Papa Pio XI
SOBRE O COMUNISMO ATEU
A promessa do
Redentor divino ilumina a primeira página da história da humanidade; e assim a
firmíssima esperança de melhores dias, assim como suavizou a dor causada pela
perda do paraíso de delícias, assim foi acompanhando os homens através do seu
caminho de amarguras e inquietações, até que enfim, quando chegou a plenitude
do tempo, o nosso Salvador, vindo à terra, comutou as ânsias dessa tão longa
expectação da humanidade e inaugurou para todos os povos uma nova civilização
cristã, que vence e quase imensamente supera a que algumas nações mais
privilegiadas atingiram, à custa dos maiores esforços e trabalhos.
Depois da
miserável queda de Adão, como consequência dessa mácula hereditária, começou a
travar-se o duro combate da virtude contra os estímulos dos vícios; e jamais
cessou aquele antigo e astuto tentador de enganar a sociedade com promessas
falazes. É por isso que, pelos séculos afora, as perturbações se têm sucedido
uma às outras até à revolução dos nossos dias, a qual ou já surge furiosa ou
pavorosamente ameaça atear-se em toda a parte e parece ultrapassar em violência
e amplitude todas as perseguições que a Igreja tem padecido; tal ponto que
povos inteiros correm perigo de recair em barbárie, muito mais horrorosa do que
aquela em que jazia a maior parte do mundo antes da vinda do divino Redentor.
Vós, sem
dúvida, veneráveis irmãos, já percebestes de que perigo ameaçador falamos: é do
comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar
revolucionar os próprios fundamentos da civilização cristã.
Atitude da Igreja perante o comunismo
Condenações anteriores
Mas diante
destas ameaçadoras tentativas, não podia calar-se nem de fato se calou a Igreja
Católica, Não se calou esta Sé Apostólica, que muito bem conhece que tem por
missão peculiar defender a verdade, a justiça e todos os bens imortais, que o
comunismo despreza e impugna. Já desde os tempos em que certas classes de
eruditos pretenderam libertar a civilização e cultura humanística dos laços da
religião e da moral, os nossos predecessores julgaram que era seu dever chamar
a atenção do mundo, em termos bem explícitos, para as consequências da
descristianização da sociedade humana. E pelo que diz respeito aos erros dos
comunistas, já em 1846, o nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, os
condenou solenemente, e confirmou depois essa condenação no Syllabus. São estas
as palavras que emprega na Encíclica Qui
Pluribus: “Para aqui (tende) essa doutrina nefanda do chamado comunismo,
sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida,
levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos
e da própria sociedade humana”.
Mais tarde,
outro predecessor nosso de imortal memória, Leão XII, na sua encíclica Quod Apostolici muneris, assim descreveu
distinta e expressamente esses mesmos erros: “Peste mortífera, que invade a
medula da sociedade humana e a conduz a um perigo extremo”; e com a
clarividência do seu espírito luminoso demonstrou que o movimento precipitado
das .multidões para a impiedade do
ateísmo, numa época em que tanto se exaltavam os progressos da técnica, tivera
origem nos desvarios duma filosofia que há muito porfia por separar a ciência e
a vida da fé e da Igreja.
Atos do presente pontificado
Nós também,
no decurso do nosso pontificado, com insistente solicitude, fomos várias vezes
denunciando as correntes desta impiedade que víamos crescendo e rugindo cada
vez mais ameaçadoras. Efetivamente quando em 1924 voltava da União Soviética a
nossa missão de socorro, numa alocução especial dirigida ao universo católico,
condenamos os erros e processos dos comunistas. E pelas encíclicas Miserentissimus Redemptor, Quadragesimo
anno, Caritate Christi, Acerba animi, Dilectisssima Nobis, levantamos a voz
em solenes protestos contra as perseguições desencadeadas contra o nome
cristão, tanto na união soviética como no México, como finalmente na Espanha. E
estão ainda bem frescas na memória as alocuções por nós pronunciadas, o ano
passado, quer por ocasião da inauguração da Exposição mundial da Imprensa
católica, quer na audiência concedida aos refugiados espanhóis, quer também em
nossa mensagem radiofônica pela festa do Santo Natal. Até os mais encarniçados
inimigos da Igreja, que desde Moscou, sua capital, dirigem esta luta contra a
civilização cristã, até eles mesmos, com seus ataques ininterruptos, dão
testemunho, não tanto por palavras como por atos, que o sumo pontificado, ainda
em nossos tempos, não só não cessou de tutelar com toda a fidelidade o
santuário da religião cristã, mas tem dado voz de alarme contra o enorme perigo
comunista, com mais frequência e maior força persuasiva que nenhum outro poder
público deste mundo.
Necessidade de novo documento solene
Não obstante,
posto que temos renovado tão repetidamente estas paternais advertências, que
vós, veneráveis irmãos, em tantas cartas pastorais, algumas delas coletivas,
diligentemente comentastes e transmitistes aos fiéis, ainda assim este perigo,
com o impulso de hábeis agitadores, mais e mais se vai agravando de dia para
dia. É por isso que julgamos dever nosso levantar de novo a voz; e faremo-lo
por meio deste documento de maior solenidade, como é de costume desta Sé
Apostólica, mestra da verdade; e com tanta maior satisfação o faremos, quanto é
certo que assim correspondemos aos desejos sinceramente o bem da humanidade.
Esta nossa confiança vem em certo modo aumentá-lo o fato de vermos estas nossas
admoestações confirmadas pelos péssimos frutos, que nós prevíramos e
anunciáramos haviam de brotar das ideias subversivas, e que de fato se vão
pavorosamente multiplicando nas regiões já dominadas pelo comunismo, ou ameaçam
invadir rapidamente os outros países do mundo.
Queremos,
pois, mais uma vez expor, como em breve síntese, os sofismas teóricos e
práticos do comunismo, como eles se manifestam principalmente nos princípios e
métodos d ação do bolchevismo: a esses sofismas, todos falsidade e ilusão,
contrapor a luminosa doutrina da Igreja; e de novo exortar a todos
insistentemente a lançar mão dos meios, com que é possível não somente livrar e
salvaguardar deste horrendo flagelo a civilização cristã, a única em que pode
subsistir uma sociedade verdadeiramente humana, mas ainda fazê-la avançar, a
passo cada dia mais acelerado, para o genuíno progresso da humanidade.
Doutrina e frutos do comunismo
Doutrina
Falso Ideal
A doutrina
comunista que em nossos dias se apregoa. De modo muito mais acentuado que
outros sistemas semelhantes do passado, apresenta-se sob a máscara de redenção
dos humildes. E um pseudo-ideal de justiça, de igualdade e fraternidade
universal no trabalho de tal modo toda sua doutrina e toda a sua atividade dum
misticismo hipócrita, que as multidões
seduzidas por promessas falazes e como que estimuladas por um contágio
violentíssimo lhes comunicam um ardor e entusiasmo irreprimível, o que é
muito mais fácil em nossos dias, em que a pouca equitativa repartição dos bens
deste mundo dá como consequência a miséria anormal de muitos. Proclamam com
orgulho e exaltam até esse pseudo-ideal, como se ele tivesse originado o
progresso econômico, o qual, quando em alguma parte é real, tem explicação em
causas muito diversas, como, por exemplo, a intensificação da produção
industrial, introduzida em regiões que nada disso possuíam, a valorização de
enormes riquezas naturais, exploradas com imensos lucros, sem o menor respeito
aos direitos humanos, o emprego, enfim, da coação brutal que dura e cruelmente
força os operários a pesadíssimos trabalhos com um salário de miséria.
Materialismo evolucionista de Marx
Ora, a
doutrina que os comunistas em nossos dias espalham, proposta muitas vezes sob
aparências capciosas e sedutoras, funda-se de fato nos princípios do
materialismo chamado dialético e histórico, ensinando por Karl Marx, de que os
teóricos do bolchevismo se gloriam de possuir a única interpretação genuína. Essa doutrina proclama que não há mais
que uma realidade universal, a matéria, formada por forças cegas e ocultas,
que, através da sua evolução natural, se vai transformando em planta, em animal, em homem. Do mesmo modo, a
sociedade humana, dizem, não é outra coisa mais do que uma aparência ou forma
da matéria, que vai evolucionando, como fica dito, e por necessidade inelutável
e perpétuo conflito de forças, vai pendendo para a síntese final: uma sociedade
sem classes. É, pois, evidente que neste sistema não há lugar sequer para a
ideia de Deus; é evidente que entre espírito e matéria, entre alma e corpo não
há diferença alguma; que a alma não sobrevive depois da morte, nem há outra
vida depois desta. Além disso, os comunistas, insistindo no método dialético do
seu materialismo, pretendem que o conflito, a que acima nos referimos, o qual
levará a natureza à síntese final, pode ser
acelerado pelos homens. É por isso que se esforçam para tornarem mais agudos os antagonismos que
surgem entra as várias classes da sociedade, porfiando por que a luta de
classes da sociedade, tão cheia, infelizmente, de ódios e de ruínas, tome o
aspecto de uma guerra santa em prol do progresso da humanidade; é até mesmo,
por que todas as barreiras que se opõem a essas sistemáticas violências, sejam
completamente destruídas, como inimigas do gênero humano.
A que se reduzem o homem e a família
Além disso, o
comunismo despoja o homem da sua liberdade na qual consiste a norma da sua vida
espiritual; e ao mesmo tempo priva a pessoa humana da sua dignidade, e de todo
o freio na ordem moral, com que possa resistir aos assaltos do instinto cego.
