Sem Deus o
ser humano viverá numa situação miserável, por mais que procure se livrar e
onde quer que vá.
Por que te
inquietas quando não te acontece o que desejas ou queres?
De quem se
cumprem sempre as vontades? Nem a mim, a ti ou a qualquer pessoa na terra.
Neste mundo
não há ninguém que não sofra angústias ou contrariedades, nem mesmo os reis ou
papa.
Quem então
leva vantagem? Quem é capaz de sofrer por causa de Deus.
Por
ignorância ou fraqueza ouve-se muito comentar a boa vida de alguns, sua
riqueza, sua fama, seu poder e sua autoridade.
Basta, porém,
comparar tudo isso com esses bens celestiais para ver quão incertos e onerosos
são estes bens temporais. Que não se podem possuir sem preocupações e medo.
A felicidade
humana não reside na abundância dos bens temporais. Basta-nos ter o suficiente.
A miséria
está inscrita na própria condição do viver humano.
Quanto mais
prezamos a vida espiritual, mais sentimos os limites da vida presente e mais
claramente vemos a condição miserável do viver humano.
Comer, beber,
velar, dormir, descansar, trabalhar, tudo a que está sujeito o ser humano, são
necessidades que afligem a pessoa, que gostaria de se ver livre de tudo isso,
inclusive do pecado.
As
necessidades corporais são verdadeiro peso para a vida interior.
Por isso o
profeta pede que delas seja libertado: Livra-me,
Senhor, de minhas aflições (Sl 25,17).
Mas ai dos
que ignoram a condição de precariedade em que todos vivemos!
Alguns,
satisfeitos com a vida – apesar de passar dificuldades, a ponto de ter que
mendigar -, vivem como se pudessem estar para sempre nesta terra, sem se
preocupar com o reino de Deus.
Insensatos e
sem fé são todos os que vivem mergulhados nas coisas terrenas e só delas se
ocupam.
Além disso,
se reconhecerão miseráveis quando um dia perceberem o nada do que amaram.
Os santos e
todos os amigos de Cristo, desprezando o que é prazeroso, mas passageiro, nesta
vida, colocam toda sua esperança nos bens que não passam e somente a eles dão
atenção.
Seu desejo se
volta para os bens eternos, invisíveis, para não se deixarem arrastar pelos
visíveis, insignificantes.
Não percas,
irmãos, a esperança de progredir espiritualmente. Ainda é tempo. Tens agora uma
bela oportunidade.
Por que
adiar?
Dize logo:
chegou o momento de tomar a iniciativa e de lutar, para me emendar.
O sofrimento
e a angústia são ocasiões de merecimento. É preciso passar pelo fogo e pela água para chegar ao lugar de descanso (Sl
66,12).
Sem esforço
não se superam os maus hábitos.
Enquanto
estiveres nesse corpo tão frágil não podes viver sem pecado, sem tristezas e
sem dor.
Gostaríamos
de nos vermos livres de toda miséria, mas como perdermos a inocência pelo
pecado, perdemos também a felicidade verdadeira.
Devemos,
pois, ter paciência e esperar da misericórdia divina que passe essa iniquidade (cf. Sl 53,6) e que é mortal em nós seja absorvido pela vida (2Cor 5,4).
Grande é a
fragilidade humana, sempre ameaçada pelo mal!
Confessas
hoje teus pecados e amanhã os cometes de novo. No momento decides evitar o que
dentro de alguns instantes recomeças a praticar.
Humilhamo-nos
com razão, mas é insano imaginar que somos o que pensamos ser, tal nossa
fragilidade e instabilidade.
Pode-se
perder de repente, por negligência, o que só se conseguiu depois de muito
trabalho, graças ao bom Deus.
Que nos
acontecerá mais tarde, se desde agora começamos a relaxar?
Ai daqueles
que desde agora querem descansar, como se vivessem em paz e segurança, sem
qualquer sinal de vida mais santa.
Seria ainda
dom se nos colocássemos na posição de iniciantes, para nutrir a esperança de
sermos corrigidos e de progredirmos espiritualmente.
A Imitação de Cristo – Tomás de Kempis
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