“Após os trabalhos históricos destes últimos anos, diz Monsenhor Freppel, não é mais permitido ignorar a perfeita identidade das fórmulas de 1789 com os planos elaborados pela seita dos iluministas, dos quais Weishaupt e Knigge eram promotores, e muito particularmente do congresso geral das lojas maçônicas reunido em Wilhelmsbad em 1781.
Os deputados das lojas, após terem recebido o batismo do Iluminismo, retornam a seus países e trabalham por toda a parte a franco-maçonaria no sentido que lhes foi indicado: na Áustria, na França, na Itália, na Bélgica, na Holanda, na Inglaterra, na Polônia. “O contágio é tão rápido que logo o universo estará cheio de iluministas”.
Seu centro é doravante Frankfurt, pelo menos no que diz respeito à organização da ação revolucionária. Veremos o que aí foi resolvido contra a dinastia capetíngea cume da ordem social européia. Knigge estabeleceu nessa cidade sua sede. Dali ele estende suas conspirações do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul, ele faz iniciações nos seus mistérios e recruta essa multidão de cabeças e de braços dos quais a seita tem necessidade para as revoluções que cogita.
“A propósito da França, diz Barruel, a
seita tem desígnios mais profundos”. Segundo o plano de
Weishaupt e de Knigge, os franceses deveriam ser os primeiros a agir, mas os últimos a serem instruídos. Contava-se com o temperamento
deles.
As circunstâncias, com efeito, não podiam ser mais favoráveis à sua propaganda. Como diz Barruel, “os discípulos de Voltaire e de Jean-Jacques tinham preparado nas lojas o reino dessa igualdade e dessa liberdade cujos últimos mistérios transformavam-se, segundo o que se conhece de Weishaupt, naqueles da impiedade e da mais absoluta anarquia.
“A igualdade e a liberdade, dizia ele,
são os direitos essenciais que o homem, na sua perfeição originária e
primitiva, recebe da natureza; a primeira agressão a essa igualdade foi desferida
pela propriedade; a primeira agressão à liberdade foi desferida pelas sociedades políticas
e pelos governos; os únicos sustentáculos da propriedade e dos governos são as leis
religiosas e civis: assim, para restabelecer o homem nos seus direitos primitivos
de igualdade e de liberdade, é preciso começar pela destruição de toda religião, toda
sociedade civil e acabar pela abolição de toda propriedade”.4
Nesses mesmos discursos,
Weishaupt traçava aos iniciados esta linha de conduta para chegarem à liquidação
da propriedade, da sociedade civil e da religião, objetivo de sua instituição.
“A
grande arte de tornar infalível uma Revolução qualquer, é a de esclarecer os povos Esclarecê-los é, insensivelmente, conduzir a opinião pública para o desejo das mudanças que constituem o
objeto da Revolução meditada.
“Quando o objeto desse desejo não puder
aflorar sem expor aquele que o concebeu à vingança
pública, é nas intimidades das sociedades secretas que é preciso saber propagar a opinião.
“Quando o objeto desse desejo é uma Revolução universal, todos os membros dessas sociedades que tendem ao mesmo objetivo, apoiando-se uns nos outros, devem procurar dominar invisivelmente e sem aparência de meios violentos, não somente a parte mais eminente ou a mais distinta de um só povo, mas os homens de toda condição, de toda nação, de toda religião. Soprar por toda parte um mesmo espírito, no maior silêncio e com toda atividade possível, dirigir todos os homens dispersos pela superfície da terra em direção ao mesmo objetivo.
“Eis aí sobre o que se estabelece o domínio das sociedades secretas, aquilo a que deve levar o império do Iluminismo.
“Um império cuja força, uma vez
estabelecido pela união e pela multidão dos adeptos, suceda ao império
invisível; atai as mãos de todos os que resistem, subjugai, sufocai a maldade no seu
embrião, isto é, tudo o que resta de homens que não puderdes convencer”.
Assim instruídos pelos
delegados do Iluminismo, as lojas, pelo menos as lojas de retaguarda, puseram-se à
obra e começaram por se organizar mais fortemente.
