Pode-se conceber que propagandistas despidos de grandes dotes possam conseguir adeptos não tanto por suas qualidades quanto pelas ideias que propagam.
Não é a força
do propagandista: é a força da ideia.
A que mundo
se apresentam, e com que programa!
A um mundo em
que o instinto chegara a tal desonra e perversão que, no terreno sexual,
atingira, socialmente falando, o máximo rebaixamento. Sobre toda a satisfação
do instinto, sobre perversões nem sequer imaginadas, sobre o delírio de todas
as inversões, não nos países selvagens, mas em pleno Império que legou ao mundo
o direito, a divinização pública do vício, à divinização do vício com a dedicação de templos públicos
àqueles farrapos humanos já prostituídos em público e que eram proposto como
exemplo, mantendo-se nos templos a eles dedicados ritos iniciatórios em suas
perversões.
A podridão. A
idolatria do vício pervertido não só na afetividade como até na inteligência,
que se esboroa aos pedaços.
A que mundo
se apresentam os Apóstolos!
Ao mundo de
milhões de escravos. O escravo era “res”, coisa. Coisa e não homem, coisa a
disposição do dono, em tudo.
Coisa que nem
dos próprios filhos podiam dispor; eram eles, como seus descendentes, reses de
que o dono dispõe seja para vendê-los com lucro para utilizá-los por prazer,
seja para feri-los ou matá-los por diversão e gosto.
Ao mundo que
tinha o prazer e o gozo como único fim e única sensação.
Ao mundo em
que nem sequer de nome era conhecido o
significado de Caridade.
Ao mundo da
divinização não somente dos vícios, como da inversão dos vícios.
***
E aqueles
homens desprezíveis surgem diante desse mundo... pregando que doutrina!
Ao mundo dos
Virgílios e Ovídios, dos Cíceros e Demóstenes... apresentam de alguém que
morreu justiçado, pregado em uma cruz, escarnecido e atormentado da maneira
mais pública e grosseira.
“ A doutrina
que pregamos é de alguém que morreu justiçado numa cruz. Trazemos a doutrina de
alguém que esteve pregado em um madeiro, com o peito rasgado pelas lanças!...”
Na ordem
intelectual, apresentavam uma doutrina com conteúdo de crenças, como da
Trindade, da Eucaristia, da Ressurreição... sobretudo o que a humana razão pode
por si só compreender.
Na ordem
moral, apresentam uma doutrina que é freio e paradeiro de todas as forças
instintivas do homem, doutrina que impõe obrigações das mais árduas.
Doutrina que
não promete nenhum lucro terreno. Com a predição de atribulações e
perseguições.
Estranho
programa para arrebatar o mundo a que era proposto.
Mostrar a
bem-aventurança na pobreza... aos que cobiçavam e roubavam o alheio!
Mostrar a bem
aventurança na mansidão... aos que se compraziam em descarregar violentamente
sua ira!
Mostrar a
bem-aventurança na justiça... aos que somente conheciam a opressão do fraco e
do escravo!
Mostrar a
bem-aventurança em ser misericordioso... ao mundo que vivia na satisfação da
vingança!
Manter a
bem-aventurança em ter limpo o coração... aos que, no paroxismo do vício e da
carne, deificaram até as perversões do instinto!
Mostrar a
bem-aventurança no padecer e na perseguição por viver santa e justamente... aos
que fugiam da dor e do trabalho e atingiram o refinamento do gozo!
Aí tem os
senhores a súmula do conteúdo doutrinal original de um judeu justiçado
apresentado por vulgares e ignorantes judeus ao mundo do poder e das letras.
***
Com desprezo
transbordante de ódio, foi recebida pelos grandes gênios e talentos do Império
a doutrina do justiçado.
Tácito
chamou-a de desoladora superstição, “exitiabilem superstitionem”.
Plínio,
escrevendo a Trajando, classificou a doutrina cristã de loucura, “amentiam”.
Conta-nos
Minúcio Félix que o retórico africano Frontão tinha o cristianismo por “
furiosam opinionem”, doutrina carente de engenho e cultura, indigna dos gregos
e dos romanos.
Foi somente
desprezo que encontrou essa doutrina e os Apóstolos com seus seguidores?
Não. Desprezo
e tormentos. E que tormentos!
Urgia
varrê-la do Império. E força e poder detinha o Império em suas mãos, esse
Império que, dominando o mundo, tornou-se seu senhor pelo poder das armas.