E, como a pessoa humana, segundo os devaneios comunistas, não é mais do que,
para assim dizermos, uma roda de toda a engrenagem, segue-se que os direitos
naturais, que dela procedem, são negados ao homem indivíduo, para serem
atribuídos à coletividade. Quanto às relações entre os cidadãos, uma vez que sustentam o princípio da igualdade
absoluta, rejeitam toda hierarquia e autoridade, que proceda de Deus, até mesmo
a dos pais; porquanto, como asseveram, tudo isso, como de primeira e única
fonte, deriva da sociedade. Nem aos indivíduos se concede direito algum de
propriedade sobre bens naturais ou sobre meios de produção; porquanto, dando
como dão origem a outros bens, a sua posse induz necessariamente o domínio de
um sobre os outros. É precisamente por esse motivo que afirmam que qualquer
direito de propriedade privada, por ser a fonte principal da escravidão
econômica, tem que ser radicalmente destruído.
Além disso,
como esta doutrina rejeita e repudia todo o caráter sagrado da vida humana,
segue-se por natural consequência que para ela o matrimônio e a família é
apenas uma instituição civil e artificial, fruto de determina sistema
econômico: por conseguinte, assim como repudia os contratos matrimoniais
formados por vínculos de natureza jurídico-moral. Que não dependam da vontade
dos indivíduos ou da coletividade, assim, rejeita a sua indissolúvel perpetuidade.
Em particular, para o comunismo não existe laço algum da mulher com a família e
com o lar. De fato, proclamando o
princípio da emancipação completa da mulher. De tal modo a retira da vida
doméstica e do cuidado com os filhos, que a atira à agitação da vida pública e
da produção coletiva, na mesma medida que o homem. Mais ainda: os cuidados
do lar e dos filhos devolve-os à coletividade. Rouba-se assim enfim aos pais o
direito que lhes compete de educar os filhos, o qual se considera como direito
exclusivo da comunidade, e por conseguinte só em nome e por delegação dela se
pode exercer.
Em que se converteria a sociedade
Que viria a
ser, então, a sociedade humana, baseada em tais fundamentos materialistas?
Viria a ser uma coletividade, sem outra hierarquia mais do que a derivada do
sistema econômico. Teria por missão única a produção de riqueza por meio do
trabalho coletivo, e único fim o gozo dos bens da terra num paraíso ameníssimo
de delícias onde cada qual “produziria conforme as suas forças e receberia
conforme as suas necessidades”. É também de notar que o comunismo reconhece
igualmente à coletividade o direito, ou antes a arbitrariedade quase ilimitada,
de sujeitar os indivíduos ao jugo do trabalho coletivo, sem a menor
consideração do seu bem estar pessoal; mais ainda, o direito de os forçar
contra a sua vontade e até pela violência. E nesta sociedade comunista
proclamam que tanto a moral como a ordem jurídica não brotam de outra fonte que
o sistema econômico do tempo o que, por conseguinte, de sua natureza são
valores terrestres transitórios e mudáveis. Em suma, para resumirmos tudo em
poucas palavras, pretendem introduzir nova ordem de coisas e inaugurar era nova
de mais alta civilização, produto unicamente duma cega evolução da natureza:
“uma humanidade que tenha expulsão a Deus da Terra”.
E, quando as
qualidades e disposições de espírito,
que se requerem para realizar semelhante sociedade, tiverem sido alcançadas por
todos em grau, que por fim tenha surgido aquele ideal utópico de sociedade, que
eles sonham, sem distinção de classes, então o Estado político, que ao presente
unicamente se organiza como instrumento de domínio dos capitalistas sobre o
proletários, perderá totalmente a razão e, por necessidade natural, se
dissolverá! Todavia, enquanto se não tiver chegado a essa idade de ouro, os
comunistas empregam o governo e o poder público como o mais eficaz e universal
instrumento, para atingirem o seu fim.
Aqui tendes,
veneráveis irmãos, diante dos olhos do espírito, a doutrina que os comunistas
bolchevistas e ateus pregam à humanidade como o evangelho, e mensagem salvadora
de redenção! Sistema cheio de erros e sofismas, igualmente oposto à revelação
divina e à razão humana; sistema que, por destruir a ordem social, que não
reconhece a verdadeira origem, natureza e fim do Estado; que rejeita enfim e
nega os direitos, a dignidade e a liberdade da pessoa humana.
Difusão
Promessas fascinadoras
Mas onde vem
que tal sistema, que a ciência já há muito ultrapassou e a realidade dos fatos
vai cada dia refutando, possa difundir-se tão rapidamente por todas as partes
do mundo? Facilmente poderemos compreender esse fenômeno, se refletirmos que
são muito poucas as pessoas que têm penetrado a fundo a verdadeira natureza e
fim do comunismo; ao passo que são ,muitíssimos os que cedem facilmente à
tentação, habilmente apresentada sob promessas mais deslumbrantes. É o que os
propagandistas deste sistema afivelam esta máscara de verdade, a saber: que não
querem outra coisa mais que melhorar a sorte das classes trabalhadoras; que
pretendem não somente dar remédio oportuno aos abusos provocados pela economia
liberal, mas também conseguir uma distribuição mais equitativa dos bens
terrenos: objetivos estes que certamente ninguém nega se possam atingir por
meios legítimos. Contudo, os comunistas, por esses processos, explorando,
sobretudo a crise econômica, que em toda
parte se sente, conseguem atrair ao seu partido aqueles mesmos que, em
virtude da doutrina que professam, abominam os princípios do materialismo e os
monstruosos crimes que não raro se perpetram. E, como em qualquer erro há
sempre qualquer centelha de verdade, como acima vimos que sucedia até mesmo
nesta questão, este aspecto de verdade põem-no em relevo com requintada
habilidade, com o fim de dissimularem e ocultarem, quando convém, aquela odiosa
e desumana brutalidade dos princípios e os métodos de comunismo; e desse modo
conseguem seduzir até espíritos nada vulgares, os quais muitas vezes a tal
ponto se deixam entusiasmar que eles próprios se tornam uma espécie de
apóstolos, que vão extraviar com esses erros sobretudo os jovens, facilmente
expostos a se deixarem enredar por esses sofismas. Além disso, os arautos do
comunismo não ignoram que podem tirar partido, tanto dos antagonismos de raça,
como das dissensões e lutas em que se entrechocam as diferentes facções
políticas, como enfim daquela desorientação que lavra no campo da ciência, onde
a própria ideia de Deus emudece, para se infiltrarem nas universidades e
corroborarem os princípios de sua doutrina com argumentos pseudocientíficos.
O liberalismo preparou o caminho ao
comunismo
Mas, para
mais facilmente se compreender como é que puderam conseguir que tantos
operários tenham abraçado, sem o menor exame, os seus sofismas, será
conveniente recordar que os mesmos operários, em virtude dos princípios do
liberalismo econômico, tinham sido lamentavelmente reduzidos ao abandono da
religião e da moral cristã. Muitas vezes o trabalho por turnos impediu até que
eles observassem os mais graves deveres religiosos dos dias festivos; não houve
o cuidado de construir igrejas nas proximidades das fábricas, nem de facilitar
a missão do sacerdote; antes, pelo contrário, em vez se lhes pôr embargo, cada
dia mais e mais se foram favorecendo as manobras do chamado laicismo. Aí estão,
agora, os frutos amarguíssimos dos erros que nossos predecessores e nós mesmos
mais de uma vez temos prenunciado. E assim, por que havemos de admirar, ao
vermos que tantos povos, largamente descristianizados, vão sendo já
pavorosamente inundados e quase submergidos pela vaga comunista?
Propaganda astuta e vastíssima
Além disso, a
difusão tão rápida das ideias comunistas que se vão sorrateiramente infiltrando
por países grandes ou pequenos, cultos ou menos civilizados, e até nas partes
mais remotas do globo, tem. Sem dúvida, por causa, esse fanatismo de propaganda
encarniçada, como talvez nunca se viu no mundo. E essa propaganda, emanada de
uma fonte única, adapta-se astutamente às condições particulares dos povos;
dispõe de grandes meios financeiros, de inúmeras organizações, de congressos
internacionais concorridíssimos, de forças compactas e bem disciplinadas; propaganda que, por jornais,
revistas, e folhas volantes, pelo cinema, pelo teatro, pela radiofonia, pelas
escolas, enfim, e pelas universidades, pouco a pouco vai invadindo todos os
meios, ainda os melhores, sem darem talvez pelo veneno, que cada vez mais
lamentavelmente vai infeccionando os espíritos e os corações.
Conspiração do silêncio na imprensa
Outro
auxiliar poderoso que contribui com o avanço do comunismo é, sem dúvida a conspiração do silêncio na maior
parte da imprensa mundial, que não se conforma com os princípios católicos.
Conspiração dizemos: porque, aliás, não se explica facilmente como uma
imprensa, tão ávida em esquadrinhar e publicar até os mínimos incidentes da
vida cotidiana, sobre os horrores perpetrados na Rússia, no México e numa
grande parte da Espanha pode guardar, há tanto tempo, absoluto silêncio; e da
seita comunista, que domina em Moscou e tão largamente se estende pelo mundo em
poderosas organizações, fala tão pouco. Mas todos sabem que esse silêncio é em
grande parte devido às exigências duma política, que não segue inteiramente os
ditames da prudência civil; e é
aconselhável e favorecido por diversas forças ocultas que já há muito porfiam
por destruir a ordem social cristã.
Consequência: a perseguição anticristo
Rússia e México
Entretanto,
aí estão à vista os deploráveis frutos dessa propaganda fanática. Porque, onde
quer que os comunistas conseguiram radicar-se e dominar – e aqui pensamos com
particular afeto paterno nos povos da Rússia e do México – aí, como eles
próprios abertamente o proclamam, por todos os meios se esforçaram por destruir
radicalmente os fundamentos da religião e da civilização cristãs, e extinguir
completamente a sua memória no coração dos homens, especialmente da juventude.