Um “Relatório lido na Sessão plenária das
Respeitáveis Lojas Paz e União e A Livre
Consciência, no Oriente de Nantes, numa segunda-feira, 23 de abril de
1883”, foi impresso em brochura sob o
título Du Rôle de la Franc-Maçonnerie au
XVIIIe. siècle. Na página 8, lemos que a
fundação (em 1772) do Grande Oriente da França, que significou uma
concentração das tropas maçônicas francesas até então dispersas, deu “uma
força considerável à franco-maçonaria”.
O Grande Oriente foi desde
então o que é hoje o grande Parlamento maçônico de todas as lojas do reino, que para ele enviam seus deputados.
As lojas da Savóia, Suíça, Bélgica, Prússia, Rússia e Espanha, recebiam do mesmo centro as instruções necessárias à sua cooperação.
A palavra de Louis Blanc é por demais verdadeira: “Na véspera da Revolução francesa, a franco-maçonaria parecia ter adquirido um desenvolvimento imenso; espalhada por toda a Europa, ela apresentava em toda parte a imagem de uma sociedade fundada sobre princípios contrários aos da sociedade civil”.
Sob o Grande Oriente, a Loja
dos Amigos Reunidos estava encarregada da correspondência estrangeira. Seu Venerável era Savalette de Lange, encarregado da guarda do tesouro real,
honrado, por conseguinte, com toda a confiança do soberano, o que não o impedia de ser
o homem de todas as lojas, de todos os mistérios e de todas as conspirações. Ele
tinha feito de sua loja o lugar de prazeres da aristocracia.
Enquanto os concertos e bailes aí retinham os I e as I de alta linhagem, ele se retirava para um santuário no qual só se era admitido depois de jurar ódio a todo culto e a todo rei. Ali ficavam os arquivos da correspondência secreta, ali se realizavam os conselhos misteriosos.
“Havia, diz Barruel, antros menos
conhecidos e mais temidos ainda. Aí se evocavam os espíritos e se interrogavam os mortos, ou,
como numa loja de Ermonville, entregavam-se à mais terrível
dissolução dos costumes”.
Para que a Maçonaria
passasse da propaganda doutrinária e da influência moral à ação política, era
preciso um trabalho de organização e de concentração de todas as obediências. Isto foi
feito, e o Duque de Chartres, mais tarde Philippe-Égalité, foi o agente principal. Este
príncipe estava designado para ser o chefe dos conjurados e para servir-lhes de salvaguarda.
“Era preciso que fosse poderoso, diz Barruel, para apoiar todas as
atrocidades que deviam cometer; era preciso que fosse atroz, para
que se horrorizasse pouco
com o número de vítimas que essas atrocidades deveriam causar. Era preciso ter
não um gênio de Cromwel, mas todos os seus vícios. Ele queria reinar. Mas,
semelhante ao demônio, que quer pelo menos ruínas se não pode ser exaltado, Filipe havia
jurado sentar-se sobre o trono, pelo fato de ele se encontrar esmagado por sua queda”. Luís XVI fora advertido, mas permaneceu numa segurança cuja ilusão
só reconheceu quando retornou de Varennes. “Por que não
acreditei há onze anos! Tudo que hoje vejo haviam-me anunciado”.
Filipe já era
Grande-Mestre do corpo escocês, o mais considerável da época, quando, em 1772, juntou-se
a essa Grande-Mestria a do Grande Oriente. Seus conjurados trouxeram-lhe
então a Loja-Mãe inglesa da França. Dois anos após, o Grande Oriente filiou
regularmente as lojas de adoção e fê-las assim passar para mesma direção. No ano
seguinte, o Grande Capítulo geral da França juntava-se
também ao Grande-Oriente.
Enfim, em 1781, um tratado solene interveio entre o Grande-Oriente e a
Loja-Mãe do rito escocês.
