terça-feira, 10 de novembro de 2015

Os Jacobinos











“Após os trabalhos históricos destes últimos anos, diz Monsenhor Freppel, não é mais permitido ignorar a perfeita identidade das fórmulas de 1789 com os planos elaborados pela seita dos iluministas, dos quais Weishaupt e Knigge eram promotores, e muito particularmente do congresso geral das lojas maçônicas reunido em Wilhelmsbad em 1781.



Os deputados das lojas, após terem recebido o batismo do Iluminismo, retornam a seus países e trabalham por toda a parte a franco-maçonaria no sentido que lhes foi indicado: na Áustria, na França, na Itália, na Bélgica, na Holanda, na Inglaterra, na Polônia. “O contágio é tão rápido que logo o universo estará cheio de iluministas”.



Seu centro é doravante Frankfurt, pelo menos no que diz respeito à organização da ação revolucionária. Veremos o que aí foi resolvido contra a dinastia capetíngea cume da ordem social européia. Knigge estabeleceu nessa cidade sua sede. Dali ele estende suas conspirações do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul, ele faz iniciações nos seus mistérios e recruta essa multidão de cabeças e de braços dos quais a seita tem necessidade para as revoluções que cogita.

 

“A propósito da França, diz Barruel, a seita tem desígnios mais profundos”. Segundo o plano de Weishaupt e de Knigge, os franceses deveriam ser os primeiros a agir, mas os últimos a serem instruídos. Contava-se com o temperamento deles.



As circunstâncias, com efeito, não podiam ser mais favoráveis à sua propaganda. Como diz Barruel, “os discípulos de Voltaire e de Jean-Jacques tinham preparado nas lojas o reino dessa igualdade e dessa liberdade cujos últimos mistérios transformavam-se, segundo o que se conhece de Weishaupt, naqueles da impiedade e da mais absoluta anarquia.

 

“A igualdade e a liberdade, dizia ele, são os direitos essenciais que o homem, na sua perfeição originária e primitiva, recebe da natureza; a primeira agressão a essa igualdade foi desferida pela propriedade; a primeira agressão à liberdade foi desferida pelas sociedades políticas e pelos governos; os únicos sustentáculos da propriedade e dos governos são as leis religiosas e civis: assim, para restabelecer o homem nos seus direitos primitivos de igualdade e de liberdade, é preciso começar pela destruição de toda religião, toda sociedade civil e acabar pela abolição de toda propriedade”.4

Nesses mesmos discursos, Weishaupt traçava aos iniciados esta linha de conduta para chegarem à liquidação da propriedade, da sociedade civil e da religião, objetivo de sua instituição.

 

A grande arte de tornar infalível uma Revolução qualquer, é a de esclarecer os povos Esclarecê-los é, insensivelmente, conduzir a opinião pública para o desejo das mudanças que constituem o objeto da Revolução meditada.

 

“Quando o objeto desse desejo não puder aflorar sem expor aquele que o concebeu à vingança pública, é nas intimidades das sociedades secretas que é preciso saber propagar a opinião.



“Quando o objeto desse desejo é uma Revolução universal, todos os membros dessas sociedades que tendem ao mesmo objetivo, apoiando-se uns nos outros, devem procurar dominar invisivelmente e sem aparência de meios violentos, não somente a parte mais eminente ou a mais distinta de um só povo, mas os homens de toda condição, de toda nação, de toda religião. Soprar por toda parte um mesmo espírito, no maior silêncio e com toda atividade possível, dirigir todos os homens dispersos pela superfície da terra em direção ao mesmo objetivo.



Eis aí sobre o que se estabelece o domínio das sociedades secretas, aquilo a que deve levar o império do Iluminismo.

 

“Um império cuja força, uma vez estabelecido pela união e pela multidão dos adeptos, suceda ao império invisível; atai as mãos de todos os que resistem, subjugai, sufocai a maldade no seu embrião, isto é, tudo o que resta de homens que não puderdes convencer”.


Assim instruídos pelos delegados do Iluminismo, as lojas, pelo menos as lojas de retaguarda, puseram-se à obra e começaram por se organizar mais fortemente.