Bispos e sacerdotes foram desterrados, condenados a trabalhos forçados,
fuzilados, ou trucidados de modo desumano; simplesmente leigos, tornados
suspeitos por terem defendido a religião, foram vexados, tratados como
inimigos, e arrastados aos tribunais e às prisões.
Horrores do comunismo na Espanha
Até em
países, onde – como sucede na nossa amadíssima Espanha – não conseguiu ainda a
peste e o flagelo comunista produzir todas as calamidades dos seus erros,
desencadeou contudo, infelizmente, uma violência furibunda e irrompeu em
funestíssimos atentados. Não é esta ou aquela igreja destruída, este ou aquele
convento arruinado; mas, onde quer que lhes foi possível, todos os templos,
todos os claustros religiosos, e ainda quaisquer vestígios da religião cristã,
posto que fossem monumentos insignes de arte e de ciência, tudo foi destruído
até os fundamentos! E não se limitou o furor comunista a trucidar bispos e
muitos milhares de sacerdotes, religiosos e religiosas, alvejando dum modo
particular aqueles e aquelas que se ocupavam dos operários e dos pobres; mas
fez um número muito maior de vítimas em leigos de todas as classes, que ainda
agora vão sendo imolados em carnificinas coletivas, unicamente por professarem
a fé cristã, ou ao menos por serem contrários ao ateísmo comunista. E esta
horripilante mortandade é perpetrada com tal ódio e tais requintes de crueldade
e selvageria, que não se julgariam possíveis em nosso século. Ninguém de são
critério, quer seja simples particular, quer homem de Estado, cônscio da
sua responsabilidade, ninguém absolutamente,
repetimos, pode deixar de estremecer de sumo horror, se refletir que tudo
quanto hoje está sucedendo na Espanha, pode amanhã repetir-se também em outras
nações civilizadas.
Nem se pode
asseverar que semelhantes atrocidades são consequências fatais de todas as
grandes revoluções, como excessos esporádicos de exasperação, comuns a qualquer
guerra: não, são frutos naturais do sistema, cuja estrutura obedece a freio
algum interno. Um freio é necessário ao homem, tanto individualmente como
socialmente considerado; e é por isso que até povos os bárbaros reconheceram os
vínculos da lei natural, esculpida por Deus na alma de cada homem. E, quando a
observância dessa lei foi tida por todos como dever sagrado, viram-se nações
antigas atingir tal esplendor de grandeza, que espanta, ainda mais até do que é
razão, aqueles que só superficialmente compunham os documentos da história
humana. Mas quando se arranca das mentes dos cidadãos a própria ideia de Deus,
necessariamente os veremos precipitar-se na crueldade mais selvagem e na
ferocidade dos costumes.
Luta contra tudo o que é divino
É este o
espetáculo que atualmente com suma dor completamos: pela primeira vez na
história estamos assistindo a uma insurreição, cuidadosamente preparada e
calculadamente dirigida contra “tudo que se chama Deus”. Efetivamente, o
comunismo por sua natureza opõe-se a qualquer religião, e a razão por que a
considera como “ópio do povo”, é porque
os seus dogmas e preceitos, pregando a vida eterna depois desta vida mortal,
apartam os homens da realização daquele futuro paraíso, que são obrigados a
conseguir na Terra.
O terrorismo
Mas não é
impunemente que se despreza a lei natural e seu autor, Deus; a consequência é
que os esforços dos comunistas, assim como nem sequer no campo econômico
puderam até hoje realizar o seu desígnio, assim também no futuro jamais o
poderão conseguir. Não negamos que esses esforços na Rússia contribuíram não
pouco para sacudir dos homens e as suas instituições, daquela longa e secular
inércia em que jaziam, e que puderam, empregando todos os meios e
processos;ainda mesmo ilegitimamente, fazer alguma coisa para promover o
progresso material; mas sabemos por testemunhos absolutamente insuspeitos, e
alguns bem recentes ainda, que de fato nem sequer neste ponto se conseguiu o
que tanto se prometera. E não se esqueça, que aquela ditadura, toda terrorismo
e crueldade, impôs inumeráveis cidadãos o julgo da escravidão. Por que é de
notar que também no terreno econômico é imprescindível alguma norma de
probidade a que se conforme, por dever de consciência, quem exerce algum cargo;
ora, isso é indiscutível, que o não podem dar os princípios comunistas,
nascidos dos sofismas do materialismo. Por conseguinte, nada mais resta do que
aquele pavoroso terrorismo que se está vendo na Rússia, onde os antigos
camaradas de conspiração e de luta se vão dando a morte uns aos outros; mas
esse terrorismo criminoso, longe de conseguir pôr um dique à corrupção dos
costumes, nem sequer pode evitar a dissolução da estrutura social.
Um pensamento paternal para os povos
oprimidos da Rússia
Com isto,
porém, não é a nossa intenção condenar em massa os povos da União Soviética,
aos quais, pelo contrário, consagramos o mais vivo afeto paterno. É que, de
fato, sabemos que muitos deles gemem sob o julgo da mais iníqua escravidão, que
lhes foi imposto por homens, pela maior parte estranhos aos verdadeiros
interesses daquele povo; e que muitos outros foram enganados por promessas e
esperanças falazes. O que condenamos é o sistema e seus autores e fautores que
consideraram aquela nação como o terreno mais aptos para lançarem a semente do
seu sistema, há muito tempo preparada, e de lá a disseminação por todas as
regiões do globo.
Luminosa doutrina da Igreja, oposta ao
comunismo
Depois de
termos focados os erros e os processos sedutores e violentos do comunismo
bolchevista e ateu, é já tempo, veneráveis irmãos, de opor-lhe sumariamente a
verdadeira noção da “Cidade humana”, que é tal como perfeitamente sabeis, qual
no-la ensinam a razão humana e a revelação divina, por intermédio da Igreja,
mestra dos povos.
Suprema realidade: Deus?
E, antes de
mais nada, importa observar que acima de todas as demais realidades, está o
sumo, único e supremo Espírito, Deus, Criador onipotente de todo o universo,
Juiz sapientíssimo e justíssimo de todos os homens. Este ser supremo, que é
Deus, é a refutação e condenação mais absoluta das impudentes e mentirosas
falsidades do comunismo. E na verdade, não
é porque os homens creem em Deus, que Deus existe; mas porque Deus existe
realmente, por isso creem nele e lhe dirigem as suas súplicas todos quantos
não corram pertinazmente os olhos do espírito à luz da verdade.
Que são o homem e a família segundo a
razão e a fé
Quanto ao
homem, o que a fé católica e a nossa razão ensinam, já nós, ao explorarmos os
pontos fundamentais desta doutrina, o propusemos na encíclica sobre a educação
cristã da juventude. O homem tem uma alma espiritual e imortal; e, assim como é
uma pessoa, dotada pelo supremo criador de admiráveis dons de corpo e de espírito,
assim se pode chamar, como diziam os antigos, verdadeiros “microcosmo”, isto é,
pequeno mundo, por isso, de muito longe transcende e supera a imensidade dos
seres do mundo inanimado. Não somente nesta vida mortal, mas também na que há
de permanecer eternamente, o seu fim supremo é unicamente Deus; e tendo sido
elevado pela graça santificante à dignidade de filho de Deus, é incorporado no
Reino de Deus, no corpo místico de Jesus Cristo. Consequentemente, dotou Deus
de múltiplas e variadas prerrogativas, tais como: direito à vida, à integridade
do corpo, aos meios necessários à existência; direito de tender ao seu último
fim, pelo caminho traçado por Deus; direito, enfim, de associação, de
propriedade particular, e de usar dessa propriedade.
Além disso,
assim como o matrimônio e o direito ao seu uso natural são de origem divina,
assim também a constituição e as
prerrogativas fundamentais da família derivam, não do próprio arbítrio humano
nem de fatores econômicos, senão do próprio Criador supremo de todas as
coisas. Este assunto tratamo-lo já com suficiente desenvolvimento na encíclica
sobre a santidade do matrimônio, e na encíclica acima citada sobre a educação.
Que é a sociedade
Direitos e deveres mútuos entre o
homem e a sociedade
Mas Deus destinou
igualmente o homem para a sociedade civil, que a sua mesma natureza reclama. É
que, no plano do Criador, a sociedade é um meio natural de que todo o cidadão
pode e deve servir-se para a consecução do fim que lhe é proposto, pois a
sociedade civil existe para o homem e não o homem para a sociedade. Isto, porém, não se deve entender no
sentido do liberalismo individualista, que subordina a sociedade à
utilidade egoísta do indivíduo, mas sim no sentido que, mediante a união
orgânica com a sociedade, todos possam, pela mútua colaboração, alcançar a
verdadeira felicidade terrestre; e que, por meio da sociedade, floresçam e
prosperem todas as aptidões individuais e sociais, dadas ao homem pela
natureza, aptidões que transcendem o imediato interesse do momento, e refletem
na sociedade a perfeição divina: o que no homem isolado de modo nenhum se pode
verificar. Mas até este último objetivo da sociedade é, em última análise,
ordenado ao homem, para que reconheça este reflexo da perfeição divina, e o
desenvolva assim em qualquer sociedade humana por si, é dotado de razão e de
vontade moralmente livre.
Portanto,
assim como o homem não pode furtar-se aos deveres que por vontade de Deus o ligam à sociedade civil, e
é por isso que os representantes da autoridade têm direito de forçar ao
cumprimento do próprio dever, caso ele se recusasse ilegitimamente; assim
também não pode a sociedade privar o cidadão dos direito pessoais que o Criador
lhe concedeu (os mais importantes apontamo-los acima sumariamente) nem tornar-lhe
impossível o seu uso. É, pois, conforme a razão e as suas exigências naturais,
que todas as coisas terrenas sejam para serviço e utilidade do homem, e assim,
por meio dele, voltem ao Criador. Aqui se aplica perfeitamente o que o Apóstolo
das Gentes escreve aos coríntios sobre a economia da salvação cristã: “Tudo...