Feita a concentração dessa
forma, prepararam-se para a ação. Ao término da convenção de Wilhelmsbad,
Knigge tinha fundado em Frankfurt o grupo dos Ecléticos. Esse grupo não tinha ainda
quatro anos de existência quando foi considerado suficientemente numeroso e
suficientemente espalhado no exterior para poder convocar uma assembleia
geral da Grande Loja Eclética. Nela
foi resolvido o assassinato de Luís XVI e
do rei da Suécia (Gustavo
III foi assassinado no grande teatro de Estocolmo por quatro senhores de sua
corte. O assassinos espalharam o boato de que o rei tinha sido ferido por um
revolucionário francês. Mas logo foram descobertos. Gustavo fora apenas ferido,
mas no décimo quarto dia morreu envenenado, declarou o médico Dalberg. O
assassinato de Gustavo e a subida ao poder de seu irmão estavam preparados de longa
data pelas lojas, como o atestam os papéis do duque de Sudermanie, assim como
os inquéritos que ele instaurou e rubricou em consequência das sessões de
magnetismo maçônico a que assistira em 1783. A maçonaria gastara nove anos em
procurar cinco vadios na Suécia para assassinar Gustavo.O escrito desse
estadista foi publicado pela primeira vez em Berlim, em 1840, na obra
intitulada Dorrev's Denkscrifften und Briefen zur charackteristik der wet un litteratur.
(T. IV, p. 211 e 221)).O fato é hoje incontestável: abundam os testemunhos.
Primeiro, o de Mirabeau, que, na abertura dos Estados-Gerais, disse, apontando para o rei: “Eis a vítima”; depois,
o do conde de Haugwitz, ministro da Prússia, no congresso de Verona, no qual
acompanhou seu soberano, em 1822. Naquela oportunidade ele leu um memorial, que
poderia ser intitulado “minha confissão”. Disse que não somente fora
franco-maçon, mas que fora encarregado da direção superior das
reuniões maçônicas
em diversos países. “Foi em 1777 que me encarreguei da direção das
Lojas da Prússia, Polônia e Rússia.
“Adquiri nessa atividade a firme
convicção de que tudo o que aconteceu à França, a partir de 1788, a
Revolução francesa, enfim, nela compreendido o assassinato do Rei e todos os seus
horrores, não somente foram decididos naquela época, mas de que tudo fora preparado através das reuniões, das instruções, dos
juramentos e dos sinais que não deixam nenhuma dúvida sobre a inteligência que
tudo preparou e tudo conduziu”. “Os que conhecem
meu coração e minha inteligência imaginam a impressão que essas descobertas produziram em mim”.
Em 1875, o cardeal
Mathieu, arcebispo de Besançon, escreveu a um de seus amigos uma carta que foi
comunicada a Léon Pagès e por este publicada. Nela se lê: “Houve em Frankfurt,
em 1784, uma assembleia de franco-maçons, para a qual foram convocadas duas respeitáveis
pessoas de Besançon, Raymond, inspetor dos Correios, e Marie de
Bouleguey, presidente do Parlamento. Nessa reunião, a morte do rei da Suécia e de Luís
XVI foi decidida... O último sobrevivente (dos dois) contou isto a Bourgon (Presidente
de Câmara honorário na Corte), que deixou uma grande reputação de probidade, de
retidão e de firmeza entre nós. Conheci-o bem e durante longo tempo, pois estou em
Besançon há quarenta e dois anos e ele faleceu recentemente. Ele contou
frequentes vezes o fato a mim e a outros”.
Mas eis aqui o que acabará
por convencer. Nos primeiros dias de março de 1898, o Revdo. Pe. Abel, jesuíta
de grande nomeada na Áustria, em uma de suas conferências para homens vindos a Viena
por ocasião da Quaresma, disse: “Em 1784, realizou-se em Francfort uma reunião
extraordinária da grande Loja Eclética. Um dos membros submeteu à votação a
morte de Luís XVI, rei da França, e de Gustavo, rei da Suécia. Esse homem se
chamava Abel. Era meu avô”. Por haver um jornal judeu, La Nouvelle
Presse Libre, repreendido o orador por ter assim
desconsiderado sua família, o Pe. Abel, na conferência seguinte, disse: “Meu
pai, ao morrer, determinou-me, como sua última vontade, que eu me aplicasse em
reparar o mal que ele e nossos parentes cometeram. Se eu não tivesse que
executar essa prescrição do testamento de meu pai, datado de 31 de julho de
1870, não falaria da maneira como o faço”.