 

Um “Relatório lido na Sessão plenária das Respeitáveis Lojas Paz e União e A Livre Consciência, no Oriente de Nantes, numa segunda-feira, 23 de abril de 1883”, foi impresso em brochura sob o título Du Rôle de la Franc-Maçonnerie au XVIIIe. siècle. Na página 8, lemos que a fundação (em 1772) do Grande Oriente da França, que significou uma concentração das tropas maçônicas francesas até então dispersas, deu “uma força considerável à franco-maçonaria”.


O Grande Oriente foi desde então o que é hoje o grande Parlamento maçônico de todas as lojas do reino, que para ele enviam seus deputados.



As lojas da Savóia, Suíça, Bélgica, Prússia, Rússia e Espanha, recebiam do mesmo centro as instruções necessárias à sua cooperação.



A palavra de Louis Blanc é por demais verdadeira: “Na véspera da Revolução francesa, a franco-maçonaria parecia ter adquirido um desenvolvimento imenso; espalhada por toda a Europa, ela apresentava em toda parte a imagem de uma sociedade fundada sobre princípios contrários aos da sociedade civil”.

 

Sob o Grande Oriente, a Loja dos Amigos Reunidos estava encarregada da correspondência estrangeira. Seu Venerável era Savalette de Lange, encarregado da guarda do tesouro real, honrado, por conseguinte, com toda a confiança do soberano, o que não o impedia de ser o homem de todas as lojas, de todos os mistérios e de todas as conspirações. Ele tinha feito de sua loja o lugar de prazeres da aristocracia.



Enquanto os concertos e bailes aí retinham os Ie as Ide alta linhagem, ele se retirava para um santuário no qual só se era admitido depois de jurar ódio a todo culto e a todo rei. Ali ficavam os arquivos da correspondência secreta, ali se realizavam os conselhos misteriosos.

 

“Havia, diz Barruel, antros menos conhecidos e mais temidos ainda. Aí se evocavam os espíritos e se interrogavam os mortos, ou, como numa loja de Ermonville, entregavam-se à mais terrível dissolução dos costumes”.

 

Para que a Maçonaria passasse da propaganda doutrinária e da influência moral à ação política, era preciso um trabalho de organização e de concentração de todas as obediências. Isto foi feito, e o Duque de Chartres, mais tarde Philippe-Égalité, foi o agente principal. Este príncipe estava designado para ser o chefe dos conjurados e para servir-lhes de salvaguarda. “Era preciso que fosse poderoso, diz Barruel, para apoiar todas as atrocidades que deviam cometer; era preciso que fosse atroz, para

que se horrorizasse pouco com o número de vítimas que essas atrocidades deveriam causar. Era preciso ter não um gênio de Cromwel, mas todos os seus vícios. Ele queria reinar. Mas, semelhante ao demônio, que quer pelo menos ruínas se não pode ser exaltado, Filipe havia jurado sentar-se sobre o trono, pelo fato de ele se encontrar esmagado por sua queda”. Luís XVI fora advertido, mas permaneceu numa segurança cuja ilusão só reconheceu quando retornou de Varennes. “Por que não

acreditei há onze anos! Tudo que hoje vejo haviam-me anunciado”.

Filipe já era Grande-Mestre do corpo escocês, o mais considerável da época, quando, em 1772, juntou-se a essa Grande-Mestria a do Grande Oriente. Seus conjurados trouxeram-lhe então a Loja-Mãe inglesa da França. Dois anos após, o Grande Oriente filiou regularmente as lojas de adoção e fê-las assim passar para  mesma direção. No ano seguinte, o Grande Capítulo geral da França juntava-se

também ao Grande-Oriente. Enfim, em 1781, um tratado solene interveio entre o Grande-Oriente e a Loja-Mãe do rito escocês.

