Caros católicos, essa frase de São Paulo na Epístola da Missa de hoje deveria ser considerada com todo o cuidado pela nossa sociedade contemporânea e pelos homens, que pensam poder ocupar o lugar de Deus, para ditar o que é certo e o que é errado, sem se preocupar minimamente com Deus. Nossa sociedade zomba de Deus, de sua Revelação, de suas leis. Isso não será sem consequências porque de Deus não se zomba. E muitas dessas consequências dramáticas nós já vivemos. Como nos diz São Paulo hoje: “quem semeia na sua carne, colherá, da carne, a corrupção.”
Nossa sociedade já não reconhece verdadeiramente a existência de Deus. Ela não reconhece a Revelação divina, não adere a Deus tal como Ele se revelou. Ela não reconhece que Deus é um só em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Nossa sociedade não reconhece que a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho, se encarnou para nos salvar e que Ele morreu na cruz para nos perdoar os pecados. Ela não reconhece a Igreja fundada por NSJC, a Igreja Católica. Ela nos faz esquecer os novíssimos: a morte, o juízo, o inferno, o céu. Ao contrário, nossa sociedade favorece o indiferentismo religioso, como se todas as religiões fossem boas, colocando em pé de igualdade a religião que nos foi dada por Deus e aquelas que são obra das mãos dos homens ou do demônio. Nossa sociedade favorece o ateísmo prático, fazendo que os homens vivam submersos no mais profundo naturalismo, sem que se preocupem com as verdades eternas, com a obra de redenção operada por Nosso Senhor, com a prática da virtude, dos mandamentos, sem que se preocupem com o pecado e assim por diante. Nossa sociedade nos leva a pensar e agir como se nossa vida se resumisse unicamente a essa terra, em particular fazendo-nos acreditar que a nossa finalidade nesse mundo é aproveitar a vida, nos divertir. Nossa sociedade realmente se coloca no lugar de Deus, querendo estabelecer o que é a verdade, e invertendo, no mais das vezes, o que é o bem e o que é o mal. Nossa sociedade destruiu a família, pela introdução do divórcio. Ela ataca os mais fundamentais e evidentes princípios da lei natural e do bom senso ao favorecer o homossexualismo. Ela favorece o assassinato dos mais inocentes pelo aborto. Verdadeiramente, nossa sociedade parece zombar de Deus.
Mas também nós, caros católicos, quantas vezes parecemos zombar de Deus, pelos nossos pecados, pela nossa falta de seriedade na busca da santidade, pela nossa falta de verdadeira conversão, pelos pecados repetidos e não combatidos seriamente. Vamos levando a vida como se pudéssemos enganar a Deus e nos converter no último instante. Vamos levando a vida muitas vezes esquecidos das verdades sobrenaturais, sem nos interessar por elas. Vamos dividindo o nosso coração, a nossa alma, entre Deus e as coisas mundanas, esquecendo-nos de que Ele nos pediu para amá-lO com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com toda a nossa força. Vamos também nós, os indivíduos, muitas vezes zombando de Deus.
Todavia, de Deus não se zomba. Quando se abusa e se zomba da misericórdia de Deus, será preciso sofrer pela sua justiça. E um dos piores castigos que Deus pode nos dar é nos abandonar aos nossos próprios caprichos e erros. É, basicamente, a situação de nossa sociedade. Já estamos praticamente cegos, sem conseguir enxergar os erros e males tão profundos que são os nossos. E o abismo vai chamando outro abismo. Vejamos o que diz São Paulo aos Romanos, no capítulo 1º, e observemos como é semelhante à situação atual. Diz o Apóstolo:
“Dizendo ser sábios, tornaram-se estultos e mudaram a glória de Deus incorruptível na figura de um simulacro de homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis. Pelo que Deus os abandonou aos desejos do seu coração, à imundície, de modo que desonraram os seus próprios corpos, eles que trocaram a verdade de Deus pela mentira e que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é bendito por todos os séculos. Amém. Por isso Deus entregou-os a paixões de ignomínia. Efetivamente, as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em uso contra a natureza, e, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu desregramento. E, como não procuraram conhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, que os levou a fazer o que não convém, cheios de toda a iniquidade, de malícia, de avareza, de maldade, cheios de inveja, de homicídios, de contendas, de engano, de malignidade, mexeriqueiros, detratores, odiados por Deus, injuriadores, soberbos, altivos, inventores de maldades, desobedientes aos pais, insensatos, sem lealdade, sem afeto, sem lei, sem misericórdia. Os quais, conhecedores da justiça de Deus, sabendo que os que fazem tais coisas são dignos de morte, não somente as fazem mas também aprovam aqueles que as fazem.”
A semelhança entre o que descreve São Paulo e a sociedade atual é impressionante, mas plenamente compreensível: quando se tem a mesma causa – negação de Deus – se tem o mesmo efeito – corrupção moral profunda do homem. Tendo recusado Deus, tudo se torna possível. Como é grande a decadência da sociedade que recusa Deus.
O que devemos, então, fazer, caros católicos? Desesperar-nos? Desanimar? Abandonar tudo? Não, absolutamente. Devemos nos arrepender de nossos pecados e procurar seriamente levar uma vida santa, fazendo o bem, que é cumprir a vontade de Deus em todas as coisas. É também São Paulo que nos diz tão bem o que devemos fazer, na Epístola de hoje: “quem semeia no espírito, colherá, do espírito, a vida eterna. Não nos cansemos, pois, de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não desfalecermos. Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, muito especialmente aos nossos irmãos na fé.” Se fizermos como nos diz São Paulo, podemos ter verdadeiramente esperança. E é essa esperança sobrenatural que deve nos mover, caros católicos.
Fonte: Missa Tridentina em Brasília - [Sermão] Deus non irridetur. De Deus não se zomba.
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