Augustin Cochin e Charles
Charpentier, num estudo publicado nos dias 1 e 16 de novembro de 1904, na
revista Action Française,
mostraram como a campanha eleitoral de 1789 foi conduzida na
Borgonha. Desse estudo, e de vários outros semelhantes, chegaram à conclusão,
corroborada por todas as suas pesquisas, de que, no estado de dissolução em que
haviam caído todos os antigos corpos independentes, províncias, ordens ou
corporações, foi fácil para um partido organizado apoderar-se da opinião e dirigi-la sem
nada dever ao número de seus afiliados, nem ao talento de seus chefes. Eles
mostram, através de documentos de arquivos, a existência e a ação dessa organização.
Estudando-os de perto,
levantando os nomes e datas, eles permitem “enfileirar” os maçons, encontrar suas
pistas numa série de passos que, tomados a parte, nada têm de significativo, mas
que, vistos no conjunto, revelam um sistema engenhoso e uma aliança misteriosa.
Quando se comparam os resultados desse trabalho em duas províncias diferentes e
distantes uma da outra, a impressão torna-se surpreendente.
André Chénier, que tinha sido adepto entusiasta das idéias que a Revolução produziu, e que o conduziram, a ele próprio, ao cadafalso, percebera bem isto, quando dizia: “Essas Sociedades, todas dando-se as mãos, formam uma espécie de corrente elétrica ao redor da França. No mesmo momento, em todos os cantos do império, elas agem juntas, soltam os mesmos gritos, imprimem os mesmos movimentos”.
À medida que se aproxima a
abertura dos Estados-Gerais, as sociedades secretas redobram a atividade para
desacreditar a família real e balançar o governo. Graças aos adeptos espalhados
por toda a parte, as palavras de ordem se transmitem, as lendas circulam, a
agitação se propaga, os problemas aparecem: tudo se faz sem que nenhuma
organização apareça. É um movimento, é uma revolução que parece espontânea. No
entanto, adeptos colocados na Corte adormecem a desconfiança real, uns sabendo
o que fazem, outros não se dando conta disso, como a princesa de Lamballe junto
à Rainha.
Em 1787, uma nova mudança
se produziu na maçonaria francesa, um novo grau foi introduzido nas lojas. Os
II de Paris se apressaram em comunicá-lo aos IIdas províncias. “Tenho sob os olhos, diz
Barruel, as memórias de um I que
recebeu o código desse novo grau numa loja situada
a mais de oitenta léguas de Paris”. As resoluções tomadas no Grande-Oriente eram
encaminhadas a todas as províncias, aos cuidados dos Veneráveis de cada loja. As instruções
estavam acompanhadas
de uma carta concebida nestes termos: “Tão logo recebais o pacote anexo,
acusareis seu recebimento. Acrescentareis o juramento de executar
fielmente e pontualmente todas as ordens que vos chegarem
da mesma forma, sem vos
dar ao trabalho de saber de que mão partem nem como chegam a vós. Se
recusardes esse juramento ou se a ele faltardes, sereis olhado como tendo violado o que
fizestes no vosso ingresso na ordem dos II Lembrai-vos da Acqua
Tophana; lembrai-vos dos punhais que aguardam os traidores”.
O clube regulador podia
contar com pelo menos quinhentos mil franco-maçons, cheios de ardor pela
Revolução, espalhados em todas as partes da França, todos prontos a se
levantarem ao primeiro sinal de insurreição, e capazes de arrastar atrás deles, pela violência do
primeiro impulso, a maior parte do povo.
Viu-se então o que vemos
hoje se reproduzir: a franco-maçonaria tinha necessidade, para a
execução de seus desígnios, de um número prodigioso de braços; e foi por isso que
ela, que até então não admitia em seu seio senão homens que desfrutassem uma certa
posição, passou a chamar a escória do povo. Até nas vilas os camponeses
passaram a ouvir falar de igualdade e de
liberdade e a se
agastarem com os direitos do homem. Para essas pessoas, as palavras liberdade e igualdade não precisavam
ser compreendidas nas iniciações dos bastidores das lojas de retaguarda, e era
fácil aos cabeças de nelas imprimir, apenas através dessas palavras, todos os
movimentos revolucionários que se queria produzir.
Nada se faz sem dinheiro,
e as revoluções menos do que todo o resto.