é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. E assim, enquanto a
doutrina comunista de tal maneira diminuiu a pessoa humana, que inverte os
termos das relações entre o homem e a sociedade, a razão, pelo contrário, e a
revelação divina elevam-na a tão sublimes alturas.
A ordem socioeconômica
A respeito da
ordem socioeconômica e a respeito da questão operária já o nosso predecessor,
de feliz memória, Leão XIII, na encíclica Rerum Novarum deu
normas eficazes: normas que nós adaptamos às nossas condições e exigências dos
tempos presentes pela nossa encíclica sobre a restauração cristã da ordem
social. Nessa encíclica, insistindo de novo com toda a força na secular
doutrina da Igreja acerca da natureza peculiar da propriedade privada no seu
aspecto individual e social, assinalamos com toda clareza e precisão os
direitos e a dignidade do trabalho humano, as relações de mútuo apoio e auxílio
que devem existir entre o capital e o trabalho, e o salário indispensável ao
operário e a sua família, que por justiça lhe é devido.
Nessa mesma
encíclica mostramos também que a sociedade humana, só então, poderá ser salva
da funestíssima ruína, a que é arrastada pelos princípios do liberalismo,
alheios a toda moralidade, quando os preceitos da justiça social e da caridade
cristã impregnarem e penetrarem a ordem econômica e a organização civil; o que
indubitavelmente não podem conseguir nem a luta de classes, nem os atentados do
terror, nem o abuso ilimitado e tirânico do poder do Estado. Advertimos
outrossim, que a verdadeira prosperidade do povo se deve procurar segundo os
princípios do não corporativismo, que reconheça e respeite os vários graus da
hierarquia social; e que é igualmente necessário que todas as corporações
operárias se organizem em harmônica unidade para poderem tender ao bem comum da
sociedade; e que, por conseguinte, a função genuína e peculiar do poder público
consiste em promover, quanto lhe seja possível, esta harmonia e coordenação de
todas as forças sociais.
Hierarquia social e prerrogativas do
Estado
Para
assegurar esta tranquila harmonia pela colaboração orgânica de todos, a
doutrina católica confere aos governantes tanta dignidade e autoridade, quanto
necessária para que eles, com vigilante e previdente solicitude, salvaguardem
os direitos divinos e humanos que as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja
tanto inculcam. E neste passo é necessário observar que erram vergonhosamente
os que sem consideração atribuem a todos os homens direitos iguais na sociedade
civil e asseveram que não existe hierarquia legítima. Sobre este ponto
baste-nos recordar as encíclicas do nosso predecessor Leão XIII, acima
mencionadas, especialmente a que trata do poder do Estado. Nelas encontram os
católicos luminosamente expostos os princípios da razão e da fé, que os tornarão
aptos para se premunirem contra os erros e perigos da concepção comunista
acerca do Estado. A espoliação dos direitos e a escravização do homem, a
negação da origem primeira e transcendente do Estado e do poder do Estado, o
abuso horrível do poder público a serviço do terrorismo coletivista são
precisamente contrário do que é conforme à ética natural e à vontade do
Criador. Tanto o homem como a sociedade civil tem origem no Criador, e foram
por ele mutuamente ordenados um para a outra; por isso nenhum dos dois pode
furtar-se a cumprir os deveres correlativos, nem recusar ou reduzir os
direitos. O próprio Criador regulou esta mútua relação nas linhas fundamentais,
e é injusta a usurpação, que o comunismo se arroga, de impor, em lugar da lei
divina baseada nos imutáveis princípios da verdade e da caridade, um programa
político de partido, que promana do capricho humano e ressuma ódio.
Beleza desta doutrina da Igreja
A Igreja ao
ensinar esta luminosa doutrina, não tem outro fim mais que realizar o venturoso
anúncio cantado pelos Anjos sobre a gruta de Belém, no nascimento do Redentor:
“Glória a Deus e... paz aos homens”: paz verdadeira e verdadeira felicidade, e
até mesmo na terra, quanto é possível, encaminhada a preparar a felicidade
eterna, mas paz reservada aos homens de boa vontade. Esta doutrina é igualmente
distante de todos os extremos do erro como de todas as exagerações dos partidos
ou sistemas que a eles aderem, conserva sempre o equilíbrio da verdade e da
justiça; reivindica-o na teoria, aplica-o e promove-o na prática, conciliando
os direitos e os deveres de um com os outros, como a autoridade com a
liberdade, a dignidade do indivíduo com a do Estado, a personalidade humana no
súdito com a representação divina no superior, e, por conseguinte, a sujeição
devida e o amor ordenado de si mesmo, da família e da pátria, com o amor das
outras famílias e dos outros povos, fundado no amor de Deus, pai de todos,
primeiro princípio e último fim. Nem separa a justa preocupação dos bens
temporais a palavra de seu divino Fundador: “Buscai primeiro o reino de Deus e
a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo”, está longe de se
desinteressar das coisas humanas, de prejudicar os progressos da sociedade e de
impedir os adiantamentos materiais, que, pelo contrário, sustenta e promove da
maneira mais razoável e eficaz. E assim,
até mesmo no campo socioeconômico, a Igreja, muito embora não tenha jamais
apresentado como seu um determinado sistema técnico, por não ser essa sua
missão, fixou contudo claramente princípios e diretivas que, prestando-se a
diversas aplicações concretas segundo as várias condições dos tempos, dos
lugares e dos povos, assinalará o caminho seguro para obter o feliz progresso
da sociedade.
A sabedoria e
suma utilidade desta doutrina é admitida por quantos verdadeiramente a
conhecem. Com justificada razão puderam afirmar eminentes estadistas que,
depois de terem estudado os diversos sistemas sociais, nada haviam encontrado
mais sábio que os princípios expostos nas encíclicas Rerum Novarum e Quadragesimo
anno. Até em países não católicos, nem sequer cristãos, se reconhece quão
vantajosas são para a sociedade humana as doutrinas sociais da Igreja; e assim,
há apenas um mês, um eminente político não-cristão, do Extremo Oriente, não
duvidou proclamar que a Igreja com a sua doutrina de paz e fraternidade cristã
traz altíssima contribuição para o estabelecimento e conservação da paz
construtiva entre as nações. Mais ainda: até os próprios comunistas, como
sabemos por autênticas relações que afluem de toda a parte a este Centro de
cristandade, se não estão ainda de todo corrompidos, quando se lhes expõe a
doutrina social da Igreja, reconhecem a sua superioridade sobre as doutrinas
dos seus caudilhos e mestres. Somente os obcecados pela paixão e pelo ódio
fecham os olhos à luz da verdade e a combatem obstinadamente.
Será verdade que a Igreja não procedeu
segundo a sua doutrina?
Mas os
inimigos da Igreja, constrangidos, embora a reconhecer a sabedoria da sua
doutrina, assacam-lhe o não ter sabido conformar os seus atos com aqueles
princípios, e afirmam por isso a necessidade de provocar outros caminhos. Quão
falsa e injusta seja esta acusação, demonstra-o toda a história do
cristianismo. Para não nos referirmos senão a um outro ponto característico, foi
o cristianismo o primeiro a proclamar, por uma forma e com uma amplitude e
convicção desconhecidas nos séculos precedentes, a verdadeira e universal
fraternidade de todos os homens de qualquer condição ou raça, contribuindo assim poderosamente para a abolição
da escravatura, não com revoltas sangrentas, senão pela força interna da sua
doutrina, que à orgulhosa patrícia romana fazia ver na sua escrava uma irmã
em Cristo. Foi o cristianismo, que adora o Filho de Deus feito homem por amor
dos homens e convertido em “Filho do carpinteiro”, mais ainda, “carpinteiro”
ele próprio, foi o cristianismo que sublimou à sua verdadeira dignidade o
trabalho manual: aquele trabalho manual, antes tão desprezado que até o
discreto Marco Túlio Cícero, resumindo a opinião geral do seu tempo, não receou
escrever estas palavras, de que hoje se envergonharia qualquer sociólogo:
“Todos os operários se ocupam em misteres desprezíveis, pois a oficina nada
pode ter de nobre”.
Fiel a estes
princípios, a Igreja regenerou a sociedade humana; sob a sua influência
surgiram admiráveis obras de caridade, poderosas corporações de artistas e
trabalhadores de todas as categorias. O liberalismo do século passado zombou
delas, é certo, como de velharias da Idade Média; elas, porém, impõem-se hoje à
admiração dos nossos contemporâneos que em muitos países procuram fazer reviver
de algum modo a sua ideia fundamental. E quando outras correntes entravavam a
obra e punham obstáculos ao influxo salutar da Igreja, esta até nossos dias não
cessou nunca de admoestar os extraviados. Baste recordar com que firmeza,
energia e constância o nosso predecessor Leão XIII reivindicou para operário o
direito de associação, que o liberalismo dominante nos Estados mais poderosos
obstinava em negar-lhe. E esta influência da doutrina da Igreja ainda
atualmente é maior do que parece, porque é grande e certo, posto que invisível
e difícil de medir, o predomínio das ideias sobre os fatos.
Pode bem
dizer-se com toda a verdade que a Igreja, à semelhança de Cristo, passa através
dos séculos, fazendo bem a todos. Não haveria nem socialismo nem comunismo, se
os que governam os povos não tivessem desprezado os ensinamentos e as maternais
advertências da Igreja; eles, porém, quiseram, sobre as bases do liberalismo e
do laicismo, levantar outros edifícios sociais que à primeira vista pareciam
poderosas e magníficas construções, mas bem depressa se viu que careciam de
sólidos fundamentos, e se vão
miseravelmente desmoronando, um após outro, como tem que desmoronar-se tudo
quanto não se apoia sobre a única pedra angular, que é Jesus Cristo.
