Waldeck Rousseau |
A necessidade
de suprimir a Igreja para assegurar o triunfo da civilização moderna foi o que
Waldeck-Rousseau tinha dado a entender no discurso de Toulouse. Foi o que
Viviani disse brutalmente, em 15 de janeiro de 1901, do alto da tribuna.
“Estamos encarregados
de preservar de todo atentado o patrimônio da Revolução...
Apresentamo-nos aqui carregando em nossas mãos, além das tradições republicanas, essas tradições
francesas atestadas por séculos de combate, nos quais, pouco
a pouco, o espírito laico foi se
insinuando nas estreitezas da sociedade religiosa...
Nós não estamos apenas frente à frente com as congregações, nós estamos frente à frente com a Igreja
católica... Sob esse combate de um dia não é verdade
que se reencontra mais uma vez esse conflito formidável em que o poder
espiritual e o poder temporal disputam prerrogativas soberanas, tentando, no
conquistarem as consciências, manter até o fim a
direção da humanidade?
As
Congregações e a Igreja não vos ameaçam apenas por suas intrigas, MAS PELA PROPAGAÇÃO DA FÉ... Não
temais as batalhas que se vos oferecerão, ide; e se
encontrardes diante de vós essa religião divina que torna poético
o sofrimento mediante promessa de reparações futuras, oponde-lhe
a religião da humanidade que, ela também, torna poético o sofrimento,
oferecendo-lhe como recompensa a felicidade das gerações”.
Eis aí
a questão claramente posta.
Ouvem-se
nessas palavras menos os pensamentos pessoais de Viviani do que os da seita
anticristã. Ela declara lutar há séculos contra a Igreja Católica: ela se
vangloria de já ter obtido que o espírito laico se insinuasse pouco a pouco nas
estreitezas da sociedade religiosa; ela diz que, no esforço feito para destruir
as congregações, ela empenha apenas uma escaramuça, e que, para garantir o
triunfo definitivo, ela deverá aplicar-se a novas e numerosas batalhas.
Em seu
nome, Viviani declara que na batalha atual trata-se de coisa muito diferente da “defesa
republicana”, de um lado, e da aceitação da forma de governo, de outro lado. Eis do que
se trata: “insinuar o espírito laico nas estreitezas da sociedade religiosa”, “tomar as rédeas da humanidade”, “e destruir a sociedade baseada na vontade de Deus, para construir uma sociedade
nova, baseada na vontade do homem”.
A
verdadeira campanha é aquela que põe frente a frente a Igreja Católica e o
Templo maçônico,
isto é, a Igreja de Deus e a Igreja de Satã, conflito formidável do qual depende
a sorte da humanidade. Durante o tempo em que a Igreja estiver de pé, Ela propagará
a fé, Ela colocará no coração dos que sofrem e quem não sofre? as esperanças
eternas. É somente sobre suas ruínas, pois, que se poderá edificar “a religião da humanidade, que promete a felicidade sobre esta terra”.
A
continuação da discussão, no Senado assim como na Câmara, apenas acentuou a
importância dessas declarações. Algumas curtas citações mostrarão que o
discurso de Waldeck-Rousseau e de Viviani têm exatamente o significado que
acabamos de dar.
Jacques Piou: “Aquilo
que os socialistas querem, Viviani disse-o outro dia, sem rebuços. É arrancar as consciências do poder espiritual e conquistar a direção
da humanidade”. O orador é
interrompido por um membro da esquerda que lhe grita: “Não são somente os socialistas que o querem, são todos os republicanos”.
Na
sessão de 22 de janeiro, Lasies repõe a questão em seu verdadeiro terreno, nestes termos: “Há
duas frases, direi dois atos, que dominam todo este debate. A primeira frase foi
pronunciada por nosso nobre colega Viviani. Ele disse: “Guerra ao catolicismo!” Uma outra
palavra foi pronunciada, e esta pelo digno Léon Bourgeois. A convite de Piou, Bourgeois
afirmou novamente que o objetivo que ele persegue com seus amigos é substituir o espírito da Igreja, isto é, o
espírito do catolicismo, pelo espírito da Reforma, pelo
espírito da Revolução e pelo espírito da Razão.
Em 11
de março, C. Pelletan declara também que a luta atual se interliga ao grande
conflito envolvendo os direitos
do homem e os direitos de Deus. “Eis o conflito que paira acima de
tudo neste debate”.
Em 28
de junho, no encerramento da discussão, o abade Gayraud pensa dever, antes da
votação, lembrar aos deputados o que eles vão fazer, sobre o que eles vão se pronunciar. “A lei
que ides votar não é uma lei de conciliação ou de pacificação. Está-se
enganando o país com palavras. É uma lei de ódio contra a Igreja Católica. Viviani
desvendou o fundo do projeto, quando declarou da tribuna a guerra à FÉ católica”.