 

Feita a concentração dessa forma, prepararam-se para a ação. Ao término da convenção de Wilhelmsbad, Knigge tinha fundado em Frankfurt o grupo dos Ecléticos. Esse grupo não tinha ainda quatro anos de existência quando foi considerado suficientemente numeroso e suficientemente espalhado no exterior para poder convocar uma assembleia geral da Grande Loja Eclética. Nela foi resolvido o assassinato de Luís XVI e do rei da Suécia (Gustavo III foi assassinado no grande teatro de Estocolmo por quatro senhores de sua corte. O assassinos espalharam o boato de que o rei tinha sido ferido por um revolucionário francês. Mas logo foram descobertos. Gustavo fora apenas ferido, mas no décimo quarto dia morreu envenenado, declarou o médico Dalberg. O assassinato de Gustavo e a subida ao poder de seu irmão estavam preparados de longa data pelas lojas, como o atestam os papéis do duque de Sudermanie, assim como os inquéritos que ele instaurou e rubricou em consequência das sessões de magnetismo maçônico a que assistira em 1783. A maçonaria gastara nove anos em procurar cinco vadios na Suécia para assassinar Gustavo.O escrito desse estadista foi publicado pela primeira vez em Berlim, em 1840, na obra intitulada Dorrev's Denkscrifften und Briefen zur charackteristik der wet un litteratur. (T. IV, p. 211 e 221)).O fato é hoje incontestável: abundam os testemunhos. Primeiro, o de Mirabeau, que, na abertura dos Estados-Gerais, disse, apontando para o rei: “Eis a vítima”; depois, o do conde de Haugwitz, ministro da Prússia, no congresso de Verona, no qual acompanhou seu soberano, em 1822. Naquela oportunidade ele leu um memorial, que poderia ser intitulado “minha confissão”. Disse que não somente fora franco-maçon, mas que fora encarregado da direção superior das reuniões maçônicas em diversos países. “Foi em 1777 que me encarreguei da direção das Lojas da Prússia, Polônia e Rússia.

 

“Adquiri nessa atividade a firme convicção de que tudo o que aconteceu à França, a partir de 1788, a Revolução francesa, enfim, nela compreendido o assassinato do Rei e todos os seus horrores, não somente foram decididos naquela época, mas de que tudo fora preparado através das reuniões, das instruções, dos juramentos e dos sinais que não deixam nenhuma dúvida sobre a inteligência que tudo preparou e tudo conduziu”. “Os que conhecem meu coração e minha inteligência imaginam a impressão que essas descobertas produziram em mim”.

 

Em 1875, o cardeal Mathieu, arcebispo de Besançon, escreveu a um de seus amigos uma carta que foi comunicada a Léon Pagès e por este publicada. Nela se lê: “Houve em Frankfurt, em 1784, uma assembleia de franco-maçons, para a qual foram convocadas duas respeitáveis pessoas de Besançon, Raymond, inspetor dos Correios, e Marie de Bouleguey, presidente do Parlamento. Nessa reunião, a morte do rei da Suécia e de Luís XVI foi decidida... O último sobrevivente (dos dois) contou isto a Bourgon (Presidente de Câmara honorário na Corte), que deixou uma grande reputação de probidade, de retidão e de firmeza entre nós. Conheci-o bem e durante longo tempo, pois estou em Besançon há quarenta e dois anos e ele faleceu recentemente. Ele contou frequentes vezes o fato a mim e a outros”.

 

Mas eis aqui o que acabará por convencer. Nos primeiros dias de março de 1898, o Revdo. Pe. Abel, jesuíta de grande nomeada na Áustria, em uma de suas conferências para homens vindos a Viena por ocasião da Quaresma, disse: “Em 1784, realizou-se em Francfort uma reunião extraordinária da grande Loja Eclética. Um dos membros submeteu à votação a morte de Luís XVI, rei da França, e de Gustavo, rei da Suécia. Esse homem se chamava Abel. Era meu avô”. Por haver um jornal judeu, La Nouvelle Presse Libre, repreendido o orador por ter assim desconsiderado sua família, o Pe. Abel, na conferência seguinte, disse: “Meu pai, ao morrer, determinou-me, como sua última vontade, que eu me aplicasse em reparar o mal que ele e nossos parentes cometeram. Se eu não tivesse que executar essa prescrição do testamento de meu pai, datado de 31 de julho de 1870, não falaria da maneira como o faço”.