A comissão diretora,
presidida por Sieyès, e que compreendia, entre outros, Condorcet, Barnave,
Mirabeau, Pétion, Robespierre, Grégoire, não falhava em recolher e acumular os
fundos para o grande empreendimento.
Doudat, num livro publicado em 1797, diz:
“Foi através dos franco-maçons que se estabeleceram uma
correspondência geral e os recursos necessários ao partido (da Revolução). Esses
recursos, sob o nome de contribuições franco-maçônicas, foram captados em toda a Europa
e serviram, sem que todos os Irmãos previssem isso, para alimentar a Revolução da
França. Com esses fundos o partido mantinha emissários de uma extremidade à outra
do reino e, em Paris, residentes; ele colocava candidatos nas corporações de artes e
de ofícios, ele pagava o soldo dos agentes, dos espiões,
amolecia ministros
protestantes e assassinos. Era em Nîmes que ficava o tesouro, era para lá que confluíam
todos os canais que, correspondendo aos diversos refúgios dos calvinistas, levavam e
distribuíam as contribuições, e de um só golpe, punham todas as suas máquinas em
movimento. Esse dinheiro serviu para pagar o soldo dos emissários em toda a
França para dirigir as assembléias dos bailadios. Serviu para colocar o povo em armas”. (Les
Véritables Auteurs de la Révolution de France, p. 451-456).
Mirabeu, no seu livro La
Monarchie Prussienne14 , publicado antes dos acontecimentos dos quais
ele próprio foi um dos grandes atores, assim se expressa: “A maçonaria em geral,
e sobretudo o ramo dos Templários, produzia anualmente somas IMENSAS
através das taxas das admissões e das contribuições de todo o gênero: uma parte
era empregada nas despesas da ordem, mas uma outra MUITO CONSIDERÁVEL corria
num caixa geral, cujo emprego ninguém, excetuados os primeiros dentre os
irmãos, conhecia”.
Estando assim tudo
preparado, o dia da insurreição foi fixado para 14 de julho de 1789. Os
franco-maçons, atualmente guindados ao poder, conhecem bem por que escolheram 14 de julho de
preferência a outras datas para comemorar a festa nacional. “A terceira
república escolheu esse aniversário, diz Gustave Bord, porque ela é a figuração política
da franco-maçonaria, e porque a tomada da Bastilha, a despeito de todas as
lendas românticas, foi, ela própria, o resultado de uma vasta conspiração maçônica...”
A Bastilha cai. Os
correios, que levavam a notícia às províncias, voltavam dizendo que por toda a
parte viram as vilas e as cidades em insurreição. As barreiras são queimadas em
Paris, na província os castelos são incendiados. O temível jogo das lanternas
começou; cabeças foram carregadas na ponta de estacas; o monarca foi sitiado em seu palácio,
seus guardas foram imolados; ele mesmo é levado cativo da capital.
OBS: Prova de que a Revolução
Francesa foi organizada por uma associação cosmopolita: Auguste Vaquerie
escreveu no Rappel de 27 do messidor do ano 102, ou, dito de outra maneira, de
15 de julho de 1794, um artigo que terminava com estas palavras: “Senhor da
Bastilha, o povo a demoliu, e pareceu que um peso era tirado de sobre o peito
do mundo.
“Não foi somente a França que respirou. Em
Londres houve um banquete no qual Sheridan bebeu “à destruição da Bastilha, à Revolução”.
“A tomada da Bastilha foi dada como matéria
de concurso nas universidades inglesas.
“A Itália a aclamou pela boca de Alfieri.
“Em São Petersburgo, as pessoas se
abraçavam nas ruas, chorando de alegria.
“Ocorre que, com efeito, todos os povos
estavam interessados na libertação do povo fraternal , que não trabalha para ele
somente e que, quando faz uma declaração de direitos, declara, não os direitos do
francês, mas os direitos do homem”.