No
relatório que o Officiel publicou
esta manhã e que tivemos que ler apressadamente, o digno Trouillot diz que a
lei das associações é o prelúdio da separação entre as Igrejas e o Estado, que
deverá ter por corolário indispensável uma lei geral sobre a disciplina dos cultos.
A Câmara e o país estão, pois, esclarecidos. É a guerra aberta, declarada à Igreja
Católica. Porque essa lei geral sobre a disciplina dos cultos não passará de um
conjunto de prescrições de natureza a entravar, por todos os meios possíveis, os ministros do
culto.
Quais
devem ser essas medidas? Para onde devem tender? Viviani disse: “substituir a religião
católica pela religião da humanidade”, ou, segundo a
fórmula de Bourgeois,
“dar ao espírito da Revolução, da Filosofia e da Reforma, a vitória sobre a afirmação católica”: a
afirmação católica que mostra o fim do homem além deste mundo
e da vida presente, e o espírito da Filosofia e da Revolução, que limita o horizonte da humanidade à vida
animal e terrestre.
Viviani disse: “Não
estamos somente enfrentando as Congregações, nós estamos face a face com a
Igreja Católica”, para combatê-La, para dedicar-lhe uma guerra de EXTERMÍNIO”.
Há
muito tempo este pensamento povoa o espírito dos inimigos de Deus. Há muito
tempo eles se vangloriam de poder exterminar a Igreja.
Em uma carta escrita
em 25 de fevereiro de 1758, Voltaire dizia: “Ainda vinte anos e Deus terá o
melhor jogo”. Ao tenente de polícia Hérault, que lhe repreendia a impiedade dizendo: “O senhor
se esforça em vão; apesar do que escreve, não conseguirá destruir a religião
cristã”, Voltaire respondeu: “É o que veremos”.
Deus
teve o melhor jogo... contra Voltaire. No que diz respeito à Igreja, eis não vinte
anos, mas séculos se passaram; e a Igreja Católica continua de pé.
G. de
Pascal escrevia na Revue Catholique et Royaliste, número
de março de 1908: “Faz muitos anos, o cardeal Mermillod me contou um episódio que
retrata bem a situação, quando ele ainda estava em Genebra: o
ilustre prelado via de tempos em tempos o príncipe Jerônimo Bonaparte, que
morava na região de Prangins. O príncipe revolucionário apreciava muito a
conversa do espiritual bispo. Um dia, ele lhe disse: “Não sou um amigo da
Igreja Católica, não acredito em sua origem divina, mas conhecendo o que se
trama contra ela, os esforços admiravelmente executados contra sua
existência, se Ela resistir a esse
assalto serei obrigado a concordar que há aí alguma coisa que ultrapassa o humano”.
Em
junho de 1903, a Vérité Française referia
que Ribot, numa conversa íntima, falara da mesma maneira: “Sei o que se prepara;
conheço em detalhes as malhas da vasta rede que está estendida. Muito bem, se a
Igreja romana escapa desta vez na França, isto será um milagre, milagre tão
deslumbrante a meus olhos que me farei católico convosco”.
Nós
vimos esse milagre no passado, nós o veremos no futuro. Os jacobinos podiam
crer-se muito seguros, mais seguros mesmo do sucesso do que nossos livres pensadores;
eles tiveram de reconhecer que se tinham
enganado, ...e eles não se converteram. “Vi,
disse Barruel em suas Mémoires, vi Cerutti acercar-se insolentemente do secretário do Núncio de Pio
VI, e com uma alegria ímpia, com o sorriso da piedade, dizer-lhe: “Protegei bem
vosso Papa; protegei bem este, e embalsamai-o bem após sua morte,
porque eu vos anuncio, e podeis estar bem certo disto, não tereis outro”. Ele então não adivinhava, esse pretenso profeta,
continua Barruel, que ele apareceria antes de Pio VI perante o Deus que,
apesar das tempestades do jacobinismo, como apesar de tantas outras, nem por isso não estará menos com Pedro e Sua Igreja até o fim dos
séculos”.
Numa
obra editada em Friburgo, sob o título A deificação da humanidade, ou o lado
positivo da maçonaria, o padre Patchtler bem demonstrou o significado
que a maçonaria dá à palavra “humanidade” e o
uso que dela faz. “Essa palavra, diz ele, é
empregada por milhares de homens (iniciados ou ecos inconscientes dos
iniciados), num sentido confuso, sem dúvida, mas sempre, entretanto,
como o nome de guerra de um certo partido para uma certa finalidade, que é a oposição
ao cristianismo positivo. Essa palavra, na boca deles, não significa
somente o ser humano por oposição ao ser
bestial... ela coloca, em tese, a independência absoluta
do homem no domínio intelectual, religioso e político; ela
nega todo fim sobrenatural do homem, e requer que a perfeição puramente natural da
raça humana seja encaminhada pelas vias do progresso. A
esses três erros correspondem três etapas na via
do mal: a Humanidade sem Deus, a Humanidade que
se faz de Deus, a Humanidade contra Deus. Tal é o edifício que a
maçonaria pretende erguer no lugar da ordem divina que é Humanidade
com Deus.