 

Augustin Cochin e Charles Charpentier, num estudo publicado nos dias 1e 16 de novembro de 1904, na revista Action Française, mostraram como a campanha eleitoral de 1789 foi conduzida na Borgonha. Desse estudo, e de vários outros semelhantes, chegaram à conclusão, corroborada por todas as suas pesquisas, de que, no estado de dissolução em que haviam caído todos os antigos corpos independentes, províncias, ordens ou corporações, foi fácil para um partido organizado apoderar-se da opinião e dirigi-la sem nada dever ao número de seus afiliados, nem ao talento de seus chefes. Eles mostram, através de documentos de arquivos, a existência e a ação dessa organização.

 

Estudando-os de perto, levantando os nomes e datas, eles permitem “enfileirar” os maçons, encontrar suas pistas numa série de passos que, tomados a parte, nada têm de significativo, mas que, vistos no conjunto, revelam um sistema engenhoso e uma aliança misteriosa. Quando se comparam os resultados desse trabalho em duas províncias diferentes e distantes uma da outra, a impressão torna-se surpreendente.



André Chénier, que tinha sido adepto entusiasta das idéias que a Revolução produziu, e que o conduziram, a ele próprio, ao cadafalso, percebera bem isto, quando dizia: “Essas Sociedades, todas dando-se as mãos, formam uma espécie de corrente elétrica ao redor da França. No mesmo momento, em todos os cantos do império, elas agem juntas, soltam os mesmos gritos, imprimem os mesmos movimentos”.

 

À medida que se aproxima a abertura dos Estados-Gerais, as sociedades secretas redobram a atividade para desacreditar a família real e balançar o governo. Graças aos adeptos espalhados por toda a parte, as palavras de ordem se transmitem, as lendas circulam, a agitação se propaga, os problemas aparecem: tudo se faz sem que nenhuma organização apareça. É um movimento, é uma revolução que parece espontânea. No entanto, adeptos colocados na Corte adormecem a desconfiança real, uns sabendo o que fazem, outros não se dando conta disso, como a princesa de Lamballe junto à Rainha.

 

Em 1787, uma nova mudança se produziu na maçonaria francesa, um novo grau foi introduzido nas lojas. Os IIde Paris se apressaram em comunicá-lo aos IIdas províncias. “Tenho sob os olhos, diz Barruel, as memórias de um Ique recebeu o código desse novo grau numa loja situada a mais de oitenta léguas de Paris”. As resoluções tomadas no Grande-Oriente eram encaminhadas a todas as províncias, aos cuidados dos Veneráveis de cada loja. As instruções estavam acompanhadas de uma carta concebida nestes termos: “Tão logo recebais o pacote anexo, acusareis seu recebimento. Acrescentareis o juramento de executar fielmente e pontualmente todas as ordens que vos chegarem

da mesma forma, sem vos dar ao trabalho de saber de que mão partem nem como chegam a vós. Se recusardes esse juramento ou se a ele faltardes, sereis olhado como tendo violado o que fizestes no vosso ingresso na ordem dos IILembrai-vos da Acqua Tophana; lembrai-vos dos punhais que aguardam os traidores”.

 

O clube regulador podia contar com pelo menos quinhentos mil franco-maçons, cheios de ardor pela Revolução, espalhados em todas as partes da França, todos prontos a se levantarem ao primeiro sinal de insurreição, e capazes de arrastar atrás deles, pela violência do primeiro impulso, a maior parte do povo.

 

Viu-se então o que vemos hoje se reproduzir: a franco-maçonaria tinha necessidade, para a execução de seus desígnios, de um número prodigioso de braços; e foi por isso que ela, que até então não admitia em seu seio senão homens que desfrutassem uma certa posição, passou a chamar a escória do povo. Até nas vilas os camponeses passaram a ouvir falar de igualdade e de liberdade e a se

agastarem com os direitos do homem. Para essas pessoas, as palavras liberdade e igualdade não precisavam ser compreendidas nas iniciações dos bastidores das lojas de retaguarda, e era fácil aos cabeças de nelas imprimir, apenas através dessas palavras, todos os movimentos revolucionários que se queria produzir.