Remédios e meios
Necessidade de recorrer a meios de
defesa
Tal é,
veneráveis irmãos, a doutrina da Igreja, a única que, como em qualquer outro
campo, assim também no campo social, pode projetar verdadeira luz, a única
doutrina de salvação em face a ideologia comunista. Mas é necessário que esta
doutrina se realize cada vez mais na prática da vida, conforme o aviso do
apóstolo são Tiago: “Sede... cumpridores da palavra e não simples ouvinte, enganado-vos
a vós mesmos” (Tg 1:27), porquanto, o que na hora atual há de mais urgente é
aplicar com energia os remédios oportunos, para opor-se eficazmente à revolução
ameaçadora que se vai preparando. Alimentamos a firme confiança de que ao menos
uma paixão com que dia e noite trabalham os filhos das trevas na sua propaganda
materialista e ateia, logre estimular santamente os filhos da luz a um zelo
igual, se não maior, da honra da Majestade divina.
Que é, pois,
necessário fazer, que remédios empregar, para defender a Cristo e a civilização
cristã contra aquele pernicioso inimigo? Como um pai no seio da família,
quiséramos conversar, quase na intimidade, acerca dos deveres que a grande luta
de nossos dias impõe a todos os filhos da Igreja, dirigindo também a nossa
paternal advertência aos filhos que dela se afastaram.
Renovação da vida cristã
Remédio fundamental
Como em todos
os períodos mais tormentosos da história da Igreja, assim hoje também o remédio
fundamental é uma sincera renovação da vida privada e pública, segundo os
princípios do evangelho em todos aqueles que se gloriam de pertencer ao rebanho
de Cristo, a fim de serem verdadeiramente o sal da terra, que preserve a
sociedade humana de tal corrupção.
Com
sentimentos de profunda gratidão para com o Pai das luzes, de quem desde “toda
a dádiva excelente e todo o dom perfeito” (Tg 1:17), vemos por toda a parte
sinais consoladores dessa renovação espiritual, não só em tantas almas
singularmente escolhidas, que nestes últimos anos se têm elevado ao cume da mais
sublime santidade, e em tantas outras, cada vez mais numerosas, que
generosamente caminham para a mesma luminosa meta, mas também no
reflorescimento de uma piedade sentida e vivida, em todas as classes da
sociedade, até nas mais cultas, como pusemos em relevo no nosso recente Motu
Próprio In multis solaccis, de 28 do
passado outubro, por ocasião da reorganização da Pontifícia Academia das
Ciências.
Não podemos,
contudo, negar que muito resta ainda por fazer neste caminho da renovação
espiritual. Até mesmo em países católicos,
demasiados são os que são católicos quase só de nome; demasiados, aqueles
que, seguindo embora mais ou menos fielmente as práticas mais essenciais da
religião que se ufanam de professar, não se preocupam de melhor conhecê-la, nem
de adquirir convicções mais íntimas e profundas, e menos ainda de fazer que ao verniz
exterior corresponda o interno esplendor de uma consciência reta e pura, que sente e cumpre todos os seus
deveres sob o olhar de Deus. Sabemos quanto o Divino Salvador aborrece esta vã
e falaz exterioridade, ele quem queria que todos adorassem o Pai “em espírito e
verdade” (Jo 4:23).
Quem não vive
verdadeiramente e sinceramente segundo a fé que professa, não poderá hoje, que
tão violento sopra o vento da luta e da perseguição, resistir por muito tempo,
mas será miseravelmente submergido por este novo dilúvio que ameaça o mundo; e
assim, enquanto se prepara por si mesmo a própria ruína, exporá também ao
ludíbrio o nome cristão.
Desapego dos bens terrenos
E neste passo
queremos, veneráveis irmãos, insistir mais particularmente sobre dois
ensinamentos do Senhor, que têm especial conexão com as atuais condições do
gênero humano: o desapego dos bens terrenos e o preceito da caridade.
“Bem-aventurados os pobres de espírito” foram as primeiras palavras que saíram
dos lábios do Divino Mestre no sermão da montanha (Mt 5:3). E esta lição é mais
que nunca necessária, nestes tempos de materialismo sedento de bens e prazeres
da terra. Todos os cristãos, ricos ou pobres, devem ter sempre fixo o olhar no
céu, recordando que “não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a
futura” (Hb 13:14). Os ricos não devem pôr nas coisas da terra a sua
felicidade, nem dirigir à conquista desse bens os seus melhores esforços; mas,
considerando-se apenas administradores que sabem terão de dar contas ao supremo
Senhor, sirvam-se deles como de meios preciosos que Deus lhes concede para
fazer o bem; e não deixem de distribuir aos pobres o supérfluo, segundo o
preceito evangélico (Lc 11:41). Doutra forma verificar-se-á neles e em suas
riquezas a severa sentença de são Tiago apóstolo: “Eia, pois, ó ricos, chorai,
soltai gritos por causa das misérias que virão sobre vós. As vossas riquezas
apodreceram, e os vossos vestidos foram comidos pela traça. O vosso ouro e a
vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e
devorará as vossas carnes como um fogo. Juntastes para vós um tesouro de ira
para os últimos dias...” (Tg 5:1-3).
Mas os
pobres, por sua vez, esforçando-se muito embora, segundo as leis da caridade e
da justiça, por se proverem do necessário e até mesmo por melhorarem de
condição, devem também permanecer sempre “pobres de espírito” (Mt 5:3),
estimando mais os bens espirituais que os bens que os bens e gozos terrenos.
Recordem-se, além disso, que jamais se logrará fazer desaparecer do mundo as
misérias, as dores, as tribulações, a que estão sujeitos ainda aqueles que
exteriormente parecem mais felizes. E assim, a todos é necessária a paciência,
aquela paciência cristã que eleva o coração às divinas promessas de uma
felicidade eterna. “Sede, pois, pacientes, irmãos – vos diremos ainda com São
Tiago -, até a vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da
terra, tendo paciência, até que receba o fruto temporão e o serôdio, Sede,
pois, pacientes também vós, e fortalecei os vossos corações; porque a vinda do
Senhor está próxima”(Tg 5:7-8). Só assim se cumprirá a consoladora promessa do
Senhor: “Bem-aventurados os pobres”. E não é esta uma consolação e promessa vã,
como são as promessas dos comunistas; mas são palavras de vida, que encerram realidade
suprema, palavras que se verificam plenamente aqui na terra e depois na
eternidade. E na verdade, quantos pobres, nestas palavras e na esperança do
reino dos céus, proclamando já propriedade sua: “porque vosso é o reino de
Deus” (Lc 6:20), encontram felicidade, que tantos ricos não logram em suas
riquezas, sempre inquietos e sempre torturados como andam pela sede de possuir
ainda mais.
Caridade cristã
Muito mais
importante ainda, como remédio do mal de que tratamos, ou pelo menos mais
diretamente ordenado a curá-lo, é o preceito da caridade. Queremos referir-nos
àquela caridade cristã “paciente e benigna” (1 Cor 13:14), que evita todos os
ares de proteção humilhante e qualquer aparência de ostentação; aquela
caridade, que desde os inícios do cristianismo ganhou para Cristo os mais
pobres dentre os pobres, os escravos; e testemunhamos o nosso reconhecimento a
todos quantos nas horas de beneficiência, desde as Conferências de são Vicente
de Paulo até as grandes organizações recentes de assistência social, têm
exercido e exercem as obras de misericórdia corporal e espiritual. Quanto mais
experimentarem em si mesmos os operários e os pobres o que o espírito de amor,
animado pela virtude de Cristo, faz por eles, tanto mais se despojarão do
preconceito de que o cristianismo perdeu a sua eficácia e a Igreja está do lado
daqueles que exploram o seu trabalho.
Mas, quando
vemos de um lado a multidão de indigentes que, por varias causas alheias à sua
vontade, estão verdadeiramente oprimidos pela miséria, e do outro lado, junto
deles, tantos que se divertem inconsideravelmente e esbanjam enormes somas em
futilidades, não podemos deixar de reconhecer com dor que não só não é
observada a justiça, mas que nem sequer se aprofundou suficientemente o
preceito da caridade cristã nem se vive conforme a ele na prática cotidiana.
Desejamos, portanto, veneráveis irmãos, que seja mais e mais explicado por
palavra e por escrito este divino preceito, precioso distintivo deixado por
Cristo a seus verdadeiros discípulos, este preceito que nos ensina a ver nos
que sofrem a Jesus em pessoa e nos impõe o dever de amar os nossos irmãos, como
o divino Salvador nos amou a nós, isto é, até o sacrifício de nós mesmos e, se
necessário for, até da própria vida. Meditem, pois, todos e muitas vezes
aquelas palavras consoladoras, por um lado, mas temerosas por outro, da
sentença final que prenunciará o Juiz supremo no último dia: “Vinde benditos de
meu Pai...; por que tive fome, e me deste de comer, tive sede e me deste de
beber... Em verdade vos digo que todas as vezes que o fizeste a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim que fizeste”
(Mt 25: 34-40). E pelo contrário: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno...; porque tive fome, e não me deste de comer; tive sede, e não me
destes de beber... Na verdade vos digo: todas as vezes que o não fizestes a um
destes mais pequeninos, foi a mim que o não fizestes” (Mt 25: 41-45).
