contra a moral católica: unanimidade de adesão às doutrinas e aos atos da Revolução Francesa, nesta compreendidos os massacres de 1793.

“O que é a Revolução?” E respondia: “A Revolução é o triunfo do trabalho sobre o capital, do operário sobre o parasita, do homem sobre Deus. Eis a Revolução social que comportam os princípios de 1889 e os direitos do homem levados à sua última expressão”. Ele dizia ainda: “Faz quatrocentos anos que minamos os alicerces do catolicismo, a mais forte máquina jamais inventada em matéria de espiritualismo; ela ainda está sólida, infelizmente!” Depois, na última sessão, lançou este grito do inferno: Guerra a Deus! Ódio a Deus! O PROGRESSO ESTÁ AÍ! É preciso estourar o céu como um saco de papel”. Quando a palavra “progresso” e outras semelhantes caem de lábios maçônicos, encontramos católicos para recolhê-las com uma espécie de respeito e de ingênua confiança, crendo ver nelas aspirações relativas a um estado de coisas desejável.

No ano seguinte, no congresso de Bruxelas, o cidadão Sibrac, francês, concitou as mulheres para a grande obra; e para convencê-las disse-lhes: “Foi Eva quem lançou o primeiro grito de revolta contra Deus”. Sabemos que um dos gritos de admiração da maçonaria é: “Eva! Eva!”

Abreviemos. Um outro congresso internacional foi realizado em Haia, em 1873. O cidadão Vaillant também disse ali que a guerra ao catolicismo e a Deus não podia prosseguir sem a guerra à propriedade e aos proprietários.

“A burguesia, disse, deve contar com uma guerra mais séria do que a luta latente à qual a Internacional está atualmente condenada. E o dia da revanche da Comuna de Paris não tardará!

“Extermínio completo da burguesia: tal deve ser o primeiro ato da futura revolução social”. Se quiséssemos dar uma ideia do que foi dito e do que foi impresso nesses últimos trinta anos, iríamos ao infinito. É do conhecimento de todos que o regime republicano, sobretudo nestes últimos tempos, deixou entrar, ou mesmo propagou, em todas as classes da sociedade, as ideias mais subversivas.



A Conjuração Anticristã, O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica (tomo I) – Monsenhor Henri Delassus

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