Roma dominou
impérios, escravizou raças, aniquilou e subjugou povos aguerridos e ferozes.
Por que não iria o Império reduzir a silêncio aquela pregação estulta e
estólida de judeus desprezíveis e plebeus?
O Império
Romano era o mundo todo. O mundo todo no auge do poder e da glória.
Desencadeou-se,
tremenda, a perseguição do ano 64, a mando daquele cujo nome passou à história
como sinônimo de crueldade: Nero. E durante 249 anos, senhores, com altos e
baixos que acontecem nas tempestades marítimas, rugiu aquela tormenta de ódio e
de dor contra os cristãos.
Corpos de
cristãos, embebidos em pez e resina, arderam como tochas para o capricho de
Nero.
Como animais
ao matadouro, conduziam-se os cristãos ao Circo e ao Coliseu, para serem
atirados às feras.
Domiciano e
Diocleciano apuraram o refinamento dos suplícios na dilaceração dos corpos.
Gigantes se
erguem contra o Cristianismo: Nero, Domiciano, Setimio, Severo, Décio,
Diocleciano, Galério; levantavam-se, senhores, Trajano, Caracalla... e, em seu
poder depótico, transbordante de ódio e de rancor, manejam tridentes de ferro
que rasgam as carnes dos cristãos, com ossos e entranhas à mostra; lançam mão
de instrumentos que, com suas cordas e polés, esticam os membros, que se
desconjuntam centímetro a centímetro em todas articulações; usam lâminas e bois
de bronze feito áscuas, que fazem creptar a carne de cristãos, ao morrer
assados como animais; utilizam pez e fogo que transformam corpos em tochas que
iluminam orgias de hienas; dispõe de tenazes que mutilam, laceram, arrancam
pedaços de corpos; usam feras cujas garras fazem as carnes em tira e cujas
mandíbulas trituram, tal roda de moinho, os corpos dos mártires devorados
jorrando sangue, os ossos lambidos e roídos pelos animais saciados.
Eis o Império
Romano disposto a esmagar o Cristianismo! Meios é que não lhe faltam!
Quantos
cristãos morreram?
Muitos,
muitíssimos, sem número... Já dizia uma inscrição daquela época que os mártires
foram tantos, “quorum nomina Deus scit” que somente Deus conhece o nome de
todos eles...
OBS: É lógico que no ambiente
acadêmico com uma corja de pessoas
intelectualmente desonestas normalmente ateus e/ou marxistas, nem sequer
menciona esse fato.E tudo que os cristãos sofriam é ensinado em aulas como se eles
fosse os que praticassem.
Existiram
doutrinas que dispuseram de todo ímpeto que as paixões mais fortes da
humanidade encerram, como bem sabem os que estudam história da filosofia.
Foram, não são. Passaram, pereceram.
Existiram
impérios e nações que dispuseram de gênios na filosofia, de oradores cuja
eloquência empolgou multidões, de generais e de exércitos que subjulgaram o
mundo. Foram, não são. Passaram, pereceram.
Existiram
impérios como os da Síria, que não existe; como o da Pérsia, que não existe;
como o do Egito, que não existe; como o da Grécia, o de Roma... existiram!
Que doutrina
perseguidas com mortes pelo maior poderio que houve sobre a terra; que a
doutrina que, devido a cada uma dessas causas, estava, segundo as leis
psicológicas e históricas, fadada a nem começar a se propagar; essa doutrina
não só não desaparece, como ainda, com validade ímpar no mundo, difunde-se,
propaga-se, perpetua-se.
Escravos
tornaram-se cristãos, abraçando a religião que proibia o ódio e santificava a
obediência. Fácil teria sido conquistar prosélitos excitando-os à rebelião e
incitando à ira.
Homens livres
renunciavam a todas as ilusões de uma carreira repleta de honrarias para
abraçar a religião cristã, que os conduziriam à miséria e ao martírio.
Senadores,
vinculados à casa dos imperadores por laços de sangue, conscientes do que
perdiam, e certos da morte que os esperava, não hesitavam em pronunciar
publicamente que eram cristãos.
Soldados,
como os heróis de Tebas antes de trair sua fé e cometer idolatrias, verteram,
cheios de honra e domínio, o sangue pela fé cristã.
