quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Deus é totalmente simples?



Agostinho afirma que “Deus é verdadeira e sumamente simples”.


Que Deus seja totalmente simples se pode provar de várias maneiras:


1 -  Pelo que procede. Como em Deus não há composição nem de partes quantitativas, pois não é um corpo; nem de forma e de matéria, nem distinção de natureza e supósito; nem de essência e ser; nem composição de gênero e diferença, nem de sujeito  e de acidente, fica claro que Deus não é composto de nenhuma maneira, mas totalmente simples.

2 – Porque todo composto é posterior a seus componentes e dependente deles. Ora, Deus é o primeiro ente, como já demonstrado.


3 – Porque todo composto, tem uma causa. Assim as coisas que por si são diversas não conformam uma unidade, a não ser por uma causa, como foi demonstrado, sendo a primeira causa eficiente.


4 – Porque em todo composto há de existir potência e ato, o que não há em Deus, porque, ou uma das partes é ato em relação à outra, ou pelo menos as partes se encontram todas em potência com respeito ao todo.


5 – Porque todo composto é algo que não coincide com qualquer de suas partes. Isto é manifesto nas totalidades formadas de partes dessemelhantes: parte nenhuma do homem é o homem, e nenhuma parte do pé é o pé. Por outro lado, nas totalidades de partes semelhantes, embora algo que se diz o todo, se diga da parte, por exemplo: uma parte do ar á ar, uma parte da água é água, no entanto, algo se diz do todo que não convém a algumas das partes; assim se toda água mede dois côvados, não se segue que cada parte também o meça. Por conseguinte, em todo composto existe algo que com ele não se identifica. Daí que, como Deus é forma, melhor dizendo, é o mesmo ser, de maneira alguma pode ser composto.


Portanto, deve-se dizer que o que procede de Deus a Ele se assemelha, como os efeitos da causa primeira a ela se assemelham. Ora, pertence à razão de ser causado ser composto de alguma maneira, porque pelo menos seu ser é distinto de sua essência.


Deve-se afirmar que para nós, os compostos são melhores do que os simples, porque a perfeição da bondade da criatura não se encontra em um único simples, mas em muitos; ao passo que a perfeição da bondade divina se encontra em um único simples.


 


São Tomás de Aquino: Suma Teológica Vol I; Questão 3; artigo 7.

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