 

Nada se faz sem dinheiro, e as revoluções menos do que todo o resto.

 

A comissão diretora, presidida por Sieyès, e que compreendia, entre outros, Condorcet, Barnave, Mirabeau, Pétion, Robespierre, Grégoire, não falhava em recolher e acumular os fundos para o grande empreendimento.

 

Doudat, num livro publicado em 1797, diz: “Foi através dos franco-maçons que se estabeleceram uma correspondência geral e os recursos necessários ao partido (da Revolução). Esses recursos, sob o nome de contribuições franco-maçônicas, foram captados em toda a Europa e serviram, sem que todos os Irmãos previssem isso, para alimentar a Revolução da França. Com esses fundos o partido mantinha emissários de uma extremidade à outra do reino e, em Paris, residentes; ele colocava candidatos nas corporações de artes e de ofícios, ele pagava o soldo dos agentes, dos espiões,

amolecia ministros protestantes e assassinos. Era em Nîmes que ficava o tesouro, era para lá que confluíam todos os canais que, correspondendo aos diversos refúgios dos calvinistas, levavam e distribuíam as contribuições, e de um só golpe, punham todas as suas máquinas em movimento. Esse dinheiro serviu para pagar o soldo dos emissários em toda a França para dirigir as assembléias dos bailadios. Serviu para colocar o povo em armas”. (Les Véritables Auteurs de la Révolution de France, p. 451-456).

 

Mirabeu, no seu livro La Monarchie Prussienne14 , publicado antes dos acontecimentos dos quais ele próprio foi um dos grandes atores, assim se expressa: “A maçonaria em geral, e sobretudo o ramo dos Templários, produzia anualmente somas IMENSAS através das taxas das admissões e das contribuições de todo o gênero: uma parte era empregada nas despesas da ordem, mas uma outra MUITO CONSIDERÁVEL corria num caixa geral, cujo emprego ninguém, excetuados os primeiros dentre os irmãos, conhecia”.

 

Estando assim tudo preparado, o dia da insurreição foi fixado para 14 de julho de 1789. Os franco-maçons, atualmente guindados ao poder, conhecem bem por que escolheram 14 de julho de preferência a outras datas para comemorar a festa nacional. “A terceira república escolheu esse aniversário, diz Gustave Bord, porque ela é a figuração política da franco-maçonaria, e porque a tomada da Bastilha, a despeito de todas as lendas românticas, foi, ela própria, o resultado de uma vasta conspiração maçônica...”

 

A Bastilha cai. Os correios, que levavam a notícia às províncias, voltavam dizendo que por toda a parte viram as vilas e as cidades em insurreição. As barreiras são queimadas em Paris, na província os castelos são incendiados. O temível jogo das lanternas começou; cabeças foram carregadas na ponta de estacas; o monarca foi sitiado em seu palácio, seus guardas foram imolados; ele mesmo é levado cativo da capital.

 

OBS: Prova de que a Revolução Francesa foi organizada por uma associação cosmopolita: Auguste Vaquerie escreveu no Rappel de 27 do messidor do ano 102, ou, dito de outra maneira, de 15 de julho de 1794, um artigo que terminava com estas palavras: “Senhor da Bastilha, o povo a demoliu, e pareceu que um peso era tirado de sobre o peito do mundo.

“Não foi somente a França que respirou. Em Londres houve um banquete no qual Sheridan bebeu “à destruição da Bastilha, à Revolução”.


“A tomada da Bastilha foi dada como matéria de concurso nas universidades inglesas.

“A Itália a aclamou pela boca de Alfieri.


“Em São Petersburgo, as pessoas se abraçavam nas ruas, chorando de alegria.

“Ocorre que, com efeito, todos os povos estavam interessados na libertação do povo fraternal , que não trabalha para ele somente e que, quando faz uma declaração de direitos, declara, não os direitos do francês, mas os direitos do homem”.