Filósofos
como Irineu, no fastígio da vida, desfrutando respeitosa ancianidade, morrem
valentemente pela Fé.
Jovens e
mulheres, Inês, de treze anos, Cecília, de vinte e um, não temem nem evitam o martírio, quando
podiam facilmente evitá-lo.
Roma,
atônita, vê surgir das catacumbas, daquelas verdadeiras cidades subterrâneas,
não cristãos isolados, mas uma autêntica sociedade de milhares de membros, de
todas as castas e posições sociais, de todos os sexos e idades.
No oriente, a
vida cristã difundiu-se com tanta rapidez que, em sua maioria, a população era
cristã.
Na Ásia, na
Grécia, na Macedônia, na Itália, na Espanha, na Bretanha, no Norte da África,
por todos os lugares, o Cristianismo se estende e se amplia.
Na Ásia
Menor, na Frígia, na Capadócia e no Ponto, a maioria da população já era
cristã.
Plínio
escreve a Trajano, atônito ao ver a multidão de cristãos que se encontra no seu
governo da Bitínia.
À medida que
cresce o cristianismo vai dominando as inteligências e os corações não só dos
Flávios, Popônios, Acílios e outras ilustres famílias do Império, como também
dos escravos... com uma propagação tão rápida e tão firme que, já no século
III, havia no mundo mais de 1500 sedes episcopais.
E tanto se
estendeu e se arraigou no mundo a vida cristã que, como escrevia o chefe do
racionalismo alemão, Adolfo Harnack, “antes de Constantino, a vitória do
cristianismo já estava decidida” e Constantino foi, continua, “o homem
político, avisado e valente, que soube compreender as exigências e tendências
religiosas de seu tempo”. Sua genialidade está em ter visto claro e em ter-se
antecipado, com golpe certeiro, ao que já era inevitável.
A vitalidade
e a difusão, por todo o mundo, do cristianismo foi o que obrigou Constantino a
declarar a liberdade da Igreja.
Atentai bem
senhores, queira-se ou não, aí está diante do mundo do século XXI a obra de
Jesus Cristo: a Igreja.
E os cristãos
chegaram ao mundo... e o Império Romano não existe, senhores, e a Igreja tem
vinte séculos de existência.
Amam-na alguns;
outros a odeiam e a perseguem; mas, se a odeiam e a perseguem, é porque ela
existe.
Um dia disse
Jesus Cristo a seu discípulo Pedro: “ tu és pedra e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja, e os poderes do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt
16,18).
Como bolhas
de sabão que brilham um instante e se desfazem para sempre, assim existiram, na
história, os grandes poderes terrenos que, em seu favor, contavam com a herança
do sangue, com o poder de seus exércitos, do dinheiro e de seus oradores...
E o grande
milagre da história, senhores, está em que a doutrina de alguém que morreu
justiçado na cruz, a doutrina que contém em si uma ideologia superior a tudo o
que pode ser compreendido pelo entendimento humano, que gosta somente de
admitir o que é compreensível; a
doutrina que impõe obrigações que contrariam as fundamentais tendências
sensitivo-afetivas do homem; a doutrina que nada promete neste mundo, nem no
presente, e que prediz atribulações e perseguições terrenas aos que a abraçam,
produziu o milagre de dominar vinte séculos de história e ser o centro da
humanidade.
Todas as
demais instituições, todas, senhores, desapareceram, somente a Igreja permanece
e pode percorrer, um por um, desde o atual Papa, toda a lista dos Sobreanos
Pontífices, até chegar ao primeiro, a quem Jesus Cristo disse: “Sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e os poderes do inferno jamais prevalecerão
contra ela”.
As obras
humanas, por maiores que tenham sido malgrado todos os meios de que dispuseram,
passaram.
A obra de
Jesus Cristo, a Igreja, por mais que tenha sido perseguida, presente está em
vinte séculos de existência, porque o que é de Deus os homens jamais poderão
desfazer.
“Eis que
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”(Mt 28,20).
Aqui está,
senhores, a única explicação do fato histórico que temos diante de nossos
olhos.
Precisamente
por ser de Deus, bem se cumpre o que Gamaliel disse aos judeus, em Jerusalém:
“Se esta obra vem dos homens ela se desfará por si; mas se vem de Deus, não a podereis desfazer, por mais empenho que nisso
puseres” (At 5,38-39).
O texto em
azul é do blog.
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