Para
assegurar, pois, a vida eterna, e poder eficazmente socorrer os necessitados, é
necessário voltar à vida mais modesta; renunciar aos prazeres, muitas vezes até
pecaminosos, que o mundo hoje em dia oferece em tanta abundância; esquecer-se a
si mesmo por amor do próximo. Virtude divina de regeneração se encontra neste
“mandamento novo” (como lhe chamava Jesus) da caridade cristã (Jo 13:14), cuja
fiel observância infundirá nos corações uma paz interna desconhecida do mundo,
e remediará eficazmente os males que afligem a humanidade.
Deveres de estreita justiça
Mas a
caridade jamais será verdadeira caridade, se não tiver sempre em conta a
justiça. O apóstolo ensina que “quem ama o próximo cumpre a lei”, e dá razão: “porquanto
não cometerás adultério, não matarás, não
furtarás... e qualquer outro preceito se resume nesta fórmula: Amarás o próximo como a ti mesmo” (Rm
13:8-9). Se, pois, segundo o Apóstolo, todos os deveres se reduzem ao único
preceito da verdadeira caridade, ainda aqueles que são de estrita justiça, como
não matar, não roubar; uma caridade, que prive operário do salário a que tem
estrito direito, não é caridade mas um nome vão e uma vã aparência de caridade.
Nem o operário precisa receber como esmola o que lhe pertence justiça; nem pode
ninguém pretender eximir-se dos grandes deveres, muitas vezes acerca do mesmo
objeto, mas sob aspectos diversos, e os operários, a estes deveres que lhes
dizem respeito, são juntamente muito sensíveis, em razão da sua própria
dignidade.
É por isso
que de modo especial nos dirigimos a vós, patrões e industriais cristãos, cuja
missão é muitas vezes tão difícil, por carregardes com a herança dos erros de
um regime econômico iníquo que exerceu a sua ruinosa influência durante muitas
gerações. Lembrai-vos da vossa responsabilidade. Triste é dizê-lo, mas é muito
verdade que o modo de proceder de certos meios católicos contribui para abalar
a confiança dos trabalhadores na religião de Jesus Cristo. Não queriam eles
compreender que a caridade cristã exige o reconhecimento de certos direitos
devidos ao operário, que a Igreja explicitamente lhe reconheceu. Como julgar do
proceder de patrões católicos, que em algumas partes conseguiram impedir a
leitura da nossa encíclica Quadragesimo anno
em suas igrejas patronais? Ou daqueles industriais católicos que até hoje se
tem mostrado adversários dum movimento que o direito de propriedade,
reconhecido pela Igreja, tenha sido por vezes empregado para defraudar o
operário do seu justo salário e dos seus direitos sociais?
Justiça social
Efetivamente,
além da justiça comutativa, há a justiça social que impõe também deveres a que
nem patrões nem operários se podem furtar. E é precisamente próprio da justiça
social exigir dos indivíduos quanto é necessário ao bem comum. Mas, assim como
no organismo vivo não se provê ao todo, se não se dá a cada parte e a cada
membro tudo quanto necessitam para
desempenharem suas funções sociais. O cumprimento dos deveres da justiça social
terá como fruto uma intensa atividade de toda a vida econômica, desenvolvida na
tranquilidade e na ordem, e se mostrará assim a saúde do corpo social, do mesmo
modo que a saúde do corpo humano se reconhece pela atividade inalterada, e ao
mesmo tempo plena e frutuosa, de todo organismo.
Não se pode,
porém, dizer que se satisfez à justiça social se os operários não têm
assegurada a sua própria sustentação e a de suas famílias com salário
proporcionado a este fim: se não lhes facilita o ensejo de adquirir uma modesta
fortuna, prevenindo assim a praga do pauperismo universal; se não se tomam
providências a seu favor, com seguros públicos e privados, para o tempo da
velhice, da doença ou do desemprego. Numa palavra, para repetirmos o que
dissemos na nossa encíclica Quadragesimo
anno: “A economia social estará solidamente constituída e obterá seus fins,
só quando a todos e a cada um forem subministrados todos os bens que se podem
conseguir com as forças e subsídios naturais, com a técnica, com a organização
social do fator econômico. Esses bens devem ser em tatá quantidade quanto
necessária, para assim satisfazer às necessidades e honestas comodidades, como
para elevar os homens àquela condição de vida mais feliz, que, obtida e gozada
de modo regrado e prudente, não só não é de obstáculo à virtude, mas até a
favorece poderosamente”.
Se, pois,
como sucede cada vez mais frequentemente no assalariado, a justiça não pode ser
observada pelos particulares, a não ser que todos concordem em praticá-la
conjuntamente, mediante instituições que unam entre si os patrões, para evitar
entre eles concorrência incompatível com a justiça devida aos trabalhadores, o
dever dos empresários e patrões é sustentar e promover essas instituições
necessárias, que se tornam o meio normal para poderem cumprir os deveres de
justiça. Mas lembrem-se também dos trabalhadores de seus deveres de caridade e
justiça para com os patrões e estejam persuadidos que assim salvaguardarão
melhor até os próprios interesses.
Assim, pois,
se considera o conjunto da vida econômica – como já notamos a nossa encíclica Quadragesimo anno -, não se conseguirá
que nas relações econômicos- sociais reine a mútua colaboração da justiça e da
caridade, senão por meio dum corpo de instituições profissionais e
interprofissionais sobre bases solidamente cristãs, coligadas entre si e que
constituam, sob forma diversas e adaptadas aos lugares e circunstâncias, o que
chamava a Corporação.
Estudo e difusão da doutrina social
Para dar a
esta ação social mais eficácia, é muito necessário promover o estudo dos
problemas sociais à luz da doutrina da Igreja e difundir os seus ensinamentos
sob égide da autoridade de Deus, constituída na mesma Igreja. Se o modo de
proceder de alguns católicos deixou a desejar no campo socioeconômico, isso
aconteceu muitas vezes por não conhecerem suficientemente nem meditarem no
ensino dos sumos pontífices sobre o assunto. Por isso, é sumamente necessário
que em todas as classes da sociedade se promova mais intensa formação social,
correspondente ao diverso grau de cultura intelectual, e se procure com toda
solicitude e empenho a mais ampla difusão dos ensinamentos da Igreja também
entre a classe operária. Iluminem-se as mentes com a luz segura da doutrina
católica e inclinem-se as vontades a segui-la e a aplicá-la como norma reta de
vida, pelo cumprimento consciencioso dos múltiplos deveres sociais. Combata-se
desse modo aquela incoerência e descontinuidade na vida cristã, por nós várias
vezes deplorada, pela qual alguns, enquanto aparentemente são fiéis no
cumprimento dos seus deveres religiosos, no campo do trabalho ou da indústria,
da profissão ou no comércio, ou no emprego, por um deplorável desdobramento de
consciência, levam vida muito em desarmonia com as normas tão claras da justiça
e da caridade cristãs, dando assim grave
escândalo aos fracos e oferecendo aos maus fácil pretexto para desacreditarem na própria Igreja.
Grandemente
pode contribuir para esta renovação a imprensa católica, que pode e deve, de
modo variado e atraente, procurar dar a conhecer cada vez melhor a doutrina
social, informar com exatidão, mas também com a devida amplidão, acerca da
atividade dos inimigos, referir os meios de combate que se mostraram os mais
eficazes em diversas regiões, propor ideias úteis e gritar alerta contra as
astúcias e enganos com que os comunistas procuram, e com resultado, atrair a si
até homens de boa fé.
Premunir-se contra as ciladas do
comunismo
Sobre este
ponto insistimos na nossa alocução, de 12 de maio do ano passado, mas julgamos
necessário, veneráveis irmãos, chamar de novo sobre ele, de modo particular, a
vossa atenção. Ao princípio, o comunismo mostrou-se tal qual era em toda a sua
perversidade; mas bem depressa se capacitou de que desse modo afastava de si os
povos; e por isso mudou de tática e
procura atrair as multidões com vários enganos, ocultando os seus desígnios sob
a máscara de ideais, em si bom e atraentes. Assim, vendo o desejo geral de
paz, os chefes do comunismo fingem ser os mais zelosos autores e propagandistas
do movimento a favor da paz mundial; mas ao mesmo tempo excitam a uma luta de
classes que faz correr rios de sangue, e, sentindo que não têm garantias
internas de paz, recorrem a armamentos ilimitados. Assim, sob vários nomes que
nem por sombras aludem ao comunismo, fundam associações e periódicos que servem
depois unicamente para fazerem penetrar as suas ideias em meios que doutra
forma não lhe seriam facilmente acessíveis, procuram até com perfídia
infiltrar-se em associações católicas e religiosas. Assim, em outras partes,
sem renunciarem um ponto de seus perversos princípios, convidam os católicos a
colaborar com eles no campo chamado humanitário e caritativo, propondo à vezes,
até coisas completamente conformes ao espírito cristão e à doutrina da Igreja.
Em outras partes levam a hipocrisia até fazer crer que o comunismo, em países
de maior fé e de maior cultura, tomará outro aspecto mais brando, não impedirá
o culto religioso e respeitará a liberdade das consciências. Há até quem,
reportando-se a certas alterações recentemente introduzidas na legislação
soviética, deduz que o comunismo está em vésperas de abandonar o seu programa
de luta contra Deus.
Procurai,
veneráveis irmãos, que os fiéis não se deixem enganar! O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo
nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a
civilização cristã. E, se, alguns,
induzidos em erro, cooperassem para vitória do comunismo no seu país, seriam os
primeiros a caírem como vítimas do seu erro; e quanto mais se distinguem
pela antiguidade e grandeza da sua civilização cristã as regiões onde o
comunismo consegue penetrar, tanto mais devastados lá se manifesta o ódio dos
“sem Deus”.