Ségur, que estava então em São Petersburgo, escreveu em suas Memórias: “Apesar de que a Revolução seguramente não fosse ameaçadora para ninguém em São Petersburgo, não conseguiria exprimir o entusiasmo que excitaram, entre os negociantes, os burgueses e os jovens de uma classe mais elevada, a queda dessa prisão do Estado e o primeiro triunfo de uma liberdade tempestuosa. Franceses, russos, ingleses, dinamarqueses, alemães, holandeses, felicitaram-se como se tivessem sido desembaraçados de uma corrente que pesava sobre eles. Cada qual sentia que uma nova aurora se levantava”.

 

Começa então o reino do Terror organizado, a fim de deixar à seita toda a liberdade para executar seus sinistros projetos.

 

Esse reino foi inaugurado por volta do fim do mês de julho de 1789. Nos diferentes pontos da França, diz Frantz Funck-Brentano,18 de leste a oeste, de norte a sul, espalhou-se subitamente um terror estranho, terror louco. Os habitantes dos campos se refugiavam nas cidades, cujas portas eram fechadas em seguida com grande pressa. Os homens se reuniam armados nas ruas; eram, gritava-se, os bandidos. Em certas localidades, um mensageiro chegava, os olhos incendiados, coberto de poeira, num cavalo branco de espuma. Os malfeitores estavam lá, na colina, emboscados nos bosques. Em duas horas eles estariam na cidade. (Franz Funck-Brentano descreve aqui o que se passou particularmente no Auvergne, no Dauphiné, na Guyenne, etc.). A lembrança desse alarme permanecerá muito vivo entre as gerações que o conheceram. “O grande medo”, foi a denominação que se lhe deu no centro da França. No sul se diz “la grande pourasse”, “la grande paou”, “l'annada de la paou”. Em outras partes foi “o dia dos bandidos”, “a quinta-feira louca”, “a sexta-feira louca”, conforme o dia em que o pânico explodiu. Na Vandéia, a lembrança do acontecimento permaneceu sob o nome de “as desavenças da Madalena”. O medo, com efeito, ali estourou na festa da Madalena, no dia 22 de julho”.

 

O decreto que a Assembléia Nacional publicou no dia 10 de agosto de 1789, confirma no seu preâmbulo a generalidade e a simultaneidade do pânico. “Os alarmas que foram semeados nas diferentes províncias, diz a Assembleia, na mesma época e quase no mesmo dia”.



Esse terror de pânico fez com que os cidadãos se armassem. A guarda nacional se formou. Em menos de quinze dias, três milhares de homens foram arregimentados e uniformizados com as cores nacionais. O medo dos bandidos engendrou os verdadeiros malfeitores, que se proveram, nesse momento, das armas necessárias. “A opinião popular, diz Frantz Funck-Brentano, talvez não esteve errada ao considerar esse acontecimento com o mais importante de toda a Revolução. De um dia para outro os franceses viram cair tudo o que havia constituído sua existência secular.



Diante desse nada súbito, houve o “grande medo” nas almas simples, o grande acesso de febre precursor da crise terrível que vai sacudir a nação inteira e até ao mais profundo de suas entranhas”.

 

Quem era suficientemente poderoso para levantar ao mesmo tempo o mesmo medo, através de uma imensa extensão do território, pelos mesmos processos, pelas mesmas mentiras? Como explicar um tal movimento, se não pela ação combinada de uma seita espalhada em todos os pontos do reino, a fim de tornar possíveis os crimes que ela cogitava?

 

Para levar esses objetivos a termo, era preciso a organização das cabeças e dos braços. Para dirigir umas e outros, Mirabeau chama seus IIconjurados à igreja dos religiosos conhecidos pelo nome de Jacobinos; e logo a Europa inteira passa a conhecer os chefes e os atores da Revolução apenas sob o nome de jacobinos. Esse nome designa por si só tudo o que há de mais violento na conjuração contra Deus e contra Seu Cristo, contra os reis e contra a sociedade.

 

Não temos aqui que fazer o relato, nem mesmo que traçar o quadro disso, sendo a finalidade destes capítulos unicamente responder ao desejo assim formulado por Louis Blanc na sua Histoire de la Révolution: “Importa introduzir o leitor na mina que então cavaram, sob os tronos, e sob os altares, os revolucionários, instrumentos profundos e ativos dos Enciclopedistas”.