Ségur, que estava então em São Petersburgo,
escreveu em suas Memórias: “Apesar de que a Revolução seguramente não fosse
ameaçadora para ninguém em São Petersburgo, não conseguiria exprimir o
entusiasmo que excitaram, entre os negociantes, os burgueses e os jovens de uma
classe mais elevada, a queda dessa prisão do Estado e o primeiro triunfo de uma
liberdade tempestuosa. Franceses, russos, ingleses, dinamarqueses, alemães,
holandeses, felicitaram-se como se tivessem sido desembaraçados de uma corrente
que pesava sobre eles. Cada qual sentia que uma nova aurora se levantava”.
Começa então o reino do
Terror organizado, a fim de deixar à seita toda a liberdade para executar
seus sinistros projetos.
Esse reino foi inaugurado
por volta do fim do mês de julho de 1789. Nos diferentes pontos da França, diz
Frantz Funck-Brentano,18 de leste a oeste, de norte a sul, espalhou-se
subitamente um terror estranho, terror louco. Os habitantes dos campos se
refugiavam nas cidades, cujas portas eram fechadas em seguida com grande
pressa. Os homens se reuniam armados nas ruas; eram, gritava-se, os bandidos.
Em certas localidades, um mensageiro chegava, os olhos incendiados, coberto de
poeira, num cavalo branco de espuma. Os malfeitores estavam lá, na colina,
emboscados nos bosques. Em duas horas eles estariam na cidade. (Franz Funck-Brentano
descreve aqui o que se passou particularmente no Auvergne, no Dauphiné, na
Guyenne, etc.). A lembrança desse alarme permanecerá muito vivo entre as
gerações que o conheceram. “O grande medo”, foi a denominação que se lhe deu no centro da
França. No sul se diz “la grande pourasse”, “la grande paou”, “l'annada de la paou”.
Em outras partes foi “o dia dos bandidos”, “a quinta-feira louca”, “a sexta-feira louca”, conforme o dia
em que o pânico explodiu. Na Vandéia, a lembrança do acontecimento permaneceu sob o nome
de “as desavenças da Madalena”. O medo, com efeito, ali estourou na festa da Madalena, no
dia 22 de julho”.
O decreto que a Assembléia
Nacional publicou no dia 10 de agosto de 1789, confirma no seu preâmbulo a generalidade
e a simultaneidade do pânico. “Os alarmas que foram semeados nas diferentes províncias, diz
a Assembleia, na mesma época e quase no mesmo dia”.
Esse terror de pânico fez com que os cidadãos se armassem. A guarda nacional se formou. Em menos de quinze dias, três milhares de homens foram arregimentados e uniformizados com as cores nacionais. O medo dos bandidos engendrou os verdadeiros malfeitores, que se proveram, nesse momento, das armas necessárias. “A opinião popular, diz Frantz Funck-Brentano, talvez não esteve errada ao considerar esse acontecimento com o mais importante de toda a Revolução. De um dia para outro os franceses viram cair tudo o que havia constituído sua existência secular.
Diante desse nada súbito, houve o “grande medo” nas almas simples, o grande acesso de febre precursor da crise terrível que vai sacudir a nação inteira e até ao mais profundo de suas entranhas”.
Quem era suficientemente
poderoso para levantar ao mesmo tempo o mesmo medo, através de uma imensa
extensão do território, pelos mesmos processos, pelas mesmas mentiras? Como explicar
um tal movimento, se não pela ação combinada de uma seita espalhada em
todos os pontos do reino, a fim de tornar possíveis os crimes que ela cogitava?
Para levar esses objetivos
a termo, era preciso a organização das cabeças e dos braços. Para dirigir umas
e outros, Mirabeau chama seus II conjurados
à igreja dos religiosos conhecidos pelo
nome de Jacobinos; e logo a Europa
inteira passa a conhecer os chefes e os atores da Revolução apenas sob o nome
de jacobinos. Esse nome designa por si só
tudo o que há de mais violento na conjuração contra Deus e contra Seu Cristo, contra
os reis e contra a sociedade.
Não temos aqui que fazer o
relato, nem mesmo que traçar o quadro disso, sendo a finalidade destes
capítulos unicamente responder ao desejo assim formulado por Louis Blanc na sua Histoire
de la Révolution: “Importa introduzir o leitor na mina que então cavaram, sob os
tronos, e sob os altares, os revolucionários, instrumentos profundos e ativos dos Enciclopedistas”.