Oração e penitência
Mas, “se o
Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam aqueles que a guardam”(Sl 96:1). Por
isso, como último e poderosíssimo remédio vos recomendamos, veneráveis irmãos,
que em vossas dioceses promovais e intensificais, de modo mais eficaz, o
espírito de oração unido à penitência cristã. Quando os apóstolos perguntaram
ao Salvador porque não tinham podido libertar do espírito maligno a um
endemoninhado, respondeu o Senhor: “Demônios desta raça não se expulsam senão
com a oração e com o jejum” (Mt 17;20). Também o mal que hoje atormenta a
humanidade não poderá ser vencido senão com uma santa cruzada universal de
oração e penitência; e recomendamos singularmente às ordens contemplativas,
masculinas e femininas, que redobrem as suas súplicas e sacrifícios, para
impetrarem do céu para a Igreja um válido socorro nas lutas presentes, com
poderosa intercessão da Virgem Imaculada, a qual, assim como um dia esmagou a
cabeça da antiga serpente, também é hoje e sempre segura defesa invencível “Auxílio
dos cristãos”.
Ministros e auxiliares desta obra
social da Igreja
Os sacerdotes
Para a obra
mundial de salvação que viemos traçando, e para a aplicação dos remédios que
ficam brevemente apontados, ministros e obreiros evangélicos designados pelo
divino rei Jesus Cristo são em primeira linha os sacerdotes. A eles, por
vocação especial, sob a guia dos sagrados pastores e em união de filial
obediência como vigário de Cristo na terra, foi confiada a missão de conservar
aceso no mundo o facho da fé e de infundir nos fiéis aquela sobrenatural
confiança com a Igreja, em nome de Cristo, tem combatido e vencido tantas
outras batalhas: “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1Jo 5;4).
De modo
particular recordamos aos sacerdotes a exortação de nosso predecessor, Leão
XIII, tantas vezes repetida, de ir ao operário; exortação que nós fazemos nossa
e completamos: “Ide ao operário, especialmente ao operário pobre, em geral, ide
aos pobres”, seguindo nisto os ensinamentos de Jesus Cristo e da sua Igreja. Os pobres, efetivamente, são os que se
acham mais expostos às ciladas dos agitadores, que exploram a sua mísera
condição, para lhes atear mo peito a inveja contra os ricos e excitá-los a
tomarem pela força o que lhes parece que a fortuna lhes negou injustamente;e, os pobres, para os prevenir ou
desenganar dos preconceitos e das falsas teorias, chagarão a ser fácil presa
dos apóstolos do comunismo.
Não podemos
negar que muito se tem feito já neste sentido, especialmente depois das
encíclicas Rerum novarum e Quadragesimo anno; e com paterna
complacência saudamos o industrioso zelo pastoral de tantos bispos e
sacerdotes, que vão excogitando e ensaiando, embora com a devida prudência e
cautela, novos métodos de apostolado que melhor correspondam às exigências
modernas. Mas tudo isto é ainda muito pouco para as presentes necessidades,
Assim como, quando a pátria está em perigo, tudo quanto não é estritamente
necessário ou não é diretamente ordenado à urgente necessidade da defesa comum,
passa a segunda linha; assim também em nosso caso, qualquer outra obra, por
mais bela e boa que seja, deve ceder o passo à vital necessidade de salvar as
próprias bases da fé e da civilização cristã. E assim, nas paróquias, os
sacerdotes, dando embora naturalmente o que é necessário à cura ordinária dos
fiéis, reservem o mais e o melhor das suas forças e da sua atividade à
reconquistas das massas trabalhadoras para Cristo e para a Igreja e a fazer
penetrar o espírito cristão nos meios que lhe são mais refratários. Nas massas
populares encontrarão correspondência e abundância de frutos inesperada, que os
compensará do duro trabalho do primeiro arroteamento; como temos visto e vemos
em Roma e em muitas outras metrópoles, onde, à sombra das novas igrejas, que
vão surgindo nos bairros periféricos, se vão organizando fervorosas comunidades
paroquiais e se operam verdadeiros milagres de conversão entre populações que
eram hostis à religião, só porque a não conheciam.
Mas o meio
mais eficaz de apostolado entre as multidões dos pobres e dos humildes é o
exemplo do sacerdote, o exemplo de todas as virtudes sacerdotais quais as
descrevemos em nossa encíclica Ad
catholic sacerdotii; no presente caso, porém, de modo especial, é
necessário um luminoso exemplo de vida humilde, pobre, desinteressada, cópia
fiel do divino Mestre que podia proclamar com divina franquesa: “As raposas tem
os seus covis e as aves dos céus tem os seu ninhos; mas o Filho do homem não
tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8;20). Um sacerdote verdadeira e
evangelicamente pobre e desinteressado faz milagres de bem no meio do povo,
como um São Vicente de Paulo, um Cura d’Ars, um Cottolengo, um D. Bosco e
tantos outros; ao passo que um sacerdote avaro e interesseiro, como recordemos
na citada encíclica, ainda quando se precipite, como Judas, no abismo da traição, será pelo menos um oco
“bronze a ressoar” e um inútil a címbalo a retinir” (1 Cor 13;1), e muitas
vezes, antes obstáculos que instrumento de graça no meio do povo. E se o
sacerdote, secular ou regular, por dever de ofício, tem que administrar bens
temporais, lembre-se que não somente terá obrigação de observar
escrupulosamente tudo quanto prescrevem a caridade e a justiça, senão que de
modo particular deve mostrar-se verdadeiro pai dos pobres.
A ação católica
Depois do
clero, dirigimos o nosso paternal convite aos nossos queridíssimos filhos
leigos, que , como já declaramos em outra ocasião, é um “auxílio
particularmente providencial”, para a obra da Igreja nestas circunstâncias tão
difíceis. De fato, a Ação católica é também apostolado social, visto que tende
a difundir o reinado social de Jesus Cristo não só nos indivíduos mas também na
família e na sociedade. Por isso deve, antes de tudo, atender a formar com
especial cuidado os seus membros e a prepará-los para as santas batalhas do
Senhor. A este trabalho formativo, mais que
nunca urgente e necessário, que deve proceder a ação direta e efetiva,
servirão certamente os círculos de estudos, as semanas sociais, os cursos
orgânicos de conferências e todas as demais iniciativas aptas para dar a
conhecer a solução dos problemas sociais em sentido cristão.
Soldados da
Ação católica tão bem preparados e adestrados serão os primeiros e imediatos
apóstolos dos seus companheiros de trabalho e tornar-se-ão os preciosos
auxiliares do sacerdote, para levarem a luz da verdade e aliviarem as graves
misérias matérias e espirituais, em inumeráveis zonas refratárias à ação do
ministro de Deus, ou por inveterados preconceito contra o clero ou por
deplorável apatia religiosa. Cooperar-se-á, desse modo, sob a direção de
sacerdotes particularmente experimentados, naquela assistência religiosa às
classes trabalhadoras, que temos tanto a peito, por ser o meio mais apto para
preservar aqueles nossos amados filhos da cilada comunista.
Além deste
apostolado individual, muitas vezes oculto, mas sobremaneira útil e eficaz, é
função da Ação católica disseminar amplamente, por meio da propaganda oral e
escrita, os princípios fundamentais que hão de servir para a construção de uma
ordem social cristã, como se depreendem dos documentos pontifícios.
Organizações auxiliares e de classe
Em torno da
Ação católica cerram fileiras as organizações que saudamos já com auxiliares da
mesma. Com paternal afeto exortamos também estas organizações tão prestimosas a
consagrarem-se à grande missão de que tratamos, que atualmente supera a todas
as outras pela sua vital importância.
Pensamos
também nas organizações de classe: de operários, de agricultores, de
engenheiros, de médicos, de patrões, de homens de estudo e outras semelhantes;
homens e mulheres, que vivem nas mesmas condições culturais e quase naturalmente
se reuniram em agrupamentos homogêneos. São precisamente estes grupos e estas
organizações que estão destinados a introduzir na sociedade aquela ordem, que
tínhamos na mente na nossa encíclica Quadragesimo
anno, e a difundir assim o reconhecimento da realeza de Cristo nos diversos
campos da cultura e do trabalho.
E se, pela
transformação das condições da vida econômica e social, o Estado julgou dever
intervir até o ponto de assistir e regular diretamente tais instituições com
particulares disposições legislativas, salvo o respeito devido a liberdade e às
iniciativas particulares; também não pode nessas circunstâncias a Ação católica
manter-se estranha à realidade, antes devem com prudência prestar a sua
contribuição de pensamento, com o estudo dos novos problemas à luz da doutrina
católica, e de atividade, com a participação leal e voluntária dos seus membros
nas novas formas e instituições, levando-lhes o espírito cristão, que é sempre
princípio de ordem e de mútua e fraterna colaboração.
Apelo aos operários católicos
Uma palavra
particularmente paterna quiséramos dirigir aos nossos queridos operários
católicos, jovens e adultos, os quais, talvez em prêmio da sua fidelidade por
vezes heroicas nestes tempos tão difíceis, receberam missão muito nobre e
árdua. Sob direção dos seus bispos e sacerdotes, é a eles que cumpre reconduzir
à Igreja e a Deus aquelas imensas multidões de irmãos seus de trabalho, os
quais, exacerbados por não haverem sido compreendidos nem tratados com a
dignidade a que tinham direito, se afastaram de Deus. Demonstrem os operários
católicos com seu exemplo, com suas palavras, a esses seus irmãos transviados
que a Igreja é Mãe cheia de ternura para todos os que trabalham e sofrem, e que
jamais faltou nem faltará a seu sagrado dever materno de defender seus filhos.
Se esta missão, que eles devem cumprir nas minas, nas fábricas, nos estaleiros
onde quer que se trabalha, reclama por vezes grandes sacrifícios, lembrem-se
que o Salvador do mundo deu não só exemplo do trabalho, como também o do
sacrifício.