 

É Mirabeau quem, no dia 6 de maio de 1789, aponta para Luís XVI dizendo: “Eis a vítima!”

 

É Sieyès quem, no dia 16 de junho, proclama que não pode existir nenhum veto contra a Assembléia que vai regenerar a França.

 

É Guilhotin quem, no dia 21 de junho de 1792, arrasta os deputados para a sala do Jeu de Paume, e é esse outro maçon, Bailly, que improvisa o juramento da revolta.

 

É Camille Desmoulins quem, no dia 14 de julho, no jardim do Palais-Royal, lança à multidão o grito: “Às armas!”, sinal da primeira morte e da pilhagem.

 

É La Fayette quem, no dia 21 de junho de 1791, expede para Varennes esse outro maçon, Pétion, para prender o rei fugitivo, e que se investe como carcereiro das Tulherias.

 

O mesmo Pétion, prefeito de Paris, abandona, no dia 20 de junho de 1792, a família real aos ultrajes das hordas ébrias das ruas.

 

É Roederer quem, no dia 10 de agosto, após um novo assalto às Tulherias, entrega a família real à Convenção.

 

É Danton quem organiza os massacres de setembro, enquanto Marat faz cavar um poço na rua da Tombe-Issoire, para enterrar nas catacumbas de Paris os cadáveres dos degolados.

 

É Marat, franco-maçomcomo todos os outros, quem, na véspera de 21 de janeiro, vem comunicar ao rei mártir seu decreto de morte irrecorrível.

 

E após o regicídio, é Robespierre que se torna grande-mestre do cadafalso. O projeto da franco-maçonaria não se limitava a jacobinizar a França, mas todo o universo: assim vimos o Iluminismo levado simultaneamente para todos os países.

 

A loja estabelecida na rua Coq-Héron, presidida pelo duque de la Rochefoucauld, transformara-se especialmente naquela dos grandes maçons, e cuidava da propaganda européia; foi ali que se realizaram os maiores conselhos. Quem melhor conheceu esse estabelecimento foi Girtaner. Em suas Mémoires sur la Révolution Française, ele diz: “O clube da Propaganda é muito diferente do dos jacobinos, não obstante os dois freqüentemente se reúnam juntos. O dos jacobinos é o grande motor

da Assembléia Nacional. O da Propaganda quer ser o motor do gênero humano. Este último já existia em 1786; os chefes eram o duque de la Rochefoucauld, Condorcet e Sieyès. O grande objetivo do clube propagandista era estabelecer uma ordem filosófica, que dominasse a opinião do gênero humano.

 

Seus esforços não foram estéreis. “De todos os fenômenos da Revolução, diz Barruel, sem dúvida o mais espantoso, e infelizmente também o mais incontestável, é a rapidez das conquistas que a revolução já alcançou numa tão grande parte da Europa, e que ameaçam fazer a revolução do universo; é a facilidade com a qual seus exércitos içaram a bandeira tricolor (liberdade, igualdade e fraternidade) e plantaram a árvore de sua igualdade e de sua liberdade desorganizadoras na Savóia e na Bélgica, na Holanda e nas margens do Reno, na Suíça e além dos Alpes, no Piemonte, em Milão e até na própria Roma”. Em seguida, depois de ter concedido ao valor das tropas francesas e à habilidade de seus chefes a parte que lhes é devida nessas conquistas, ele acrescenta: “A seita e suas conspirações, suas legiões de emissários secretos precederam em toda a parte seus exércitos. Os traidores estavam dentro das fortalezas para abrir-lhe as portas, eles estavam até nos exércitos do inimigo, nos conselhos dos príncipes para abortar seus planos. Seus clubes, seus jornais, seus apóstolos tinha predisposto o populacho e preparado os caminhos”.

 
Barruel oferece numerosas provas dessa afirmação. A história sincera das conquistas da Revolução e do Império confirmam-na.

 

Fonte: A C O N J U R A Ç Ã O A N T I C R I S T Ã: O Templo Maçônico

que quer se erguer sobre as ruínas da I g r e j a C a t ó l i c a – Mosenhor Henri de Lassus.


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