Nada
mais claro: a humanidade é Deus, os
direitos do homem devem substituir os da lei divina, o culto dos instintos do homem deve tomar o lugar daquele rendido ao
Criador, a procura do progresso nas
satisfações a dar aos sentidos deve substituir as aspirações da vida futura.
Mas a
destruição da Igreja não deixará o lugar suficientemente limpo para a construção
do Templo maçônico; aos clamores contra a Igreja juntam-se sempre gritos não
menos raivosos contra a ordem social, contra a família e contra a propriedade.
E assim deve ser, posto que as verdades da ordem religiosa entraram na própria substância
dessas instituições.
A
sociedade repousa sobre a autoridade, que tem seu princípio em Deus; a família,
sobre o casamento que retira da benção divina sua legitimidade e sua indissolubilidade;
a propriedade, sobre a vontade de Deus, Que a promulgou no sétimo e no décimo
mandamento para protegê-la contra o roubo e mesmo contra a cobiça. É tudo isto
que importa destruir, se se quer, como pretende a seita, fundar a civilização
sobre novas bases.
Leão
XIII anotou isso na sua encíclica Humanum genus: “Aquilo a que os maçons
se propõe, disse ele, aquilo para que tendem todos os seus esforços, é a completa
destruição de toda a disciplina religiosa e social nascidas das instituições cristãs,
e a substituição por uma outra, adaptada às suas ideias, cujo princípio e leis fundamentais
são tirados do
naturalismo”.
Em 1865
realizou-se em Liége o congresso dos estudantes. Mais de mil jovens, vindos da
Alemanha, da Espanha, da Holanda, da Inglaterra, da França, da Rússia,
estiveram presentes. Eles se mostraram unânimes em seus sentimentos de ódio
contra os dogmas e mesmo contra a moral católica: unanimidade de adesão às
doutrinas e aos atos da Revolução Francesa, nesta compreendidos os massacres de
1793.
“O que é a Revolução?”
E respondia: “A Revolução é o triunfo do
trabalho sobre o capital, do operário sobre o parasita, do homem
sobre Deus. Eis a Revolução social que comportam os
princípios de 1889 e os direitos do homem levados à sua última expressão”. Ele dizia
ainda: “Faz quatrocentos anos que minamos os
alicerces do catolicismo, a
mais forte máquina jamais inventada em matéria de espiritualismo; ela ainda está sólida,
infelizmente!” Depois, na última sessão, lançou este grito do inferno: “Guerra a Deus! Ódio a Deus! O PROGRESSO ESTÁ AÍ! É preciso estourar
o céu como
um saco de papel”. Quando a palavra “progresso” e outras semelhantes caem de
lábios maçônicos, encontramos católicos para recolhê-las com uma
espécie de respeito e de ingênua confiança, crendo ver nelas aspirações relativas
a um estado de coisas desejável.
No ano
seguinte, no congresso de Bruxelas, o cidadão Sibrac, francês, concitou as
mulheres para a grande obra; e para convencê-las disse-lhes: “Foi Eva quem lançou o primeiro
grito de revolta contra Deus”. Sabemos
que um dos gritos de admiração da maçonaria é: “Eva! Eva!”
Abreviemos.
Um outro congresso internacional foi realizado em Haia, em 1873. O cidadão
Vaillant também disse ali que a guerra ao catolicismo e a Deus não podia prosseguir sem a guerra à propriedade e aos proprietários.
“A burguesia, disse,
deve contar com uma guerra mais séria do que a luta latente à
qual a Internacional está atualmente condenada. E o dia da revanche da Comuna de
Paris não tardará!
“Extermínio completo
da burguesia: tal deve ser o primeiro ato da futura revolução social”. Se quiséssemos dar uma ideia do que foi dito e do que foi impresso
nesses últimos trinta anos, iríamos ao infinito. É do
conhecimento de todos que o regime republicano, sobretudo nestes últimos
tempos, deixou entrar, ou mesmo propagou, em todas
as classes da sociedade, as ideias mais subversivas.
A
Conjuração Anticristã, O Templo Maçônico que quer se erguer
sobre as ruínas da Igreja Católica (tomo
I) – Monsenhor Henri Delassus
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