Necessidade da concórdia entre os
católicos
Assim pois, a
todos os nossos filhos, de todas as classes sociais, de todas as nações, de
todos os grupos religiosos e leigos da Igreja, quiséramos dirigir novo e mais
urgente apelo à concórdia. Muitas vezes nosso coração paterno se tem afligido
com as divisões, fúteis muitas vezes em suas causas, mas sempre trágicas em
suas consequências, que põem em luta os filhos duma mesma Mãe, a Igreja. Assim
se vê que os agentes da desordem, que não são tão numerosos, aproveitando-se
destas discórdias, lhes exasperam o azedume, e acabam por lançar os mesmos
católicos uns contra os outros. Depois dos acontecimentos destes últimos meses,
deveria parecer supérfluo o nosso aviso. Repetimo-lo, porém, uma vez mais para
aqueles que não o compreenderam, ou talvez não o querem compreender. Os que
trabalham por aumentar as dissensões entra católicos, tomam sobre si uma
tremenda responsabilidade diante de Deus e da Igreja.
Apelo a todos os que creem em Deus
Mas a esta
luta, empenhada pelo poder das trevas contra a própria ideia da Divindade,
é-nos grato esperar que, além de todos aqueles que se gloriam do nome de
Cristo, se oponham também denominadamente todos quantos creem em Deus e o
adoram, que são ainda a imensa maioria da humanidade. Renovemos, por isso, o
apelo que já, há cinco anos, lançamos em nossa encíclica Caritate Christi, para que também eles leal e cordialmente
concorram de sua parte “para afastar da humanidade o grande perigo que a todos
ameaça”. Porquanto – como então dizíamos - , se “a crença em Deus é o
fundamento inabalável de toda ordem social e de toda a responsabilidade na
Terra, todos os que não querem a anarquia e o terror devem trabalhar
energicamente para que os inimigos da religião não alcancem o fim que tão
abertamente proclamam”.
Deveres do Estado cristão
Ajudar a Igreja
Temos
exposto, veneráveis irmãos, a função positiva, de ordem, a um tempo, doutrinal
e prática, que a Igreja assume em virtude da mesma missão, que Jesus Cristo lhe
confiou, de edificar a sociedade cristã e, em nossos tempos, de combater e
desbaratar os esforços do comunismo; e fizemos apelo a todas e a cada uma das
classes da sociedade. Para esta empresa espiritual da Igreja deve também
concorrer positivamente o Estado cristão, ajudando em seu empenho a Igreja com
os meios que lhe são próprios, os quais, embora externos, dizem também
respeito, em primeiro lugar, ao bem das almas.
Por isso os
Estados porão todo o cuidado em impedir que a propaganda ateia, que destrói
todos os fundamentos da ordem, faça estragos em seus territórios.porque não
poderá haver autoridade na Terra, se não se reconhece a autoridade da Majestade
divina, nem será firme o juramento, que não se faça em nome do Deus vivo.
Repetimos o que tantas vezes e com tanta insistência temos dito, nomeadamente
na nossa encíclica Caritate Christi:
“Como pode sustentar-se um contrato qualquer, e que valor pode ter tratado,
onde falta toda a garantia de consciência? E como pode falar-se de garantia de
consciência, onde falta toda a fé em Deus, todo o temor Deus? Destruída esta
base, desmorona-se com ela toda a lei moral, e não haverá já remédio nenhum que
possa impedir a gradual, mas inevitável ruína dos povos, da família, do Estado,
da própria civilização humana”.
Providências do bem comum
Além disso,
deve o Estado pôr todo o cuidado em criar aquelas condições materiais de vida,sem
as quais não pode subsistir uma sociedade
ordenada, e em procurar trabalho especialmente aos pais de família e à
juventude. Para esse fim induzam-se as classes ricas a que, pela urgente
necessidade do bem comum, tomem sobre si aqueles encargos, sem os quais a
sociedade humana não pode salvar-se, nem elas próprias poderiam encontrar
salvação. Mas as providências, que o Estado toma para esse fim, devem ser tais
que atinjam efetivamente os que de fato têm nas mãos os maiores capitais e
continuamente os vão aumentando com grave prejuízo dos outros.
Prudente e sóbria administração
O próprio
Estado, lembrando-se de suas responsabilidades diante de Deus e da sociedade,
sirva de exemplo a todos os demais com prudente e sóbria administração. Hoje,
mais que nunca, a gravíssima crise mundial exige que aqueles que dispõem de
fundos enormes, fruto do trabalho e do suor de milhões de cidadãos, tenham
sempre diante dos olhos unicamente o bem comum e procurem promovê-lo o mais
possível. Os funcionários do Estado e todos os empregados cumpram também, por
dever de consciência, os seus deveres com fidelidade e desinteresse, seguindo
os luminosos exemplos antigos e recentes de homens insignes, que um trabalho
sem descanso sacrificaram toda a sua vida pelo bem da pátria. E no comércio dos
povos entre si, procure-se solicitamente remover aqueles obstáculos artificiais
da vida econômica, que brotem do sentimento da desconfiança e do ódio,
recordando que todos os povos da Terra formam uma única família em Deus.
Deixar liberdade à Igreja
Mas, ao mesmo
tempo, deve o Estado deixar a Igreja plena liberdade de cumprir a sua missão
divina e espiritual, para contribuir assim poderosamente para salvar os povos
da terrível tormenta da hora presente. Por toda a parte se faz hoje um
angustioso apelo às forças morais e espirituais; e com toda razão, porque o mal
que se deve combater é antes de tudo, considerado em sua primeira origem, um mal de natureza espiritual, e desta
fonte é que brotam, por lógica diabólica, todas as monstruosidades do comunismo.
Ora, entre as forças morais e religiosas, sobressai incontestavelmente a Igreja
Católica; e por isso o mesmo bem da humanidade exige que não se ponham
obstáculos à sua atividade.
Proceder de
outro modo e pretender ao mesmo tempo alcançar o fim com meios puramente
econômicos e políticos, é ficar à mercê de um erro perigoso. E, quando se
exclui a religião da escola, da educação, da vida pública, e se expõem ao
ludíbrio os representantes do cristianismo e seus sagrados ritos, não se
promove porventura aquele materialismo, donde germina o comunismo? Nem a força,
ainda a mais bem organizada, nem os ideais terrenos, por mais grandiosos que
sejam, podem dominar um movimento que tem suas raízes precisamente na demasiada
estima dos bens da terra.
Confiamos que
aqueles que dirigem os destinos das nações, por pouco que sintam o perigo
extremo que ameaça hoje os povos, compreenderão cada vez melhor o supremo dever
de não impedir à Igreja o cumprimento da sua missão; tanto mais que, ao
cumpri-la, enquanto procura a felicidade eterna do homem, trabalha também
inseparavelmente pela verdadeira felicidade temporal.
Apelo paterno aos transviados
Mas não
podemos pôr termo a esta encíclica, sem dirigir uma palavra àqueles mesmos
filhos nossos que estão já contagiados ou tocados do mal comunista. Exorto-vos
vivamente a que ouçam a voz do pai que os ama; e rogamos ao Senhor que os
ilumine, para que deixem o caminho que os despenha a todos numa imensa e
catastrófica ruína, e reconheçam também eles que o único Salvador é Jesus
Cristo nosso: “porque não há sob o céu nenhum outro nome dado aos homens, pelo
qual possamos esperar ser salvos”.
Conclusão
São José, modelo e patrono
E, para
apressar a “paz de Cristo no reino de Cristo”, por todos tão desejada, pomos a grande
ação da Igreja católica contra o comunismo ateu mundial sob a égide do poderoso
protetor da Igreja, São José. Ele pertence à classe operária e experimentou o
peso da pobreza, em si e na Sagrada Família, de que era chefe vigilante e
afetuoso; a ele foi confiado o Deus menino, quando Herodes mandou contra eles
os seus sicários. Com uma vida de fidelíssimo cumprimento do dever cotidiano,
deixou um exemplo de vida a todos os que têm de ganhar o pão com o trabalho de
suas mãos e mereceu ser chamado “o Justo”, exemplo vivo daquela justiça cristã,
que deve reinar na vida social.
Com os olhos
no alto, a nossa fé vê os novos céus e a nova terra, de que fala o nosso
primeiro antecessor, São Pedro. Enquanto as promessas dos falsos profetas da
Terra se desvanecem em sangue e lágrimas, brilha com celeste beleza a grande
profecia apocalíptica do redentor do mundo: “Eis que eu renovo todas as coisas”
(Ap 21:5).
Não nos
resta, veneráveis irmãos, senão elevar as mãos paternas e fazer descer sobre
vós, sobre o vosso clero e povo, sobre toda família católica, a bênção
apostólica.
Roma, dado em
São Pedro, na festa de São José, padroeiro da Igreja universal, no dia 19 de
março de 1937, ano XVI do nosso pontificado.
PIUS PP. XI
”Se os fiéis se deixam enganar pelos promotores das manobras atuais, se consentem em conspirar com eles para os sistemas perversos do socialismo e do comunismo, que o saibam e o considerem seriamente: acumulam para si mesmos e junto do divino Juiz tesouros de vingança no dia da cólera; e, na espera disto, não provirá desta conspiração nenhuma vantagem temporal para o povo, mas antes um aumento de misérias e de calamidades.” Pio XI - Syllabus
ResponderExcluirO é certo é que onde o Senhor Deus é rejeitado, o diabo encampa e a peste do comunismo é uma dessas pragas decorrentes da apostasia à Igreja e incidência no relativismo, que no fundo é um subsidiário da maçonaria, a Sinagoga de Satanás, logo uma seita, a qual pode ser a versão século XXI da antiga Serpente, dadas as afrontas a Deus em público desafio!.