É Mirabeau quem, no dia 6 de maio de
1789, aponta para Luís XVI dizendo: “Eis a vítima!”
É Sieyès quem, no dia 16
de junho, proclama que não pode existir nenhum veto contra a Assembléia que
vai regenerar a França.
É Guilhotin quem, no dia
21 de junho de 1792, arrasta os deputados para a sala do Jeu de Paume, e é esse
outro maçon, Bailly, que improvisa o juramento da revolta.
É Camille Desmoulins quem,
no dia 14 de julho, no jardim do Palais-Royal, lança à multidão o grito: “Às armas!”, sinal da
primeira morte e da pilhagem.
É La Fayette quem, no dia
21 de junho de 1791, expede para Varennes esse outro maçon, Pétion, para
prender o rei fugitivo, e que se investe como carcereiro das Tulherias.
O mesmo Pétion, prefeito
de Paris, abandona, no dia 20 de junho de 1792, a família real aos ultrajes
das hordas ébrias das ruas.
É Roederer quem, no dia 10 de agosto,
após um novo assalto às Tulherias, entrega a família real à
Convenção.
É Danton quem organiza os
massacres de setembro, enquanto Marat faz cavar um poço na rua da
Tombe-Issoire, para enterrar nas catacumbas de Paris os cadáveres dos degolados.
É Marat, franco-maçomcomo
todos os outros, quem, na véspera de 21 de janeiro, vem comunicar ao rei
mártir seu decreto de morte irrecorrível.
E após o regicídio, é
Robespierre que se torna grande-mestre do cadafalso. O projeto da
franco-maçonaria não se limitava a jacobinizar a França, mas todo o universo: assim vimos o
Iluminismo levado simultaneamente para todos os países.
A loja estabelecida na rua
Coq-Héron, presidida pelo duque de la Rochefoucauld, transformara-se
especialmente naquela dos grandes maçons, e cuidava da propaganda européia; foi
ali que se realizaram os maiores conselhos. Quem melhor conheceu esse
estabelecimento foi Girtaner. Em suas Mémoires sur la Révolution Française, ele diz: “O clube da
Propaganda é muito diferente do dos jacobinos, não obstante os dois
freqüentemente se reúnam juntos. O dos jacobinos é o grande motor
da Assembléia Nacional. O da Propaganda quer ser o motor do gênero
humano. Este último já existia em 1786; os chefes eram o duque de la
Rochefoucauld, Condorcet e Sieyès. O
grande objetivo do clube propagandista era estabelecer uma ordem filosófica,
que dominasse a opinião do gênero humano.
Seus esforços não foram estéreis. “De
todos os fenômenos da Revolução, diz Barruel, sem dúvida o mais espantoso, e
infelizmente também o mais incontestável, é a rapidez das conquistas que a revolução já
alcançou numa tão grande parte da Europa, e que ameaçam fazer a revolução do
universo; é a facilidade com a qual seus exércitos içaram a bandeira tricolor (liberdade, igualdade e fraternidade) e
plantaram a árvore de sua igualdade e de sua liberdade desorganizadoras na Savóia e na
Bélgica, na Holanda e nas margens do Reno, na Suíça e além dos Alpes, no Piemonte, em
Milão e
até na própria Roma”. Em seguida, depois de ter concedido ao valor das
tropas francesas e à habilidade de seus chefes a parte que lhes é devida nessas
conquistas, ele acrescenta: “A seita e suas conspirações, suas legiões
de emissários secretos precederam em toda a parte seus exércitos.
Os traidores estavam dentro das fortalezas para abrir-lhe as portas, eles estavam
até nos exércitos do inimigo, nos conselhos dos príncipes para abortar seus planos.
Seus clubes, seus jornais, seus apóstolos tinha predisposto o populacho e preparado os caminhos”.
Barruel oferece numerosas
provas dessa afirmação. A história sincera das conquistas da Revolução e
do Império confirmam-na.
Fonte: A C O N J U R A Ç
à O A N T I C R I S T Ã: O Templo Maçônico
que quer se erguer sobre
as ruínas da I g r e j a C a t ó l i c a – Mosenhor Henri de Lassus.
Excelente! Que aula de história, a verdadeira.
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